31 dezembro 2007

BOM ANO NOVO



Boas entradas e votos de um óptimo Ano Novo.
Que este seja (finalmente) o ano da tão desejada retoma económica. Que 2008 seja um excelente ano para todos, tanto a nível pessoal como profissional.

AS MÁS NOTÍCIAS DO QUÉNIA

Quando parecia que tudo ia mais ou menos bem encaminhado em grande parte da África Subsaariana, eis que surgem notícias de renovada violência no Quénia após a realização das eleições presidenciais. Estas são péssimas notícias para o país e para África, pois o Quénia era visto como um modelo de transição democrática. Igualmente, nos últimos anos, a economia queniana tem tido um bom desempenho e a a pobreza extrema tem decrescido. A violência dos últimos dias ameaça acabar com todos estes progressos. Esperemos que, nos próximos dias, se encontre uma solução para o problema antes que a situação fique fora do controlo e o Quénia conheça do destino de outras tragédias subsaarianas.

30 dezembro 2007

SEIS MESES PARADOS


Congratulámo-nos pelo sucesso da presidência portuguesa da UE. Rejubilámos com a assinatura de um tratado europeu que terá o nome de Lisboa. Tudo isso é bom. Óptimo, mesmo. No entanto, esquecemo-nos daquilo que realmente interessa. Daquilo que nos irá afectar nos próximos anos. O país e a economia clama pela continuação das reformas estruturais e do Estado, mas nada tem sido feito. Nada. Está tudo parado há mais de seis meses. Seis meses. Pelo menos. Ainda por cima, quem nos garante que a agenda de reformas irá continuar, agora que estamos em 2008 e as eleições estão quase à porta? Veremos se não pagaremos demasiado caro a atenção dedicada à presidência portuguesa. Veremos se o prestígio supostamente angariado não será à custa das reformas novamente adiadas.


ASP

A GRANDE CONTRACÇÃO DO CRÉDITO



Primeiro foi a descida surpresa das taxas de juro nos Estados Unidos, logo seguida por outros países. Depois, foi a inédita acção concertada por parte dos principais bancos centrais mundiais. Agora, um aviso do Primeiro-Ministro britânico, Gordon Brown, sobre a evolução da economia mundial em 2008. Segundo ele, a crise financeira iniciada nos Estados Unidos (que tem levado a uma grande contracção do crédito em várias economias mundiais) é o principal desafio da economia do mundo em 2008. Segundo as suas próprias palavras: "The global credit problem that started in America is now the most immediate challenge for every economy."
Claro que Brown é um político astuto para quem o próximo ano é crucial para ser reeleito em 2009. Mesmo assim, este aviso conjugado com tudo o que foi feito anteriormente pelos bancos centrais indiciam que a grande contracção do crédito poderá ser ainda mais grave do que inicialmente previsto. Vivem-se momentos de ansiedade no sector financeiro, bem como no sector imobiliário. Esperemos que 2008 não seja tão sombrio quanto o preocupante aviso de Gordon Brown.
ASP

29 dezembro 2007

AINDA VALE A PENA TER SINDICATOS?


Algumas perguntas da SABADO sobre sindicatos:

Os sindicatos portugueses ainda têm uma forte conotação política – é isso que os torna maus e ineficientes ou há outros problemas?
A forte conotação política não ajuda, principalmente porque muitos dos nossos sindicatos estão associados a conceitos e construções utópicas, que estão completamente desajustadas ao mundo actual. Mesmo assim, o que os torna maus e ineficientes é não terem uma visão de conjunto nem de longo prazo da nossa economia. Por exemplo, os sindicatos nos países escandinavos são extremamente poderosos, mas quando as coisas vão mal (ou seja, em tempos de crise) não vão para as ruas denunciar a suposta exploração dos capitalistas e/ou a reivindicar aumentos salariais irrealistas. Pelo contrário, negoceiam com as centrais patronais para encontrarem conjuntamente uma solução para os problemas das suas economias. Claramente, nós devíamos fazer o mesmo.


Ainda vale a pena ter sindicatos ou deveriam acabar de vez?

Não acho que seria saudável acabar com os sindicatos, pois estes ainda desempenham um papel importante na protecção dos direitos laborais. Acima de tudo, vale a pena ter centrais sindicais, pois está provado que negociações salariais centralizadas são mais eficientes para a economia. É por isso que a concertação social é tão importante e é por isso tão lamentável que não seja utilizada tão frequentemente como seria aconselhável. O que os nossos sindicatos ainda não perceberam é que o mundo mudou. Os sindicatos surgiram no contexto do mundo industrial, mas a grande maioria dos nossos trabalhadores está empregada no sector dos serviços. Mesmo no sector industrial, a falta de visão estratégica dos nossos sindicatos prejudica claramente a competitividade das nossas empresas.


ASP

NOBEL DA LITERATURA 2008

Depois da surpresa deste ano (principalmente devido à idade de Doris Lessing), será que 2008 irá finalmente ser o ano de Phillip Roth? Ou de Mário Vargas Llosa? Ou, será que a controvérsia irá imperar, sendo escolhido um autor como Salman Rushdie (que definitivamente merece o Nobel da literatura, nem que não seja pelo seu fabuloso Midnight's Children _ em Portugal, Filhos da Meia-Noite, ed. D. Quixote)? Ou, por que não, Lobo Antunes?

28 dezembro 2007

EDITORIAL DO FINANCIAL TIMES

O editorial de hoje do Financial Times debruça-se sobre as questões do desenvolvimento económico e da pobreza extrema, tópicos já aqui abordados. Vale a pena ler.
"Let us start with the good news. Never has so great a proportion of the world’s people been free of extreme poverty. In 1981, two-fifths of the world’s population lived under the extreme “dollar-a-day” poverty line; in 2001 the figure was one fifth. The world economy has rarely grown faster over a sustained period, and very large, very poor countries are major sources of that growth. This growth presents political and especially environmental challenges, but it is a dramatic development success story.
What is more, while there are obstacles ahead, there is every reason to hope that this progress can continue, lifting many more people out of poverty. Everyone who cares about the fate of the world’s poor should be celebrating far more than they tend to.
But it is hard to feel too cheery when war and famine lurk on the doorstep. Dramatic progress in poverty reduction notwithstanding, hundreds of millions of people live in countries that are extremely poor and look likely to stay that way. Development economist Paul Collier has dubbed them the “bottom billion”. Their plight is one of the big policy challenges of the new year – and for many years to come. The institutions charged with thinking about these problems are aid agencies. But development requires much more than aid – indeed, it frequently does not require aid at all. It is not that the aid industry does a bad job – if truth be told, some aid agencies are excellent, some are not, and donor governments have not made it a priority to find out which is which. But the difficulty is more profound: aid is not, mostly, what the poorest countries lack...
" (o resto do editorial pode ser lido aqui)

O GRANDE DEGELO



Como acontece todos os anos, os cientistas do Environment Canada elegeram os dez eventos meteorológicos do ano. Num país tão vasto, não é surpreendente que hajam as mais variadas catástrofes, bem como fenómenos climáticos extremos. No entanto, o evento eleito como sendo o mais marcante do ano tem implicações não só para o Canadá, como também para o resto do mundo. Para surpresa de todos, em meados de Setembro, imagens de satélite revelaram que o degelo do Ártico tem ocorrido a um ritmo muitíssimo mais elevado do que estimado pelas previsões mais pessimistas dos cientistas. No final do Verão de 2007, havia cerca de 23 por cento menos gelo do que em 2006. O degelo é extremamente dramático e revelador, pois uma grande maioria dos nossos modelos climáticos previa um degelo desta magnitude somente daqui a 30 anos! Claro que um ano não são anos, e uma observação não faz uma tendência. O problema é que a tendência existe. Nos últimos 15 anos, os Invernos no Ártico têm sido demasiado brandos e temperados, e os 5 dos 10 anos mais quentes que há registo aconteceram desde 2001.
Sinais alarmantes daquilo que será o nosso futuro comum. Um Ártico sem gelo no Verão. Os níveis dos mares a subir. E o agravar dos fenómenos extremos.
Mais do que a invasão espanhola, da competição chinesa ou indiana, ou o descer nos rankings relativos de países, as alterações climáticas são e serão o nosso maior desafio. Prevenir e planear são as palavras de ordem. Esperemos que não sejam, como é costume entre nós, palavras vãs.
ASP

