30 setembro 2008

OS FANTASMAS DE 1929

O meu artigo de hoje no Diário de Notícias sobre a crise financeira internacional:
O chumbo do plano de resgate do sistema financeiro americano por parte da Câmara de Representantes é um sério revés para a estabilidade dos mercados financeiros internacionais e ressuscita os fantasmas da Grande Depressão que se seguiu ao colapso de Wall Street em 1929.
Esta é, sem dúvida alguma, a maior crise financeira que o mundo já enfrentou desde 1929 e as ramificações far-se-ão sentir no resto da economia. Ainda assim, apesar da sua potencial magnitude e das inevitáveis semelhanças, não é crível que a crise se venha a transformar numa nova Grande Depressão, quando o mundo foi arrastado para a maior recessão económica desde o início da Revolução Industrial. Actualmente, os governos e os bancos centrais estão muito melhor preparados para lidar com crises financeiras do que em 1929. Na altura, a Fed tinha menos de duas décadas de existência e a ideologia dominante não advogava a intervenção nos mercados. Por isso, nos anos 1930, a Fed respondeu às falências dos bancos privados com uma ainda maior contracção dos fundos ao dispor da economia. Hoje em dia, os bancos centrais aprenderam as lições da Grande Depressão e têm feito tudo para injectar grandes quantidades de fundos nos mercados para que estes não tenham problemas de liquidez. Os governos são também muito mais interventores do que na década de 1930.
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Ainda assim, os riscos de uma crise económica acentuada são bastante elevados e é patente que é necessário fazer alguma coisa para evitar o colapso dos mercados financeiros. As inevitáveis consequências para o resto da economia desta crise poderão incluir mais falências de instituições financeiras, mais nacionalizações temporárias, uma menor disponibilidade de crédito para os particulares e as empresas, crédito mais caro (que certamente terá consequências em Portugal), menor volume de negócios e um aumento do desemprego.
Por todos estes motivos e mesmo que o Congresso americano consiga chegar a um novo acordo nos próximos dias, uma recessão das principais economias mundiais parece inevitável. É difícil prever qual será a duração da crise, mas é natural que a recessão seja a mais prolongada das últimas duas décadas. Os próximos tempos o dirão. Entretanto, a enorme volatilidade dos mercados irá certamente continuar.

29 setembro 2008

BAILOUT E IDEOLOGIA

Depois da crise financeira estar sanada, podemos ter a certeza que a ideologia dominante das últimas décadas vai sofrer grandes alterações, principalmente a nível da regulamentação dos mercados. Acima de tudo, ficaria verdadeiramente surpreendido se a crise financeira não fosse aproveitada para aumentar o nível de proteccionismo das economias ocidentais.
Não haverá quem ponha as culpas à economia de mercado pelo que está a acontecer e aproveite a ocasião para levar a cabo uma ideologia mais proteccionista. Quem sofrerá com isto tudo? Os consumidores dos países mais avançados (que terão que pagar mais pelos produtos que consomem) e, principalmente, os países subdesenvolvidos que irão ver as portas dos mercados dos países mais avançados fechar-se mais uma vez.

BAILOUT

Os líderes do Congresso Americano anunciara hoje que tinham chegado a acordo sobre o plano de resgate das instituições financeiras do país. As sombras da crise financeira ainda pairam sobre os mercados internacionais, mas os investidores já podem respirar um pouco mais tranquilos. Por aquilo que já foi dado a conhecer os principais pontos do plano incluem: a protecção dos contribuintes (através da compra de títulos de empresas com valor), a entrega faseada do dinheiro ao governo americano para o resgate das intituições financeiras, (alguma) ajuda aos donos das casas com problemas de pagamentos, limites para o pagamento de compensações aos presidentes e aos CEOs das empresas em dificuldades, bem como o estabelecimento de duas novas instituições de controlo e supervisão dos mercados financeiros.
Pelo que parece, tanto os Democratas como uma grande parte dos Republicanos concordam com o plano. Veremos se tal acontece na votação do plano no Congresso.
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Entretanto, as ramificações da crise continuam a chegar à Europa. Desta vez, foi no Reino Unido e na Bélgica, cujos governos optaram por nacionalizar dois bancos de grande dimensão, o Fortis NV, e uma das maiores instituições de concessão de crédito hipotecário no Reino Unido.
E certamente que não ficaremos por aqui.

