20 junho 2009

O APELO DOS ECONOMISTAS

Vale pena tecer as seguintes considerações adicionais sobre o apelo à avaliação dos investimentos públicos, que também subscrevo:
Em primeiro lugar, o que nos levou a redigir e subscrever o documento não foi nenhuma motivação política nem uma outra qualquer razão obscura. Entre os 28 subscritores, há pessoas de várias tendências políticas, independentes e ex-ministros de diversos governos, que têm certamente posições muito distintas em relação à política económica nacional.
Em segundo lugar, penso que é importante realçar que o que fez unir 28 pessoas com opiniões tão diversas foi o desejo de alertar os portugueses sobre a necessidade de reflectir um pouco mais sobre os grandes projectos públicos (TGV, aeroporto, e auto-estradas), e de realizar estudos mais aprofundados sobre estes mesmos projectos. Entendemos que, na conjuntura actual, o interesse nacional não é devidamente salvaguardado com o investimento publico em mega projectos de rentabilidade duvidosa. No mínimo, entendemos que deve haver uma reflexão adicional e um debate mais alargado sobre estes projectos.
Em terceiro lugar, certamente que os 28 subscritores do apelo têm opiniões distintas sobre a melhor forma de atacar os problemas estruturais da economia portuguesa. No entanto, o que é notável é que foi possível obter consenso entre tantos economistas. Uma das anedotas mais conhecidas dos economistas é que se colocarmos 5 economistas numa sala a discutir um problema de política económica, sairão de lá 5 recomendações diferentes. Aplicando o mesmo raciocínio, penso que é significativo que 28 economistas esqueceram as suas diferenças para assinar um documento conjunto sobre um tema da maior importância para o país.
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Finalmente, uma opinião mais pessoal. É óbvio que a intenção dos subscritores não foi criar uma arma de arremesso político. Houve inclusivamente o cuidado de avançar somente depois das eleições europeias. No entanto, também me parece evidente que este será um dos temas da campanha eleitoral, o que acho bem, pois é preciso que haja um debate alargado sobre o assunto. Porém, e independentemente das nossas preferências políticas, o que seria importante é que os principais partidos políticos portugueses defendessem de uma vez por todas um estudo mais abrangente destes mega-projectos públicos. Seria igualmente desejável que houvesse uma reavaliação das prioridades nacionais numa altura em que temos uma crise interna que já dura há quase uma década, o país sobreendividado tanto interna como externamente, bem como a maior crise internacional das últimas décadas. Não serão estes motivos suficientes para sermos mais prudentes na aplicação de escassos recursos públicos e privados? Não haverão alternativas melhores à aplicação destes fundos? Penso que sim, assim como defendi no meu último livro.

Fico à espera da vossa opinião sobre o assunto. Se desejarem ver o documento, bem como uns gráficos que preparámos sobre a situação económica actual, podem fazê-lo aqui.

7 comentários:

Wegie disse...

Pois...criem mais um Observatório para as Obras Públicas. O País está mesmo a precisar é de observatórios..

Augusto Küttner de Magalhães disse...

Good Work!
Não podemos a viver de obras sem necessitar das mesmas e a cust totalmente incomportáveis. TGV, Aeropprtos, mais auto-estradas, para daqui a 25 anos!

Carlos Pereira disse...

É ditado antigo "o maior cego não é o que não vê, mas sim o que não quer ver".
Quando se está no poder não se quer ver, quando se está na oposição já se vê alguma coisa, mas pouco. É a política portuguesa no seu melhor.
Carlos Pereira

Rui Fonseca disse...

Comentei no meu Caderno de Apontamentos. Por ser longo e já o ter transcrito no "site" do documento na parte de comentários dos leitores, deixo-lhe o endereço onde, se tiver tempo e paciência, o poderá ler.

http://aliastu.blogspot.com/2009/06/democracia-e-contas.html

J Guimarães disse...

Cobriste-te de vergonha.

Tiago Tavares disse...

Infelizmente o debate lançado pelo manifesto dos 28 será desviado (como já está a acontecer) para questões laterais que apenas parcialmente dizem respeito às ideias lançadas.

O problema do nosso país é estrutural. E isso está bem identificado ao longo de todo o texto do manifesto; numa imagem, o gráfico com a evolução do produto potencial revela isso mesmo.

No entanto será no nível do curto-prazo que a principal discussão se motivará. Movidas por uma certa popularização do Keynesianismo, as questões invariavelmente cairão no campo do impacto dos mega-projectos públicos nesta crise económica.

Claro que essa discussão sobre a gestão da procura utilizando estes investimentos não tem qualquer cabimento:
1º existe um desfasamento na aplicação destes projectos nada negligenciavel (tanto interno como externo);
2º o aumento da despesa pública vai ser tudo menos temporário (como o texto dos 28 demonstra bem com os exemplos das anteriores parecerias público-privadas);
3º ninguém (economista ou não) sabe ao certo qual o impacto de curto-prazo de uma expansão da despesa pública (sobre esta questão já desenvolvi noutro espaço)

Ainda assim já é positivo haver alguma discussão económica. E na realidade se procurarmos bem na blogosfera encontramos pessoas a discutir precisamente o cerne do documento - o impacto dos mega-projectos no crescimento económico de longo prazo.

Sócrates disse...

Algo que ainda não percebi é porque se continua a centrar o debate ferroviário num comboio de nome TGV.

E as vantagens de estar ligado à Europa por bitola europeia? E o transporte de mercadorias? E as sinergias que podemos criar a partir dessas ligações (possivelmente aproveitar e atrair mais tráfego marítimo para usar Portugal como porta de entrada na Europa)? E o aproveitamento ao máximo do Alfa Pendular e o descongestionamento da Linha do Norte?

São questões que já há algum tempo faço em blogs e artigos de jornais mas infelizmente nunca vejo resposta.