CRITICA DO PÚBLICO _ Mitos da Economia Portuguesa

PÚBLICO, 27 de Dezembro

Freakonomics À Portuguesa
"A economia não tem de ser uma coisa chata, nem o recolher das ideias "pronto-a-vestir" que todos já conhecemos. É isso que Álvaro Santos Pereira prova nesta obra", escreve o jornalista Nicolau Santos no prefácio deste livro. Não poderíamos estar mais de acordo. Este é um livro sobre a economia portuguesa e os problemas económicos que os portugueses enfrentam no dia-a-dia. Na linha de "best-sellers" internacionais como "Freakonomics" ou "O Economista Disfarçado" (dois dos expoentes da designada "economia pop"), o autor analisa os mitos tradicionais da sociedade portuguesa à luz da ciência económica. São disso exemplo mitos arreigados como "esta é a maior crise da nossa História", "os espanhóis estão a tomar conta do país", "a crise das finanças locais fará com que a Madeira se torne independente" e "as coisas estão tão mal que só nos resta emigrar". O resultado é um livro que se lê de um só fôlego, escrito num tom informal, despretensioso e agradável, sem perder o rigor académico. O primeiro capítulo explica porque os economistas erram tanto e porque não devemos acreditar nas "receitas mágicas". No segundo, o autor debate o sistema de incentivos da economia portuguesa e as consequências perversas da sua distorção. Essa é a razão pela qual os portugueses chegam atrasados a quase tudo, excepto às missas e ao futebol (existem pressões sociais para não o fazermos). No terceiro ele explica por que é que a actual crise pode até ser benéfica para o país. Seguem-se a análise dos mitos dos salários baixos; do euro; da produtividade; da paixão educativa; das universidades, da Europa, do perigo espanhol, dos imigrantes (o autor acredita que precisamos de mais ucranianos e brasileiros), do país pobre, das regiões, da Califórnia da Europa, da independência madeirense e, por fim, do país sem futuro. Para além da identificação e desmitificação destes mitos o autor termina o livro com uma mensagem positiva sobre o futuro da nossa economia (outra característica que também é rara entre os seus pares). Tal como o autor esclarece, a maioria destes textos foram escritos quando ele se encontrava fora do país. Logo, conforme o próprio esclarece, quando se vêem as coisas de fora é mais fácil conter as emoções e sentimentos. "Como expatriados, somos imbuídos de maior imunidade em relação ao optimismo desmesurado dos portugueses quando as coisas vão bem, e ao pessimismo injustificado quando a economia passa por tempos menos felizes". A economia portuguesa, vista assim de fora, é decididamente mais bonita, acrescentamos nós.
Os Mitos da Economia Portuguesa
Autor: Álvaro Santos Pereira
Editora: Guerra e Paz
Páginas: 222
Preço: 16.65

Ranking 4 estrelas
O Melhor: Depois do sucesso de tantos livros internacionais que procuram explicar os problemas do quotidiano à luz da ciência económica, fazia falta um livro deste tipo adequado à realidade nacional. O autor escreve de forma informal e despretensiosa.
O pior: O livro é uma colectânea de textos já publicados pelo autor em jornais e revistas de especialidade. Embora a maioria dos temas permaneça na ordem do dia, outros o tempo já se encarregou de provar que se tratavam realmente de mitos."

MÚSICA PARA ESCREVER


Gosto de ouvir música quando escrevo. Cada livro, cada texto é diferente. Cada livro, cada texto tem a si associado determinados discos, determinadas músicas.
A Lisa Gerrard é uma das minhas favoritas e alguns dos seus albuns são meus companheiros de escrita. No livro que estou presentemente a escrever, A Thousand Roads é imprescindível. Uma banda sonora notável sobre as tribos (First Nations) da América do Norte. "Crazy Horse" e, acima de tudo, "We are what we say" são simplesmente sublimes.

ASP

27 dezembro 2007

BHUTTO (2)


Independentemente das alegações de corrupção serem verdadeiras ou não, Benazir Bhutto demonstrou uma coragem invulgar ao regressar ao Paquistão para lutar pela democracia.
Nos últimos meses, Musharraf dedicou-se mais a perseguir os democratas e a aumentar o seu jugo ditatorial do que a atacar os fundamentalistas. A morte de Bhutto não só empobrece e ameaça (ainda mais) a restauração da democracia paquistanesa, como também deixa uma nódoa demasiado negra sobre a presidência de Musharraf. Com a morte de Bhutto, o Outono do patriarca paquistanês parece eternizar-se.

ASP

BHUTTO (1)


Algumas das últimas fotos de Benazir Bhutto, instantes antes de ter sido assassinada.

COMENTÁRIOS DOS LEITORES

O Mitos da Economia Portuguesa foi escrito a pensar numa grande interacção com os leitores. Por isso, se leu o livro, por favor envie os seus comentários (bons ou maus), sugestões e, até, reclamações para as seguintes moradas electrónicas: apereira@sfu.ca ou apereira@interchange.ubc.ca
Os seus comentários serão então publicados no DESMITOS (a não ser que assim não o deseje).
Obrigado.
ASP

O QUE FAZER PARA MELHORAR OS NOSSOS SERVIÇOS (1)

Os serviços nacionais são, de um modo geral, de baixa qualidade. Em parte, isto justifica-se porque a defesa do consumidor é muito recente em Portugal. Os serviços públicos têm desempenhos produtivos ainda piores, porque existe uma inexplicável arrogância administrativa e um chocante desrespeito e desinteresse pelos contribuintes e cidadãos em geral. Ora, para termos uma Administração Pública mais eficiente necessitamos de fomentar os seguintes princípios: meritocracia, qualidade organizativa e responsabilização pessoal. A meritocracia é fundamental para alcançarmos uma maior eficiência do Estado, a qualidade organizativa é crucial para uma melhor eficiência da actividade económica, e a implementação de critérios de responsabilização pessoal é instrumental para melhorar os critérios de exigência do Estado. A tão badalada reforma da Administração Pública vai exactamente neste sentido e, por isso, esperemos que avance decisivamente. O governo tem a obrigação moral e cívica de não recuar nesta matéria. É igualmente fundamental sancionar exemplarmente gravemente os maus exemplos que “vêm de cima”. O Estado e os seus representantes não podem pedir aos cidadãos aquilo que se recusam a fazer. Por exemplo, não podemos pedir aos condutores(as) portugueses(as) que cumpram o código e andem menos depressa quando os nossos ministros e agentes de autoridade o fazem constantemente, mesmo sem estarem em situações de emergência. Um ministro apanhado a andar a 200km/h devia ser imediatamente exonerado, não só por pôr em perigo a segurança pública, mas também pelo péssimo exemplo que dá aos demais cidadãos.
ASP

26 dezembro 2007

PROGRESSOS DO ATRASO

Numa altura em que ouvimos constantemente que fomos "ultrapassados" por mais este e aquele país (o que é um perfeito disparate, pois estas "ultrapassagens" são relativas, mas transmitem a ideia errada que a nossa economia está cada vez pior), numa altura em que nos bombardeiam com mais e mais descidas de lugares neste e naquele ranking, é óptimo por vezes surgir algum bom senso. Quando analisamos o nosso desenvolvimento numa perspectiva de longo prazo, facilmente nos damos conta do tremendo progresso que alcançámos nas últimas décadas. O DN fá-lo hoje, dando conta do impressionante aumento no número (relativo e absoluto) de licenciadas nos últimos 50 anos. Esperemos que o exemplo do DN seja repetido mais e mais vezes.
ASP

