31 julho 2008

O GIGANTE EMERGENTE?


Há uma nova estrela emergente no mundo económico. Para espanto de muitos, essa estrela chama-se Brasil, durante décadas conhecido como o país do futuro cujo futuro nunca chegava. Ora, contra as previsões de muitos, parece que o futuro do Brasil está finalmente a chegar. Na última década, o crescimento económico brasileiro atingiu já não vistos há mais de três décadas e as tremendas desigualdades sociais parecem finalmente ter começado a decrescer (pelo menos em termos relativos). O Brasil internacionaliza-se cada vez mais (como o recente anúncio de investimento da Embraer em Portugal o demonstra) e diversifica-se, tanto a nível industrial como agrícola. Esperemos que assim continue.
Ainda por cima, há pouco tempo foram descobertas enormes reservas petrolíferas na costa brasileira, augurando ainda mais receitas para o Estado e para o país. Paradoxalmente, esta pode ser a pior notícia que o Brasil poderia ter. Numa altura em que a economia mostra grande dinamismo e uma crescente diversificação das actividades económicas, a descoberta dessas reservas petrolíferas fará certamente valorizar o real (pois haverá maior procura de moeda brasileira), o que poderá afectar negativamente os sectores exportadores do país, bem como outras áreas da economia que poderão menos competitivas com a valorização do real.
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Mas, esperemos que isso não aconteça ou, a acontecer, esperemos que a recente vitalidade do Brasil seja suficiente para aguentar o impacto que a valorização do real terá no sector exportador brasileiro. Entretanto, saudemos os feitos económicos do Brasil, que parece finalmente ter deixado de continuar permanentemente adiado.
PS. Vale a pena ver aqui uma reportagem do New York Times sobre o crescimento brasileiro.

30 julho 2008

NEGOCIAÇÕES FALHADAS

Como já era esperado, falharam as negociações que deviam dar azo a um novo (e mais abrangente) acordo para o comércio mundial. É de certa forma natural, não só porque este tipo de negociações é sempre extremamente difícil, mas também porque a liberalização do comércio quase nunca acontece em tempos recessivos. Como há um crescente número de núvens recessivas no horizonte, o proteccionismo volta a estar no topo da agenda de muitos governos, tornando ainda mais difícil um acordo entre as várias nações.
Como, ainda por cima, a China e a Índia se sentem cada vez mais confiantes para desafiar os Estados Unidos na cena internacional, as negociações colapsaram e não se sabe quando é que regressarão.
Quem perde? Ninguém ganha com toda esta contenda. No entanto, é claro que os principais perdedores são aqueles que não têm voz, os países médios e pequenos, os países mais pobres e subdesenvolvidos, que continuarão a ver as portas da UE, dos EUA e do Japão fechadas à exportação dos seus produtos.

29 julho 2008

CASAS MENOS CARAS

O DE noticia hoje que o preço médio das casas em Portugal baixou 4,6 por cento no segundo trimestre deste ano. Em média, o preços das casas é mais baixo do que há 4 anos atrás. Um mercado, portanto, para quem compra e não para quem vende. Mais uma consequência da estagnação económica dos últimos anos e mais um sinal do (ainda) crescente endividamento das famílias, com reflexos óbvios no mercado imobiliário. Obviamente, a previsível subida das taxas de juros projectada para os próximos meses não irá ajudar a esta situação.

O LEGADO DE BUSH

Para além da Guerra do Iraque, o principal legado da Administração Bush será o maior défice (em valor absoluto) de sempre. Para o próximo ano, projecta-se um défice no mínimo de 482 biliões (ou 482 mil milhões na notação portuguesa) e dólares, um valor que não inclui algumas despesas com a guerra. A dívida pública americana já está perto dos 10 triliões de dólares (ou 10 biliões na notação portuguesa, se preferirem). Para perceber quão significativos são estes números, basta pensar que Bush herdou um orçamento em superavit...
E quem irá pagar os défices e a dívida de Bush? O povo americano, como é óbvio. E quem terá a responsabilidade de o fazer? Quem ficará com a culpas por implementar medidas para combater o défice? O próximo presidente, como é óbvio. Bush, entretanto, já estará nessa altura no seu rancho do Texas, sem possibilidades de danificar ainda mais a reputação e as finanças da América. É caso para dizer que vale mais tarde do que nunca.

PISCINA DE GENTE

Foto: Reuters


Uma piscina num dia de calor na China, na cidade de Suining.

28 julho 2008

EMBRAER EM PORTUGAL

No passado sábado, foi assinado um acordo com a empresa brasileira Embrarer para a construção de duas fábricas de componentes para aviões em Évora. O investimento tem um valor de 148 milhões de euros (mais ou menos o que a IKEA investiu na sua fábrica no norte do país). Como sempre acontece nestas ocasiões, há fortes incentivos financeiros para o investimento da Embraer em Portugal. Como sempre, surgiram opiniões discordantes sobre o apoio estatal, mas não faz sentido a oposição pela oposição. A verdade é que neste tipo de projectos os Estados fazem sempre tudo para atrair empresas e este acordo não é excepção.
Para além do mais, este pode ser o primeiro passo para que a Embraer invista mais em Portugal, quiçá através da construção de uma fábrica de aeronaves. Independentemente, disso se concretizar ou não, porque é que o investimento da Embraer é uma boa notícia? Primeiro, porque a Embraer é simplesmente a líder mundial no segmento das aeronaves médias, produzindo aviões destinados a mercados regionais e médios. Neste segmento a Embraer só tem uma grande concorrente, que é a canadiana Bombardier. Segundo, porque este investimento reforça a tendência (pouco falada entre nós) das exportações portuguesas nos últimos 5 anos, que é o grande crescimento das exportações de médio e alta tecnologia.
De facto, Portugal tem sido um dos países da UE onde as exportações de tecnologia média e alta têm crescido mais rapidamente nos últimos 5 anos, um sinal promissor que algo possa estar a mudar na estrutura das nossas exportações. O investimento da Embraer (e o da Intel, que será anunciado esta semana) só pode ser saudado como um reforço desta saudável tendência. Mais que o TGV ou a construção de novas estradas, é com estes investimentos que a economia portuguesa poderá crescer mais e tornar o seu crescimento mais sustentado e produtivo.

26 julho 2008

O JOGO DE DeNIRO



Acabei de ler "De Niro's Game" do escritor líbano-canadiano Rawi Hage, que foi recentemente editado entre nós pela Civilização Editora com o estranho título "Como a Raiva ao Vento" (não percebo muito bem porque é que não traduziram o título inglês, mas enfim). Como o li em inglês, não sei como é que será a tradução portuguesa. No entanto, este é um livro a comprar. Um livro óptimo para as suas férias do Verão.

