31 janeiro 2008

A GOLDEN SHARE DA PT

A União Europeia vai processar o Estado português devido à golden share na PT. A decisão não surpreende por três motivos. Primeiro, porque assim a Comissão Europeia reafirma a sua independência e reitera a ausência de favoritismos nas suas decisões. O que a Comissão nos está a dizer com esta decisão é: lá por o nosso presidente ser de uma determinada nacionalidade, não quer dizer que não iremos decidir (ou actuar) contra os interesses do seu país. Na União Europeia não existem nacionalidades e a decisão está aí para o provar. Segundo, os objectivos das golden shares já foram cumpridos. As golden shares eram um instrumento para nos fazer ganhar tempo, para que os nossos grupos económicos ficassem suficientemente fortes para conseguir competir com as suas congéneres europeias. Cumprido esse objectivo, poderíamos acabar com essa salvaguarda discriminatória sem grande prejuízo para os interesses nacionais. Terceiro, a decisão não supreende porque somos um país pequeno. Se fossemos a França ou a Alemanha ou até a Espanha a decisão até poderia ser a mesmo (o que é provável). Acatar essa mesma decisão é que poderia não acontecer.
Agora só nos resta uma opção: acabar com a golden share do Estado na PT (e na outras empresas) e fazer o que os outros (franceses, espanhóis, etc) fazem. Se assim o entendermos (o que certamente não é linear), podemos proteger os interesses nacionais nas nossas empresas de forma menos visível e menos óbvia do que as golden shares (como por exemplo, aconteceu recentemente com a Ibéria). E, como todos, sabem, existem maneiras bem criativas e dissimuladas para o fazer.

MCCAINATOR

Depois de Giuliani, chegou a vez de Schwarzenegger de expressar o seu apoio público a John McCain. O senador de Arizona parece cada vez mais imparável.

A SOLDADA

Quem disse que o exército não era bonito? (Nota: Modelo exibindo a nova colecção de roupa para mulher do exército russo)
STR/AP

TURBINAS

Quem disse que as turbinas eólicas não eram bonitas?
Sandy Huffaker/AP

MAU SEXO

A minha editora, a Guerra e Paz, lança este mês um livro com um título curiosíssimo. É o Sete Anos de Mau Sexo, escrito por Ana Anes e ilustrado por Mónica Catalá (com ilustrações ultra-picantes, dizem-nos). A publicidade está muito divertida e o livro parece ser engraçado. Sinceramente ainda não o li (infelizmente ainda não foi distribuído em Vancouver...), mas o título suscita-me uma pergunta intrigante. Porque é que será que a autora teve 7 anos de mau sexo? 7 anos? 7 (sete!) anos? São muitos anos... Na linguagem dos economistas, é caso para dizer que a autora ficou presa num mau equilibrio durante muito, muito tempo... Não existiriam maneiras eficientes de a retirar desse equilíbrio sub-óptimo?

O MITOS NA REVISTA "OS MEUS LIVROS"

O ENCONTRO "HISTÓRICO"

João Jardim encontra-se hoje com o ministro da Presidência, num encontro que o DN considera histórico (histórico???, histórico????!!!!). Será a primeira oportunidade para perceber se a estratégia de João Jardim de aumento da retórica independentista começa a surtir efeito. Pode não ser desta vez, mas não ficaria surpreendido que algum acordo fosse alcançado entre as duas partes antes das eleições de 2009. Afinal, não é à toa que João Jardim é João Jardim.

30 janeiro 2008

COMO FUNCIONAM OS MERCADOS

Dois comediantes britânicos explicam como é que os mercados financeiros realmente funcionam...

JUROS BAIXOS

A Fed fez exactamente aquilo que se previa, baixando as suas taxas directoras em 0,5 pontos percentuais. Aliás, os mercados financeiros já tinham descontado este corte das taxas de juro, e, assim, a volatilidade persiste.

EDWARDS OUT

John Edwards vai hoje anunciar a desistência da sua candidatura. Veremos se decide apoiar Obama ou Clinton. De qualquer maneira, a desistência de Edwards provavelmente aumenta as possibilidades de Obama conseguir vencer Hillary na "Super-Tuesday" de 5 de Fevereiro.

OS TIGRES DE AZAMBUJA

Dois tigres do circo Chen conseguiram fugir hoje de manhã perto de Azambuja. Fizeram muito bem. Saborearam por uns breves instantes a ilusão da liberdade. Ainda bem que ninguém foi atacado, mas fica o aviso sobre a utilização destes animais em circos. Afinal, não são os tigres animais em extinção? E mesmo assim não continuamos nós a permitir que tigres sejam usados como um instrumento lúdico em circos e outros lugares que tais? Ainda pior. Já repararam nas condições verdadeiramente primitivas e degradantes que os tigres são sujeitos nos circos portugueses? Os tigres e outros animais que vivem nos circos são postos numas jaulas onde não se podem exercitar minimamente. O stress é parte integrante das suas vidas. Enfim, uma vergonha. Uma tortura. Uma verdadeira tortura. Ora, nós já não estamos no século 19, quando a prática de utilização de animais era aceitável. Não. Já estamos no século 21. E se houve progresso, então é chegada a hora de acabar com a utilização destes animais magníficos nos circos.

a GRANDE crise

O economista-chefe do IMF, Simon Johnson, anunciou ontem em conferência de imprensa que a economia mundial vai abrandar em 2008 em relação aos últimos anos. Apesar de Johnson ter falado de um "slowdown" (abrandamento) da economia mundial e não de "crise", alguma da nossa imprensa não resistiu assustar-nos um pouco, ao referirem que Johnson afirmou que "nenhum país escapará à crise económica". Então? Onde é que ficamos? Crise ou abrandamento? Vejamos quais são as previsões. O FMI prevê que a economia mundial cresça 4.1 por cento durante 2008. 4.1 por cento. É certo que 4.1 é pior do que 4.9 por cento (que foi a taxa de crescimento da economia mundial em 2007). Mesmo assim, 4.1 por cento ao ano não é propriamente uma crise. Muito, muito longe disso.

UM FRIO DOS DIABOS


Até os macacos sofrem com o inclemente frio que assola a China.

MCCAIN E O DESGRAÇADO

John McCain é cada vez mais o favorito e o "front-runner" dos Republicanos. A vitória na Florida é só mais um sintoma desse mesmo favoritismo. Se alcançar bons resultados na próxima terça-feira (na chamada "Super-Tuesday"), McCain será provavelmente imparável. É certo que a ala mais conservadora ainda não está convencida pelo senador do Arizona, mas as alternativas não parecem ser suficientemente credíveis. Huckabee ainda pode vencer Alabama e o Tenessee, Romney ganhará alguns estados, mas a estrela de terça-feira pode ser McCain. Veremos. Quem parece estar definitivamente fora da corrida é Rudi Giuliani. Aquele que pensava ser imparável devido ao papel que desempenhou no infame 11 de Setembro não percebeu que a estratégia de apostar tudo na Florida era fundamentalmente errada. Enquanto McCain, Romney e até mesmo o comilão-de-esquilos-fritos ganharam protagonismo nos estados onde as primárias se realizaram, Giuliani foi esquecido pelos media nos pântanos da Florida. Quem foi responsável por estratégia tão bizarra devia ter ser imediatamente despedido por Giuliani. E ainda lhe devia pedir uma indemnização por o ter exposto ao ridículo. Agora resta a Giuliani apoiar um candidato, provavelmente McCain.

29 janeiro 2008

REMODELAÇÃO INCOMPLETA

A remodelação mais esperada do ano aconteceu. O governo muda de caras. Correia de Campos foi substituído por Ana Jorge no Ministério da Saúde e Isabel Pires de Lima dá lugar a José António Pinto Ribeiro na Cultura. Se a ex-ministra da Cultura já há muito tempo que era acossada pelas críticas, Correia de Campos nunca conseguiu ser popular. É sempre assim quem tenta reformar, quem tenta enfrentar interesses instalados. Correia de Campos errou, sim senhor. Mas não necessariamente nas reformas que tentou (e conseguiu) implementar. Errou na forma como o tentou fazer. Errou pela sua falta de charme. Errou por não conseguir perceber que este tipo de reformas só é viável se as mesmas forem explicadas às populações, se os governantes não forem completamente autistas às críticas que se lhes fazem. Errou ainda por não entender que reformas radicais só são possíveis quando acompanhadas por uma cuidadosa campanha de marketing. Ora, nada disto foi feito e o resultado está aí. O ministro está na rua. Esperemos que o mesmo não aconteça às reformas, pelo menos algumas delas.
Mesmo assim, de certa forma, esta mini-remodelação é uma oportunidade perdida. Não vai longe o suficiente. Para quê deixar de fora os ministros Manuel Pinho e Mário Lino ("eu?, jamais, jamais")? Porquê não levar a cabo uma reorganização do governo mais profunda? Penso que a única resposta possível para estas perguntas é que o Primeiro-Ministro decidiu esperar algum tempo, provavelmente até ao Verão, para o fazer. Só então é que a remodelação do governo ficará completa.

