Escrevi em Agosto este artigo para o Diário Económico. Penso que vem bem a propósito:
"Quando daqui a 20 ou 30 anos os historiadores estudarem o período actual, decerto que a palavra que melhor caracterizará a nossa época será irresponsabilidade. Uma irresponsabilidade atroz que, infelizmente, não dá mostras de abrandar. O país está em risco de insolvência, o desemprego atingiu níveis históricos, a emigração regressou em força, e a descrença dos portugueses é generalizada. E, no entanto, o primeiro-ministro e a sua máquina de propaganda continuam, como nada se passasse, na sua caminhada autista a conduzir-nos na direcção ao abismo. A despesa pública continua a derrapar, obras públicas sumptuosas e supérfluas continuam a ser adjudicadas, e as gerações futuras continuam a pagar o irrealismo e as irresponsabilidades deste governo.
Neste sentido, ao nível da governação, a grande questão que hoje enfrentamos é saber quais serão os danos adicionais que este governo irá imputar à economia nacional, aos próximos governos, e às gerações futuras, antes de cair de podre. Porquê? Porque este é um governo que não só contribuiu grandemente para agravar os desequilíbrios estruturais da economia portuguesa (tais como o endividamento externo, a crise das contas públicas, os problemas de competitividade das nossas exportações), como também é responsável pelo maior atentado geracional da nossa história recente. Como? Ao ser o campeão europeu (quiçá até mundial) da desonestidade orçamental que são as parcerias público privadas (PPPs) e ao promover uma cultura sistemática de desorçamentação das contas públicas (denunciada várias vezes pelo Tribunal de Contas). Só nas PPPs os governos dos próximos anos terão que cortar despesas e/ou aumentar impostos na ordem dos 1-2% do PIB por ano para pagar as inúmeras auto-estradas, hospitais, e até projectos de TGVs deste governo, que inaugura a obra mas que não paga um cêntimo. Quem pagará a factura serão as gerações futuras e, como é óbvio, os governos que se seguem.
Perante este cenário, haverá esperança? Há. E por duas razões. Primeiro, porque, contrariamente ao que costumamos pensar, a história da economia portuguesa no último meio século é uma de grande sucesso. A economia nacional foi a que mais cresceu na Europa entre 1913 e 1998, sendo igualmente a economia que registou o segundo maior crescimento nos últimos 40 anos. Neste sentido, o que destoa no último meio século é a estagnação económica da última década e não o crescimento e o desenvolvimento do país. Em segundo lugar, e exactamente por causa deste extraordinário sucesso, se houver vontade politica, o próximo governo terá condições ideias para efectuar as reformas que a economia nacional necessita para voltar a ser uma economia de sucesso. Que reformas serão estas? Este será tema de um artigo futuro."
1 comentário:
Os meus sinceros parabéns pela lucidez, frontalidade e sentido verdadeiramente real e práctico ao analisar o que até "um invisual veria" :)
Tentando alcançar os grandes corações lusitanos, mas limitados cérebros, gostaria de utilizar o "Euro 2004" como exemplo e perguntar às populações se é isso que querem para o futuro, ou seja, "autênticos mamarrachos" que seguramente favoreceram desde os proprietários dos terrenos, os construtores, os autarcas e por demais "afilhados"....e que hoje já sobeja o conhecimento que em alguns casos até a EDP já cortou o fornecimento de energia e que em nada serviram para incrementar a qualidade de vida do tão aclamado "povo"....só se estarão a pensar daqui a uns anos, se não forem demolidos, serem obras de arte rupestre, englobados sob a responsabilidade do Igespar e começarem a figurar nos postais das respectivas regiões...
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