Este é o primeiro romance de Rawi Hage, um livro que recebeu em, Junho último o prémio literário mais generoso do mundo, o International IMPAC Dublin Literary Award, para o qual livros de todos os países podem concorrer. O livro merece o galardão. Hage descreve magnificamente a história de dois rapazes que crescem no ambiente violento da guerra civil libanesa. Beirute é uma cidade cercada e dominada pelas milícias cristãs, muçulmanas e comunistas. Bassam e George (De Niro) vivem as atribulações e as idiossincracias da guerra e são moldados pela mesma. Hage transporta-nos para a vida em Beirute durante a guerra, com todos os seus excessos, perigos e contradições. Apesar dos estilos serem muito diferentes, Rawi Hage é uma espécie de Khaled Hosseini do Líbano. Um livro fabuloso que vale a pena ler.

25 julho 2008

CAROS CARROS

Depois da General Motors, chegou a vez da Ford de apresentar prejuízos astronómicos. Nada mais nada menos que 8,7 biliões de dólares (ou 8,7 mil milhões, se preferirem) no último trimestre. Tudo porque a Ford, como a GM, insistiu durante anos afio em apostar em carros de grande dimensão para os mercados norte-americanos, verdadeiros carros "à americana". A subida do preço do petróleo torna estes carros (e camiões) demasiado caros para uma grande parte da população americana e, por isso, tanto a GM como a Ford têm visto as suas quotas de mercado baixarem vertiginosamente e os prejuízos a amontoarem-se.
Para sobreviverem, as duas companhias prometem agora apostar em carros mais pequenos e mais eficientes. Em carros de "dimensão europeia", segundo dizem. E ainda bem digo eu.

OBAMANIA


Independentemente de ganhar ou não as eleições de Novembro, Barack Obama é um impressionante fenómeno de popularidade, estando ao mesmo nível habitualmente reservado para as estrelas de cinema e artistas pop. Ontem, em Berlim, mais de 200 mil pessoas foram ver o senador americano dar um discurso sobre as relações transatlânticas. Um mar de gente que ele não chegará nem sequer a ter quando der o seu discurso de vitória em Denver dentro de 35 dias.

PRIMEIRA CLASS


Hoje, ao fazer investigação sobre os tempos da ditadura, encontrei esta jóia: a capa de um livro oficial da primeira classe do regime salazarista. Palavras para quê?
E, já agora, sabe que existe um abaixo-assinado para tentar rebaptizar a ponte 25 de Abril de Ponte Salazar???

24 julho 2008

O PÉRIPLO DE OBAMA

O périplo internacional de Barack Obama destina-se mostrar ao público americano que o candidato democrata não só está à vontade na área da política externa (onde está em desvantagem perante a maior experiência de John McCain), como também pretende provar que Obama tem postura e imagem presidenciais.
As visitas ao Afeganistão e ao Iraque são bastante significativas, pois indiciam a mudança de rumo que a política externa americana irá ter caso Obama ganhe as eleições em Novembro próximo. Obama garante que, se se tornar presidente, as tropas americanas irão retirar-se do Iraque no espaço de 16 meses e concentrar-se no conflito do Afeganistão. Como na América, a decisão de invadir o Iraque é cada vez mais vista como um erro estratégico com graves custos humanos e financeiros, Obama aparece assim ao lado do(a) americano(a) médio, ao contrário de John McCain, que continua a advogar a permanência das tropas americanas no território iraquiano por tempo indeterminado. Tal posição certamente dará cartas (e votos) a Obama no confronto de Novembro.
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Se ganhar as eleições, e mesmo que a retirada do Iraque corra mais ou menos bem, os principais problemas de um presidente Obama poderão ser os imponderáveis. Há cada vez mais analistas que pensam que poderá estar por meses um ataque israelita às instalações nucleares do Irão. É quase impossível prever as consequências políticas, militares e económicas de tal ataque (para além do agravamento do choque petrolífero actual). Como reagirá Obama a tal cenário será certamente uma das questões que serão colocadas ao candidato Democrata quando visitar Israel.
Para além do mais, é visível que a situação no Afeganistão não é a mesma do que há sete anos atrás. Há sete anos havia apoio das populações e as forças da coligação controlavam quase todo o território afegão. Hoje em dia, nenhuma das condições se encontra presente. Como manter a tropas americanas (e ocidentais) num terreno cada vez mais hostil, será uma das questões que o próximo presidente americano terá de enfrentar.
Mas isso são questões para o futuro. Por enquanto, o melhor que Obama tem a fazer é continuar a parecer presidencial. O tempo das grandes decisões pode esperar.
PS: Artigo escrito para o DN

23 julho 2008

PARAGEM DOS FUNDOS EUROPEUS

Numa acção sem precedentes, a União Europeia vai cortar as tranferências de fundos estruturais a duas agências governamentais búlgaras. Os pagamentos totalizam várias centenas de milhões de euros e, por isso, esta decisão da UE é muito significativa. Razões? Alegações de corrupção generalizada, ritmo lento de adopção do acquis comunitaire e ligações das agências governamentais ao mundo do crime organizado. Parece que finalmente a UE abriu os olhos ao destino dos fundos que concede, uma decisão que se saúda, pois durante anos o esbanjar do dinheiro dos contribuintes europeus chegava a ser obsceno (até a própria UE o admitia). Vamos lá ver se esta decisão é mesmo para ficar ou se é apenas fogo de vista.

22 julho 2008

UMA ÓPTIMA NOTÍCIA


Nem tudo vai mal. Ontem tivemos uma óptima notícia, ao saber que Radovan Karadzic foi preso em Belgrado, onde vivia com outra identidade (e disfarçado, como se vê na foto). Ainda bem. É bom saber que nem todos os grandes criminosos de guerra conseguem escapar à justiça. O mundo está melhor com a prisão de Karadzic.