O I3S E O IPATIMUP

O Primeiro-Ministro e o Ministro da Cíência apadrinharam a fusão dos três institutos de investigação da Universidade do Porto, o INEB (Engenharia Biomédica), o IBMC (Biologia Molecular e Celular) e o Ipatimup (Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto. Alguns destes institutos fazem da melhor investigação na área da Ciência em Portugal e, por isso, esta fusão é significativa. O objectivo a médio prazo é passar de um contrato de cooperação para uma eventual fusão, criando o Instituto de Inovação e Investigação em Saúde (I3S). Sinceramente, acho que esta é uma boa ideia e é o primeiro passo no sentido de uma maior racionalização do sector da investigação. Durante anos, universidades e institutos propagaram-se um pouco por todo o lado, como se a qualidade educativa aumentasse com a quantidade de instituições. Como se o progresso do país estivesse dependente do aparecimento de mais uma faculdade, de mais uma universidade, de mais um instituto politécnico. Não é. Nunca foi e nunca será. Nesse sentido, a fusão de universidades e de institutos é uma inevitabilidade, que irá acontecer no nosso país. E ainda bem, digo eu.
Dito isto, o que eu tenho dúvidas é que uma instituição com quase 700 investigadores (!) possa trabalhar eficientemente. Afinal, como afirma Alberto Amaral, antigo reitor da Universidade do Porto: "Não há nenhum sítio em Portugal, nem há muitos sítios na Europa, que reúna num instituto de investigação cerca de 600 investigadores altamente qualificados" Pois não. E porque será? Será porque não faz sentido agregar tantos investigadores numa só instituição? Será que porque uma tal instituição poderá ser mais uma fonte de burocracia do que de excelência? Será porque existe o risco de existirem rendimentos decrescentes? Ou será que nós, portugueses, é que descobrimos a pólvora e inventámos uma supra-instituição investigadora capaz de rivalizar como o próprio MIT (tão admirado pelos nossos governantes)?
Acima de tudo, o que lamento é a escolha de nomenclatura. IPATIMUP é tão mais sui generis, tão mais singular, tão mais atraente do que I3S. I3S? I3S?? Que nome tão desadequado a instituição tão nobre, tão promissora, a um sonho tão bem sonhado. Parece mais uma designação de robots de um livro de ficção científica do que o nome daquele que pretende ser o instituto médico mais importante de Portugal.

O GRANDE NEVÃO

Uma grande parte de China continua soterrada pelos intensos nevões e tempestades de inverno que assolam o país. Nanjin na foto.

FLORIDA

Hoje é a Florida que está em jogo para os Republicanos. As sondagens dão Romney e McCain empatados estatisticamente. Giuliani, que apostou tudo neste Estado, aparece distante em terceiro lugar. Se McCain ganhar, fica cada vez mais o "front-runner". Se Romney vencer, a corrida ganha novo alento. Para Giuliani deve ser o fim. O mesmo destino parece estar reservado para o comilão de esquilos fritos, Mike Huckabee.

O ESTADO DA UNIÃO

George Bush deu o seu último discurso do Estado da União. O último. Há coisas que não nos deixam saudades.

COMENTÁRIOS DOS LEITORES (7)

O Antonio disse:
"Caro Álvaro, Como há uns dias lhe disse, gostei imenso do seu livro. Embora, como dificilmente poderia deixar de ser, tenha opiniões algo diferentes das suas. Disse-lhe anteriormente que considero esta crise um dos maiores desafios, senão o maior da nossa história... Depois de um terramoto torna-se óbvio a necessidade da reconstrução. É mais fácil unir esforços e ideais. Transformarmo-nos a nós próprios e superarmo-nos não é assim tão evidente. E há sempre quem não esteja de acordo. E no nosso país há quem por inépcia não esteja interessado em mudanças. Mas há quem também não esteja interessado porque essas reformas irão pôr em causa os sagrados direitos conquistados a seguir ao 25 de Abril. Existe muita gente a remar em sentido contrário. Não sei se chegaremos a bom porto. Para já o tal bom porto não está no horizonte. Continuamos a divergir. Passemos à frente. Estou a escrever-lhe no avião de regresso a Portugal depois de um fim de semana alargado passado entre Viena e Budapeste. Fiquei impressionado com Budapeste que não conhecia. Minha mulher diz-me que há 30 anos tudo estava esburacado e sujo. Mas hoje vejo Buda recuperada e Peste em franca recuperação com as sua enormes avenidas de imponentes edificios fim de imperio, arte nova e art deco e os sintomáticos Louis Vuitton e Cartier já instalados. Lembro-me da nossa Lisboa que deixa deitar a baixo alguns dos seus mais belos edificios e que por falta de coragem política e pura demagogia de alguns nunca até hoje resolveu o problema da legislação do arrendamento o que origina uma cada vez maior degradação urbana e que muitos edificios estejam tijolados e destinados cruelmente à demolição. Com a perca de uma enorme mais valia para a cidade. Não é assim que se dá a volta a um país.Invejo o seu optimismo."
Caro António, Mais uma vez obrigado pelos seus pertinentes e acutilantes comentários. Como já disse, ainda bem que discorda comigo. Aliás, o que é salutar é discordarmos uns dos outros. É essencial confrontar as nossas opiniões. Dialogar. Debater os problemas e as potenciais soluções. Só assim é que conseguimos avançar. É assim que o conhecimento progride. Por isso, discorde. Discorde muito, pois assim continuamos o diálogo. Vou responder às sua questões em dois ou três posts para poder fazer justiça aos seus comentários.
Sem dúvida que os países de Leste estão a fazer tremendos progressos. E ainda bem. Quando mais progredirem, menos gente há a sofrer as consequências da pobreza. Ainda assim, vale a pena relembrar que se Buda e Peste têm evoluído muito, também é preciso não esquecer que Portugal (Lisboa incluída) antes de 1986 era um país e hoje é outro. Em 1986, não havia sequer uma autoestrada a ligar as duas principais cidades do país. Em 1986, grande parte da economia estava na mão do Estado. Em 1986, os nossos níveis educacionais eram ainda piores do que são actualmente. Etc, etc, etc. Isto é, o progresso foi e continua a ser imenso. Nós já passámos pela primeira fase de adesão à União Europeia. Agora é importante (crucial mesmo) conseguirmos ser bem sucedidos na segunda fase, onde uma economia mais saudável e dinâmica tem que emergir dos escombros desta crise que vivemos. Amanhã respondo às suas questões da imigração e de Espanha.

O CAOS DO QUÉNIA


O Quénia continua a caminhar a passos largos para o caos, a guerra civil e o conflito étnico crescentemente generalizado. No passado fim-de.semana ainda houve a esperança que os ânimos serenassem, principalmente devido à intervenção da Kofi Annan. Mas não. Nos últimos dias a violência difundiu-se para outras zonas do país e há relatos de novos confrontos étnicos e centenas de mortos. É que cada vez mais patente que enquanto o presidente não ceder às exigências da oposição (i.e. convocar novas eleições) é praticamente impossível travar a espiral de violência.

28 janeiro 2008

A QUEDA

Caiu um F-16 perto da base aérea de Monte Real. E então? Noutros países, a queda de uma F-16 (ou avião similar) é um assunto sempre debatido, mas nada de especial. Lança-se um inquérito ao incidente, retiram-se conclusões e pouco mais. Em Portugal não é bem assim. Nos próximos dias, certamente aparecerão aqueles que nos dirão que a queda do F-16 era uma inevitabilidade, que a nossa frota militar não presta para nada, que a queda é um reflexo da crise, ou que o Estado está tão falido que já nem temos dinheiro para a manutenção dos aparelhos. O folclore habitual dos reclamadores habituais. Um disparate. Um perfeito disparate. O mais provável é que foi mesmo uma falha técnica que pode acontecer a este tipo de aviões em qualquer país do mundo. O extraordinário não é a nossa alegada incompetência técnica. O que é tão invulgar e insólito é que, de repente, tenhamos tantos conhecedores da indústria aeronaútica.

OS URSOS CONTINUAM

A volatilidade continua. E provavelmente continuará enquanto a situação económica dos Estados Unidos não for mais definida. Ficaria surpreendido se esta semana a Fed não baixasse as taxas de juros, provavelmente na ordem dos 0.5 pontos percentuais.