O MITOS NOS TOPS

Os Mitos da Economia Portuguesa permanece nos tops dos livros de Economia e Gestão.
TOP FNAC (Publico 21 Dez):

1. Bolsa - Investir e Ganhar Mais
Miguel Gomes da Silva

2. Mitos da Economia Portuguesa
Álvaro Santos Pereira

3. Ganhar em Bolsa
Fernando Braga de Matos

4. Organizem-se - A Gestão Segundo Fernando Pessoa
Filipe Fernandes

5. A Era da Turbulência
Alan Greenspan

ENTREVISTA NA RR


A entrevista na Rádio Renascença já está disponível em:

LIVROS DO ANO (3) _ Observer

Os críticos do Observer escolheram as seguintes obras como os livros do ano 2007:
Darkmansby de Nicola Barker

Death of a Murdererby escrito por Rupert Thomson

When We Were Bad de Charlotte Mendelson

Girl Meets Boy de Ali Smith

The Digby de John Preston

Winnie and Wolfby escrito por AN Wilson

What is the What de Dave Eggers

Tokyoby de David Peace

Inglorious de Joanna Kavenna

Exit Ghost escrito por Philip Roth

A MORTE DE UM GIGANTE


Oscar Peterson morreu este fim-de-semana aos 82 anos. Uma lenda da música, Peterson editou quase 200 albuns. Este músico Canadiano de sorriso afável deixa-nos uma importante e impressionante obra, que permanecerá para sempre nos anais do jazz.
Morreu o homem, fica-nos o mito.

23 dezembro 2007

LIVROS DO ANO _ NPR

Os críticos da National Public Radio (que tem os melhores podcasts semanais de literatura em www.npr.org) são mais convencionais este ano, escolhendo autores como Roth and McEwan. Os escolhidos este ano são:

Richard Russo Bridge of Sighs
Min Jin Lee Free Food for Millionaires
Stewart O'Nan Last Night at the Lobster
Roddy Doyle Paula Spencer
Salley Vickers The Other Side of You
Ian McEwan On Chesil Beach
Fred Vargas Wash This Blood from My Hands
Ann Patchett Run
Philip Roth's Exit Ghost

LIVROS DO ANO _ NEW YORK TIMES

Os livros do ano segundo os críticos do New York Times são os seguintes (note-se a crescente influência da chamada World literature. Dois dos cinco livros recomendados não são originários da América do Norte):

Ficção:

MAN GONE DOWN escrito por Michael Thomas

OUT STEALING HORSES escrito pelo Norueguês Per Petterson.

THE SAVAGE DETECTIVES do Chileno Roberto Bolaño

THEN WE CAME TO THE END escrito por Joshua Ferris

TREE OF SMOKE de Denis Johnson

Não-ficção

IMPERIAL LIFE IN THE EMERALD CITY: Inside Iraq's Green Zone.de Rajiv Chandrasekaran
LITTLE HEATHENS: Hard Times and High Spirits on an Iowa Farm During the Great Depression.de Mildred Armstrong Kalish

THE NINE: Inside the Secret World of the Supreme Court de Jeffrey Toobin

THE ORDEAL OF ELIZABETH MARSH: A Woman in World History de Linda Colley

THE REST IS NOISE: Listening to the Twentieth Century de Alex Ross

20 dezembro 2007

FESTIVAL LITERÁRIO INTERNACIONAL _ VOTOS PARA 2008



Sendo Portugal um país com poucos leitores, tudo o que faça para estimular o aumento da leitura é bem-vindo. É neste contexto que as velhinhas Feiras do Livro ainda têm um papel meritório a desempenhar. Nem que seja para atrair as pessoas para perto de livros.
Mesmo assim, é mais que notório que as Feiras do Livro já não são o que eram. Antigamente ia-se a uma Feira do Livro não só porque era (e é) agradável, mas também porque fazia sentido economicamente. Muitas vezes era nas Feiras do Livro que se conseguiam os melhores descontos e os preços mais baixos. Com a chegada das grandes livrarias ao mercado nacional, com os seus constantes descontos e promoções, isto já não acontece. Assim, para quê ir a uma Feira do Livro se, durante o ano inteiro, podemos ir on-line e comprar o mesmo livro a um preço comparável ou mais baixo? (Ainda por cima, as livrarias e as grandes superfícies têm as suas próprias feiras nos períodos coincidentes às Feiras do Livro, o que diminui a atractividade das mesmas).

Mesmo as sessões de autógrafos já não justificam a ida às Feiras, pois as livrarias estão cada vez mais agressivas na promoção e organização desses eventos. Por todos estes motivos, é mais que provável que a tendência dos últimos anos continue, e que, nas próximas edições, os visitantes das Feiras do Livro diminuam mais. E mais. E mais. Em parte, a diminuição dos visitantes das Feiras poderia ser atenuada com melhores campanhas de marketing e/ou com um design dos pavilhões menos conservador. Mesmo isso poderá não chegar.
Penso que o que há a fazer para alterar este estado de coisas é mudar modelo. Não é que as Feiras do Livro estejam necessariamente condenadas. Estão é esgotadas. O seu modelo já não resulta. Já não atrai. Já não vende.

Qual é a alternativa? Muito simples: mudar de modelo. Inovar. Copiar os outros. Noutros países o modelo seguido nas últimas décadas tem sido o do festival literário, no qual escritores de vários países confluem a uma cidade ou localidade para falar sobre as suas obras, bem como para interagir com os leitores. Claro que há sessões de autógrafos. Claro que há palestras. Claro que há debate. Acima de tudo, há uma saudável e estimulante troca de ideias. Há o redescobrir de escritores. Há conhecimento de novas escritas. De novas correntes de escrita.

Penso que é chegada a hora de fazermos o mesmo. E nem é preciso sermos demasiado megalómanos. Para ter sucesso, não precisamos necessariamente de atrair os Paul Austers, os Roths, os Pamuks, ou os Rushdies do mundo. Poderá que o consigamos, mas não é necessário, pelo menos no início. Lá chegará o tempo. Para começar, poderíamos organizar um festival literário das letras lusófonas. Um festival de Saramagos, de Lobos Antunes, de Agualusas, de Mias Coutos, bem como doutros autores menos conhecidos.
Para o alcançar, é preciso que existam pessoas interessadas a organizar tal evento. É preciso arranjar mecenas. É preciso angariar apoios. É preciso dinamismo e inovação. Esperemos que sim. Que existam. Acima de tudo, é preciso vontade e dinamismo. Ficam aqui os meus votos para que, em 2008, comecemos a pensar organizar um Festival Literário Internacional em Portugal, um evento que verdadeiramente fomente a divulgação literária neste país de tão poucos leitores.


PS. Foto retirada do site: http://arquivo.forum.autohoje.com/

PRENDAS DE NATAL (7)


Há escritores que têm o dom de nos transportar para outros lugares e outras vivências. Para outros mundos. Os bons conseguem-no logo nas primeiras páginas, nas primeiras palavras. José Eduardo Agualusa é um deles. Um dos melhores escritores actuais de língua portuguesa, Agualusa publicou As Mulheres de Meu Pai este ano. O livro conta a história de Faustino Manso, compositor angolano, que morre, deixando para trás sete viúvas e dezoito filhos. O passado e os segredos de Faustino são-nos desvendados por uma das suas filhas, Laurentina, que embarca numa viagem de Luanda à Cidade do Cabo e o Namibe juntamento com mais alguns companheiros. O livro está muito bem escrito e a história prende o leitor do princípio ao fim. Vale a pena ler.