UM POUCO DE CANADÁ


Hoje, um pouco do Canadá através do Guardian e da BBC.
Vancouver é das cidades mais bonitas do mundo. A combinação de montanhas, florestas densas, mar e uma cidade de 2 milhões de habitantes é única. Há gente que faz questão de não morrer sem ir a Meca, a Roma, a Nova Iorque, Machu Pichu, as pirâmides do Egipto, entre outros. Fazem bem. Porém, a esses lugares devíamos juntar Vancouver. A cidade é lindíssima e "super natural" (como um dos slogans da British Columbia anuncia). Há gente de todo o lado do mundo, mas a comunidade asiática é crescentemente dominante. Dim sum, sushi e churrasco coreano são os pratos da região, bem como o inevitável salmão selvagem. Apesar da inclemente chuva que cai durante todo o Inverno (e Primavera e Outono), os "Vancouverites" gostam de dizer que este é o melhor lugar no mundo. Aliás, as matrículas dos carros assim o anunciam. Mesmo que não seja o melhor, é sem dúvida, um dos sítios mais agradáveis para viver e visitar. Acredite e, se puder, venha ver com os seus próprios olhos, principalmente se for no Verão, quando o tempo é muito bom.
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Obviamente, nem tudo é bom. Como já aqui falei, Vancouver e a British Columbia são também dos maiores exportadores de marijuana, como esta reportagem da BBC indica. A criminalidade é ainda baixa, mas, se for comprar uma casa, é sempre bom verificar se anteriormente não terá sido utilizada para a produção de droga...
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Por ser tão bonita e agradável, Vancouver tem-se tornado numa cidade muito cara para comprar casa. O preço médio das casas é de cerca 450 mil dólares, mas uma casa com um cantinho de vista pode facilmente chegar ao 1 milhão de dólares. Penthouses com vista para as baías de Vancouver custam uns bons milhões. Nos últimos anos, o anúncio de que Vancouver irá acolher os Jogos Olímpicos de Inverno de 2010 deram azo a uma autêntica corrida às casas, o que fez com que os preços aumentassem ainda mais. No entanto, nem tudo foi mal. Vancouver aproveitou a ocasião para se renovar e, como se pode ver aqui nesta reportagem do Guardian, tornou-se num modelo de como regenerar os centros das grandes cidades.
Uma cidade que vale a pena visitar.

21 julho 2008

CAMPEÕES NACIONAIS

No meu próximo livro de Economia, há um capítulo sobre os chamados "Campeões Nacionais", empresas que pelo seu impacto nos mercados interno e externo se tornam verdadeiros campeões (económicos e de investigação científica e tecnológica). Já tenho 5 ou 6, mas não me importaria de adicionar mais alguns exemplos. Alguma sugestão?

CIGANOS ITALIANOS

Não é só em Portugal que as comunidades ciganas recebem um tratamento discriminatório e pouco adequado segundo os nossos "elevados" padrões de europeus. Em Itália, as coisas são tão más ou piores que em Portugal. Duas raparigas de etnia cigana afogaram-se este fim-de-semana numa praia perto de Nápoles. Os corpos vieram dar à praia e antes que fossem retirados pelas autoridades, o que é que os(as) banhistas fizeram? Nada. Olharam para os corpos e voltaram costas, banhando-se como se nada tivesse acontecido. Somos assim os europeus. Lutamos pelas grandes causas e pelos direitos humanos em Darfur, pela liberdade do Tibete e da Birmânia, insurgimo-nos contra as atrocidades de Guantanamo, mas quando nos chega a nossa vez fingimos que não é nada connosco. Mas o que é que interessa? São ciganos... Enfim...

NOTA DE 100 BILIÕES

E como as notas de 5, de 10, de 25 e 50 biliões já não chegam para as encomendas, eis que surgem as notas de 100 biliões de dólares no Zimbabwe. O que é que 100 biliões de dólares compram? Nem um pão de segunda. Como as hiperinflações destroem as economias, não é de surpreender que o Guardian fale hoje da possibilidade de haver uma grande fome nesse país africano. Segundo a ONU, cerca de 5 milhões de pessoas poderão ser afectadas pela quebra de produção alimentar no Zimbabwe. Há cada vez mais gente a emigrar do país.

LISBOA NO NEW YORK TIMES

Lisboa continua a ter destaque no New York Times. Desta vez, o Times tem um artigo sobre a vida cultural lisboeta. Para ver aqui.
PS. Obrigado ao Tiago Villanueva pela referência ao artigo

18 julho 2008

NOTA DE 50 BILIÔES


Como prometido, aqui estão as notas de 5, 25 de de 50 (!!!) biliões de dólares do Zimbabwe. Como já são zeros a mais, o banco central deixar de emitir notas "normais" e passou a imprimir notas de "agro-cheques", que, como se pode ver, não têm zeros. Mais uma singularidade do regime de Mugabe. Recorde-se que outra originalidade do Banco Central Zimbabweano é emitir notas com data de validade. O dinheiro expira no Zimbabwe, quer porque perde valor com a hiperinflação quer porque a partir de certa data não mais é aceite.

Quanto valem 5 biliões de Z dólares? Cerca de 20 cêntimos de um euro, o preço de um ovo. E isto era ontem. É provável que já esteja mais "caro", pois is preços duplicam quase todos os dias.

NOTA DE 500 MILHÕES

E aí está uma nota de 500 milhões de dólares do Zimbabwe. Pelo que parece, já há notas de 1,5 biliões de dólares e de 2,5 biliões de dólares... Uma cerveja já custa a módica quantia de 15 biliões de dólares. Uma pechincha, pois é bem menos que um euro. Um jornal custa(va) cerca de 25 biliões de dólares.

17 julho 2008

MÁS E BOAS NOTÍCIAS

Primeiro as más notícias. O INE divulgou hoje as suas estimativas para a actividade económica dos primeiros e segundos trimestres de 2008 e concluiu que houve um agravamento significativo do sentimento económico e da confiança dos agentes económicos. Os factores que realmente interessam para a retoma, as exportações e o investimento, também abrandaram. No entanto, é de referir que, apesar do choque petrolífero, as exportações continuam a crescer a um ritmo significativo na ordem dos 5.8 por cento. Se isto é uma grande recessão, venham muitas. O pior é em relação ao investimento, que retoma a sua trajectória descendente após uma recuperação tímida no ano passado. A principal causa desta queda do investimento foi o sector da construção.
Mas nem tudo são notícias más. O FMI reviu em alta as suas previsões para a economia mundial, que agora se estima venha a crescer acima dos 4 por cento este ano. Isto é, apesar de um choque petrolífero, de uma grave crise financeira nos Estados Unidos (com ramificações noutros países) e uma subida acentuada dos preços dos produtos alimentares, a economia mundial ainda cresce a um ritmo bastante alto. Boas notícias para os países subdesenvolvidos e para o nosso sector exportador, que será menos afectado pela crise internacional do que anteriormente se tinha previsto.
Moral da história: a economia mundial está hoje bem mais resistente a choques negativos como o que vivemos do que há 30 ou 20 anos atrás. E porquê? Porque, contrariamente aos choques petrolíferos dos anos 70 e 80, os países subdesenvolvidos estão hoje em dia bem mais saudáveis e dinâmicos economicamente. E todos ganhamos com isso.

REACÇÕES AOS PREÇOS ALTOS


E aí está uma resposta à subida dos preços dos combustíveis.
Foto de uma campanha da Greenpeace indiana.