PERGUNTAS DOS LEITORES (1)

O Marco Bento faz as seguintes perguntas:
"Faz referência no seu livro que o Euro não foi bom para Portugal, dado que assim não existe um instrumento para desvalorizar a moeda (tornando as exportações mais competitivas) e outro para baixar as taxas de juro (promovento o aumento do consumo interno). Na actual conjuntura e supondo que tínhamos o escudo, em minha opinião a situação seria pior, pois: O Petróleo estaria mais caro, pois como o preço é dado em dólares, este estaria mais perto do escudo desvalorizado. O preço do petróleo poderia ser um entrave ao crescimento económico;
Para além disso, sendo Portugal mais importador que exportador (só não sei é de onde vêm maioritariamente as importações, se da União Europeia ou dos restantes mercados), agravaria a balança comercial e a subida das exportações não compensaria o aumento das importações. Aliás, as nossas exportações só seriam competitivas face ao mercado europeu (países da zona Euro) pois em relação aos restantes mercados ( a não ser que a desvalorização do escudo fosse forte), não haveria vantagem.
"
Caro Marco, Antes de responder à sua pergunta, deixe-me só esclarecer uma coisa. Eu acho que o Euro não foi bom para Portugal a curto prazo, pois originou uma crise conjuntural, que foi agravada devido à ressaca da economia depois dos excessos do final dos anos 90. No entanto, penso que o impacto do Euro será claramente positivo a longo prazo, pois uma moeda forte poderá ter alguns reflexos na produtividade de alguns dos nossos factores produtivos. Em relação à conjuntura actual, se Portugal ainda tivesse o escudo, certamente que a subida do preço do petróleo teria um impacto bem mais dramático na economia portuguesa. Nomeadamente, assumindo que o escudo não se valorizaria tanto como o Euro se tem valorizado, ter o escudo significaria importar mais inflação (pois uma moeda mais fraca, como o escudo, faria que as nossas importações fossem mais caras). Mais inflação levaria a mais instabilidade macroeconómica, o que por certo não abonaria nada para o crescimento económico. Por isso, tem razão. Mesmo assim, é inegável que, como temos uma moeda forte, as nossas exportações ficam mais caras. Para as empresas serem competitivas a nível internacional têm que se tornar mais produtivas. Enquanto isso não acontecer, o Euro (isto é, uma moeda forte) terá sempre consequências danosas para muitas das nossas empresas mais tradicionais. Já agora, resta referir que o nosso principal parceiro comercial é a União Europeia, tanto a nível de exportações como de importações.
Só há uma coisa que eu não percebi bem: será que é o Euro que está a valorizar ou é o Dollar que está a desvalorizar?
Tanto o Euro se está a valorizar como o Dólar se está a valorizar. No entanto, o grande movimento que se regista a nível cambial actualmente é a descida do dólar em relação a quase todas moedas internacionais.
Quanto às taxas de juro, uma descida dos juros em Portugal não iria enfraquecer o sector financeiro em Portugal? É que os Bancos para financiar, têm de financiar-se no exterior e haveria um diferencial negativo entre a compra e venda de moeda.
Não necessariamente. Repare. Uma descida dos juros ajudaria o consumo e o investimento. Consequentemente, a economia tenderia a crescer mais, bem como o rendimento das pessoas. Maior crescimento (e maior rendimento) é bom para o sector financeiro, que beneficia de uma melhoria da actividade económica.

O LEGADO PORTUGUÊS

Hoje inicio o projecto "O Legado Económico do Império Colonial Português", que se debruçará sobre os últimos 50 anos do império, principalmente em África. Se existem mitos na economia portuguesa que urge combater, muitos mais existem sobre o império colonial. Este projecto pretende acabar com muitos deles. Nos próximos meses milhares e milhares de dados serão colocados em folhas de Excel e outros programas estatísticos. Os dados falarão por si. Ficaremos a conhecer melhor a evolução das ex-colónias, a nível dos salários, desigualdades sociais, educação, investimento em infra-estruturas, as condições de saúde, etc. Tenho esperança que a divulgação e tratamento destes dados nos darão uma visão mais abrangente, mais isenta e menos política da herança portuguesa nos países colonizados. Assim que tenha dados mais concretos, eles serão aqui divulgados.

HILLARY VS. BILL

Em vez de ajudar, a entrada de Bill Clinton na campanha eleitoral tem sido um verdadeiro desastre para Hillary. Completamente contraproducente. Cada vez mais vozes se insurgem contra o aparecimento do antigo presidente na campanha. William Kristol do New York Times é uma delas.

OS GRANDES PERDEDORES


Crianças num campo de deslocados pela violência no Quénia.

27 janeiro 2008

INDEPENDENT PRIZE

Os nomeados para o Independent Prize Fiction, que José Eduardo Agualusa ganhou no ano passado e que premeia obras literárias traduzidas para o inglês, são os seguintes:
The Yacoubian Building de Alaa al Aswany
The Book of Words de Jenny Erpenbeck
The Moon Opera de Bi Feiyu
Castorp de Pawel Huelle
Agamemnon's Daughter de Ismail Kadare
Let It Be Morning de Sayed Kashua
Measuring the World de Daniel Kehlmann
Gregorius de Bengt Ohlsson
Shutterspeed de Erwin Mortier
The Past de Alan Pauls
Rivers of Babylon de Peter Pist'anek
Delirium de Laura Restrepo
The Model de Lars Saabye Christensen
Bahia Blues de Yasmina Traboulsi
The Way of the Women de Marlene van Niekerk
Omega Minor de Paul Verhaeghen
Montano de Enrique Vilas-Matas
De notar que este ano não há nenhuma obra de língua portuguesa.

APOIO A OBAMA

Caroline Kennedy, filha do mítico John F. Kennedy, escreve hoje com eloquência no New York Times a apoiar publicamente Barak Obama. Aqui está um excerto:
Sometimes it takes a while to recognize that someone has a special ability to get us to believe in ourselves, to tie that belief to our highest ideals and imagine that together we can do great things. In those rare moments, when such a person comes along, we need to put aside our plans and reach for what we know is possible. We have that kind of opportunity with Senator Obama. It isn’t that the other candidates are not experienced or knowledgeable. But this year, that may not be enough. We need a change in the leadership of this country — just as we did in 1960...
I have never had a president who inspired me the way people tell me that my father inspired them. But for the first time, I believe I have found the man who could be that president — not just for me, but for a new generation of Americans.

SUHARTO

Morreu Suharto. Aos 86 anos. Livre. O seu legado é um misto de crueldade e dinamismo. Um dos ditadores mais crueis das últimas décadas. Responsável por centenas de milhares de mortos de opositores internos (como quando subiu ao poder). Responsável pela chacina, pela mortandade de Timor Leste. Acusado de corrupção e abuso de poder. Acusado de ter desviado centenas de milhões de dólares de fundos públicos. E, no entanto, o maior legado de Suharto pode ser o económico. Foi durante o seu governo que a Indonésia finalmente começou o processo de modernização. Foi durante o seu governo que o crescimento económico acelerou substancialmente. É neste contexto que se devem entender as palavras do presidente indonésio, Susilo Bambang Yudhoyono, que afirmou: "Mr Suharto has done a great service to the nation."

A GRANDE VITÓRIA DE OBAMA

Barak Obama tinha que ganhar e ganhou. BIG, como dizem os americanos. Obama ganhou em todos os grupos etários e teve mais dobro dos votos de Hillary Clinton. O dobro. A inevitabilidade de Hillary já não parece tão inevitável. A vitória de Obama é ainda mais contundente se nos lembrarmos que durante a última semana, Obama foi vítima de uma campanha extremamente negativas por parte do casal Clinton (principalmente Bill). Obama foi acusado de ser um candidato somente dos afro-americanos (os resultados provam o contrário), que não tinha experiência para o cargo da presidência e, em surdina, chegou a correr o boato que Barak era muçulmano (o que, nesta altura, na América não é muito abonatório para um candidato). Claramente, a estratégia do casal Clinton não resultou e foi provavelmente até contraproducente. O grande perdedor foi John Edwards, que ficou em terceiro no estado onde nasceu e onde ganhou as primárias de 2004. Edwards tem cada vez menos hipóteses e o tempo para uma reviravolta começa a escassear. Agora segue-se a "Super Tuesday", onde 22 estados estarão em jogo. Até agora, Hillary Clinton tem estado à frente nas sondagens quase em todos os estados. Será que os resultados da Carolina do Sul conseguirão alterar a tendência da vitória de Hillary Clinton? Veremos o que acontece nos próximos dias.

