14 maio 2009

INTERESSE NACIONAL E O BLOCO CENTRAL

Aqui está um artigo que escrevi para o DN sobre um dos temas dos últimos dias, a constrituição de um Bloco Central. Apesar de pensar que os partidos se devem abster de falar sobre este assunto antes das eleições, acho que vale a pena pensarmos se um governo do Bloco Central faz ou nnão sentido num cenário em que nenhum partido alcança a maioria absoluta nas legislativas. É esse cenário que este artigo aborda:

"Nos últimos dias, intensificou-se o debate sobre as virtudes e as desvantagens de um governo do Bloco Central após as próximas eleições legislativas. Em circunstâncias normais, não faria sentido falar num novo Bloco Central. Contudo, nós não estamos em circunstâncias normais. Bem pelo contrário. Por isso, vale a pena relembrar o que está em causa.

Na última década, a economia nacional registou o pior desempenho dos últimos 80 anos, com o crescimento económico potencial a atingir valores já não vistos desde o início do século 20. Por que é que tal aconteceu? Estaremos numa trajectória de declínio irreversível, como alguns defendem? Não, pelo menos, não necessariamente. Convém não esquecer que, nas últimas décadas, a economia portuguesa foi das que mais cresceu na Europa, um evidente sinal de sucesso. Porém, também é claro que a economia portuguesa atravessa a mais grave crise de competitividade da sua história recente. Como é que chegámos a esta situação? Porque entrámos para o euro a uma taxa de câmbio demasiada elevada, o que encareceu as nossas exportações e diminuiu competitividade de muitos dos nossos sectores tradicionais. Ainda por cima, nos últimos 10 anos, os preços nacionais cresceram a um ritmo superior à média europeia, o que tornou os nossos produtos ainda menos apetecíveis. E a crescente liberalização do comércio internacional, a concorrência da China e a abertura da UE ao Leste Europeu agravaram ainda mais os nossos problemas de competitividade. Resultado: a economia estagnou e o bem-estar alcançado nas últimas décadas foi posto em causa.
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E é aqui que chegamos à questão do Bloco Central. Num cenário em que nenhum partido consiga alcançar a maioria absoluta nas legislativas, terá o país capacidade para combater eficazmente a crise e implementar uma nova política de competitividade? A resposta é claramente negativa. Perante os enormes desafios que se colocam à economia nacional e perante a grave crise internacional, Portugal não se pode dar ao luxo de ficar refém de partidos cujas políticas iriam agravar ainda mais o nosso problema de competitividade, nem refém do imobilismo que inevitavelmente seria associado a um governo minoritário. Por isso, nesse cenário, um governo do Bloco Central é um verdadeiro imperativo.

Será possível que o PS e o PSD consigam chegar a um acordo? Sim, pois nas grandes questões nacionais há mais consensos do que divergências irresolúveis entre os dois principais partidos portugueses. Nesse sentido, um governo do Bloco Central poderia ser um catalisador para prosseguir uma agenda reformista.

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Mas nem tudo seriam rosas. Provavelmente, um dos principais pontos de contenda num governo do Bloco Central seria a prioridade a dar aos grandes investimentos públicos. No entanto, talvez mesmo nessa questão seja possível chegar a um acordo, visto que, com o agravamento da crise económica, será cada vez mais difícil justificar desbaratar escassos recursos financeiros para embarcar em projectos financeiros irrealistas e potencialmente comprometedores para a saúde financeira do país.

Em suma, embora um governo PS-PSD possa ser difícil de alcançar ou de concretizar (pois há muitos interesses nos dois partidos para que um tal cenário não se materialize), a verdade é que um novo Bloco Central poderia ser o paliativo necessário para que algo mude em Portugal e para que os portugueses voltem a acreditar nos nossos políticos.

Há momentos em que a política partidária deve ser temporariamente posta de lado em prol do interesse nacional. Este é exactamente um desses momentos. E é por isso que faz todo o sentido falar num governo do Bloco Central."

1 comentário:

Augusto Küttner de Magalhães disse...

Caro Álvaro
Estou totalmente de acordo consigo. Se por birra, não quiserem fazer um Bloco Central, e a governação for por minoria, vai ser um desastre. Vão cair governos uns atrás dos outros, o PR vai ter sempre que andar a apagar fogos, e os prejudicados somos nós cidadãos! Não há alternativa! Até porque uma (co) ligação PS/BE seria para não funcionar, dado que o BE não quer governar, porque deixava de estar sempre do contra. PCP já é passado. Logo?