Sendo Portugal um país com poucos leitores, tudo o que faça para estimular o aumento da leitura é bem-vindo. É neste contexto que as velhinhas Feiras do Livro ainda têm um papel meritório a desempenhar. Nem que seja para atrair as pessoas para perto de livros.
Mesmo assim, é mais que notório que as Feiras do Livro já não são o que eram. Antigamente ia-se a uma Feira do Livro não só porque era (e é) agradável, mas também porque fazia sentido economicamente. Muitas vezes era nas Feiras do Livro que se conseguiam os melhores descontos e os preços mais baixos. Com a chegada das grandes livrarias ao mercado nacional, com os seus constantes descontos e promoções, isto já não acontece. Assim, para quê ir a uma Feira do Livro se, durante o ano inteiro, podemos ir on-line e comprar o mesmo livro a um preço comparável ou mais baixo? (Ainda por cima, as livrarias e as grandes superfícies têm as suas próprias feiras nos períodos coincidentes às Feiras do Livro, o que diminui a atractividade das mesmas).
Mesmo as sessões de autógrafos já não justificam a ida às Feiras, pois as livrarias estão cada vez mais agressivas na promoção e organização desses eventos. Por todos estes motivos, é mais que provável que a tendência dos últimos anos continue, e que, nas próximas edições, os visitantes das Feiras do Livro diminuam mais. E mais. E mais. Em parte, a diminuição dos visitantes das Feiras poderia ser atenuada com melhores campanhas de marketing e/ou com um design dos pavilhões menos conservador. Mesmo isso poderá não chegar.
Penso que o que há a fazer para alterar este estado de coisas é mudar modelo. Não é que as Feiras do Livro estejam necessariamente condenadas. Estão é esgotadas. O seu modelo já não resulta. Já não atrai. Já não vende.
Qual é a alternativa? Muito simples: mudar de modelo. Inovar. Copiar os outros. Noutros países o modelo seguido nas últimas décadas tem sido o do festival literário, no qual escritores de vários países confluem a uma cidade ou localidade para falar sobre as suas obras, bem como para interagir com os leitores. Claro que há sessões de autógrafos. Claro que há palestras. Claro que há debate. Acima de tudo, há uma saudável e estimulante troca de ideias. Há o redescobrir de escritores. Há conhecimento de novas escritas. De novas correntes de escrita.
Penso que é chegada a hora de fazermos o mesmo. E nem é preciso sermos demasiado megalómanos. Para ter sucesso, não precisamos necessariamente de atrair os Paul Austers, os Roths, os Pamuks, ou os Rushdies do mundo. Poderá que o consigamos, mas não é necessário, pelo menos no início. Lá chegará o tempo. Para começar, poderíamos organizar um festival literário das letras lusófonas. Um festival de Saramagos, de Lobos Antunes, de Agualusas, de Mias Coutos, bem como doutros autores menos conhecidos.
Para o alcançar, é preciso que existam pessoas interessadas a organizar tal evento. É preciso arranjar mecenas. É preciso angariar apoios. É preciso dinamismo e inovação. Esperemos que sim. Que existam. Acima de tudo, é preciso vontade e dinamismo. Ficam aqui os meus votos para que, em 2008, comecemos a pensar organizar um Festival Literário Internacional em Portugal, um evento que verdadeiramente fomente a divulgação literária neste país de tão poucos leitores.
PS. Foto retirada do site: http://arquivo.forum.autohoje.com/
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