26 janeiro 2008

VISEU, LINDA CIDADE MUSEU

Viseu foi a cidade escolhida para o estágio de preparação da selecção nacional de futebol. Sem dúvida, uma excelente escolha. Eu sei que sou suspeito (pois foi onde nasci). Mesmo assim, Viseu tem sido das cidades portuguesas que mais tem evoluído nas últimas décadas e que, acima de tudo, mais tem investido na melhoria da qualidade de vida das populações. Em Viseu a interioridade sente-se cada vez menos. A escolha da federação nacional de futebol é só mais uma prova disso.

PARADA MILITAR


Soldados indianos fazem uma demonstração de um desporto tradicional daquele país.

MITOS ESGOTADO

O Mitos esgotou em muitos pontos de venda do país, inclusivamente na FNAC e na Webboom. A segunda edição já está a ser preparada e deve sair para as livrarias ainda esta semana. Obrigado pela compreensão e paciência.

O DIA DE OBAMA?

Hoje as Primárias são na Carolina do Sul para os Democratas. Obama tem que vencer para continuar a ter hipóteses de ser o candidato nomeado pelo partido. Se Edwards perder, provavelmente será forçado a desistir.

25 janeiro 2008

O GRANDE CULPADO

Surgem agora rumores que o GRANDE culpado de toda a especulação financeira dos últimos dias foi o mesmo que cometeu a fraude contra a Société Générale, Jerome Kerviel de seu nome. Não só o tamanho da fraude é quase 10 vezes maior (em termos nominais) do que a cometida pelo (in)famoso Nick Leeson, que provocou o colapso Barings Bank em 1995, como também surgem agora relatos (estórias?) que Kerviel foi responsável pela queda brusca das bolsas europeias na segunda-feira. Segundo o Guardian, até é possível que foi a especulação provocada por Kerviel tenha sido responsável pela maior descida das taxas de juros americanas dos últimos 25 anos. Como os mercados asiáticos já estavam a descer antes dos europeus, e como os indicadores de conjuntura americanos já não eram famosos, é mais que provável que a Fed tivesse cortado as taxas de juro de qualquer maneira. No entanto, se não fosse a comoção provocada por Kerviel, talvez a Fed não tivesse descido as taxas de juro tão acentuadamente e talvez não tivesse actuado de surpresa uma semana antes da reunião prevista para a revisão das taxas de juro. Não sabemos se esta teoria (da conspiração?) é verdade, mas que é interessante é. Quem disse que a economia não é divertida?

CUSTO DE VIDA

Protesto contra o aumento do custo de vida no Líbano.

APOIOS IMPORTANTES

O New York Times acabou de apoiar as candidaturas de Hillary Clinton e de John McCain para as nomeações Democratas e Republicanas. Se o apoio a Hillary é natural (visto que ela é senadora do estado de Nova Iorque), é de sublinhar que o NYT não apoia Giuliani. Segundo o prestigiado jornal: "Why, as a New York-based paper, are we not backing Rudolph Giuliani? ... Mr. Giuliani’s arrogance and bad judgment are breathtaking...The Rudolph Giuliani of 2008 first shamelessly turned the horror of 9/11 into a lucrative business, with a secret client list, then exploited his city’s and the country’s nightmare to promote his presidential campaign." Nem mais. Ainda por cima, Giuliani provavelmente ficará irremediavelmente para trás quando (se?) perder na Florida.

MERCADO LIVREIRO

O DN de hoje tem um artigo muito interessante sobre o mercado livreiro, reiterando algumas das ideias já aqui debatidas. Em suma, o mercado livreiro continua trabalhar na idade da pedra, como se ainda não houvessem computadores nem internet. Lamentável.

24 janeiro 2008

A CRISE SÉRIA

Fernando Ulrich, presidente do BPI, afirmou hoje que "Esta é a crise mais séria com que me deparei durante toda a minha vida profissional." Não, não estava a falar sobre a crise da economia nacional, mas sim sobre a crise financeira que se tem abatido sobre a economia mundial. É mais um aviso, desta vez interno, do quão grave e danosa pode ser a crise dos mercados financeiros mundiais, conjugada com a crise da sub-prime e do crédito nos Estados Unidos, e ainda com o impacto que esta está a ter no mercado imobiliário americano. Os sinais de crise sucedem-se quase diariamente. Sem dúvida que muito do que se vê e ouve nas notícias é especulação. Afinal, é sabido os media gostam de empolar as coisas. No entanto, há sintomas preocupantes em vários quadrantes da economia americana (e mundial). É a contracção do crédito. É o rebentar da bolha especulativa do mercado imobiliário. É o défice orçamental desmesurado. É uma administração fundamentalista que só tem uma receita para combater as crises (os cortes de impostos). É o preço do petróleo a atingir valores nunca dantes vistos.
Parecem estar reunidos todos os ingredientes para uma crise grave e com contornos globais. Será que esta se irá materializar? Ninguém tem a certeza. Um abrandamento é inevitável e, pelo que parece, uma recessão também. O que resta saber é quão longa, quão extensa e quão profunda será esta recessão. Por um lado, estamos, sem dúvida alguma, mais bem preparados para combater uma recessão global do que nos anos 70 (quando o preço do petróleo triplicou em poucos meses). Por outro lado, a economia mundial também está bem mais integrada do que então, o que quer dizer que um choque numa economia como os Estados Unidos terá maior impacto e maiores ramificações. No entanto, temos que levar em linha de conta um factor que não existia nos anos 70, que é a entrada da China e de outros importantes países subdesenvolvidos no processo económico internacional. Nunca os países subdesenvolvidos cresceram tanto como actualmente e nunca a economia mundial esteve tão dependente destes mesmos países. Pelo menos na era moderna. Por isso, apesar dos sinais de alarme se repetirem um pouco por todo o mundo ocidental, não carreguemos já no botão de pânico à espera da maior recessão mundial desde os deprimentes anos 30. Ainda não estamos lá (bem longe disso) e é provável que lá não cheguemos. Nem que não seja porque actualmente estamos muito mais bem equipados para lidar com este tipo de ameaças.

FRAUDE MEGALÓMANA

Mais um enorme escândalo financeiro, que certamente terá repercussões nos mercados financeiros mundiais. Agora foi a vez da França e do banco Société Générale. Nada mais nada menos do que uma fraude de 5 mil milhões de euros. 5 mil milhões. e mil milhões e mais volatilidade nos mercados europeus com certeza.

A GRANDE TEIMOSIA

Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, reiterou ontem que não tenciona seguir o exemplo da Fed e baixar as taxas de juro europeias. Porquê? Porque a taxa de inflação europeia está ligeiramente acima dos 3 por cento e porque a zona euro está a crescer a taxas superiores às dos Estados Unidos. Mas há mais. A diferença de comportamento da Fed e do Banco Central Europeu (BCE) é igualmente resultado dos diferentes mandatos das duas instituições. Nomeadamente, enquanto a Fed tem no seu mandato que são da sua responsabilidade tanto a estabilidade dos preços quanto o auxílio à economia real, o BCE só tem no seu mandato a estabilidade dos preços. Resultado: a Fed preocupa-se com a economia real em tempos de recessão, o BCE não. Só a inflação interessa ao BCE. Por isso, não é crível que o BCE proceda a um corte radical das taxas de juro, tal como a Fed fez.

O DIREITO À TRELA

Este gótico inglês gosta de passear a sua namorada numa trela. E, pelo que parece, ela gosta de ser passeada na trela. Só que agora alguém se lembrou de não os deixar entrar num autocarro por poderem atentar contra a segurança dos outros passageiros. Não há direito!

KERRY E AS "MENTIRAS" DE CLINTON

John Kerry, o candidato Democrata em 2004 e apoiante de Barak Obama, acusa os Clinton de mentirem sobre os apoiantes mais controversos da campanha de Obama. Amigo pessoal de Bill Clinton, John Kerry afirmou categoricamente: "We won't let them steal this election with lies and distortions". A este ritmo e com esta campanha auto-destrutiva, os Democratas ainda entregam a presidência de mão beijada aos Republicanos.

O FRIO AFEGÃO

Um pedinte em Cabul durante a vage de frio que assola Cabul.
AP/BBC

BERNANKE

Este artigo do New York Times debate a educação e a personalidade de Ben Bernanke, presidente da Fed.

