Um dos factos mais assinaláveis dos programas económicos dos dois principais partidos portugueses é a concordância existente nalgumas áreas vitais para o desenvolvimento do país. Assim, tanto o PS como o PSD (e os restantes partidos) concordam que é preciso dar mais atenção às necessidades das pequenas e médias empresas. Aliás, a aposta nas PMEs parece de tal modo generalizada que até os próprios Gatos Fedorento fizeram disso um dos principais temas do primeiro episódio do novo programa...
Noutras áreas, existe também alguma convergência na análise e nas receitas preconizadas pelos dois principais partidos portugueses. As grandes diferenças entre o PS e o PSD registam-se ao nível dos grandes investimentos públicos (principalmente o TGV) e no papel do Estado.
Em relação aos grandes investimentos públicos, os últimos dias demonstram que José Sócrates está perfeitamente convencido que a competitividade (e o futuro) da economia nacional depende de projectos como o TGV, enquanto Ferreira Leite é definitivamente mais céptica. Sinceramente, não percebo por que é que o primeiro-ministro encontra tanta urgência em levar a cabo projectos como o TGV. Aliás, penso até que o PS poderia estar mais bem posicionado junto do eleitorado se admitisse adiar ou reavaliar alguns dos projectos públicos por alguns anos. Ninguém perderia com isso e o país poderia concentrar-se mais na resolução naqueles que são os nossos verdadeiros problemas estruturais: a falta de competitividade de muitos dos nossos sectores e o crescente endividamento externo do país. O obstinação do actual primeiro-ministro com os grandes projectos públicos é ainda mais incompreensível se nos lembrarmos que os projectos como o TGV não só serão certamente deficitários, como também é difícil perceber como é que um projecto ferroviário de transporte de passageiros pode aumentar a competitividade das empresas portuguesas... Se alguém conhece algum estudo de outro país em que isso tenha acontecido, estaria bastante interessado em o ler.
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Quer isto dizer que o TGV nunca será feito? Não. Quer esteja o PS quer o PSD no poder, o mais certo é que, mais cedo ou mais tarde, o projecto do TGV Lisboa-Madrid será feito por razões estratégicas. O ideal é que tal fosse feito mais para tarde do que para cedo. Ou seja, a prioridade não deveria ser o TGV, mas sim investir de uma forma sem precedentes no apoio à inovação e ao sector exportador. Contudo, é provável que o TGV Lisboa-Madrid vá para a frente dentro de alguns anos. É claro que o projecto será um fiasco financeiro que terá que ser suportado pelos contribuintes, mas irá para a frente por "razões estratégicas" (ou seja, políticas). Dito isto, e se se pode admitir a construção desta linha de alta velocidade pelas razões avançadas, as linhas Porto-Lisboa e Porto-Vigo (já projectadas) são um perfeito disparate. Não são necessárias e poderão não ser rentáveis nem num futuro longínquo. Insistir na sua construção é assobiar para o alto e fingir negar o preocupante endividamento externo do país, bem como ignorar aqueles que são os problemas estruturais que enfrentamos. A verdade é que construir o TGV irá aumentar ainda mais o endividamento externo e irá forçar que um futuro governo tenha que aumentar ainda mais os impostos para pagarmos o luxo de sermos um país em "alta velocidade". E era isso que era importante que todos nós percebessemos quando formos chamados a votar.
Num próximo post irei debater as diferenças entre o PS e o PSD em relação ao papel do Estado.
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