ASP

STARBUCKS

A Starbucks anunciou hoje que vai abrir uma loja em Lisboa em 2008. Finalmente.
Certamente, irão aparecer os fundamentalistas do costume a dizer-nos que a Starbucks é mais uma multinacional americana apostada em explorar os pobres deste mundo, que o café deles (leia-se: dos americanos) não presta, que só o nosso é que é bom, que o café deles é muito caro, que que que. É habitual. Para muitos nós, tudo o que é americano é quase tão mau como tudo o que é espanhol. Enfim...
Deixem-nos praguejar. Cá por mim, irei adorar passear pelas ruas solarengas de Lisboa com um Tazo Chai Latte (com noz moscada) ou um Americano na mão.
Apesar de todos os protestos que se avizinham, será um sucesso, com toda a certeza.
ASP

19 dezembro 2007

PORQUE É QUE PRECISAMOS DE MAIS ROMENOS

O PUBLICO de hoje tem uma história de uma imigrante de sucesso. Que o exemplo de integração e de dinamismo se repita.

ASP

ENTREVISTA À REVISTA SÁBADO (2)


Por que razão diz que Portugal precisa mais de Espanha, não de menos?
Em primeiro lugar, porque a nossa relação bilateral a nível económico é ainda bastante inferior à registada entre outros países vizinhos com dimensões relativas comparáveis, tais como entre o Canadá e os Estados Unidos ou entre a Alemanha e a Holanda. Em segundo lugar, os recentes alargamentos da União Europeia mudaram o eixo de desenvolvimento da UE do Sul para o Leste europeu. Ora, a nível da atracção do investimento estrangeiro as condicionantes geográficas ainda são muito importantes. Assim, é natural que os investidores alemães ou holandeses prefiram localizar um maior número dos seus projectos de investimentos em países vizinhos. É neste contexto que os nossos próprios vizinhos se tornam ainda mais importantes. Por outro lado, existem sinergias entres as economias ibéricas que ainda não estão totalmente aproveitadas. Todos estes factores fazem com que a economia espanhola assuma uma crescente importância para a economia nacional.


Quem está realmente interessado em vender a imagem da “invasão espanhola” e com que objectivos?

De certa forma, o medo do “perigo espanhol” compreende-se por razões históricas. Ainda recentemente alguns destacados dirigentes militares revelaram que consideravam Espanha como o nosso principal inimigo (!), o que é um perfeito anacronismo. Por outro lado, o fantasma do perigo espanhol persiste, porque há muita gente alarmada com o crescimento das exportações e do investimento estrangeiro espanhóis. Porém, estes aumentos só nos parecem extraordinários porque praticamente não haviam relações económicas entre os dois países ibéricos antes da adesão à CEE. Neste sentido, a crescente integração das duas economias ibéricas pode e deve vista como um restabelecimento de relações económicas perfeitamente normais entre dois países vizinhos. Deduzir daí um qualquer papão espanhol é uma conspiração e uma miragem sem sentido. Depois, há obviamente sectores nacionais que beneficiaram durante décadas de um proteccionismo invulgar e pouco saudável, para os quais a concorrência espanhola apresenta um risco. Assim, estes sectores preferem acentuar os “perigos” em detrimento das oportunidades que uma maior integração económica com Espanha apresenta.

ENTREVISTA À REVISTA SÁBADO



Respostas integrais à Revista Sábado. A entrevista editada foi publicada na Sábado na última semana de Novembro
1. O que o motivou a escrever este livro?
A necessidade de alertar contra as constantes deturpações que se fazem sobre a economia nacional, tais como sejam a nossa relação com Espanha, a nossa baixa produtividade, ou a ideia que a Educação será a nossa tábua de salvação, entre outras. Muitos dos temas do livro têm sido por mim abordados há vários anos na imprensa portuguesa. Quando há uns meses atrás o Manuel Fonseca, então editor da Guerra e Paz, me incitou a escrever um livro de economia num estilo mais descontraído, considerei que esta era a oportunidade ideal para disputar e esclarecer algumas das ideias pré-concebidas (e erróneas) que existem sobre a economia nacional.


2. Compara as previsões dos economistas com as dos empregados de limpeza. Considera que os economistas vivem desligados da realidade? E que deveriam investir mais em análises de curto prazo?

Os economistas ainda são os profissionais mais preparados para efectuar previsões económicas. Mesmo assim, temos que perceber que a economia é como a vida. Sabemos mais ou menos a tendência das nossas vidas, mas por vezes surgem surpresas. Por isso, mesmo com os melhores modelos do mundo é impossível prever com certeza absoluta a evolução da economia. É verdade que existem alguns economistas desligados da realidade, para quem os modelos têm um interesse intrínseco e próprio. Todavia, cada vez mais os economistas têm modificado as suas hipóteses de trabalho e melhorado os seus modelos e previsões, tentando-os tornar mais “reais” e “realistas”, tanto a curto como a longo prazo. Tem havido grande progresso nesta área.

3. Diz que não existem receitas mágicas para acabar com os males nacionais. Acha que os nossos governantes andam a curar doenças graves, como o défice (apontado como um dos cancros da nossa economia), com placebos (como o TGV e a OTA, que diz serem ilusões)?
Os nossos governos têm muitas vezes a tendência para curar cancros com aspirinas, ou seja, com instrumentos manifestamente desadequados às necessidades da economia. Se o défice é realmente uma doença crónica (o que certamente não é linear), então é preciso ter realmente coragem para atacar as suas componentes estruturais. Se queremos mudar o nosso modelo económico, temos que criar os incentivos necessários para efectuar as mudanças estruturais o mais cedo possível. O TGV e a OTA são ilusões, porque nunca poderão ser a catapulta de uma retoma sustentada. Nem o TGV nem a OTA resolvem os problemas estruturais da nossa economia, que se devem mais às insuficiências produtivas das nossas empresas do que às nossas (aliás, boas) infra-estruturas.


4. Se a OTA e o TGV não contribuem para o desenvolvimento nacional, que soluções propõe?
Devido aos montantes em questão, tanto o TGV como a OTA até podem contribuir a curto prazo para uma pequena recuperação económica. Com tanto dinheiro investido, mal seria se assim não fosse. No entanto, tendo em conta os elevadíssimos valores de investimento projectados, interessa perguntar: será que não conseguiríamos utilizar o dinheiro de uma forma mais eficiente? Não haveria alternativas menos dispendiosas, com benefícios mais visíveis e com resultados mais garantidos? Eu penso que sim. E se a OTA (ou Alcochete) é necessária a longo prazo para o crescimento do tráfego aéreo, o TGV é um projecto faraónico e megalómano, com uma rentabilidade muito duvidosa e que pouco contribuirá para diminuir as desvantagens da nossa situação geográfica. Estamos a pôr em risco a estabilidade e a saúde financeira do Estado e da economia nacional pelo capricho de querer ter a todo custo um comboio de alta velocidade como os nossos vizinhos espanhóis. Eu não acredito em receitas mágicas. Não sou, nem pretendo ser um economista curandeiro. No entanto, é evidente que deveríamos apostar na melhoria das nossas estruturas organizativas, na reforma da Administração Pública e no aumento da qualidade educativa. Uma fiscalidade mais atractiva também ajudaria.

PRENDAS DA NATAL (6)



Mesmo que não se concorde sempre com ele, Paul Collier vale sempre a pena ler, nem que não seja para contrabalançar as análises de Jeffrey Sachs e de William Easterly.


ASP

PRENDAS DE NATAL (5)



aqui mencionado, este é um livro que não quer mesmo perder. Half of a Yellow Sun. Absolutamente fantástico. Inesquecível.

PS. Para quando a tradução portuguesa?

PRENDAS DE NATAL (4)



Andrei Makine é uma das vozes mais inovadoras da literatura russa contemporânea. Escreve em francês, mas todos os cenários, todas as personagens, todo o ambiente é russo. Frio. Misterioso. Longínquo. The Woman Who Waited passa-se na Rússia remota. A prosa é simplesmente fascinante. A história comovente. Um pequeno grande livro. A ler. Não esquecerá a solidão, a tristeza, a beleza desta mulher que esperou. E esperou. E esperou. E esperou.