OBAMA E O QUÉNIA

Barak Obama, de ascendência queniana e candidato à presidência dos Estados Unidos, escreveu um apelo aos cidadãos do Quénia. Vale a pena ler.
"I have been deeply troubled by the recent events in Kenya. The ongoing political impasse and the tragic violence pose an urgent and dangerous threat to Kenyans, Kenyan democracy, and stability and economic development in a vital region. Urgent action must be taken to prevent a further deterioration of the situation and to help resolve the current political crisis...
Clearly, Kenya has reached a defining moment. It is up to Kenyan leaders and the Kenyan population to turn away from the path of bloodshed, division, and repression, and to turn towards reconciliation, negotiation, and renewed commitment to democratic governance... The frustrations felt by so many Kenyans are understandable. There is no doubt that much more remains to be done for Kenya to become a more equitable and democratic society. But Kenya has come too far to throw away decades of progress in a storm of violence."
A carta pode ser lida na íntegra aqui.

23 janeiro 2008

NOVO BLOG

O PUBLICO lançou um novo blog dedicado às eleições americanas. Os textos são da autoria da Rita Siza e do Pedro Ribeiro. Vale a pena ler.

AQUI VAMOS UMA VEZ MAIS


Oh, Oh... Aqui vamos mais uma vez...

OS URSOS E A FED (3)

Como era de esperar, os mercados reagiram positivamente à descida-surpresa das taxas de juro por parte da Fed. Ontem, a Europa já fechou positiva, e hoje os mercados asiáticos estão a subir significativamente. Ainda não escapámos à crise, mas pelo menos não temos um colaspo dos mercados financeiros.
Como vimos, pelo que parece, a táctica Greenspan (de baixar de surpresa as taxas de juro) ainda dá frutos. Até com um novo presidente da Fed. Tudo parece ter corrido bem graças à maior descida das taxas de juro (numa só vez) nos últimos anos (desde 1982). Resta saber se terá algum impacto a longo praxo.

A GUERRA ESQUECIDA

A Guerra do Congo matou directa e indirectamente entre 4 e 5 milhões de pessoas. Muito mais do que o Vietname. Muito mais do que o Afeganistão- Muito mais do que o Iraque. Com efeito, a guerra no Congo já é a mais mortífera desde a Segunda Guerra Mundial. No entanto, quase ninguém se lembra disso, ou, pelo menos, ninguém actual. Segundo um novo relatório, cerca de 45 mil pessoas morrem todos os meses no Congo sem necessidade, devido aos efeitos indirectos do conflito. 45,000 pessoas. Todos os meses.
O Guardian tem uma reportagem sobre o assunto. Vale a pena ler

MENOS UM

Mais uma desistência, agora no campo Republicano. O actor e senador Fred Thomson anunciou o fim da sua campanha à presidência dos Estados Unidos. Era esperado, pois Thomson tinha tido resultados bastante fracos nas eleições já realizadas. Quem irá beneficiar desta desistência? Provavelmente, Huckabee, o comilão de esquilos fritos. Ambos são conservadores, do Sul e têm grande impacto junto dos sectores mais radicais da direita religiosa.

22 janeiro 2008

OS URSOS E A FED (2)

Os mercados americanos abriram a cair, o que parece contradizer a descida-surpresa das taxas de juro pela Fed. Não necessariamente. Se a Fed não tivesse actuado, certamente que a queda teria sido maior. O grande teste vai ser na última hora de abertura dos mercados. Provavelmente, depois da venda e depois dos investidores digerirem a decisão da Fed, assistiremos então a uma recuperação dos mercados. No mínimo, as perdas no final do dia serão provavelmente menores.

OS URSOS E A FED

Afinal, nem foi preciso esperar muito. Como previa há umas horas atrás, a Fed baixou as taxas de juro, numa jogada de antecipação dos mercados. Mesmo assim, houve surpresa, pois a Fed não só actuou antes que Wall Street abrisse, como a descida foi mais acentuada do que o esperado (as taxas baixaram 0.75 por cento). Veremos como os mercados reagem (provavelmente positivamente).

O DÉFICE DO DÉFICE

Primeiro as boas notícias. Como já era esperado pelos analistas, o défice orçamental em 2007 vai ficar abaixo dos 3 por cento do PIB. A grande novidade do anúncio do Ministro das Finanças é que o défice está a rondar os 2.5 por cento, um valor bastante mais positivo do que o previsto. Porque é que alcançámos este valor? Será que finalmente controlámos os nossos ímpetos despesistas? Será que o governo conseguiu que a despesa pública decrescesse? Não. Infelizmente não. As despesas continuaram a crescer. A um ritmo mais lento é certo, mas a crescer. Afinal, o monstro ainda não está controlado. 3,1 por cento ao ano pode não parecer muito, mas é. A esse ritmo, as despesas são duplicadas cada 20 anos. Parece muito tempo, mas não é. Principalmente, porque as despesas da nossa Administração Pública estão bem acima daquilo que é recomendável para a saúde financeira do Estado.
O que é que justifica a descida do défice? Um melhor desempenho da receita fiscal e uma cobrança mais eficaz das contribuições para a Segurança Social. Isto é, melhorámos a produtividade da máquina fiscal, mas não fizemos nada para desagravar a carga dos impostos. Nada que nos possamos verdadeiramente orgulhar numa economia que teima em não sair de um clima depressivo.
As boas notícias prendem-se mais com outro factor. A descida do défice para níveis abaixo dos 3 por cento do PIB vai-nos permitir esquecer a obsessão do défice e voltarmo-nos finalmente para as coisas que realmente interessam. Tais como a reorganização dos nossos sectores produtivos e a reforma do Estado.

A CHEGADA DOS URSOS

E os mercados continuam a cair. Ontem os principais mercados europeus sofreram a pior queda desde o 11 de Setembro, e hoje os mercados asiáticos continuam a tendência de descida acentuada. Tudo porque existem fortes indícios que a economia americana se encontra à porta de uma recessão. E porque, a nível financeiro e económico, quem manda ainda é a economia americana. Uma constipação da economia dos Estados Unidos origina sempre fantasmas recessivos no resto do mundo. Mesmo com o incrível crescimento chinês. Mesmo com os países subdesenvolvidos a crescerem como nunca.
Para a semana há a reunião periódica da Fed. Nesta altura, já não há dúvidas que as taxas de juro vão descer. A única incerteza é quanto é que vão descer. Menos que 0.5 pontos percentuais seria catastrófico para os mercados a curto prazo, pois certamente fomentaria o receio que as medidas anunciadas não são necessárias para a economia não cair numa recessão. Mesmo assim, não ficaria surpreendido se a Fed actuasse antes, num anúncio surpresa de corte das taxas de juros destinado a acalmar os mercados. Com efeito, essa sempre foi a grande arma da Alan Greenspan e é provável que Ben Bernanke a utilize também a muito breve trecho.

COMENTÁRIO DOS LEITORES (6)

O João Vieira Costa, arquitecto a residir em Oslo, tem os seguintes comentários:
"Acabei recentemente de ler o seu livro “Os Mitos da Economia Portuguesa” e gostaria de lhe dar os meus parabéns. Realmente é extraordinário que ainda existe gente optimista com tanto valor nas suas observações e consequentes conclusões. Tenho uma história similar á sua numa mas numa outra área. Sou arquitecto formado no Porto e tenho estado a trabalhar na Dinamarca, na Holanda e agora na Noruega. Gosto imenso de Portugal, sou um apaixonado Portuense mas infelizmente a posição do arquitecto no nosso país ainda não é devidamente credenciada. Paralelamente a situação económica não é das mais favoráveis e como tal o investimento na arquitectura é muito escasso. Curiosamente estou a desenvolver um manifesto intitulado “Porque é que as pessoas não querem morar no centro do Porto”. Ainda se encontra numa fase embrionária, mas penso que tem potencial, com o objectivo de transmitir uma realidade que não se resuma somente a arquitectos. Não pretendo uma análise politica, mas sim gráfica, não pretendo uma análise intelectual mas sim factual. Tenciono ajudar a encontrar soluções para a questão do elevado índice de desertificação da cidade do Porto. Espero sensibilizar/alertar os Portuenses das oportunidades que estão a desperdiçar, e do potencial de que a cidade tem para oferecer. Pelo facto de me encontrar fora de Portugal tenho uma visão mais abrangente de possíveis soluções que só á distancia são possíveis de ser descodificadas. Desejo-lhe as maiores felicidades, e espero num futuro próximo encontrar outro livro seu."
Caro João,
Muito obrigado pelos comentários e pelas simpáticas palavras. Acho que o seu projecto é muito interessante e estimulante. Por isso, vá-nos dando notícias dos seus desenvolvimentos, que serão divulgados aqui no Desmitos.

21 janeiro 2008

OS MAIS COLORIDOS


Adeptos do Mali pouco antes do início do jogo da sua selecção contra o Benin.