A FARSA BELARRUSSA

No fim-de-semana passado realizaram-se eleições na Belorrússia. Havia 99 novos assentos parlamentares em jogo e, surpresa das supresas, o partido do governo conquistou-os todos. E das duas umas: ou carisma do líder belorrusso, Alexandre Lukashenko, rivaliza o de Fidel (já reformado) em Cuba ou do Querido Líder na Coreia do Norte, ou as eleições foram uma farsa para ocidental ver. O que será?

27 setembro 2008

AS CAUSAS DA CRISE (NACIONAL)

Segunda parte do meu artigo na Revista EXAME de Setembro:
A crise actual tem três grandes causas, duas conjunturais e uma estrutural. Em primeiro lugar, a crise está claramente associada à nossa adesão ao euro. No tempo em que ainda tínhamos o escudo, quando a crise batia à porta, a solução era relativamente simples: desvalorizávamos a moeda para tornar as nossas exportações mais competitivas, baixávamos as taxas de juros para estimular a procura agregada (através do investimento e do consumo) e o governo aumentava as despesas (ou cortava os impostos). A adopção da moeda unida europeia privou-nos das políticas cambiais e monetárias independentes e restringiu seriamente a política fiscal, limitando a eficácia da resposta da política económica.
A nível cambial, as dificuldades já eram esperadas, pelo menos em parte. Nas últimas décadas Portugal nunca teve uma moeda forte e, por isso, a introdução da moeda única iria sempre colocar problemas de competitividade a muitas empresas portuguesas. No entanto, o choque do euro foi bem maior do que se previa, pois desde os meados do ano 2000 o euro valorizou-se 80 por cento em relação à moeda americana, bem como contra todas as divisas (como a chinesa) que gravitam à volta do dólar.
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Mesmo se o euro não se tivesse valorizado tanto, o facto de não podermos utilizar mais a política monetária retirou-nos margem de manobra na condução de políticas anti-crise. As restrições orçamentais do Pacto de Estabilidade só vieram diminuir ainda mais a importância da política económica em tempos recessivos. Para além do mais, o euro deu azo ainda a um outro efeito perverso. A pronunciada descida das taxas de juros associadas à adesão ao euro fez com que muitas famílias portuguesas se endividassem para níveis nunca dantes vistos na história moderna portuguesa. Actualmente as famílias estão tão sobre-endividadas que há pouca margem para o consumo privado se expandir. Para complicar ainda mais a situação, o endividamento do Estado e elevado défice orçamental dos últimos anos impossibilitaram a utilização da política fiscal para estimular a economia. Por todos estes motivos, os primeiros anos do euro não têm sido muito auspiciosos para a economia nacional.
Porém, como se já não nos bastassem as dificuldades causadas pelo super-euro, nas últimas duas décadas temos sido vítimas (e beneficiários) de uma das mais importantes transformações estruturais das últimas décadas: o renascimento da Índia e da China, que tem originado enormes problemas de competitividade a muitas das nossas empresas. Já sabíamos que o nosso modelo económico tradicional estava esgotado e que, mais cedo ou mais tarde, os nossos principais sectores exportadores não seriam competitivos face aos seus concorrentes asiáticos e da Europa de Leste. Porém, a adesão ao euro e a liberalização do comércio mundial vieram acelerar o fim do nosso modelo económico baseado em baixa produtividade e salários baixos.
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Apesar de todas as dificuldades, em finais de 2007, parecia que a economia portuguesa já começava a operar eficientemente dentro dos constrangimentos do euro e da globalização. As exportações cresciam a um ritmo muito saudável e a confiança dos investidores dava mostras de estar a regressar. O investimento tornou-se positivo pela primeira vez em 5 anos. O governo e o Banco de Portugal saudaram quase entusiasticamente um crescimento económico de quase 2 por cento em 2007 (um valor que seria considerado anémico noutras alturas) e tudo indicava que uma retoma sustentada estava finalmente à porta.
E foi então que começámos a sentir os efeitos do choque petrolífero e as repercussões da crise financeira americana. Presentemente, arriscamo-nos a voltar ao indesejado mundo da estagflação que caracterizou os anos 70, ameaçando originar ainda mais desemprego bem como o regresso da inflação. Por enquanto, a economia mundial tem resistido relativamente bem à subida dos preços petrolíferos e dos produtos alimentares. Os países em desenvolvimento continuam a ser o motor da economia mundial e, apesar do abrandamento económico, a recessão ainda não chegou à maioria dos países da OCDE. Ainda assim, o risco de um abrandamento brusco permanece elevado. É bom lembrar que os choques de oferta negativos são o pior dos choques que podem afectar uma economia e que as crises mais acentuadas da economia mundial dos últimos 60 anos foram sempre associadas aos choques petrolíferos.
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Sendo uma economia muito aberta ao exterior e muito integrada com a Europa, Portugal certamente está a sentir o efeito do choque petrolífero, tanto a nível da produção como dos preços. As sombras da recessão começam novamente a pairar sobre a economia portuguesa. Perante este cenário, interessa averiguar a existência de sinais que possam indiciar uma reviravolta na crise dos últimos anos.
(continua...)

