Nos últimos anos, analisámos e dissecámos até à exaustão os milagres irlandeses e finlandeses, por forma a contrapor o recente insucesso da economia portuguesa com a alegada superioridade destes modelos económicos. Porém, e independentemente da justeza e da relevância destas comparações, mais do que a Irlanda ou a Finlândia, é cada vez mais evidente que o exemplo mais pertinente para a estagnação que a economia nacional se encontra na última década é-nos dado pelo Leste alemão. O meu artigo de hoje no Público debruça-se exactamente sobre isso:
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"Há 20 anos atrás, inebriado pela histórica reunificação política, o governo alemão decidiu converter as moedas das duas Alemanhas numa relação paritária (muito favorável aos alemães de Leste), concedendo níveis salariais ao Leste alemão muito superiores à produtividade média dos seus trabalhadores. No início, as coisas ainda correram bem, pois, embalados por um grande incremento do investimento público, o Leste alemão cresceu consideravelmente. Porém, a partir dos meados dos anos 90, a economia estagnou e a receita mágica do investimento público perdeu lustre e eficácia. Deste modo, e apesar de se registarem transferências anuais na ordem dos 100 mil milhões de euros, a economia da antiga Alemanha de Leste permaneceu pouco dinâmica e o desemprego subiu para patamares acima dos 15%.
Por que é que a experiência do Leste alemão tem sido tão má? Porque a sobrevalorização da moeda e os salários demasiados elevados para o nível de produtividade da Alemanha de Leste asfixiaram a competitividade das empresas e hipotecaram toda e qualquer possibilidade de alcançar um crescimento baseado em indústrias competitivas nos mercados internacionais. É exactamente neste contexto que vale a pena comparar a crise nacional dos últimos anos com o Leste alemão. Tal como a Alemanha de Leste, também nós adoptámos uma moeda forte sem que as empresas estivessem preparadas para um tal choque. Tal como o Leste alemão, também nós preferimos construir infra-estruturas em vez de apostar na melhoria do capital humano ou numa maior competitividade fiscal (como os irlandeses). Tal como a Alemanha oriental, também nós nos iludimos ao pensar que todos os nossos males seriam resolvidos com abundantes subsídios externos. Tal como o Leste alemão, a falta de competitividade é o nosso principal desafio e deveria ser a nossa maior preocupação.
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Porém, há outra lição alemã que interessa reter. Após quase duas décadas de declínio relativo, o Leste alemão começou finalmente a dar mostras de uma maior competitividade. Como é que tal foi alcançado? Através do crescimento da produtividade e da moderação salarial. Como os alemães não podem desvalorizar a moeda para estimular as suas exportações e como perceberam que o investimento público, por si só, não origina ganhos de competitividade, as empresas e os trabalhadores do Leste alemão chegaram à conclusão que a única maneira de resolver a crise é apostar na concertação social, na inovação e na melhoria da produtividade. Assim, nos últimos 5 anos, a produtividade relativa do Leste alemão aumentou e os salários relativos decresceram em comparação aos restantes parceiros europeus.
E em Portugal? Após 8 anos de estagnação e de crise, estaremos nós a seguir os passos dos alemães? Não. Muito pelo contrário. Nos últimos anos, a produtividade relativa decresceu e os salários médios aumentaram em relação à média europeia. Exactamente o contrário do que devia estar a acontecer numa altura de crise. E o problema é que a crise internacional e, principalmente, as eleições que se avizinham vieram agravar ainda mais esta situação. Infelizmente, em Portugal, os aumentos de produtividade continuam a iludir-nos, e a moderação social é consistentemente hipotecada por interesses políticos, sindicais e patronais. Ou seja, continuamos a ser demasiado bairristas na nossa política de competitividade e pouco inovadores na aposta por uma maior produtividade. E esta é uma das coisas que temos de alterar urgentemente se não queremos que a crise nacional dos últimos anos se prolongue por muitos e longos anos, tal como aconteceu durante tanto tempo na Alemanha de Leste. "
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"Há 20 anos atrás, inebriado pela histórica reunificação política, o governo alemão decidiu converter as moedas das duas Alemanhas numa relação paritária (muito favorável aos alemães de Leste), concedendo níveis salariais ao Leste alemão muito superiores à produtividade média dos seus trabalhadores. No início, as coisas ainda correram bem, pois, embalados por um grande incremento do investimento público, o Leste alemão cresceu consideravelmente. Porém, a partir dos meados dos anos 90, a economia estagnou e a receita mágica do investimento público perdeu lustre e eficácia. Deste modo, e apesar de se registarem transferências anuais na ordem dos 100 mil milhões de euros, a economia da antiga Alemanha de Leste permaneceu pouco dinâmica e o desemprego subiu para patamares acima dos 15%.
Por que é que a experiência do Leste alemão tem sido tão má? Porque a sobrevalorização da moeda e os salários demasiados elevados para o nível de produtividade da Alemanha de Leste asfixiaram a competitividade das empresas e hipotecaram toda e qualquer possibilidade de alcançar um crescimento baseado em indústrias competitivas nos mercados internacionais. É exactamente neste contexto que vale a pena comparar a crise nacional dos últimos anos com o Leste alemão. Tal como a Alemanha de Leste, também nós adoptámos uma moeda forte sem que as empresas estivessem preparadas para um tal choque. Tal como o Leste alemão, também nós preferimos construir infra-estruturas em vez de apostar na melhoria do capital humano ou numa maior competitividade fiscal (como os irlandeses). Tal como a Alemanha oriental, também nós nos iludimos ao pensar que todos os nossos males seriam resolvidos com abundantes subsídios externos. Tal como o Leste alemão, a falta de competitividade é o nosso principal desafio e deveria ser a nossa maior preocupação.
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Porém, há outra lição alemã que interessa reter. Após quase duas décadas de declínio relativo, o Leste alemão começou finalmente a dar mostras de uma maior competitividade. Como é que tal foi alcançado? Através do crescimento da produtividade e da moderação salarial. Como os alemães não podem desvalorizar a moeda para estimular as suas exportações e como perceberam que o investimento público, por si só, não origina ganhos de competitividade, as empresas e os trabalhadores do Leste alemão chegaram à conclusão que a única maneira de resolver a crise é apostar na concertação social, na inovação e na melhoria da produtividade. Assim, nos últimos 5 anos, a produtividade relativa do Leste alemão aumentou e os salários relativos decresceram em comparação aos restantes parceiros europeus.
E em Portugal? Após 8 anos de estagnação e de crise, estaremos nós a seguir os passos dos alemães? Não. Muito pelo contrário. Nos últimos anos, a produtividade relativa decresceu e os salários médios aumentaram em relação à média europeia. Exactamente o contrário do que devia estar a acontecer numa altura de crise. E o problema é que a crise internacional e, principalmente, as eleições que se avizinham vieram agravar ainda mais esta situação. Infelizmente, em Portugal, os aumentos de produtividade continuam a iludir-nos, e a moderação social é consistentemente hipotecada por interesses políticos, sindicais e patronais. Ou seja, continuamos a ser demasiado bairristas na nossa política de competitividade e pouco inovadores na aposta por uma maior produtividade. E esta é uma das coisas que temos de alterar urgentemente se não queremos que a crise nacional dos últimos anos se prolongue por muitos e longos anos, tal como aconteceu durante tanto tempo na Alemanha de Leste.
Portanto, meu caro Álvaro só nos resta sair do euro.
ResponderEliminarPorque nós não mudamos. No nosso país nós fazemos tudo bem. São os outros que fazem tudo mal. É asssim que nós somos.
Antonio