IDADE DE REFORMA

O DN de hoje anuncia que a idade de reforma vai aumentar dois ou três anos até 2030. Nenhuma novidade, portanto. O fenómeno é conhecido e já foi analisado bastas vezes. Aliás, muitos países aumentaram também a idade de reforma dos trabalhadores. A razão é simples. Os sistemas de Segurança Social foram introduzidos na década de 40 tomando em linha de conta as esperanças médias de vida de então. O problema é que, desde então, as esperanças médias de vida aumentaram muito consideravelmente. Actualmente, o segmento da população americana que mais crescimento tem registado é o dos centenários. Deste modo, um reformado em 2007 vive, em média, um número de anos muito superior do que uma pessoa que se reformasse nos anos 40. Assim, estes reformados vão receber as suas reformas durante um longo período de tempo. Quem vai financiar as pensões ? O Estado (e alguns privados). Como? Aumentando as contribuições de cada um e, principalmente, fazendo crescer o número de anos na vida activa. Podemos não gostar, mas a verdade é que não há grandes alternativas.

MAIS OPTIMISTAS, MAS...

O PUBLICO de hoje revela que, na zona euro, só o governo português prevê uma aceleração da actividade económica em 2008. Ainda assim, se as previsões se confirmarem (um grande se) a maioria dos países da zona euro ainda irá crescer a taxas mais elevadas do que as previstas para Portugal. Ou seja, se tudo correr como o previsto, a divergência real em relação à zona euro irá manter-se por mais um ano.
Mais significativamente, entre os 27 países da União Europeia, Portugal integra uma pequena minoria de países em que haverá um agravamento da carga fiscal em 2008. Isto é, enquanto a tendência dominante na UE é para diminuir os impostos, em Portugal fazemos o contrário. No mínimo, a carga fiscal no PIB português vai manter-se. Num cenário menos optimista, o agravamento da carga fiscal será uma realidade. É o efeito da obsessão com o défice a dar cartas...
Estas são más notícias para a economia nacional, pois é fundamental manter um baixo nível de fiscalidade. Só assim é que as nossas empresas podem ser mais competitivas nos mercados internacionais.

JÁ NEM É PRECISO CHORAR

Se as coisas continuarem a este ritmo, já nem será preciso chorar para Hillary ganhar a nomeação Democrata. Ainda falta muito, mas Clinton já sorri.

O MITOS NA BLOGOSFERA

O Mitos continua a aparecer na blogosfera e na net. Para além dos já aqui referenciados, agradecem-se os seguintes blogs e jornais:
Se Não Existisse Teria que ser Inventado
Pax Lusitaniae
O Covil do Caçador
e, finalmente, o jornal online Rostos

20 janeiro 2008

O SANGUE DO QUÉNIA

O sangue continua a ser derramado no Quénia. Sangue como este, dos manifestantes anti-governamentais que foram atacados pela polícia num bairro da lata da capital.

VALE A PENA LER

Mesmo um optimista profissional não pode (nem consegue) ficar indiferente à obra-prima de Margaret Atwood, que tem por título "Oryx and Crake" (já editado entre nós). Se gostou de "A Estrada" de Cormac McCarthy, não perder este livro de Atwood. Um verdadeiro must para quem gosta de literatura.

OS VENCEDORES

Mais um dia de primárias na América. Hillary e Romney ganharam no Nevada e McCain na Carolina do Sul. Hillary confirma-se como a favorita dos Democratas e McCain dos Republicanos. Os grandes perdedores no lado dos Republicanos foram Huckabee (nem a história dos esquilos fritos o salvou) e Fred Thomson. É dificil acreditar que Thomson permaneça na corrida muito mais tempo. Talvez a Florida (cujas primárias são a 29 de Janeiro) seja a sua última oportunidade. Para Huckabee, não ganhar um estado do Sul e conservador como a Carolina é muito indicativo das limitações da sua campanha e quão apelativa é a sua mensagem. Provavelmente, só uma desistência de Thomson poderia revitalizar decisivamente a sua campanha. No campo Republicano, os grandes vencedores do dia foram Romney, que ganhou mais uma primária, e, principalmente, McCain, que tinha sofrido uma gramde derrota na Carolina do Sul em 2000. Assumindo que a estranha estratégia de Giuliani não dê frutos na Florida, a corrida dos Republicanos deverá ser decidida entre McCain e Romney.
No campo Democrata, Hillary surge agora como a "front runner". Se conseguisse ganhar na Carolina do Sul, partiria para a "Super Tuesday" de 5 de Fevereiro com grande vantagem. Obama precisa de ganhar na Carolina. Se Edwards não ganhar a Carolina do Sul, provavelmente estará fora da corrida. No dia 26 saberemos.

19 janeiro 2008

FUNDAMENTALISMO DOS IMPOSTOS

Como era esperado, o pacote fiscal de estímulo à economia americana consiste numa ... redução de impostos. O fundamentalismo dos impostos de Bush é tão previsível que até aborrece. Os mercados financeiros responderam logo à "surpresa" de Bush ao caírem consideravelmente.

18 janeiro 2008

LIVRO DA SEMANA (3)

Um dos livros mais badalados no mundo anglo-saxónico em 2007 foi "In the Country of Men" (com o título "Em Terra de Homens" entre nós), o romance de estreia de Hisham Matar, um exilado líbio no Reino Unido. O livro conta a história narrada por Suleiman, um menino de 9 anos, que passa pela traumática experiência de ver o pai "desaparecer" devido às suas convicções políticas (contra o regime ditatorial de Kadafi). O alcoolismo da sua mãe, bem como o calor intenso e a luz do deserto são bem retratadas por Matar e são imagens que ficam na memória. O romance retrata algumas das contradições e das tiranias mais comuns das ditaduras.
Não é um livro fantástico ou inesquecível, mas, mesmo assim, vale a pena ler. Nem que não seja para descobrirmos um pouco mais desse país distante e misterioso que é a Líbia.

A LEI QUE NÃO É

Cada vez mais a Lei do Tabaco é uma lei que não é. Mais um dia, mais uma excepção. Segundo o DN de hoje, "O fumo vai ser permitido nas discotecas, sem imposição de quotas máximas de espaço para fumadores". Este número crescente de excepções até se entende e justifica, até porque o próprio inspector-geral da ASAE foi um dos primeiros a não cumpri-la (e ainda não se demitiu) e é, certamente, uma parte interessada que a lei não resulte. Mesmo assim, é cada vez mais incompreensível a introdução da Lei do Tabaco. Se o governo não queria mesmo que a Lei do Tabaco não surtisse feito, porque é que foi aprovada? Para consumo externo? Para mostrar aos outros europeus que somos um país avançado que se preocupa com o bem-estar dos não fumadores? Para tentar iludir os(as) portugueses(as) que o governo estava interessado na saúde dos(as) mesmos(as). Enfim, cada dia que passa dá a impressão que a Lei do Tabaco é uma simplesmente uma fachada de populismo barato, uma verdadeira fantochada que o governo nos arranjou para fingir que se preocupa com a saúde pública. Para ter acontecido o que está a acontecer, mais valia não ter feito nada.

AMEAÇAS DE RECESSÃO

Gordon Brown já tinha avisado, e a inédita acção concertada dos bancos centrais já o tinham indiciado, mas agora temos o aviso mais sério sobre as possibilidades reais de haver uma recessão na maior economia do mundo. Num discurso sombrio e um pouco alarmante, Ben Bernanke, presidente da FED, o banco central americano, alertou que a recessão estava à porta e que era preciso introduzir um pacote de medidas destinadas a estimular a economia. Os mercados financeiros já reagiram de forma muito negativa ao discurso, o que não é surpreendente dado do tom de Bernanke. É de notar que as afirmações de Bernanke são ainda mais preocupantes se nos lembrarmos que a maneira mais rápida de sair de uma recessão é fazer descer taxas de juro e/ou aumentar a liquidez da economia (isto é, aumentar a disponibilidade financeira dos agentes económicos, ou, em economês, utilizar uma política monetária expansionista). Ou seja, duas responsabilidades do banco central e, assim, de Bernanke.
Deste modo, o que Bernanke está a dizer é que a política monetária já não é, por si só, suficiente para evitar a recessão, sendo também necessário levar a cabo um conjunto de medidas fiscais. Que medidas fiscais? Um governo normal aumentaria as despesas públicas e cortaria alguns impostos, de forma a estimular o consumo e o investimento. Como a administração Bush é verdadeiramente fundamentalistas a nível do corte de impostos, é muito natural que o pacote de medidas a introduzir consista principalmente de uma baixa de impostos. Resta saber se os benefícios fiscais serão proporcionalmente maiores para os indivíduos com rendimentos mais elevados (o que tem sido a norma nesta administração) ou não. Hoje saberemos.
Entretanto, poderemos estar certos que a economia se tornará cada vez mais no tema central das eleições americanas.

