12 junho 2009

IRRESPONSABILIDADE AO RUBRO

O meu artigo no DN de ontem sobre as eleições europeias.
"No rescaldo das eleições europeias, alguns ministros do governo já vieram a público afirmar que o calendário da aprovação das grandes obras públicas era para manter. Não interessa o pequeno pormenor que as eleições legislativas se irão realizar em Outubro e que há sempre a possibilidade de o país mudar de rumo (com ou sem o PS). Não interessa que o partido do governo perdeu as eleições de forma decisiva. Não interessa que os portugueses mostraram um enorme desinteresse em relação à política actual ou que vociferaram um inédito voto de protesto através de um número recorde de votos brancos e nulos. Não interessa sequer que, até hoje, nenhum governo explicou aos portugueses as verdadeiras consequências financeiras e económicas de projectos como o TGV.
Afinal, se as grandes construtoras anseiam pelas grandes obras públicas, o que importam a opinião dos portugueses ou o interesse nacional? No entanto, a verdade é que, ao teimar nessa estratégia autista, contra tudo e contra todos, o governo faz um péssimo serviço ao país. Independentemente da cor política de cada um, as regras mínimas da prudência e da responsabilidade democrática seriam para o governo esperar pelo veredicto das eleições de Outubro antes de embarcar na adjudicação das grandes empreitadas. Para perceber porquê, basta lembrar que projectos como o TGV irão dar azo aos maiores custos financeiros e económicos desde a Guerra Colonial.
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Numa altura em que o endividamento da economia portuguesa atingiu níveis históricos e em que o mundo se debate com a maior recessão das últimas décadas, insistir na irresponsabilidade das grandes obra públicas como o TGV sem as submeter ao plebiscito dos portugueses é de uma irresponsabilidade atroz, com laivos de uma prepotência política indefensável. No mínimo, é uma atitude extremamente questionável.
Por isso, interessa perguntar: porquê tanta pressa? Por que não esperar quatro meses? Por que não perguntar aos portugueses a nossa opinião sobre o assunto, antes de decidir assinar contratos que terão enormes consequências financeiras para as próximas gerações? Ora, sabendo que os fundos europeus não vão ser redireccionados nuns meros quatro meses, sabendo que projectos como o TGV não se iniciarão a tempo para combater a crise actual, sabendo inclusivamente que o impacto de tais projectos no emprego é residual, por que é que o Governo quer aprovar as grandes obras públicas a todo custo antes de Outubro? Sinceramente, é difícil perceber o porquê de tamanha teimosia, a não ser que apelemos a certas teorias conspirativas de interesses obscuros que todos gostamos de negar.
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Esperemos assim que o cartão amarelo das eleições europeias sirvam para o governo reflectir e suspender temporariamente a adjudicação das grandes empreitadas. Pessoalmente, até acho que este governo teve o mérito de iniciar algumas reformas importantes para o futuro do país. Porém, ao insistir numa estratégia cega, demagógica e irresponsável nos projectos das grandes obras públicas, o governo ameaça hipotecar irremediavelmente o seu próprio legado político. E quem pagará a factura serão os portugueses, durante muitas e muitas décadas. E, claro, tal acontecerá mesmo que o governo actual não vença as eleições de Outubro.

2 comentários:

Heimdall disse...

Encontrei o seu blog depois de o ver no programa "Prós e Contras" há meses atrás. Se bem me lembro o assunto do programa era o futuro do país e também se discutiu essas grandes obras públicas.

Gostei da forma como falou e então, desde aí que tenho seguido este blog e aprendido muito.

Realmente as razões que o governo dá ao povo para avançar com estas obras públicas são um pouco duvidosas mas queria lhe perguntar uma coisa: Lembro de ouvir em qualquer lado que Portugal tinha um acordo qualquer com Espanha em relação a ter o TGV pronto antes de um determinado ano e que se isso não acontecer Portugal iria ser penalizado, isto é verdade? Será que não temos que cumprir coisas com as quais já nos comprometemos ?

Obrigado e continuação de um bom trabalho. Era bom haver mais pessoas como você e prestar este tipo de serviço público.

Alvaro Santos Pereira disse...

Heimdall,
Obrigado pela sua participação e bem-vindo ao blog. Concordo consigo. A minha resposta à sua pergunta sobre o TGV é: depende da fase em que os acordos já foram cumpridos. Penso que ainda estamos a tempo de inverter alguns destes projectos. No entanto, só mesmo governo é que sabe a fase em que nos encontramos. O que é lamentável é que não haja mais transparência sobre o assunto

Abraço

Alvaro