31 maio 2010

TURISMO DE EXCELÊNCIA

Foto retirada do New York Times

Mais um artigo no New York Times extremamente elogioso sobre o nosso extraordinário potencial turístico. Depois Lisboa, desta vez foi o Porto e o Douro. A palavra que escolhida pelo autor para descrever a viagem foi "Wow", o que, sem dúvida diz muito sobre o que os outros pensam sobre o nosso país. É pena que muitos de nós ainda não tenham percebido o potencial que o país (não só o Algarve) tem para podermos ser um destino turístico ainda de maior referência.

28 maio 2010

A VERDADE DA PAIXÃO PELA EDUCAÇÃO (2)

Aqui está a tradução do meu post no Portuguese Economy sobre a nossa paixão pela Educação:

Nos últimos anos, os nossos governos têm feito uma grande aposta no investimento em Educação, por forma a melhorar o nosso capital humano e a competitividade da economia. E a aposta tem sido realmente grande. Após décadas de reduzido investimento em capital humano, Portugal gasta actualmente em Educação em percentagem do PIB do que a média da OCDE. A grande questão é assim: quão eficiente tem sido o investimento em Educação? Será que temos sido eficazes na melhoria da qualidade e da quantidade do capital humano português? A triste verdade é: não muito.
Como é que nós sabemos? Bem, só temos que olhar para os resultados dos inquéritos PISA para perceber que a qualidade da educação  em Portugal ainda deixa muito a desejar. Simplesmente ninguém na OCDE tem resultados piores ao nível da qualidade da Educação (matemática, leitura e ciência) do que os nossos alunos, com a excepção muito duvidosa do México e da Turquia.
Porém, e sabendo que a metodologia do PISA não é perfeita, haverá evidência empírica adicional em relação à eficiência do nosso sistema educativo? A resposta é positiva. A nova base de dados Barro-Lee acabou de ser publicada e os resultados são bastantes elucidativos.
Há boas notícias e más notícias quando analisamos os dados de Barro e Lee em relação à media de anos de escolaridade. As boas notícias é que, sem dúvida, e assim como podemos ver no gráfico 1, tem havido um aumento progressivo do número de anos de escolaridade desde a década de 1950 e, em particular, após a implementação da democracia. 

Gráfico 1 _ Anos médios de escolaridade em Portugal, 1950-2010 

As más notícias é que estes avanços não são assim tão impressionantes quando comparamos Portugal e outros países. Para perceber porquê, comecemos por comparar a situação actual em Portugal e outros países europeus. Mais tarde, iremos analisar o progresso (ou a falta dele) registado nas últimas décadas.
O próximo gráfico apresenta os anos de escolaridade média em vários países da Europa Ocidental e a Europa de Leste em 2010. O gráfico é bastante revelador. Apesar de todo o investimento das últimas décadas, nós ainda somos o país com a pior escolaridade média em toda União Europeia.


  Gráfico 2 _ Anos médios de escolaridade em 2010 
 
Se atentarmos agora para os anos médios de escolaridade para o ensino secundário, Portugal está ligeiramente melhor em termos relativos, mas não muito. 

25 maio 2010

CRISE RENOVADORA

A crise que vivemos é muito mais do que uma mera consequência da crise financeira internacional de 2008 e da crise da dívida soberana de 2010. A crise nacional é, acima de tudo, uma crise interna que se vem arrastando há quase 10 anos, e que se agravou consideravelmente nos últimos dois anos por influência destas crises internacionais. Porém, a convulsão das últimas semanas veio somente confirmar que o caminho que temos vindo a trilhar não é, de forma alguma, sustentável.
É igualmente patente que as últimas semanas foram a machadada final neste governo. O governo está completamente desacreditado, infinitamente descredibilizado e irremediavelmente desorientado. Não tem salvação possível. O governo só não cai porque seria irresponsável fazê-lo nesta altura em que os mercados financeiros ainda não estão serenados, e porque temos eleições presidenciais para o ano. Se não, o mais certo é que já estivéssemos a caminho de novas eleições ou já teríamos um governo de iniciativa presidencial. Mesmo assim, este é claramente o momento de começar a pensar e a preparar o futuro, e de debater os alicerces fundadores de uma nova política económica, que nos resgate do irrealismo e das irresponsabilidades dos últimos anos. 
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A crise chegou a tais proporções que um próximo governo irá simultaneamente ter mais dificuldades em governar, mas mais facilidades em reformar. Será mais difícil governar porque terão que ser tomadas medidas corajosas que irão causar alguma contestação social e sindical, e porque as medidas de austeridade terão que continuar por algum tempo. Porém, o próximo governo terá igualmente condições quase únicas para poder efectuar reformas estruturais, principalmente ao nível do aparelho do Estado. E é esta a grande oportunidade da Grande Crise portuguesa. Esta poderá ser, de facto, uma autêntica crise renovadora, pois a gravidade da mesma oferece-nos uma oportunidade ímpar para efectuar uma reforma profunda e duradoura do nosso Estado. Uma reforma que poderá marcar as próximas gerações. É assim chegada a hora de inverter o excessivo despesismo do Estado, que debilita a nossa economia e fragiliza o sector privado. É chegada a hora de acabar com o crescimento desmesurado de um Estado cada vez mais desproporcionado à dimensão da economia nacional e financiado por um apetite fiscal excessivamente voraz. E é chegada a hora de acabar com o chocante clientelismo e inaceitável favoritismo do Estado.
Contrariamente ao que às vezes se pensa, Portugal não tem necessariamente que declinar. Portugal tem que se reformar. Para que tal aconteça, é preciso uma visão estratégica e vontade política. Para bem de todos, esperemos que o próximo governo esteja à altura deste desafio e de aproveitar esta crise para renovar Portugal.