25 setembro 2008

CRISE FINANCEIRA

O plano da Administração Bush para tentar salvar a economia americana continua a ser debatido no Congresso. Quando tivermos os pormenores do plano falarei sobre o mesmo no Desmitos.
Entretanto, John McCain interrompe a sua campanha (e suspende a sua participação no primeiro debate com Obama agendado para esta sexta-feira) para regressar a Washington com o objectivo de ajudar resolver a crise. Hmmm, há quem diga que a verdadeira intenção de McCain é adiar o debate entre Sarh Palin e Joe Biden. É que quando Palin fala não há como disfarçar a sua falta de preparação extrema sobre os mais elementares assuntos. A postura de Palin nas entrevistas também é de arrepiar. Se não acredita, veja com os seus próprios olhos:

O MILAGRE BRASILEIRO

A Revista Time tem um artigo interessante sobre o milagre económico brasileiro. O Brasil é cada vez mais visto pela comunidade internacional como um dos exemplos a seguir. Parece que o futuro está mesmo a chegar ao eterno-país-com-futuro.

FOER EM VIDEO

Uma das coqueluches da nova literatura americana, Jonathan Safran Foer, fala sobre os seus livros e sobre a escrita neste video.

LIVRO TERMINADO

Acabei ontem de escrever o meu novo livro, que tem por título "O Mito do Insucesso Nacional". Os próximos dias serão dedicados às necessárias revisões, mas o principal está feito.
O livro tenta radiografar a situação actual, pô-la no seu devido contexto histórico e internacional, e apresenta possíveis soluções para a economia portuguesa sair da crise. Entre outras coisas, debatem-se temas como:
  • Porque é que a ditadura não foi assim tão má (mas nos marcou tanto)
  • Porque é que foi óptimo termos sido colonizadores
  • Porque é que até as sanitas são sexys
  • Porque é que Braga já não produz só padres
  • Porque é que devíamos dar com os pés a Bruxelas
  • Porque é que Lisboa faz mal ao país
  • Porque é que devíamos fazer mais manguitos
  • Porque é que não premiamos a iniciativa

Alguns dos títulos parecem polémicos (como o do império), mas não o são na prática. Outros temas incluem a ineficiência da Justiça, a fraca qualidade da educação, bem como a verdade dos números do TGV.

Gostaria também de dizer que este livro também é vosso, assim como será mencionado na Introdução. Muitos dos temas têm sido aqui abordados e discutidos e os vossos comentários foram uma enorme fonte de inspiração. Obrigado a todos.