ASP

PRENDAS DE NATAL (3)










Ha Jin é um dos melhores escritores da actualidade, tendo ganho National Book Awards tanto com o seu Waiting como War Trash. Apesar de não ser nativo (nasceu na China e só foi viver para os Estados Unidos recentemente), a sua prosa em inglês é simplesmente genial. O seu último livro A Free Life é já um clássico na literatura emigrante. Uma voz única. A ler. Sem falta. E ainda por cima vários dos seus livros já se encontram traduzidos em português.
ASP

18 dezembro 2007

VIDA LONGA

Parece que o silêncio e oração também ajudam à longevidade...

ASP

PRENDAS DE NATAL (2)




Uma das mais interessantes novidades dos últimos anos no mundo da música pop é José Gonzalez, um sueco de ascendência espanhola. A sua guitarra é inconfundível. In Our Nature foi lançado este ano, enquanto Veneer saiu em 2006. A comprar. Os dois.


PRENDAS DE NATAL

















Para quem gosta de jazz, duas boas prendas de Natal são os albuns de Tord Gustavsen e o seu trio. Para quem pensa que não gosta, esta é uma boa maneira de começar, principalmente o The Ground.
ASP

17 dezembro 2007

PORQUE É QUE O PAPÃO ESPANHOL AINDA É UM MITO

Agora que começam a surgir rumores que os malditos dos espanhóis nos estão a comprar o Alentejo, nunca é demais olharmos para as estatísticas do Investimento Directo Estrangeiro em Portugal por país de origem. Segundo os últimos dados disponíveis, a Espanha investiu 3,553 milhões de euros em Portugal em 2006. Parece muito. Porém, se observarmos os dados, veremos que, uma vez mais, os espanhóis não são os que mais investem em Portugal. Antes dos temidos espanhóis, temos a Alemanha (5,060 milhões de euros), o Reino Unido (4,479 milhões), a França (3,836 milhões) e até a pequena Holanda (3,778 milhões). E, como o Mitos da Economia Portuguesa demonstra, esta tendência nem é peculiar a um ano só. Tem-se repetido praticamente ano após anos após ano desde 1986 (com duas ou três excepções). Porque será então que praguejamos quando os espanhóis nos compram as nossas empresas e as nossas terras, e nos mantemos calados quando ano após ano após ano os alemães, os britânicos, os franceses e até os holandeses nos compram ainda mais empresas e ainda mais terras? Não será altura de acabar com o mito do papão espanhol de uma vez? Não terá chegado a hora de percebermos que os antogonismos históricos já não mais justificam este receio infundado?
ASP

BOAS NOTÍCIAS NAS EXPORTAÇÕES

Segundo os últimos dados disponíveis, pela primeira vez, as exportações de calçado representam mais de 90 por cento da produção total do sector. Estas são boas notícias, pois demonstram que o nosso sector do calçado está bem e recomenda-se a nível de competitividade, principalmente no que diz respeito aos segmentos de maior qualidade, como sejam os sapatos de couro. Segundo os responsáveis pelo sector, este desempenho é principalmente devido às restruturações levadas a cabo nos últimos anos, bem como à maior internacionalização do sector. Aos poucos, o sector do calçado começa a ser cada vez menos tradicional, atingindo maiores índices de produtividade e uma maior qualidade dos seus produtos. Ou seja, o que é preciso para o sector sobreviver e para crescentemente se tornar num real competidor dos produtos (de alta qualidade) italianos.
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O HOMEM MAIS VELHO DO MUNDO

Morreu o homem mais velho do mundo com 116 anos. Quando as pessoas vivem tantos anos, a longevidade destes indivíduos é frequentemente atribuída a vidas frugais, aos cuidados alimentares, a beber um copo de sumo de àgua com limão de manhã, a beber um copo de vinho (só um) todas as refeições, ou causas semelhantes. Não segundo este verdadeiro sobrevivente, um uncraniano de seu nome Hryhoriy Nestor. Segundo ele, a razão da sua longevidade prende-se com o facto de nunca ter casado... Hmmm... Será esta a receita para uma vida longa? Será que este é o segredo da eterna juventude?
Mas..., como é que poderemos então explicar que a faixa etária da população que mais tem crescido na última década tenha sido a dos centenários? E que quase todos eles(as) foram, nalguma parte das suas vidas, casados(as)?
Mais detalhes sobre este ucraniano em http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/7147254.stm

16 dezembro 2007

LIVROS

Um dos livros do ano é certamente "A Thousand Splendid Suns" de Khaled Hosseini.
Depois do extraordinário sucesso do seu romance inaugural, "The Kite Runner", havia uma enorme expectativa por parte dos seus críticos e leitores em relação ao seu segundo trabalho. O autor não desilude. Com efeito, em muitos aspectos, este livro é ainda mais bem conseguido do que o primeiro, tanto a nível de escrita como de narrativa.
Esta é a história de duas mulheres afegãs desde os tempos da monarquia, passando pelas diversas revoluções, da invasão soviética, dos atribulados tempos dos senhores da guerra e dos Talibã, até à liberação por parte das forças aliadas.
Hosseini é um óptimo contador de histórias e uma história de amor afegã (contada por ele) é inesquecível. Triste e poderosa.
Hosseini é crescentemente para o Afeganistão o que Orkan Pamuk é para a Turquia. Um must para conhecermos estes países longínquos. Um livro a ler.
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OBRA-PRIMA


ARTE DE BRITISH COLUMBIA




Alguma da arte nativa da British Columbia.

MITOS nos tops

Segundo o EXPRESSO, o "Mitos da Economia Portuguesa foi o livro de Economia e Gestão mais vendido nas livrarias Bertrand durante semana de 3 a 9 de Dezembro. O MITOS também está no Top 3 de Não-Ficção da Livraria Martins Fontes _ Portugal.

O Top 5 de Economia e Gestão na Bertrand foi o seguinte:

1. Os Mitos da Economia Portuguesa
2. Bolsa _ Investir e Ganhar Mais
3. Organizem-se! A Gestão Segundo Pessoa
4. A Era da Turbulência
5. As Boas Raparigas Não Sobem na Vida


Livraria Martins Fontes – Portugal

1-O Gato Juno - Rita Campos
2-Ir Prò Maneta - Vasco Pulido Valente
3-Mitos da Economia Portuguesa - Álvaro Santos Pereira
4-A Arte da Guerra - Edição Ilustrada - Sun Tzu
5-As Crónicas do Eirozinho - Nuno Eiró

15 dezembro 2007

O CONTRA-SENSO DE BALI



Pelo que parece, as diversas delegações à conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas chegaram a um acordo sobre a redução dos gases responsáveis pelo efeito de estufa. Ainda não se conhecem todos os pormenores do acordo, mas, antes de mais, vale a pena relembrar alguns factos. Realizar uma cimeira do clima em Bali, Indonésia, em que participam cerca de 10 mil delegados e suas comitivas, mais cerca de 5 mil lobistas, é para todos os efeitos um contra-senso. Segundo algumas estimativas, as emissões das viagens de todos os delegados, comitivas e lobistas, atinge cerca de 100 mil toneladas de dióxido de carbono, o equivalente às emissões anuais de países como o Chade. É certo que as emissões de CO2 do Chade são relativamente pequenas, sendo 60 mil vezes menores que as emissões dos Estados Unidos ou 6 mil vezes menores do que a do Reino Unido. É também óbvio que este tipo de cimeiras não se pode realizar por vídeo-conferência, pois grande parte das negociações é informal e pessoal. Mesmo assim, vale a pena lembrar que as emissões dos participantes na conferência de Bali são referentes a apenas 10 dias. DEZ dias. Porquê Bali então? Porquê um local tão remoto (para grande dos participantes, pelo menos)? Porque não perto da sede da ONU, em Nova Iorque? Porque, essencialmente, Bali é num país em desenvolvimento, onde as manifestações e os protestos das ONGs, sindicatos, etc, são bastante reduzidas (principalmente quando comparadas com o que se passou em Seattle em 1999). E quanto menores os protestos melhor.