16 julho 2008

A DESVALORIZAÇÃO DO EURO

Nos últimos 6 anos o euro valorizou-se cerca de 80 por cento face ao dólar. Como muitos países (como a China, por exemplo) ainda têm o dólar como moeda de referência, a desvalorização da moeda americana tem ajudado os sectores exportadores de muitos dos nossos concorrentes. Como (nas últimas décadas) Portugal tem sido tradicionalmente um país de moeda fraca, a adesão ao euro apresentaria sempre dificuldades para muitas das nossas empresas. Em vez do euro saiu-nos um super-euro, e por isso as dificuldades só têm sido ainda maiores para os nossos exportadores, o que tem levado muitos a simplesmente fecharem as portas por não conseguirem competir nos mercados internacionais. Estas são as más notícias, ou a realidade dos últimos anos. E agora, quiçá, as boas notícias. Apesar de estar a entrar em recessão, a política (implícita ou explícita) do dólar fraco parece ter os dias contados. Primeiro foi George Bush a anunciar que é apologista do dólar forte. Como Bush tem pouca credibilidade, ninguém lhe deu ouvidos. Porém, hoje foi o presidente da Fed, Ben Bernanke, que o anunciou. Bernanke afirmou categoricamente que a inflação americana estava "demasiado elevada", o que significa que as taxas de juro americanas vão começar a subir, provavelmente mais depressa do que antes se previa.
Ora, como o BCE anunciou que não prevê subir as taxas de juro até ao final do Verão (no mínimo), o diferencial entre as taxas de juros europeias e americanas vai diminuir. Consequência? O dólar vai subir e o euro descer. Boas notícias para muitos dos nossos exportadores, principalmente para aqueles que exportam para o espaço extra-comunitário.

A GRANDE VITÓRIA

Depois da sua estrondosa vitória eleitoral, Robert Mugabe continua a ser portador de boas novas para o povo do Zimbabwe. Soube-se hoje que a inflação oficial do país já é 2 milhões por cento (2.000.000%) e há quem diga que este mês já tenha subido para os 10 milhões por cento ao ano. Como acontece nas hiperinflações, apesar da enorme competência das autoridades governamentais, os preços têm crescido a uma taxa tão rápida que já não é possível imprimir notas a um ritmo suficiente para satisfazer a procura. Segundo o Guardian (um jornal reaccionário da antiga potência colonial), o limite máximo para os levantamentos bancários é de agora 100 biliões (ou 100 mil milhões, se preferirem) de dólares do Zimbabwe, limite que é mais generoso para a cúpula governativa e militar, a quem é permitido levantar 1,5 triliões de dólares por dia. E quanto valem 100 biliões de dólares do Zimbabwe hoje em dia? A módica quantia de 50 cêntimos do euro. Ou seja, com Mugabe no poder, o povo do Zimbabwe consegue ter notas muito mais elevadas do que os próprios europeus ou americanos. Espantoso, sem dúvida. Como é visível, a prosperidade do regime do democrata e iluminado Robert Mugabe não pára de aumentar. Se fosse na América, era caso para dizer "Glod Bless Him"!

15 julho 2008

ECONOMIA PORTUGUESA

O Banco de Portugal publicou hoje o seu boletim de Verão. Como era de esperar, num cenário de grande arrefecimento da economia mundial e subida considerável dos produtos alimentares e petrolíferos, as previsões do Banco sobre a economia portuguesa são mais pessimistas que as apresentadas no início do ano. Ainda assim, e apesar do abrandamento, as exportações continuam a resistir e o investimento dá sinais de finalmente estar a recuperar após ter caído 13 por cento entre 2002 e 2006. Mais tarde analisarei o que o Boletim do BP nos diz. Por enquanto fica aqui um cheirinho do mesmo:
"As perspectivas para a economia portuguesa no período 2008-2009 são marcadas por um fraco crescimento da actividade, num contexto de deterioração do enquadramento económico e financeiro internacional. A interacção entre a desaceleração económica a nível global e a situação de turbulência nos mercados financeiros internaci onais, bem como o aumento dos preços das matérias-primas, com destaque para o petróleo, não deixará de ter um impacto muito significativo numa pequena economia como a portuguesa, fortemente integrada em termos económicos e financeiros. A redução da procura externa dirigida às empresas nacionais, o aumento do grau de restritividade das condições de financiamento e a transmis são do elevado nível do preço do petróleo aos custos internos são factores que deverão afectar negativamente o crescimento económico no horizonte de previsão. Neste contexto, projecta-se um aumento significativo das necessidades de financiamento da economia, reflectindo uma deterioração da balança energética e um aumento substancial do défice da balança de rendimentos, decorrente da evolução dos custos de financiamento e da deterioração continuada da posição de investi mento internacional. Esta projecção encontra-se rodeada por níveis de incerteza particularmente elevados e apresenta riscos descendentes significativos sobre a actividade económica associados, no essencial, à duração e magnitude da turbulência nos mercados financeiros internacionais, bem como à respectiva interacção com o crescimento económico a nível global."

MAIS MÁS NOTÍCIAS DOS EUA

Ben Bernanke, presidente da Fed, apresentou hoje um balanço bastante pessimista da economia americana. Segundo ele: "The economy continues to face numerous difficulties, including ongoing strains in financial markets, declining house prices, a softening labor market, and rising prices of oil, food, and some other commodities". Por isso, os próximos tempos não serão certamente bons para a economia americana. De facto, cada dia que passa aparecem mais notícias sobre a crise financeira e a grande quebra do mercado imobiliário. Conjugadas com o choque petrolífero, temos a receita ideal para a economia cair numa recessão. Já poucos duvidam da sua inevitabilidade. Cada vez mais a grande questão é saber quanto tempo é que os tempos recessivos irão durar.

14 julho 2008

INTERVENCIONISMO DISFARÇADO

É sempre assim. Os que mais pregam as doutrinas liberais para os outros, os que exigem que os outros privatizem tudo sem condições, são quase sempre os primeiros a não o fazer quando o têm ou deviam fazer. Já foi assim no Reino Unido aquando da quase-nacionalização do Northern Rock (uma instituição financeira à beira do colapso) e é agora assim nos Estados Unidos. Como as duas principais operadoras financeiras da área imobiliária estão em graves dificuldades de liquidez, o governo americano já apresentou um plano para as resgatar que equivale a uma quase-nacionalização dessas empresas financeiras. Em causa está um enorme portfólio de empréstimos à habitação (na ordem dos 5 triliões de dólares), correspondendo a quase metade do total dos empréstimos à habitação. Note-se que não estou contra a tal intervenção. O que estou contra é a duplicidade de critérios. Se fosse em Portugal, se fosse o BES ou o BCP em crise, certamente que cairia o Carmo e a Trindade em Bruxelas se o Estado português decidisse fazer o mesmo. Se o fizéssemos seríamos certamente acusados de proteccionismo ou nacionalismo económicos alegadamente incompatíveis com os ditames do mercado único europeu. É a nossa sina de país pequeno...