17 setembro 2008

PROCESSOS PENDENTES

Numa altura em que se debatem os salários dos juízes vale a pena relembrar o estado lamentável da Justiça portuguesa. O gráfico acima apresenta o número de processos pendentes nos tribunais portugueses entre 1992 e 2006. Os processos pendentes, aumentaram de cerca de 600 mil em 1995 para 1,6 milhões em 2005. Se isto é uma Justiça eficiente, então eu não sei o que é eficiência. Mas talvez esteja a ser demasiado pessimista. Talvez a produtividade na Justiça portuguesa se meça pelo número de processos nos tribunais. Se assim for, estamos cada vez melhores.
PS. Os dados são do Ministério da Justiça.

NACIONALIZAÇÃO DISFARÇADA

Mais uma nacionalização disfarçada na América. Desta vez foi a maior seguradora americana, a AIG, que tem estado em grandes dificuldades. Para evitar que esta importante empresa vá à falência, o governo americano optou por conceder um empréstimo de 85 mil milhões de dólares por dois anos à taxa de juro de 11,31%. Em contrapartida, o governo americano fica com 80% da empresa. Hmmm... Mais uma vez, os defensores do comércio livre e do Estado mínimo nacionalizam uma empresa quando esta está em risco. É interessante, pois quando os outros países têm empresas em dificuldades, a receita é sempre a mesma: deixem o mercado actuar!Enfim, como se diz na América, "some talk the talk, but don't walk the walk"...
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Veremos se a turbulência financeira pára por aqui. Quase de certeza que não...

16 setembro 2008

POLÍTICA EXTERNA

O Washington Post tem hoje um artigo do consagrado Fareed Zakaria sobre a política externa dos EUA e as eleições americanas que vale a pena ler.

O GRANDE DEGELO CONTINUA

Como já se previa, parece que este ano se vai bater um novo recorde do degelo no Ártico. A grande generalidade dos cientistas concordam que o grande degelo é consequência das emissões dos gases de efeito de estufa gerados pelos humanos. Quase toda a gente concorda. (Sarah Palin não...). Pessoalmente, acho que o degelo das calotas polares é o principal, se não único, sinal concreto que as alterações climáticas estão mesmo a acontecer.
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Desconfio sempre quando este ou aquele fenómeno natural é atribuído às alterações climáticas. É que um evento não é uma tendência. Assim, atribuir conflitos como o Darfur às alterações climáticas (como o secretário-geral da ONU fez recentemente) não faz sentido.
Porém, o mesmo não se passa com o degelo dos pólos. Os modelos climatéricos sempre o previram e os dados recolhidos mostram uma clara tendência de degelo que até tem superado as nossas piores previsões. As consequências de tal degelo ainda são intensamente debatidas. No entanto, a inevitabilidade do mesmo degelo é cada vez menos questionada.

15 setembro 2008

MAIS MÁS NOTÍCIAS PARA O SISTEMA FINANCEIRO

As más notícias no sistema financeiro não param. Agora foi a vez do Lehman Brothers, um dos maiores e mais antigos bancos de investimento americanos, que hoje declarou falência. Outra das maiores firmas de Wall Street, a Merryl Lynch está em dificuldades e vai ser vendida ao Bank of America. E, ainda por cima, uma das maiores seguradoras mundiais, a AIG, dá sinais de estar em grandes apertos. A contracção do crédito não pára e ameaça arrastar a economia mundial ainda para piores lençóis. Veremos como é que os mercados reagem a estas péssimas notícias. Provavelmente mal. Muito mal.

RECESSÃO NAS EXPORTAÇÕES?

A economia portuguesa está a atravessar o período de maior abrandamento dos últimos 80 anos. Quando as coisas pareciam estar a melhorar em finais de 2007, a crise financeira nos Estados Unidos e, principalmente, o choque petrolífero que se tem feito sentir um pouco por todo o mundo, começaram a ter impactos significativos na economia mundial.
Um choque petrolífero é o que em economês se apelida de choque de oferta negativo e é o pior de todos os choques possíveis. Nomeadamente, a acentuada subida dos preços dos produtos petrolíferos tem dado origem a um novo episódio de estagflação, que combina a estagnação económica (e uma subida do desemprego) e o aumento dos preços.
Tanto nos anos 70, como nos 80, os choques petrolíferos levaram a economia mundial à recessão e foram bastante nefastos para a economia mundial. O choque petrolífero actual não será excepção. O pronunciado abrandamento da economia mundial dos últimos meses e, principalmente, a recessão nos nossos principais parceiros económicos não augura nada de bom para a fragilizada economia portuguesa, pois a nossa procura externa cairá. Por todos estes motivos, seria verdadeiramente surpreendente (e um óptimo sinal) se conseguíssemos evitar cair numa recessão.