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Entrevista na RR

Entrevista na Rádio Renascença, no programa "António Sala", sábado, 15 de Dezembro, às 10 da manhã.

13 dezembro 2007

ANTI-FUTEBOL

Concordo inteiramente com Francisco José Viegas sobre os “excesso de hooliganismo anti-futebolístico” tão em voga entre (alguns de) nós.
Com efeito, quem já viveu fora do país e observou atentamente os hábitos desses povos sabe perfeitamente que o nosso fervor futebolístico não é, de modo algum, excepcional. Tanto no Reino Unido, como no Canadá e Estados Unidos, existem variadíssimas estações de rádio inteiramente dedicadas ao desporto (as chamadas Talk Sports Radios), nas quais, para além da cobertura de eventos desportivos, se dissecam durante horas e horas a fio assuntos tão importantes como se aquele ou aqueloutro jogador merecia mesmo o cartão amarelo, se as novas camisolas respeitam o espírito e tradição da nossa equipa, se a namorada do jogador X é mais bonita que a mulher de Y, ou mesmo se o novo penteado do treinador nos irá trazer má sorte à equipa. Comparadas estas rádios, os nossos debates radiofónicos dedicados ao futebol são umas meras brincadeiras de amadores.
O fanatismo futebolístico (e desportivo) noutros países é tão grande que frequentemente se perde toda a noção de razoabilidade e bom senso. Por exemplo, em todos os Europeus (não no próximo) e Mundiais de futebol existe um verdadeiro clima de euforia na Inglaterra, com contornos extremamente nacionalistas, tendo, por vezes, mesmo laivos xenófobos. Quando Portugal bateu a Inglaterra nos penalties em 2006, dizer que se era português era praticamente um crime. Havia um palpável ressentimento contra os portugueses, mesmo em lugares habitualmente insuspeitos e multiculturais, como sejam as universidades e empresas multinacionais. Nessa altura, a campanha contra o Cristiano Ronaldo atingiu proporções desmesuradas, com ameaças de morte e ataques à sua casa. Um dos tablóides ingleses, sempre tão isentos e zelosos, deu o número do telemóvel de Ronaldo aos seus leitores, juntamente com frases em português “apropriadas”.
E nem se pense que este fervor desportivo é um mal europeu. No Canadá e nos Estados Unidos (para já não falar na Índia com o cricket, a Nova Zelândia com o rugby, etc.), o fenómeno desportivo é tão ou mais acentuado que na Europa. Pensarmos que a febre futebolística nacional é só um sintoma do nosso alegado subdesenvolvimento é simplesmente um mito.

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12 dezembro 2007

PORQUE É QUE DEVÍAMOS QUERER MAIS UCRANIANOS

O governo publicou uma nova portaria que requer que os imigrantes tenham que provar meios de subsistência suficientes para entrar e permanecer em Portugal.
Esta é uma boa notícia, principalmente se se enquadrar num conjunto de medidas que visem fomentar a imigração qualificada no país. Como é debatido no Mitos da Economia Portuguesa, Portugal tem tudo a ganhar com um aumento da imigração. A imigração é uma necessidade devido à nossa baixa natalidade e tem um efeito positivo sobre a produtividade nacional.
Por isso, interessa sobretudo melhorar as condições de integração dos imigrantes, bem como combater a imigração ilegal. A nova portaria está em linha do que tem sido adoptado noutros países receptores de imigrantes e é mais um passo para a necessária introdução de quotas de imigração anuais.

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O QUE MATOU OS MAMUTES?



Existe um certo consenso na comunidade científica internacional que a extinção de um elevado número de espécies de largo porte 10,000 atrás foi devida principalmente à invenção de armas mais poderosas por parte dos humanos, bem como à chegada dos nossos antepassados a regiões anteriormente inexploradas, como sejam as Américas.
O timing das extinções e os achados arqueolólicos batem certo e, por isso, parecia não haver dúvidas sobre os culpados.
Para grande surpresa de muitos cientistas, surgiram recentemente novos dados que poderão fazer re-equacionar a história sobre o destino dos mamutes e outros animais de largo porte. Terão sido alterações climáticas igualmente responsáveis? Quiçá mesmo um cataclismo vindo do espaço?
Provavelmente, os humanos serão ainda os culpados, mas talvez estes mamíferos tivessem estado já numa trajectória descendente antes de serem acoçados pelos nossos antepassados. Para ler em http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/7130014.stm

ASP

11 dezembro 2007

A OBSESSÃO DO DÉFICE

Segundo o PUBLICO de hoje, no novo Plano de Estabilidade e Crescimento, o governo nâo prevê nenhuma redução substancial dos impostos até 2011. Claro que as eleições de 2009 podem (e, possivelmente, devem) mudar este cenário. De qualquer maneira, este é mais um indicador do quão obcecados continuamos com o défice. Até 2011, o governo prevê que o défice orçamental desça até 0.2 por cento do PIB, mas que a carga fiscal AUMENTE de 36.2 para 36.4 por cento do PIB, enquanto que a dívida pública baixa para cerca de 57 por cento do PIB.
É de assinalar que o pequeno aumento da carga fiscal e a redução da dívida pública acontecem num cenário de crescimento do PIB de 3 por cento ao ano. Bem mais do que temos actualmente. Num cenário em que as exportações continuam a bom ritmo (o que não é linear) e o investimento recupera para níveis não registados há mais de 10 anos. Ou seja, só não há um agravamento da carga fiscal ou da dívida pública porque se prevê que haja um maior crescimento económico (e, assim, maiores receitas fiscais).

Assim, vale a pena perguntar: para quê tanta obsessão com o défice? Porque não reduzir impostos (como o IVA ou o IRC) em vez de tentarmos agradar Bruxelas com uma inexplicável obsessão orçamental? Porque não aumentar a competitividade da nossa carga fiscal (e da nossa economia) em vez de retirarmos umas décimas adicionais ao défice? Como queremos fomentar o crescimento económico quando damos prioridade ao défice em vez fornecermos um alívio fiscal aos contribuintes?
Se estas opções do governo se confirmarem (esperemos que não), não tenhamos dúvidas que estamos perante um grave erro estratégico. Uma autêntica oportunidade perdida. O governo deveria estar preocupado com a promoção da retoma económica e não com Bruxelas ou mais algumas décimas do défice. A França certamente não está.

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ARTE DE BRITISH COLUMBIA




10 dezembro 2007

OS PROGRESSOS DO ATRASO



O Ministério da Saúde anunciou hoje que a taxa de mortalidade infantil atingiu o valor mais baixo de sempre, com uma taxa de 3,3 mortes por cada 1,000 nascimentos. Este é um facto a saudar e em linha com a pronunciada tendência de descida das últimas décadas. Portugal tem hoje uma das taxas de mortalidade infantil mais baixas do mundo. Para aqueles obcecados com os "rankings" relativos dos países (e que desvalorizam os grandes progressos das últimas décadas) interessa referir que a nível da mortalidade infantil Portugal está bem à frente de países como os Estados Unidos ou o Reino Unido.
Interessa também lembrar que há duas ou três décadas atrás, Portugal era um dos países da OCDE com as mais altas taxas de mortalidade infantil. Há 20 anos atrás, os nossos indicadores de mortalidade infantil eram terceiro-mundistas. Hoje são do melhor que existe.
Como sempre, certamente que muitos irão minimizar este feito. Afinal, é sempre popular ser-se pessimista e derrotista.
Contudo, muitos são os nossos progressos do atraso (na expressão feliz de Pedro Lains) e muitos avanços foram conseguidos nas últimas décadas. As baixíssimas taxas de mortalidade infantil são somente mais um indicador de que o mito do país dos coitadinhos é apenas isso, um mito. Mais nada.

PS. Foto retirada do site http://antoniocruz.net/mostrar/eventos/2005/burros/

VANCOUVER











09 dezembro 2007

TGV É UM ERRO FINANCEIRO _ Entrevista no PUBLICO



Entrevista no PUBLICO de hoje.


