Artigo de Ricardo Garcia, "O Mito dos Estudos Definitivos", hoje no PÚBLICO:
"É cada vez mais comum aos políticos dizerem que tomam decisões com base em estudos técnicos "rigorosos" ou "definitivos". O exemplo agora do novo aeroporto de Lisboa aniquila a imagem de ponderação e independência que tais afirmações possam sugerir. Em primeiro lugar, os estudos do passado - que há apenas dois anos José Sócrates brandia para justificar a Ota - afinal mostraram não ser nem rigorosos, nem definitivos. E, depois do que se passou neste processo, ninguém garante que amanhã não surja alguém com mais uma alternativa credível para o aeroporto... Mas não nos enganemos: a primazia da razão técnica sobre as decisões políticas é meramente ilusória... O estudo do LNEC não é exaustivo e admite as suas próprias limitações. Mais do que isso, se um especialista em transportes conseguiu convencer o Governo de que havia uma alternativa na Margem Sul do Tejo, então racionalmente seria de se esperar que o Executivo lançasse um trabalho muito mais vasto de identificação de localizações possíveis, com as técnicas, as metodologias e os instrumentos agora disponíveis... Talvez o país não tenha tempo, nem recursos, nem paciência para voltar a estudar tudo, partindo do zero. Talvez nem o deva fazer, de modo a poder "andar para frente", segundo a lógica do primeiro-ministro José Sócrates.Mas que não fique a ideia de que, finalmente, se chegou, por via do LNEC, à resposta científica definitiva de onde deve ficar o novo aeroporto de Lisboa. A decisão é política, e não técnica. É certo que o Governo seguiu a inclinação do LNEC para Alcochete. Mas nada impedia que valorizasse mais os factores críticos do estudo que são mais favoráveis à Ota. Sem qualquer demérito, o estudo do LNEC não ficará para a história como a melhor avaliação que o país fez de onde construir o novo aeroporto. Será apenas aquele que inspirou a decisão de agora."
Sem comentários:
Enviar um comentário