09 dezembro 2007

TGV É UM ERRO FINANCEIRO _ Entrevista no PUBLICO



Entrevista no PUBLICO de hoje.


"O comboio de alta velocidade (TGV) é "um erro financeiro e estratégico do Governo, pois vai sair demasiado caro para um país que está em dificuldades financeiras", afirma Álvaro Santos Pereira. O economista português de 35 anos, que lançou recentemente o livro Os Mitos da Economia Portuguesa, defende que encurtar a viagem Lisboa-Madrid em uma ou duas horas não é a maneira mais eficiente de gastar os sete mil milhões de euros investidos no TGV. Álvaro Pereira contesta também o projecto do novo aeroporto da Ota, garantindo que não vai impulsionar nenhuma retoma económica. "A Portela + 1 não deveria ter sido descartada tão levianamente como foi", salienta.Para o professor da Universidade de York, o investimento prioritário deveria ser, não no TGV e no novo aeroporto, mas na melhoria das capacidades organizativas, tanto no sector privado como no público. "O problema da produtividade portuguesa está principalmente associado ao sector dos serviços, que são maus e não têm a boa educação por regra", sublinha. A reforma da administração é, por isso, "crucial", mas também "é importante dar ao sector privado os incentivos necessários para reformar as suas organizações".Segundo Álvaro Santos Pereira, é falsa a ideia de que a produtividade nacional seja baixa, visto que "os índices produtivos se encontram num nível médio". O mito da produtividade é, aliás, um dos 16 mitos que o escritor se propõe desmontar. "Alertar o público para as concepções erradas sobre a economia portuguesa" é o objectivo do autor, que desmistifica também o mito do perigo espanhol."A Espanha não tem sido o maior investidor estrangeiro no território nacional, mas sim o quarto ou quinto", assegura o economista. "Quando a Espanha espirrar, os portugueses vão constipar-se", mas isso não constitui problema aos olhos de Álvaro Pereira. "Precisamos claramente do investimento directo estrangeiro espanhol", afirma, desde logo devido à condição periférica do território nacional. Um investidor alemão vai mais facilmente para a República Checa do que para Portugal, exemplifica.O caminho da imitação "Quando vou à Inglaterra, ao Canadá ou aos Estados Unidos, encontro os vinhos portugueses de pior qualidade", refere Álvaro Pereira, alertando para o desperdício do sector dos vinhos portugueses. "Falta em Portugal marketing agressivo que mostre a qualidade dos produtos", contrariamente às grandes empresas espanholas como a Zara e a Cortefiel. "Se conseguimos ter no estrangeiro fadistas de qualidade, como a Mariza, ou futebolistas, como Cristiano Ronaldo, é porque eles têm óptimas campanhas de marketing, e é isso que precisamos também nas empresas", salienta. "Organização, formação e dinamismo."Para Álvaro Santos Pereira, o desenvolvimento económico passa também por Portugal encontrar as suas vantagens comparativas, ou seja, aquilo que produz melhor. "Se esses produtos são futebolistas, fado, vinho ou carros, não interessa", explica, aludindo a um trocadilho inglês: não interessa se uma pessoa produz "chips" (batatas fritas) ou "chips" (dos computadores), mas sim que consiga fazê-lo bem, para aumentar o dinamismo da economia, assim como os níveis de vida da população.Daí, ser "inovador" ou "bom imitador" é um ponto de partida para a expansão da economia. Taiwan começou a produzir bicicletas e só depois computadores, exemplifica, realçando, no entanto, que no caso português o caminho do desenvolvimento passa mais pela imitação do que pela inovação. "Portugal pode ter as suas Critical Software ou YDreams [empresas tecnológicas], mas tem de se cingir à realidade e perceber que o que interessa é ser óptimo imitador", conclui.Embora considere fundamental ao crescimento económico a aposta na educação, Álvaro Santos Pereira alerta que o ensino não pode ser uma "receita mágica" para o desenvolvimento. "O grande problema, [em Portugal] ao nível da educação, não é gastarmos pouco, mas é gastarmos mal", diz. Por outro lado, a "permissividade", o "imobilismo" e o "compadrio" dominam nas escolas e universidades portuguesas, considera o antigo professor da Universidade de British Columbia, no Canadá. "Os concursos públicos são uma farsa e os reitores das instituições de ensino superior não têm desempenhado o papel que deviam para reformar as suas universidades, com algumas excepções nas faculdades de Economia", afirma, referindo-se a Portugal. Álvaro Pereira critica as universidades portuguesas por serem "demasiado estáticas e Estado Novo" para conseguirem produzir "alunos críticos e dinâmicos". Se a fadista Mariza e Cristiano Ronaldo têm sucesso é também devido ao marketing, diz o economista "

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