A AVÓ DE OBAMA


A avó de Barak Obama vive numa pequena aldeia no interior do Quénia. Filho de um imigrante queniano, quem sabe se esta não é a avó do próximo presidente dos Estados Unidos? Sem dúvida que a história de Obama é como um conto de fadas (como Clinton afirmou maliciosamente). Mas um conto de fadas bonito. Um conto de fadas que nos faz acreditar no melhor que a humanidade tem.

LIVROS A TRADUZIR

A secção de Economia do PUBLICO de hoje propõe 9 livros de Economia e Gestão que deviam ser traduzidos para português. Vale a pena ler. As minhas sugestões foram "The White Man's Burden" (já debatido aqui) de William Easterly, e "The Bottom Billion" de Paul Collier. Aqui está a minha breve recensão sobre o livro de Collier (na foto):
Um dos livros mais influentes em 2007 foi The Bottom Billion de Paul Collier. De acordo com Collier, a grande maioria dos países do mundo é desenvolvido ou está em vias de o ser. A grande excepção acontece nalguns países (quase todos em África) onde vivem cerca de mil milhões de pessoas (que Collier apelida de “Bottom Billion”). Nestes países o nível de miséria é tal que não existe grande esperança que sejam capazes de escapar às suas armadilhas de pobreza. Estes países estão prisioneiros na pobreza extrema devido a quatro tipos de armadilhas: conflito endémicos, a maldição dos recursos naturais, não ter acesso ao mar e ter maus vizinhos, e/ou maus governos. Este é um livro provocador que preconiza como solução para o problema um misto de ajuda externa (à la Jeffrey Sachs) e melhoria da governabilidade e das políticas económicas (como defendido por Easterly).

A MADEIRA VISTA PELOS LEITORES (2)

O Rolando Almeida, autor do blog Filosofia no Ensino Secundário, diz o seguinte sobre a questão da independência madeirense:
"Numa análise muito pessoal e num comentário informal, creio que a Madeira até possui condições para avançar para a independência. Claro está que os recursos económicos da Madeira não satisfazem as necessidades de equilíbrio de uma balança comercial. A RAM, além do turismo, tem pouco para oferecer. Nem o bordado madeira, nem o vinho madeira constituem recursos viáveis para sustentar uma Madeira Independente. Poder-se-ia pensar no mercado das pescas, conservas e congelados, mas, inexplicavelmente, em Portugal e na ilha da Madeira também, não existe um investimento sério e consistente no sector das pescas. Na Madeira come-se mais carne que peixe, provavelmente, não sei, fruto de acordos externos que faz com que a carne chegue à ilha a preços mais acessíveis. Se todos estes factores não contribuem para o auto sustento madeirense, o que me faz pensar que, do ponto de vista económico, seria viável a independência da Madeira? O offshore é a saída. Sabemos bem que as zonas onde se vive em maior luxo no mundo não são as zonas com mais recursos e mais matérias primas. E hoje em dia, uma das formas mais eficazes de criar riqueza é especular o dinheiro. Não estou aqui a manifestar uma preferência pessoal. Não sei se gostaria de viver numa ilha à custa de um offshore. Mas o certo é que há outras regiões no mundo cujos paraísos fiscais sustentam príncipes e as suas vidas luxuosas. A Madeira poderia afirmar-se como uma espécie de Mónaco português.
Mas, por outro lado, creio que a Madeira se tem como possibilidade a sua independência, na prática, nunca será independente. E isto porquê? A cultura da Madeira é, essencialmente, uma cultura portuguesa e fortemente marcada pela nacionalidade. Numa análise completamente empírica, quando há anos cheguei à Madeira, achei espantoso que os madeirenses em matéria futebolística sejam, quase sempre, ou benfiquistas, sportinguistas ou portistas e somente depois, são maritimistas ou nacionalistas. Interpelei muitos madeirenses colocando o seguinte dilema: e se estivesse em causa o campeonato, que clube defenderiam? E mesmo assim é espantoso o número de respostas que relegam os clubes regionais a futebolar na 1ª liga, Marítimo e Nacional da Madeira, para segundo lugar. Este pode constituir um indicador da forte identidade nacional da madeira do ponto de vista cultural.
Existe com efeito uma circunstância actualmente na Madeira que deixa qualquer um admirado. Se comprarmos uma viagem aérea para Londres, por exemplo, ida e volta, conseguimos pagar qualquer coisa como 100? (mas consegue-se até mais barato). Mas se desejarmos ir ao continente, pagamos cerca de 250?, ida e volta. Esta realidade é incompreensível e constitui um pilar do desenvolvimento futuro da Madeira, a saber, flexibilizar por completo as viagens aéreas"
Penso que estes são comentários muito pertinentes, e que vincam bem o passado comum que existe entre nós. A questão das preferências clubísticas é muito interessante e revelador, se bem que mesmo em Angola e Moçambique as pessoas continuam a seguir o futebol português (mas talvez prefiram os seus clubes aos portugueses).
Em relação à questão dos preços de avião, a resposta é simples: menos concorrência e menor mercado. Seria interessante que se estimulasse a oferta das companhias low-costs para a Madeira. Alías, acho que é uma inevitabilidade que isso aconteça muito brevemente numa escala significativa. A Madeira (aliás, como os Açores) é uma das pérolas da Europa e poder-se-à tornar num destino turístico ainda maior.

O MITOS NOS TOPS

O Mitos continua no top dos livros de Economia e Gestão mais vendidos. Segundo o PUBLICO de hoje, o top nacional da FNAC é o seguinte:
1. Bolsa: Investir e Ganhar Mais
Miguel Gomes Silva (K Editora)
2. Ganhar em Bolsa
Fernando Braga de Matos (Dom Quixote)
3. Mitos da Economia Portuguesa
Álvaro Santos Pereira (Guerra e Paz)
4. Quem Mexeu no Meu Queijo
Spencer Johnson (Pergaminho)
5. O Futuro da Gestão
Gary Hamel

17 janeiro 2008

O COMEDOR DE ESQUILOS FRITOS

Já sabíamos que Mike Huckabee, um dos principais candidatos à nomeação dos Republicanos, era um criacionista. Agora também ficamos a saber que Huckabee gosta de comer esquilos fritos. A surpreendente revelação pode ser vista no link:
http://www.youtube.com/watch?v=Yj3QAzSWVA4

PALAVRAS PARA QUÊ?

Fonte: http://www.loveearth.com/uk/tracking

VIOLÊNCIA MAIS UMA VEZ

A violência regressou ao Quénia. Ninguém sabe quando irá parar. Estará o Quénia condenado a uma tragédia? Estará a comunidade internacional à espera de uma tragédia para que algo seja feito?
PS. Foto retirada do New York Times

PORQUE É QUE PRECISAMOS DE MAIS CHINESES

Boas notícias. Segundo o PUBLICO de hoje, o grupo chinês Shangai Union Technology pretende investir cerca de 220 milhões de euros na instalação de uma unidade de produção de pilhas alcalinas na cidade de Beja. Quando estiver a laborar em pleno, a fábrica poderá empregar quase 600 trabalhadores. Se forem salvaguardadas as necessárias medidas ambientais, este poderá ser o primeiro de, espera-se, muitos investimentos chineses em Portugal. Quem foi que disse que a economia nacional já não era atractiva?

O RIDÍCULO DA CENSURA

O Bloco de Esquerda apresentou ontem uma moção de censura contra o governo, que foi, obviamente, chumbada. Segundo o BE, a moção de censura justifica-se devido às promessas não cumpridas a nível dos impostos, emprego e Tratado de Lisboa. Sinceramente, não consigo encontrar nenhuma justificação para tal moção. Para quê? Com que propósito? O que é que ganhámos com isso? O que é que o próprio BE ganhou com isso? Absolutamente nada. Rigorosamente nada. Foi só um fait divers, uma encenação política sem conteúdo. Que eu saiba, uma moção de censura devia ser apresentada em casos graves de infracções ou incompetência governamental. Talvez essas existam, mas por causa do emprego? Dos impostos? Do Tratado? Tenham paciência. Há assuntos e reformas bem mais prementes a tratar. Não precisamos de perder tempo com futilidades sem valor nenhum.