O DESMITOS NO SEU MELHOR _ Perguntas dos leitores

A troca destes comentários entre a Gi, o António, o Miguel Carvalho e o Tiago foi extremanente estimulante e informativa. Obrigado a todos. É exactamente para este tipo de debates que o Desmitos foi criado. Como estive sem apoio escolar nas últimas duas semanas para os meus filhos, não me foi possível até agora responder adequadamente ao debate. Aqui vão mais algumas reflexões:
  1. O António afirma: "o PIB e consequentemente o rendimento per capita é hoje 22% superior ao que era há 12 anos atrás. Como é possivel então esta enorme sensação generalizada de crise, lojas e restaurantes a fecharem e a enorme sensação de perca de poder de compra. Com raras excepções, julgo que a generalidade das pessoas se sente hoje mais pobre do que há 12 anos. E isso nota-se claramente no comportamento das pessoas. Não creio que isto seja uma mera ilusão." É verdade que o PIB cresceu entre 1 a 2 por cento nos últimos anos. Quando o PIB por habitante cresce a 1 por cento ao ano, leva 70 anos para que o PIB per capita duplique. 70 anos. O que quer dizer que em 10 anos, pouca diferença se irá notar nos rendimentos dos particulares. Por outro lado, como o debate indicou, em parte, a resposta a este aparemte paradoxo pode ser atribuída ao endividamento das famílias. Há 12 anos muitas das nossas famílias (sobre)endividaram-se para poderem comprar carros, casas, CDs, aparelhagens, viagens ao Brasil e muitas outras coisas. Ou seja, o consumo foi imediato, mas o pagamento foi faseado por alguns anos. Doze anos mais tarde, muitas famílias continuam a pagar as suas casas, os seus cartões de crédito, e as suas viagens ao Brasil. Por que o fazem, e por que estão demasiado endividadas, agora não podem comprar carros novos, viajar para o Brasil (ou outros lugares) e/ou embarcar em grandes loucuras consumistas. Por isso, é natural que haja mal-estar: as dívidas persistem mas o consumo não aumenta. Isto passou-se em vários países, mas em Portugal foi pior, porque atingimos níveis de endividamento superiores.
  2. Desigualdades de rendimentos. A hipótese avançada pelo Tiago faz todo o sentido. No entanto, há igualmente outros factores a considerar. Não só o aumento do PIB foi muito reduzido, como também não há grandes sinais que as desigualdades sociais estejam a aumentar em Portugal. As desiguldades são grandes e graves, mas não parecem estar a aumentar.
  3. Confiança dos consumidores. O Miguel fala de um assunto pertinente, a baixa confiança dos consumidores, que não dá mostras de aumentar. Indepedentemente da importância do consumo, mais do que a confiança dos consumidores, é vital haver uma recuperação da confiança dos investidores. Porquê? Porque o consumo quase sempre avança ou recua ao ritmo do PIB, enquanto o investimento responde 2 a 3 vezes mais do que o PIB. Ou seja, quando o PIB cresce 10%, o investimento cresce 20 ou 30%, quando o PIB cai, o investimento cai muito mais. Por isso, o melhor indicador de retoma económica é a confiança dos investidores. Quando estes(as) tiverem mais optimistas, podemos estar certos que a retoma estará à porta.

LIMPAR O TELHADO



A limpar o telhado do estado olímpico de Pequim antes do início dos Jogos Olímpicos.

COMO MATÁ-LOS

Ficou-se a saber na última semana que os Estados Unidos exportam cerca de 158 milhões de dólares em tabaco para o Irão. Mais uma vez, a economia sobrepõe-se à política. Quem aproveitou a tirada da publicação destes números para fazer política foi John MacCain, o candidato republicano à Casa Branca. Quando lhe perguntaram a sua opinião sobre a exportação de cigarros americanos para o Irão, McCain respondeu que "talvez essa seja uma maneira de os matar". Hmmmm.... McCain ainda se desculpou que estava a brincar, mas a deixa estava dada. O Irão já protestou formalmente da brincadeira.

11 julho 2008

BEST BOOKER


Salman Rushdie ganhou o Best of Bookers com o seu "Midnight's Children" (traduzido e publicado como "Os Filhos da Meia-Noite", edições D. Quixote). O livro foi considerado o melhor dos Bookers Prizes dos últimos 40 anos. Como o Booker premeia aquele que é considerado o melhor livro de ficção de língua inglesa (com a excepção dos Estados Unidos), o feito é considerável. Este é um prémio inteiramente justo. Midnight's Children é um dos melhores livros do século 20, uma saga ímpar de crianças que nascem no mesmo segundo que acontece a independência da Índia. Um livro notável e um dos poucos que li repetidas vezes. Se ainda não o leu, aproveite a ocasião e faça-o. Vai ver que não se vai arrepender.

10 julho 2008

O PESSIMISMO DAS EMPRESAS

Como o António já nos vem alertado há algum tempo, as empresas estão bastante pessimistas quanto à evolução da economia nacional nos próximos tempos. Aliás, a significativa queda da Bolsa portuguesa no primeiro semestre do ano reflecte exactamente este pessimismo. A confirmar estas suspeitas, a Associação Industrial Portuguesa apresentou os resultados de um inquérito que mostra bem o pessimismo reinante no nosso mundo empresarial. Segundo o DN, "De um universo de 1260 empresas abrangidas pelo inquérito, que engloba associados da AIP, mas também de outros sectores de actividade além dos industrial, 88% classificou de "má" ou "muito má" a actual situação económica (mais 23 pontos percentuais do que no inquérito de 2007". E apenas 11% considerou a conjuntura que atravessamos é "normal". Além disso, 69% estima que a situação económica em 2008 será "pior ou muito pior" do que em 2007. E apenas 25% admitem que poderá ser igual à do exercício anterior."
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Não é de espantar este pessimismo. A estagnação económica já dura há 7 anos e quando as coisas pareciam ir melhorar, eis que surge a pior das crises possíveis: um choque petrolífero que fez subir os custos operacionais de todas as empresas e fez diminuir a procura externa dos nossos produtos. É por isso que já há gente do partido do governo que afirma que as "contas saíram furadas ao governo". Pois. E é por isso que surgiram as medidas de desespero ao apostar numa nova política de betão que terá rendibilidades muito duvidosas na maioria dos casos.
Apesar da crise e das contas furadas do governo, o inquérito da AIP tem alguns aspectos positivos. Ainda segundo o DN, "a maioria das empresas inquiridas avalia de forma positiva a sua situação financeira e 59% delas tem intenção de realizar investimentos, no decurso deste ano, superiores aos de 2007." Ou seja, a crise está aí, as coisas estão difíceis para as empresas, mas, ainda assim, a grande maioria das empresas tem confiança no futuro da economia portuguesa. Se não tivessem, certamente não estariam disponíveis para aumentar os seus investimentos na economia nacional, um aumento de investimento que, sublinhe-se uma vez mais, acontece numa altura particularmente pouco favorável no panorama económico internacional. E se isto não são boas notícias, são pelo menos boas indicações que as nossas empresas continuam a acreditar na nossa economia.

