O meu texto do último fim-de-semana no Notícias Magazine foi sobre as negociações para o próximo Orçamento de Estado. O texto foi escrito antes do anúncio das últimas medidas de austeridade, mas a lógica aplica-se na mesma:
"Nos últimos dias, governo e oposição têm levado a cabo um dos exemplos mais clássicos da Economia: o chamado jogo do dilema do prisioneiro. A ideia deste jogo é simples. Imagine que dois indivíduos cometem um crime, mas são apanhados. Os dois prisioneiros começam por negar o delito e, por isso, a polícia opta por entrevistá-los separadamente para ver se um deles denuncia o outro. Para que tal aconteça, os polícias propõem uma redução de pena para o delator e um agravamento da mesma para o delatado. Se, por outro lado, nenhum deles abrir a boca, a pena dos dois será mais branda, pois a polícia não conseguirá provar o crime. Ou seja, a melhor estratégia para os dois é a cooperação entre eles, evitando denúncias.
O jogo do Orçamento português tem a mesma lógica. Nem o Governo nem o maior partido da Oposição querem ceder nas negociações, pois os dois pensam que o primeiro a ceder perde junto do eleitorado. O primeiro-ministro não quer ceder, pois não quer ser responsabilizado pelo indesculpável descontrolo da despesa pública. E o líder da oposição não quer ceder, pois considera que uma redução da despesa é fundamental e que um aumento dos impostos é inaceitável. Assim, arriscamo-nos a cair numa situação em que o Orçamento não é aprovado e todos perdemos, pois os mercados internacionais decerto não perdoariam uma situação tão ambígua.
Portanto, só resta uma solução: a cooperação. Como? Obtendo um acordo sobre a redução da despesa do Estado. E tal como no jogo do prisioneiro, se houver cooperação, não só ficarão os dois mais bem vistos perante a opinião pública, como também o país agradece. "
Não seria mais útil, para Portugal e para os portugueses, que isso se aplicasse a verdadeiras reformas estruturais e não meras operações insustentáveis de maquilhagem conjuntural?
ResponderEliminarCaro Daniel Conceição,
ResponderEliminarconcordo plenamente consigo, só que esse caso de figura depende de factores conjunturais (ou seja da intelegência dos nossos dirigentes).