A MADEIRA VISTA PELOS LEITORES (1)

O Sérgio Leal, autor do blog Se Não Existisse Teria Que Ser Inventado disse o seguinte sobre a questão madeirense:
"Sou madeirense e posso afirmar que as pessoas mais informadas na Madeira sabem que é neste momento inviável a independência por uma questão de subsistência economica, mas eu diria que 80% das pessoas são de uma maneira ou outra pro independência. Quanto mais não seja porque muitas delas nao saiem regularmente da madeira e não gostam da maneira como são olhadas (de cima pra baixo) pelos restantes portugueses. As pessoas que saiem um pouco mais da Madeira, vêem que não existem muitos lugares no continente que tenham a mesma qualidade de vida da Madeira. Eu próprio estudei em Coimbra e posso dizer que conheço Portugal de norte a sul, por isso posso afirmar que tirando Lisboa acho que não existe nenhuma cidade que oferece uma qualidade de vida tão boa como o Funchal. Só é pena a Universidade da Madeira não ser melhor. Para que seja declarada independência só é preciso que a economia seja sustentável e que haja vontade politica, porque o resto vem por acréscimo.Eu só acho é que deveria haver um maior combate a corrupção na Madeira, porque isso pode afectar o desempenho económico da ilha..."
O Sérgio levanta algumas questões importantes. Em primeiro lugar, em vez da retórica política, seria curioso se houvessem sondagens de opinião sobre a possibilidade da Madeira se tornar independente. Alguém conhece alguma? Segundo, quanto aos níveis de vida, os indicadores do PIB per capita e da produtividade sugerem que a percepção do Sérgio é correcta. A Madeira (e o Funchal) é a segunda região do país com os mais altos índices de desenvolvimento. É exactamente por isto que o governo central e a União Europeia querem reduzir substancialmente as ajudas financeiras à região madeirense. Finalmente, em relação à questão dos madeirenses serem "olhados de cima para baixo", penso que o argumento do Sérgio também tem algum fundamento. Em parte, talvez isto se explique por razões históricas. Afinal, até muito recentemente o território madeirense era um "recebedor" líquido. Isto é, o continente apoiava financeiramente (e de uma forma substancial) a Madeira, que era (e é) considerada uma região ultra-periférica. Por este motivo, criou-se a ideia de que os madeirenses (e os açorianos), coitadinhos, precisavam dos continentais (dos "cubanos") para sobreviver. Ideia que é, obviamente, errada.

16 janeiro 2008

GADGETS

Foram introduzidas uma série de Gadgets no blog, incluindo fotos diárias da NASA e do National Geographic, o estado do tempo em Portugal, notícias da BBC e a carta de sismos no território nacional. Por favor digam se estes gadgets tornarem o site muito mais lento.

MAO MAU...

Publicidade da Citroen que teve que ser retirada e cancelada do El Pais depois dos protestos das autoridades chinesas sobre a alegada falta de respeito em relação ao antigo ditador chinês.

O JARDIM DA INDEPENDÊNCIA

E aí está mais uma ameaça independentista de João Jardim. Como já discutimos aqui, é mais que natural e previsível que a retórica independentista aumente de tom nos próximos tempos, como forma de pressionar o governo central a ceder às pressões de Jardim e aumentar novamente o financiamento ao governo regional. Nas suas declarações mais recentes, João Jardim afirmou: "Eu tenho remado contra essa maré e se hoje há autonomia e a questão da unidade nacional não está em cima da mesa foi porque muito me empenhei neste sentido, embora Lisboa não o reconheça. Mas se o povo madeirense um dia quiser a independência, o meu lugar é ao lado do povo madeirense". Ou seja, João Jardim vitimiza-se e avisa implicitamente o governo central que algo como atrás-de-mim-virá-que-mais-mal-fará.
Sinceramente, eu acredito que Jardim não seja um independentista (aliás, ele já o declarou publicamente). No entanto, há (muita?) gente na Madeira que o é. E é sempre possível que a retórica indepentista suba de tom de tal forma que não haja volta a dar. Esperemos que não. Seria interessante saber o que os leitores (madeirenses ou não) pensam sobre este assunto.

AS ÚLTIMAS SONDAGENS

Depois de Michigan, seguem-se as primárias de Nevada para os Democratas e a Carolina do Sul (este fim-de-semana para os Republicanose na semana seguinte para os Democratas). De acordo com as últimas sondagens, Hillary está muito bem posicionada no campo Democrata. Se Obama perder a Califónia na "Super-Tuesday, tudo pode ficar decidido. No campo Republicano, John McCain parece estar em vantagem, mas a vitória de Romney em Michigan pode mudar tudo. De notar, que as estratégia de Giuliani (de apostar tudo em Flórida) parece cada vez mais arriscada (e errada). As últimas sondagens são as seguintes:
FLORIDA
Democratas: Clinton 56, Obama 23, Edwards 14
Republicanos: McCain 25, Giuliani 23, Huckabee 18, Romney 18, Thompson 9
CALIFÓRNIA
Democratas: Clinton 50, Obama 35, Edwards 10
Republicanos: McCain 33, Giuliani 18, Huckabee 14, Romney 13, Thompson 9
OKLAHOMA
Democratas: Clinton 45, Edwards 25, Obama 19
Republicanos: Huckabee 31 McCain 29 Thompson 13 Giuliani 11 Romney 8 Paul 3
NOVA IORQUE
Democratas: Clinton 56, Obama 29, Edwards 8
Republicanos: Giuliani 32, McCain 29, Huckabee 12, Romney 7, Thompson 6

TEMOS CORRIDA (2)

Afinal, Mitt Romney sobreviveu às primárias de Michigan. Se tivesse perdido para John McCain, muito dificilmente permaneceria na corrida. Agora, veremos o que acontece na Carolina do Sul. Três primárias, três vencedores. Temos corrida. Aliás, como acontece no campo Democrata. Quem disse que a democracia era aborrecida?

CANDIDATOS PRECISAM-SE

O Projecto dos Preços e Salários, 1500-1900, já está em andamento e os primeiros concursos de recrutamento de assistentes de investigação e tarefeiros já está aberto. Os anúncios poder ser vistos aqui:
http://www.eracareers.pt/opportunities/index.aspx?task=global&jobId=8288&lang=pt
http://www.eracareers.pt/opportunities/index.aspx?task=global&jobId=8287&lang=pt
http://www.eracareers.pt/opportunities/index.aspx?task=global&jobId=8286&lang=pt

ATRÁS DAS BALEIAS

Um dos websites mais engraçados que descobri ultimamente é http://www.loveearth.com/ , onde pode visualizar e seguir animais selvagens, desde ursos polares, baleias, pinguins, elefantes, entre outros. Vale a pena descobrir.

15 janeiro 2008

SERÁ A OTA? ALCOCHETE?

Não, não é o ministro Mário Lino a contemplar uma outra hipotética localização do novo aeroporto internacional de Lisboa, nem mesmo o inspector-geral da ASAE a verificar o cumprimento da lei que ele mesmo não cumpre. É mesmo uma imagem de um homem santo na foz do rio Ganges durante o festival de "Makar Sankranti".
Jayanta Shaw - Reuters

A CHANTAGEM INEVITÁVEL

Como se esperava, começou a campanha de vitimização por parte daqueles que têm pedido excepções à Lei do Tabaco. Segundo o jornal PÚBLICO, um inquérito da Associação de Bares do Porto a 200 estabelecimentos revela que a quebra de afluência ronda entre os 30 os 70 por cento. Segundo os representantes deste sector, esta é uma quebra "alarmante", havendo já alegados casos de despedimento. Como a economia atravessa um período menos bom e o desemprego tem vindo a subir, a conclusão é óbvia: a Lei do Tabaco só aumenta a crise económica, o desemprego e o mal-estar social. Ou seja, o governo tem que recuar na aplicação desta medida.
Que disparate. Com efeito, este alegado inquérito só tem um propósito: exercer chantagem sobre o governo e levantar alarmismos. Em todos os outros países em que foram implementadas Leis do Tabaco não houve nenhuma quebra de afluência aos estabelecimentos nocturnos. Posso estar enganado, mas não é de todo crível que Portugal venha a ser uma excepção desta regra.
Se, pelo contrário, formos honestos e isentos (o que a Associação de Bares e os seus inquéritos nunca poderão ser), percebemos duas coisas. Primeiro, mais do que um inquérito levado a cabo pelos interessados pelo fim da Lei do Tabaco, interessava fazer um levantamento exaustivo do verdadeiro impacto económico da mesma lei, estudo que deveria ser feito por uma entidade idónea, sem interesses em relação à lei. Segundo, e mais importante, pensemos por um momento como economistas. A que números devemos comparar os números do inquérito da Associação de Bares do Porto? Claramente que não aos do fim do ano ou do período de festividades, o que suspeito que tenha sido feito. Para serem comparáveis, os números de Janeiro têm que ser confrontados com os números de Janeiro de 2007 e dos anos anteriores. Se isso não foi feito, os números do inquérito da Associação de Bares do Porto não merece o mínimo destaque, muito menos num jornal nacional.