INEFICIÊNCIAS

Afinal, contrariamente ao que muitos nos tentam convencer, nós não temos o monopólio das ineficiências, dos desperdícios e da desorganização. Após terem gasto cerca de 7 biliões (ou mil milhões, se preferirem) de euros na construção do "mais avançado" terminal aeroportuário do mundo, os fiascos com o novo terminal 5 em Heathrow continuam. Incrivelmente, todos os dias no terminal 5 mais de 900 bagagens são perdidas ou não chegam ao seu destino final. 900! Se tiver que passar por esse terminal, fique a saber que as probabilidades da sua mala ser perdida são 1 em 12. Ou seja, há 8 por cento de probabilidade de perder a sua bagagem no terminal 5. Um fiasco de dimensões gigantescas e muito, muito dispendioso...

09 julho 2008

NEM TUDO VAI MAL

Uma breve nota só para dizer que, segundo o INE, nem tudo vai mal na nossa economia. Segundo os últimos dados disponíveis,
"Em Maio de 2008, o valor das novas encomendas recebidas pelas empresas industriais aumentou 3,0% em termos homólogos, em resultado de andamentos díspares observados nos mercados nacional (10,1%) e externo (-6,0%)... Todos os Grandes Agrupamentos Industriais apresentaram comportamentos positivos, destacando-se o de Bens de Investimento que, com uma taxa de variação de 31,6%, registou a maior aceleração (3,5 p.p.) e apresentou um contributo determinante para a variação positiva do índice agregado (8,2 p.p.). O agrupamento de Bens de Consumo inverteu a tendência negativa que mantinha nos últimos cinco meses, tendo registado uma variação homóloga de 0,8% e um contributo de 0,2 p.p. para a variação do índice total."
NO MERCARDO EXTERNO
"No trimestre terminado em Maio de 2008, as encomendas recebidas na indústria com origem no mercado externo diminuíram 6,0%, -6,1 p.p que o registado em Abril. O comportamento mais negativo do agrupamento de Bens Intermédios (taxa de variação de -15,4%, -7,3% em Abril) sobrepôs-se aos resultados positivos dos restantes agrupamentos, tendo contribuído com -8,8 p.p. para a variação do índice agregado. O agrupamento de Bens de Investimento apresentou o contributo positivo mais influente (2,8 p.p.)"
Traduzindo o economês (lendo o texto não admira que as pessoas achem a economia cheia de "números" e "chata"):
Apesar de toda a retórica com a crise, algumas coisas parecem começar a correr melhor. Primeiro, são alguns indícios que a estrutura das nossas exportações começa a mudar. Agora, estes dados reforçam a ideia que as encomendas das empresas estão a começar a aumentar gradual mas significativamente. Note-se ainda que estes dados sugerem que as empresas nacionais (domésticas) industriais estão a começar a investir mais. Houve um retrocesso nos mercados externos a nível dos bens de consumo, mas até nesses mercados os bens de investimento registaram uma variação positiva (o que é surpreendente, devido à crise internacional).
São pequenos passos, eu sei, mas ao menos há algum movimento.
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Isto não quer dizer que irá haver retoma este ano ou até para o próximo. Tudo depende da evolução da economia internacional e da confiança dos investidores nacionais e internacionais. Mesmo assim, nem tudo está a colapsar, como nos tentam convencer os habituais profetas da desgraça.
(PS. EStou fora e, por isso, não me foi possível responder ainda à interessante discussão entre o Tiago, o António, a Gi, e o Miguel nos comentários ao post do PIB. Irei fazê-lo assim que regresse)

07 julho 2008

LIVROS CHAMUSCADOS



Milhares de livros chamuscados após um incêndio numa biblioteca em Genebra, Suíça.

QUE PIB? QUE INFLAÇÃO?_ Perguntas dos leitores

A António coloca as seguintes questões sobre o PIB e sobre a inflação:
"Quando se diz por exemplo que o crescimento do PIB é de 1.5% estamos a falar de preços constantes ou preços correntes? É que se falarmos de preços constantes significa que de facto houve um crescimento económico de 1.5%. Isto é, que os cidadãos da região económica que registou esse aumento produziram na realidade mais 1.5% de riqueza. O que apesar de tudo não me parece muito mau. Mesmo 1% não me parece horrivel. E se quer que lhe diga, 0% a preços constantes também me não parece horrivel. Quer apenas dizer que em determinado ano os cidadãos de determinada região económica mantiveram o nivel de riqueza do ano anterior. Portanto ser bom ou mau nessas condições depende apenas do nivel de riqueza que essa região produziu anteriormente. Contudo se estramos a falar de valores a preços correntes então o caso muda de figura. Temos de "descontar" a inflação para podermos comparar. Neste caso a região económica terá de ter tido um crescimento pelo menos igual à inflação da sua região para que se possa concluir que a sociedade não terá ficado mais pobre do que no0 ano anterior. E qualquer décima que cresça acima da inflacção significa que a sociedade se tornou um pouco mais rica que no ano anterior.Outro aspecto a ter em conta é o grau de credibilidade do valor da inflação apurada. É evidente que tanto os governos como os bancos centrais têm interesse em não reconhecer taxas de inflação altas, já que o seu reconhecimento dava argumentos para elevados crescimentos da massa salarial o que constitui por si só mais um factor de tensão inflacionista, quer pelo lado do rendimento disponivel quer pelo lado do aumento do custo da produção. Por isso anda-me a parecer que anda muita gente a fazer mal as contas ou a considerar um cabaz que não traduz a realidade do consumo para fazer baixar os valores apurados da inflação. Não serei só eu a ter esta impressão e já há ex-ministros das finanças a levantar essa suspeita."
  1. Os números do PIB quase sempre são apresentados tendo em conta a inflação. Como o António refere, seria muito má ideia apresentar os dados em termos nominais. Se assim fosse, o PIB seria inflacionado pela subida dos preços. Por exemplo, como já aqui falámos, no Zimbabwe a taxa de inflação atinge os 150 mil por cento ao ano. Como o PIB a preços correntes mede o valor de tudo o que se produz num país (isto é, os preços de todos os bens e serviços multiplicados pelas quantidades transacionadas), então o PIB do Zimbabwe está a crescer e a taxas fantásticas. No entanto, se medirmos o PIB do Zimbabwe a preços constantes (isto é, temos X bens e serviços transacionados, mas assumimos que os preços desses produtos são de, por exemplo, 1999), então facilmente concluiremos que o PIB desse país tem decaído substancialmete nos últimos anos. O mesmo se passa em Portugal. Os dados do PIB são quase sempre os do PIB real (i.e. ajustado da inflação). E por isso, a variação é real e não motivada pela subida dos preços. Não temos que nos preocuparmos sobre isso.
  2. Quanto à taxa de inflação, como já aqui falámos, é verdade que há alguns problemas e dificuldades associados ao cálculo dessa taxa. Porém, a metodologia utilizada pelo INE e por outros institutos de estatística nacionais é comum a nível internacional (com algumas diferenças nacionais). O cabaz é determinado assumindo os hábitos de consumo de um cidadão médio. Como é uma média, não leva em linha de conta as taxas de inflação de acordo com os diferentes consumidores. Por exemplo, o cabaz de consumo dos consumidores mais pobres inclui uma maior percentagem de gastos em comida do que o cabaz dos mais ricos. Como os preços alimentares têm crescido mais do que outros produtos, os mais pobres têm taxas de inflação mais elevadas do que os mais ricos. No entanto, quando achamos a média, estas diferenças desaparecem. É esta uma das razões porque a taxa de inflação ainda não é muito significativa, apesar do aumento do preço do petróleo e dos bens alimentares