24 maio 2010

DÉFICE ZERO ATÉ 2016 (2)

Umas palavras adicionais sobre o objectivo do défice zero até 2016, num post no Portuguese Economy.

AVISOS DO PASSADO

Para quem pensa que alguns dos problemas actuais não eram bem conhecidos há quase 20 anos, aqui fica uma citação do chamado Relatório Porter sobre as vantagens competitivas nacionais. O relatório foi escrito em 1994:

"Grande parte do crescimento de Portugal nos últimos anos deve-se aos investimentos da CE em infra-estruturas e a um forte crescimento do consumo. Mas as infra-estruturas já estão praticamente implementadas e o país não pode continuar a consumir a um nível que excede a sua criação de riqueza." (p. 15)

Como é óbvio, não só os nossos governantes não entenderam que as infra-estruturas principais já estavam feitas (bem pelo contrário), como a preocupação de estarmos a consumir acima das nossas possibilidades ficou adiada por quase 20 anos. Os resultados estão bem à vista.

20 maio 2010

DÉFICE ZERO ATÉ 2016

Uma das propostas do novo livro que estou a escrever é que um próximo governo devia fazer os possíveis para alcançar o equilíbrio orçamental o mais brevemente possível, um feito inédito no período democrático. A ideia era credibilizar a descredibilizada política económica e dar um sinal aos mercados que um próximo governo irá comportar-se de forma diametralmente oposta ao que se tem passado nos últimos anos. Como há um objectivo consensual de reduzir o défice orçamental para baixo de 3% do PIB até 2013, não é de todo despropositado ir um pouco mais longe e tentar alcançar o défice zero até 2016. É isso que defendo neste artigo no Jornal de Negócios. Para uma opinião diferente da minha, clique aqui.

14 maio 2010

IRRESPONSABILIDADES

Ontem provou-se que as irresponsabilidades do nosso passado recente se pagam muito, mas mesmo muito caro. E, claro, quem paga sempre a factura das irresponsabilidades dos nossos governantes são sempre os mesmos: os contribuintes e as gerações futuras. Quando é que Portugal irá mudar?

04 maio 2010

TRÊS CRISES

Um dos temas do meu novo livro (que estou actualmente a escrever) relaciona-se com as três grandes crises económicas que Portugal enfrenta actualmente (a crise das finanças públicas, a crise do endividamento e a crise da competitividade). Irei falar sobre estes temas nas próximas semanas enquanto escrevo o livro. Entretanto, fica aqui um pequeno depoimento que dei para o Expresso/Revista Exame, onde falo sobre o assunto:

03 maio 2010

RATING E GOVERNO

O Diário Económico fez-me umas perguntas sobre o corte do rating da dívida e sobre a minha avaliação em relação ao comportamento do governo. Aqui estão as minhas respostas: 
DE_ Com interpreta os recentes cortes do rating da dívida da S&P e de outras agências de rating a Portugal, Grécia e Espanha? Parecem-lhe exagerados?
Sim, parecem-me um pouco exagerados. Principalmente, o corte do rating da dívida portuguesa por parte da S&P pareceu-me demasiado drástico. Porém, temos que perceber por que é que estas agências o fizeram. Tal aconteceu porque as últimas previsões (do FMI) sobre o crescimento económico nacional se revelaram ainda piores do que o esperado. Ora, num cenário de prolongada estagnação económica e na ausência de cortes significativos na despesa pública estrutural, os mercados e as agências de rating consideraram que aumentou o risco de Portugal não cumprir as suas obrigações financeiras. Assim, parte do recente comportamento das agências de rating não é totalmente injustificado.

DE_ Como podem as autoridades estancar o mais depressa possível a subida das yields das obrigações soberanas e trazer, novamente, a normalidade aos mercados?
Duas coisas: primeiro, a Europa tem que decidir, de uma vez por todas, o que quer fazer, se ajudar a Grécia de uma forma peremptória ou deixá-la ir à falência (e, quiçá mesmo, sair do euro). Andar neste vai-não-vai é que não nos leva a lado nenhum e só reforça a crença dos mercados de que os europeus não sabem o que querem.
Em segundo lugar, as autoridades portuguesas têm de actuar decisivamente, apresentando um plano mais rigoroso e mais credível de combate aos desequilíbrios orçamentais. Não basta protestar em vão contra os mercados. O que interessa é mostrar-lhes que estão enganados. Como? Cancelando as grandes obras públicas e cortando na despesa pública.

DE_ Qual a avaliação que faz à forma como o governo está a lidar com a situação?
O governo é, sem dúvida nenhuma, largamente responsável pela situação actual. A prestação do governo já deixava muito a desejar pela aposta desenfreada em grandes obras públicas de utilidade muito duvidosa com recurso às parcerias público privadas (que só serão pagas a partir de 2013), e pela sistemática desorçamentação de despesas. Porém, nos últimos meses, o desnorte do governo acentuou-se, penalizando seriamente a credibilidade de Portugal.
Primeiro, por motivos eleitorais, o governo andou a fazer passar a ideia de que o défice orçamental seria muitíssimo mais pequeno do que realmente era. Em seguida, o governo fez tudo para adiar o anúncio do défice o mais possível e, quando o fez, foi por demais evidente que o plano de ataque ao défice e à dívida pública era muito insuficiente. Finalmente, o governo andou semanas sem actuar, tentando fingir que a crise da dívida soberana não tinha nada a ver connosco. Um erro crasso, como é evidente.
Em suma, a actuação do governo tem sido um verdadeiro desastre, um desastre que ainda iremos pagar muito caro.