"O comboio de alta velocidade (TGV) é "um erro financeiro e estratégico do Governo, pois vai sair demasiado caro para um país que está em dificuldades financeiras", afirma Álvaro Santos Pereira. O economista português de 35 anos, que lançou recentemente o livro Os Mitos da Economia Portuguesa, defende que encurtar a viagem Lisboa-Madrid em uma ou duas horas não é a maneira mais eficiente de gastar os sete mil milhões de euros investidos no TGV. Álvaro Pereira contesta também o projecto do novo aeroporto da Ota, garantindo que não vai impulsionar nenhuma retoma económica. "A Portela + 1 não deveria ter sido descartada tão levianamente como foi", salienta.Para o professor da Universidade de York, o investimento prioritário deveria ser, não no TGV e no novo aeroporto, mas na melhoria das capacidades organizativas, tanto no sector privado como no público. "O problema da produtividade portuguesa está principalmente associado ao sector dos serviços, que são maus e não têm a boa educação por regra", sublinha. A reforma da administração é, por isso, "crucial", mas também "é importante dar ao sector privado os incentivos necessários para reformar as suas organizações".Segundo Álvaro Santos Pereira, é falsa a ideia de que a produtividade nacional seja baixa, visto que "os índices produtivos se encontram num nível médio". O mito da produtividade é, aliás, um dos 16 mitos que o escritor se propõe desmontar. "Alertar o público para as concepções erradas sobre a economia portuguesa" é o objectivo do autor, que desmistifica também o mito do perigo espanhol."A Espanha não tem sido o maior investidor estrangeiro no território nacional, mas sim o quarto ou quinto", assegura o economista. "Quando a Espanha espirrar, os portugueses vão constipar-se", mas isso não constitui problema aos olhos de Álvaro Pereira. "Precisamos claramente do investimento directo estrangeiro espanhol", afirma, desde logo devido à condição periférica do território nacional. Um investidor alemão vai mais facilmente para a República Checa do que para Portugal, exemplifica.O caminho da imitação "Quando vou à Inglaterra, ao Canadá ou aos Estados Unidos, encontro os vinhos portugueses de pior qualidade", refere Álvaro Pereira, alertando para o desperdício do sector dos vinhos portugueses. "Falta em Portugal marketing agressivo que mostre a qualidade dos produtos", contrariamente às grandes empresas espanholas como a Zara e a Cortefiel. "Se conseguimos ter no estrangeiro fadistas de qualidade, como a Mariza, ou futebolistas, como Cristiano Ronaldo, é porque eles têm óptimas campanhas de marketing, e é isso que precisamos também nas empresas", salienta. "Organização, formação e dinamismo."Para Álvaro Santos Pereira, o desenvolvimento económico passa também por Portugal encontrar as suas vantagens comparativas, ou seja, aquilo que produz melhor. "Se esses produtos são futebolistas, fado, vinho ou carros, não interessa", explica, aludindo a um trocadilho inglês: não interessa se uma pessoa produz "chips" (batatas fritas) ou "chips" (dos computadores), mas sim que consiga fazê-lo bem, para aumentar o dinamismo da economia, assim como os níveis de vida da população.Daí, ser "inovador" ou "bom imitador" é um ponto de partida para a expansão da economia. Taiwan começou a produzir bicicletas e só depois computadores, exemplifica, realçando, no entanto, que no caso português o caminho do desenvolvimento passa mais pela imitação do que pela inovação. "Portugal pode ter as suas Critical Software ou YDreams [empresas tecnológicas], mas tem de se cingir à realidade e perceber que o que interessa é ser óptimo imitador", conclui.Embora considere fundamental ao crescimento económico a aposta na educação, Álvaro Santos Pereira alerta que o ensino não pode ser uma "receita mágica" para o desenvolvimento. "O grande problema, [em Portugal] ao nível da educação, não é gastarmos pouco, mas é gastarmos mal", diz. Por outro lado, a "permissividade", o "imobilismo" e o "compadrio" dominam nas escolas e universidades portuguesas, considera o antigo professor da Universidade de British Columbia, no Canadá. "Os concursos públicos são uma farsa e os reitores das instituições de ensino superior não têm desempenhado o papel que deviam para reformar as suas universidades, com algumas excepções nas faculdades de Economia", afirma, referindo-se a Portugal. Álvaro Pereira critica as universidades portuguesas por serem "demasiado estáticas e Estado Novo" para conseguirem produzir "alunos críticos e dinâmicos". Se a fadista Mariza e Cristiano Ronaldo têm sucesso é também devido ao marketing, diz o economista "

08 dezembro 2007

Um livro a ler

NYT
Ainda não o li, mas certamente irei fazê-lo brevemente. "A FAREWELL TO ALMS: A Brief Economic History of the World", de GREG CLARK, é um dos livros de História Económica mais aguardados nos últimos anos.Clark é um provocador por excelência e por mais que discordemos com as suas ideias, ninguém consegue ficar insensível às suas desconstruções da história. Só por isso este livro promete e muito. A comprar e ler com atenção.

06 dezembro 2007

PORQUE É QUE O GOVERNO FICOU ENSACADO


O governo tinha a intenção de cobrar 5 cêntimos por saco de plástico, mas agora recuou. Porque será? O pagamento de taxas sobre os sacos de plástico é uma medida que começa a ser implementada em vários países, devido aos elevados custos ambientais que estes convenientes sacos comportam. Todos os anos gastamos uns largos milhões de euros a enterrar os biliões de sacos que utilizamos. Para além do mais, o plástico não é biodegradável, permanecendo nos aterros sanitários durante centenas, se não milhares de anos. O que quer dizer que se não os queimarmos (o que polui seriamente o ambiente), os biliões de sacos de plásticos contribuem para diminuir o espaço (já exíguo) dos nossos aterros. Vários países, estados e províncias um pouco por todo o mundo têm aplicado taxas e/ou banido os sacos de plástico, tanto por razões ambientais como económicas. Por todos estes motivos, a aplicação de taxas aos sacos de plástico faz todo o sentido. E se é assim, porque é que o governo falhou (pelo menos por enquanto)?
Porque não só geriu mal a questão mediaticamente, mas também porque haverá uma oposição velada das grandes superfícies. Mas há mais. Porque os portugueses vêm esta medida como mais uma desculpa para o governo lhes “meter a mão no bolso”. Como mais uma oportunidade para combater o défice público. Como mais um imposto ao consumo. Uma taxa sobre os sacos de plástico não poderá ter sucesso enquanto for vista mais como uma fonte de receita fiscal em vez de ser uma forma de eliminarmos este elevado custo ambiental.

04 dezembro 2007

PORQUE É QUE SOMOS UNS MAL-EDUCADOS (1)

Foi hoje publicado o relatório PISA 2006, no qual se compara o desempenho educativo dos alunos de 57 países. A nota dominante é que Portugal continua abaixo da média da OCDE a nível de literacia cientifica e matemática. Na OCDE, abaixo de nós só a Itália e o México. Nenhuma novidade, portanto.Mesmo assim, interessa referir que nem todo o sistema educativo nacional é sofrível. Por exemplo, é interessante verificar que as escolas privadas nacionais atingem médias de desempenho global a literacia científica ligeiramente mais elevadas do que a média da OCDE!Em contrapartida, as escolas públicas têm um desempenho substancialmente inferior à média da OCDE. Ou seja, o nosso grande problema a nível da educação não é que não temos bons professores ou bons alunos. O problema é que as escolas públicas nacionais ainda deixam muito a desejar em relação da qualidade educativa. Deste modo, talvez tenha chegado a hora de nos deixarmos de ideologias e de preconceitos. As escolas públicas deveriam olhar para as privadas e tentar perceber o que é que as últimas fazem para terem um desempenho educativo tão superior.