Obrigado

05 julho 2008

ILUSIONISMO À PORTUGUESA (2)

Perante o que se está a passar com os exames nacionais, acho que seria uma óptima ideia aproveitarmos a embalagem e começarmos a fazer ilusionismo com as nossas estatísticas do PIB e outros indicadores económicos. Podiamos assumir que a economia nacional crescia a 10 por cento ao ano, ou pelo menos 5%, o que resolvia de uma vez por todas o nosso problema com a convergência real com os países europeus mais avançados. Não era uma boa ideia?

ILUSIONISMO À PORTUGUESA _ citação

Citação do post de Carlos Fiolhais no De Rerum Natura sobre os resultados dos exames de matemática:
"Surpresa: os alunos já são bons a Matemática". É este o grande título de primeira página do "Público" de hoje. Seria bom se fosse verdadeiro. Infelizmente, não é. O título é irónico, porque os números por cima do título não mentem. É verdadeiramente impossível que, em escassos três anos (de 2005 a 2008), a média dos alunos internos no final do secundário tenha passado de medíocre (8,1 valores) para bom (14 valores) porque os sistemas educativos não mudam assim facil e rapidamente. São precisas mudanças bem feitas, que não tem havido, e muitos anos de esforço conjunto e coordenado, que também não tem havido, para haver uma subida, que nunca poderia ser de seis valores (cerca de 75 por cento!) em tão pouco tempo.Não se pode comparar o incomparável e os exames deste ano não podem ser comparados com os exames de anos anteriores. Eles foram manipulados para dar esta subida anómala, que é, portanto, puramente virtual: é a ilusão de uma subida. O ilusionismo está pois instalado ao mais alto nível do Estado, à semelhança do que acontece nos estados totalitários. A verdade sobre a educação está a ser ocultada num estado democrático. Espero que a democracia resista.

APITO NADA FINAL

Chegou finalmente a aguardada decisão do Conselho de Justiça sobre as alegações de corrupção no futebol português. Incrivelmente, uma decisão foi tomada após o presidente e o vice-presidente deste organismo da FPF terem dado por encerrada a referida reunião. Os restantes vogais optaram continuar a reunião sem o presidente e o vice-presidente do organismo e, horas mais tarde, chegaram a uma decisão. Independentemente dos afectos clubísticos de cada um, estes tristes episódios em nada ajudam o futebol português. Muito pelo contrário. Em vez de tentarem chegar a decisões isentas, todos os intervenientes deste processo denotam um insuportável favoritismo clubístico insustentável e lamentável. Se era a credibilidade do futebol português que estava em causa, então só ficámos menos credíveis. Com uma lástima de dirigentes destes, como é que espera que as coisas melhorem no futebol nacional?

04 julho 2008

MORRER É BOM

A minha crónica no PUBLICO de hoje:
Sabe qual é o país da União Europeia com a mais baixa taxa de mortalidade empresarial? Pois é, acertou. É mesmo Portugal. Que bom, pensamos. Quanto menos empresas morrerem menor é o desemprego, não? Quanto menos empresas morrerem mais sólido é o nosso tecido empresarial, não? Se pensa assim, pense duas vezes. Nem sempre é bom morrer de velho. Pelo menos economicamente. Quando as empresas morrem novas, as taxas de inovação são (quase sempre) mais elevadas. Em claro contraste, na última década, Portugal tem tido quase sempre as mais baixas taxas de mortalidade empresarial na União Europeia. Ou seja, é difícil e moroso morrer em Portugal, pelo menos a nível empresarial. E quem sofre é a produtividade e a inovação nacionais.
Na UE, Portugal tem também uma das mais baixas taxas de natalidade das empresas. Só o Chipre e a Suécia (por razões distintas) conseguem gerar menos empresas por ano do que nós. A nossa taxa de natalidade empresarial é na ordem dos 6.8 por cento (do total das empresas), o que corresponde ao terceiro pior desempenho dos países da UE.
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A mesma lógica aplica-se à taxa de sobrevivência empresarial, que é muitíssimo mais elevada em Portugal do que nos outros países europeus. A taxa de sobrevivência das nossas empresas ronda os 95 por cento. A média europeia é de cerca de 75 por cento. Com efeito, ninguém se aproxima às nossas taxas de sobrevivência empresarial. As nossas empresas sobrevivem e sobrevivem e sobrevivem. Contra tudo e contra todos.
Ora, estes indicadores são, acima de tudo, um sintoma do quão pouco dinâmica ainda é a nossa economia. É muito provável que este baixo dinamismo empresarial tenha duas causas. Em primeiro lugar, a ditadura de Salazar. A ditadura teve enormes repercussões políticas, como todos sabemos. Porém, o maior legado da ditadura é provavelmente económico. Ao envolver as nossas empresas numa redoma proteccionista, a ditadura de Salazar contribuiu a longo prazo para um menor dinamismo empresarial. Em segundo lugar, a invulgar taxa de sobrevivência das nossas empresas deve-se também ao Estado e, em particular, à ineficiência do nosso sistema judiciário. Um processo de falência em Portugal continua a ser uma autêntica tortura para todos os intervenientes. O processo arrasta-se e arrasta-se nos tribunais anos a fio. É como se tivéssemos um doente em morte cerebral, mas temos medo de desligar as máquinas porque ficamos à espera de um milagre que nunca irá acontecer.
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Não é assim surpreendente que as nossas taxas de capital de risco sejam das mais baixas da União Europeia. Arriscar em Portugal continua a ser uma palavra proibida ou, pelo menos, maldita. É uma pena, porque é quando se arrisca, quando se inova, conseguem-se vantagens competitivas sobre os nossos concorrentes
Nesse sentido, vale a pena lançar um repto a nós próprios e ao governo. Em vez de desperdiçarmos recursos num novo delírio do betão, devíamos canalizar os nossos esforços para o aumento da competitividade e dinamismo da nossa economia. Parte deste aumento da competitividade inclui um maior dinamismo na criação e destruição das empresas. Ao flexibilizarmos a natalidade e a mortalidade das empresas, ao acelerarmos os processos judiciais relativos à falência das empresas e ao fornecermos incentivos para uma menor taxa de sobrevivência das empresas, estaremos a contribuir para aumentar o dinamismo da nossa economia. E, ao fazê-lo, quem beneficiará será o crescimento económico e o desempenho da economia a médio e longo prazo.