O que é que poderá acontecer com as recessões na Alemanha e na Espanha. Primeiro, é muito natural que as nossas exportações sejam bastante afectadas, eliminando alguns dos ganhos dos últimos 2 ou 3 anos. Em segundo lugar, é muito natural que, havendo menos procura destas economias, os exportadores procurem outros mercados. Ou seja, haverá uma tendência para diversificar os nossos mercados externos. Quais serão os mercados em causa? Provavelmente Angola, Moçambique, o Brasil, entre outros. Porquê? Não só pelas nossas afinidades históricas, mas também porque estas economias estão em franca expansão, o que tem levado muitos portugueses a investir nestes mercados.
Finalmente, o que é que poderemos fazer para atenuar a recessão? Acabar com a obsessão do défice e combater a crise. Como? Não gastando mais (que é a receita tradicional), mas dando mais incentivos e benefícios fiscais às empresas e aos particulares, de forma a estimular o investimento e o consumo. A lógica é simples: se as exportações decrescerem significativamente por causa da recessão europeia, ficamos sem um dos motores da retoma económica. Por isso, resta-nos tentar utilizar o outro, que é o investimento. Não despendendo mais fundos em obra faraónicas como o TGV, mas sim tornando as nossas empresas mais competitivas.
PS. Resposta a perguntas do DN sobre o efeito da recessão internacional sobre o nosso sector exportador

12 setembro 2008

O MILAGRE DA EDUCAÇÃO NACIONAL

O meu artigo no PUBLICO de hoje:
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Nos últimos anos, Portugal está a viver um autêntico milagre no sector da Educação. Segundo os dados mais recentes do Ministério da Educação, os progressos registados no sector educativo têm sido simplesmente notáveis, até mesmo prodigiosos. Em dois anos apenas (entre 2005 e 2007) as taxas de retenção escolares desceram mais de 30% no ensino secundário. Trinta por cento! Em dois anos! A melhoria dos indicadores nas taxas de retenção é generalizada no ensino secundário, apesar de ser mais pronunciada nos cursos tecnológicos. Em apenas dois anos, a taxa de retenção dos cursos tecnológicos do 10º ao 12º ano baixou 15 pontos percentuais, de 43,7% para 28,7% (um decréscimo de 34%). As taxas de retenção do 12º ano do ensino geral desceram 23% e dos cursos tecnológicos 34%. Ainda mais impressionante, as taxas de insucesso dos cursos tecnológicos do 11º ano decresceram quase 40%! A este ritmo, Portugal vai erradicar o insucesso escolar em menos de meia década e vai-se tornar num caso paradigmático de sucesso internacional.
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Porém, o milagre da Educação nacional não se restringe ao abandono escolar. Nas disciplinas em que tradicionalmente somos mais fracos, os nossos alunos descobriram recentemente fontes de inspiração e de conhecimento previamente inexploradas. Só no último ano, na Matemática do 12º ano as notas aumentaram mais de 30% e as reprovações baixaram para metade. Nos exames de Física as notas aumentaram quase 30% e em Biologia cerca de 15%.
Sinceramente não sei o que é que andamos a dar aos nossos alunos para terem tanto sucesso. Talvez sejam os efeitos da internet ou talvez a inspiração do Plano Tecnológico da Educação. No entanto, com estas melhorias, certamente que no próximo estudo comparativo dos sistemas educativos realizado pela OCDE (o chamado PISA) iremos passar de penúltimos (à frente do México) para primeiros (ou perto disso) a nível do desempenho dos nossos alunos. Não mais sofreremos a ignomínia de termos os piores rankings europeus da Educação, nem mais sofreremos a humilhação dos nossos atrasos estruturais no sector persistirem há décadas.
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De facto, com um progresso assim, não vale a pena angustiarmo-nos com o estado lastimável do nosso sector educativo. Não vale a pena preocuparmo-nos com as nossas taxas de abandono escolar terceiro-mundistas, que têm condenado gerações de jovens a trabalhos pouco qualificados e salários baixos. Não vale a pena deambularmos com o facto de gastarmos na Educação tanto como a média da OCDE em percentagem do PIB, mas continuarmos a ter o pior desempenho educativo da União Europeia. Não vale a pena analisar as razões porque é que, entre 57 sistemas de ensino nacionais, os alunos portugueses têm desempenhos medíocres nas áreas da Matemática, das Ciências e da Leitura.
Os avanços são tão extraordinários que nem vale a pena questionar se tudo não será um mero truque estatístico. Afinal, é sabido que os governos em Portugal têm por vezes a tendência em camuflar as nossas dificuldades estruturais na Educação com melhorias artificiais nos indicadores do sector, para que o país pareça melhor nos rankings internacionais. O milagre registado nos últimos anos não só é demonstrativo que acabámos de vez com esta lamentável tendência, como também nos dá garantia de uma inequívoca melhoria na qualidade da Educação nacional.
Ao ritmo do progresso alcançado nos últimos 3 anos, Portugal será dentro em breve a sociedade do conhecimento por excelência. Para quê preocuparmo-nos?
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PS. Este artigo foi escrito antes do Ministério da Educação ter publicado os dados referentes a 2007-08, os quais mostraram uma descida ainda mais impressionante das taxas de insucesso escolar. Deste modo, os novos dados só vêm reforçar ainda mais a ideia deste artigo.