ASP

02 dezembro 2007

Eleições Americanas


A pouco mais de um mês do início das Primárias, existem dois claros candidatos que se destacam tanto no campo Democrático como no Republicano: Hillary Clinton e Rudy Giuliani.
Em quase todas as sondagens de opinião, Hillary tem cerca de 20 pontos percentuais sobre Barak Obama e 30 pontos percentuais sobre John Eduards. Com esta margem de vantagem, só mesmo um cataclismo, um escândala inesperado ou um desempenho desastroso nas primárias de Janeiro e Fevereiro poderão destronar Hillary Clinton da nomeação Democrata.
A situação no campo republicano não é tão clara, mas Giuliani possui um vantagem de 10 a 15 pontos percentuais sobre os seus principais rivais Republicanos (John McCain e Fred Thompson). Permanecem muitas incertezas (principalmente em relação a Giuliani, pois é natural que a direita religiosa não vai aceitar pacificamente a sua candidatura).
Um confronto Hillary-Giuliani parece assim estar iminente. Veremos se os próximos dois meses (decisivos para os candidatos) confirmarão essa tendência.
Esta é considerada a mais longa campanha eleitoral na história dos Estados Unidos. Resta saber se o eleitorado continuará motivado durante os onze meses que ainda faltam até às eleições de Novembro, em que se decidirá quem finalmente substituirá George Bush na presidência americana.

PS. Um bom site para seguir as sondagens da campanha americana é:
http://www.pollingreport.com/2008.htm

ASP

30 novembro 2007

VPV vs. MST

Sinceramente ainda não li nem sei se vou ler o novo romance de Miguel Sousa Tavares. No entanto, as críticas de Vasco Pulido Valente a Sousa Tavares parecem-me desproporcionadas e até completamente desapropriadas. Basta pensar o seguinte: um romance é um romance é um romance. Se os alegados factos históricos não fossem romanceados não seria um romance. Tendo isto em linha de conta, a disputa entre os dois parece-me mais um caso de ajuste de contas pessoais do que um caso de simples crítica literária. Não há nada mais a dizer.
Para além do mais, lá por os romances de MST venderem bem acima do que é normal entre nós não é nenhum defeito. Muito pelo contrário. Sendo Portugal um dos países com alguns dos piores índices de leitura na Europa, o sucesso editorial de MST (e de José Rodrigues dos Santos) é um facto que devemos saudar.


"O, beware, my lord, of jealousy;
It is the green-ey'd monster which doth mock
The meat it feeds on.Spoken by Iago (3.3.189-91)" Othello, Shakespeare

ASP

28 novembro 2007

GORDON BROWN, DURÃO BARROSO E SÓCRATES

O primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, anunciou que não irá participar na cimeira Europa-África que se vai realizar em Lisboa, e que contará com a presença de Robert Mugabe, presidente do Zimbabué. Apesar de não devermos ter ilusões sobre as alegadas boas intenções de Brown, esta é uma decisão politicamente acertada, pois a opinião pública britânica claramente apoia o seu primeiro-ministro neste seu boicote contra o regime de Mugabe. Mas esta é igualmente uma decisão pessoal. Nos últimos anos, Brown tem levado a cabo uma cruzada pessoal contra a pobreza na África (ele é um dos “Planners” que William Easterly descreve no seu último livro) e, supostamente, gostaria de ressuscitar a ideia de Tony Blair que a política externa britânica se devia pautar por princípios éticos e pelo respeito pelos direitos humanos. Mas, se é assim, porque é que renegamos ao autoritarismo de Mugabe mas compactuamos, por exemplo, com a ditadura saudita? Alguma sugestão? Se o governo britânico dá realmente primazia aos direitos humanos, como é que podemos explicar que a Grã-Bretanha continua a ser um dos principais exportadores de armas para os países subdesenvolvidos?
Mesmo assim, e apesar de todas as possíveis hipocrisias, interessa realçar que a recusa de Brown em conviver com o ditador de um regime que tem sistematicamente levado a cabo práticas de tortura e assassinato políticos é um passo em frente nas relações internacionais. Às vezes, a ética e a integridade dos nossos líderes deveriam sobrepor-se a meros interesses estratégicos e económicos.
Esta é uma lição que Sócrates e Durão Barroso deviam aprender.

ASP

26 novembro 2007

O MITO DA AJUDA EXTERNA E A ERRADICAÇÃO DA POBREZA






Depois do magistral The Elusive Quest for Growth, William Easterly volta ao tema da ajuda externa como instrumento de ajuda aos países subdesenvolvidos no seu novo livro The White Man's Burden. O livro é principalmente um ataque aos Planificadores (os “Planners” na terminologia de Easterly) e às influentes ideias de Jeffrey Sachs, que tem servido de base às iniciativas do G8 e de Gordon Brown no âmbito da redução da pobreza mundial. No seu livro The End of Poverty, Sachs defende um aumento substancial da ajuda externa bem como o perdão da dívida externa dos países mais pobres. Sachs acredita e tem o sonho de erradicar a pobreza extrema até 2025, bem como acabar com a desnecessária e prevenível mortalidade de doença como a malária, a tuberculose e a disenteria. Com ideais tão nobres, não é de espantar que as ideias de Sachs tenham sido recebidas com um enorme entusiasmo por parte da comunidade internacional, desde o Papa a Gordon Brown, que recentemente anunciou o dobrar da ajuda externa aos países africanos. Segundo Sachs e seus adeptos, o que o mundo precisa é de um Grande Empurrão (Big Push) para erradicarmos de vez a pobreza extrema.


Contrariamente, Easterly argumenta que a estratégia do Grande Empurrão é simplesmente mais-do-mesmo que temos tido nos últimos 50 anos: mais ajuda externa, mais perdão da dívida externa, mais e mais e mais. Nos últimos 50 anos, o mundo (principalmente o Ocidente) despendeu 2.3 triliões de dólares (sim, leu bem, triliões) em vários pacotes de ajuda aos países subdesenvolvidos. Resultados? Nulos, ou quase nulos. Os países a quem perdoámos as dívidas são uma vez mais os mais endividados do mundo e os países que mais receberam ajuda externa (por habitante e em termos do PIB) são os mesmos a clamar por ainda mais ajuda externa. Por outro lado, os países que saíram das suas armadilhas de pobreza (poverty traps) e de uma situação de pobreza extrema (a Coreia do Sul, o Botswana, Singapura, Hong Kong, Taiwan, e, mais recentemente, a China e a Índia) alcançaram taxas de desenvolvimento económico apreciáveis com pouca ajuda externa (por habitante e em termos do PIB). Pelo contrário, toda a estratégia de crescimento destes países centrou-se no desenvolvimento doméstico (homegrown development).
Porque é que a ajuda externa não resultou? Porque, segundo Easterly, não só porque os países doadores nem sempre canalizaram a sua ajuda para os fins do desenvolvimento (mas sim para fins militares ou estratégicos), mas também porque a ajuda externa foi muitas vezes dada a países com maus governos, administrações corruptas e não levaram em linha de conta os incentivos das pessoas (e os pobres) dos países subdesenvolvidos. Segundo Easterly, o Grande Empurrão planeado pelos G8 e por Sachs está condenado ao fracasso, pois é mais uma estratégia que “vem de cima” (Top-down approach), não sendo desenhada pelos actores no terreno (Bottom-up approach). Qual é a solução? Mais desenvolvimento doméstico, ajuda externa menos sexy e grandiosa, mas mais direccionada a projectos locais, “vouchers” para o desenvolvimento, e uma menor interferência do Ocidente, do FMI e do Banco Mundial.


Quem tem razão? Sachs ou Easterly? Não há uma resposta clara. Um intermédio talvez seja a melhor estratégia. O Grande Empurrão de Sachs não é certamente ideal, mas o Quase Fazer Nada de Easterly é demasiado insuficiente e pouco satisfatório. É exactamente esta a opinião de Paul Collier, cujo livro The Bottom Billion será analisado numa próxima ocasião.