03 julho 2008

SUBIDA DOS JUROS (3)

Como era esperado, o BCE subiu as taxas de juros de 4 para 4,25 por cento. Assinale-se que a subida dos juros não é muito agressiva, o que pode indiciar que o BCE ainda está a analisar se a inflação ameaça tornar-se mais preocupante. Ou seja, a subida dos juros não soa a desespero e o BCE parece estar a controlar a situação. Claro que os juros mais elevados não irão ajudar a recuperação da economia nacional, mas uma subida desta magnitude não irá causar muito prejuízo. O mais importante nesta decisão é a mudança de expectativas. Ao confirmar a subida dos juros, o BCE sinaliza aos europeus que a tendência para os próximos tempos será de juros mais elevados.

02 julho 2008

NÃO HÁ DINHEIRO

A líder do principal partido da oposição afirmou na sua primeira grande entrevista (após a sua eleição para esse cargo) que "não há dinheiro para nada" e que, por isso, o governo deveria repensar a sua política despesista com os investimentos públicos projectados para os próximos anos. Pois muito bem. Eu até concordo que a margem de manobra é baixa e que a situação das contas públicas continua a ser delicada. Concordo também que a maior parte dos investimentos públicos anunciados são demasiado caros e até desnecessários. Mesmo assim, seria interessante que Manuela Ferreira Leite nos explicasse três coisas:
  1. Como é que tenciona ganhar as eleições? Se não dinheiro para nada, o que é que um seu governo tenciona ajudar os portugueses(as)? Somente combater o défice orçamental?
  2. Que medidas é que propõe para combater a estagnação dos últimos anos e, pior, os efeitos do choque petrolífero? Combater o défice não chega para estimular uma economia. Ou será que Manuela Ferreira Leite pensa que sim?
  3. Todo o investimento público é mau ou haverá algum que faz sentido? Se o TGV é um erro, o que fazer com o dinheiro que lhe é destinado?

Esperemos que nos próximos tempos a líder da oposição consiga esclarecer a sua posição nestas matérias. De uma coisa podemos estar certos. O discurso de austeridade de Ferreira Leite não se alterou nos últimos anos. Porém, se tal discurso fazia sentido em 2002 ou em 2003, o mesmo não é verdade hoje em dia. O cinto dos portugueses já está apertado e vai ficar ainda mais com a crise internacional e com as subidas dos juros projectados pelo Banco Central Europeu. O desemprego já é dos mais elevados na União Europeia e irá certamente piorar antes de melhorar. Ficar de braços cruzados ou alegar que nada pode ser feito poderá ser um erro de dimensões colossais. E, certamente, é um erro político que Ferreira Leite arrisca-se a pagar.

REGRESSO DA VIOLÊNCIA

A violência regressou a Jerusalém. Tudo serve como arma, até uma escavadora.

01 julho 2008

A GRANDE QUEDA DA BOLSA

Mais um dia muito negro para a bolsa portuguesa. Já sabíamos que este ano já acumulava quedas de 30 por cento. Hoje a Bolsa ficou ainda em pior estado com perdas quase de 5 por cento. É um péssimo sinal, pois reflete bem aquilo que os investidores prevêem para o futuro, que se prevê bastante negro. Nesta queda bolsista, os investidores estão a dizer-nos que os próximos tempos vão ser muito difíceis. No fundo, o que se teme é uma repetição dos anos 70, quando um choque petrolífero abalou as estruturas da economia mundial.
De facto, a crise petrolífera e a consequente subida dos preços alimentares não auguram nada de bom. Aliás, o choque petrolífero é a maior ameaça para a nossa economia neste momento. E se no final do ano passado existiam já sinais que era possível ser mais optimista para o futuro da economia portuguesa, o choque petrolífero deita os optimismos por terra (como o António menciona neste comentário). Pelo menos a curto prazo.
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De todos os choques económicos possíveis, os choques petrolíferos são os piores. É o chamado choque de oferta negativo, que dá azo tanto a inflação mais elevada como a um aumento do dsemprego. E se hoje estamos bem mais preparados do que nos anos 70 para o combater, a verdade é que a recessão tem-se tornado mais realidade a cada dia que passa.
Como a economia portuguesa já estava bastante debilitada da estagnação dos últimos anos, para nós o impacto do choque petrolífero ameaça ser bastante sério. É este receio que tem feito os investidores abandonarem a bolsa portuguesa nos últimos tempos.

PINHEIROS AMEAÇADOS (2)

Todo o território nacional foi agora considerado pelo governo como sendo afectado pelo nemátodo do pinheiro. É uma má notícia, mas não surpreendente. Como já aqui falámos, este problema é originário do Canadá e não tem solução (pelo menos por enquanto). Infelizmente não há muito a fazer. É continuar a investigar esta praga e continuar a procurar soluções. No entanto, há um risco muito sério de perdermos completamente a nossa mancha florestal de pinheiros. Para além da enorme perda sentimental e material, o impacto económico será significativo. Segundo o PUBLICO, "O pinhal ocupa 710 mil hectares e alimenta três por cento do PIB, dez por cento das exportações e perto de 60 mil empregos." O que é que irá acontecer ao sector? Emagrecer, adaptar-se e adoptar outras culturas. E, claro, já estou a ver alguns dos mais belos pinhais do país transformados em enormes eucaliptais. Uma verdadeira tragédia. A natureza encarregar-se-á de acabar aquilo que os fogos não conseguiram.