A RECESSÃO E AS EXPORTAÇÕES

Um artigo do DN de hoje, da autoria de Rudolfo Rebêlo, debate com economistas o impacto que a recessão internacional poderá ter nas exportações portuguesas (e na economia nacional).

10 setembro 2008

PALIN, PALIN

A corrida à Casa Branca modificou-se totalmente com a chegada da Sarah Palin, candidata dos Republicanos à vice-presidência dos Estados Unidos. A primeira reacção foi de surpresa. Depois, veio o descrédito. Vários analistas deram a corrida por terminada, pois não era crível que uma governadora do pequeno estado do Alasca com apenas dois anos de experiência pudesse ajudar McCain. Estaria McCain a ficar demente?, perguntaram uns. Como é que ele teve coragem de escolher alguém com tão pouca experiência e com credenciais tão duvidosas (como, por exemplo, o marido ter pertencido a um partido que defense a independência do Alasca).
E depois veio o discurso na convenção Republicana. E tudo mudou. De um momento para o outro, Sarah Palin ficou uma heroína para os Republicanos, uma líder incontestada, uma mãe de cinco filhos que representa “tudo de bom que há na América”. Como Obama conseguiu na convenção democrata de 2004, Palin ficou uma estrela do seu partido imediatamente.
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Independentemente de gostarmos ou não das ideias de Palin, deve dizer-se que o discurso foi realmente muito bom e muito incisivo. A história de Palin é admirável, nem que não seja pelo facto de ser a primeira mulher com filhos pequenos que pode atingir um cargo tão importante nos EUA. E o discurso mudou a corrida à presidência. Não é à toa que McCain está à frente de todas sondagens pela primeira vez em muitos meses.
Porém, apesar de todas as suas virtudes, também convém não esquecer aquilo que Sarah Palin representa. Palin é uma criacionista que defende o ensino do criacionismo nas escolas públicas, acredita que a guerra do Iraque é literalmente uma guerra em prol de Deus, pensa que uma conduta petrolífera do Alasca é uma obra divina, acredita que o fim do mundo está a chegar, entre muitas outras coisas. Palin é tão ou mais radical do que Bush. E, como muitos dizem, está a um “bater do coração” (heartbeat) e a um coração de 72 anos de se tornar a pessoa mais poderosa do planeta.

PEDIDO DE DESCULPAS

Gostaria de pedir desculpas a todos por ter andado um pouco mais arredado do Desmitos nos últimos dias. Estou a acabar o nvo livro e as coisas têm andado um pouco "intensas". Espero que compreendam.