A Carteira, através do Luís Leitão, fez-me recentemente algumas perguntas (a negrito) sobre a crise financeira internacional. Aqui estão as minhas respostas:
Carteira_ A política dos principais governos de injectarem avultados montantes de dinheiro no mercado foi a decisão mais correcta ou serviu apenas para esconder e alimentar o monstro da crise por mais algum tempo? Que consequências terão estas medidas nos próximos tempos?
A política de injecção de grandes montantes nos sistemas financeiros foi totalmente acertada. Aliás, se não tivesse sido levada a cabo, decerto que o impacto da crise financeira teria sido muitíssimo mais grave. Basta lembrarmo-nos do que aconteceu durante a Grande Depressão dos anos 30 (quando a massa monetária se contraiu) para percebermos da necessidade dessa medida. A curto prazo, o principal objectivo (e efeito( dessa medida é exactamente evitar que a economia mundial caia em deflação, um cenário a evitar a todo custo. Quando as principais economias recuperarem, é natural que surjam alguns efeitos inflacionários. Nessa altura, certamente que a política monetária irá inverter-se com uma subida dos juros. Porém, por enquanto, a inflação é ainda um cenário muito longínquo.
Carteira_ Se na bolsa os ganhos já começam a aparecer - desde 9 de Março que o S&P 500 já valorizou 47% - na economia, os indicadores continuam a não ser muito animadores: as penhoras nos EUA continuam a aumentar, o desemprego na Europa e nos EUA persiste em manter-se elevado e o risco de deflação parece ainda não ter desaparecido. Que sinais precisa o mercado de dar a investidores e consumidores para que a recuperação seja sustentável e não um mero surto de euforia?
Penso que os últimos indicadores de alguma recuperação de várias economias europeias irão dar um novo impulso aos mercados financeiros. Contudo, ainda precisamos de ter mais um ou dois trimestres de crescimento positivo, bem como uma recuperação do consumo e dos mercados imobiliários, para que os mercados comecem a acreditar numa verdadeira retoma das principais economias mundiais. E, neste momento, este cenário ainda não se vislumbra, pois ainda persistem muitas incertezas, apesar dos indicadores começarem a ser mais positivos do que era esperado há alguns meses.
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O FMI diz que a recuperação será longa e demorada e Jean Claude-Trichet, apesar de acreditar que a economia europeia já não está em queda livre, diz que ainda não é tempo para euforias. Quais são as suas perspectivas para a economia mundial e quais serão os sectores que acredita que recuperarão primeiro e porquê?
Penso que ainda há alguma expectativa sobre como as principais economias irão evoluir. Apesar dis sinais crescentemente positivos que nos chegam, ainda há muitos riscos e incertezas. Por exemplo, o crescimento do desemprego e a consequente diminuição de rendimentos de algumas camadas das populações (principalmente da classe média) de muitos países poderão aumentar o crédito mal parado, o que poderá fazer aparecer novos problemas nos mercados de crédito. Neste momento, parece que os primeiros sectores a recuperar serão as exportações de muitos países (como a Alemanha), bem como algumas indústrias de maior valor acrescentada, tais como as tecnológicas. Alguns países aproveitaram a crise para aumentar o proteccionismo de alguns dos seus sectores mais sensíveis (e menos concorrenciais). Estes apoios certamente ajudarão estes sectores a recuperarem mais rapidamente.
No plano das economias em vias de desenvolvimento, estes países não sentiram directamente a crise em virtude de terem um sistema financeiro rudimentar. No entanto, viram as ajudas e as exportações serem reduzidas bruscamente, sobretudo os países produtores e exportadores de petróleo. Acredita que esta crise será mais um obstáculo ao desenvolvimento económico ou uma oportunidade para países como Angola que faz depender do barril de crude mais de 95% das suas exportações?
Quase todos os países em desenvolvimento viram as suas exportações e as ajudas externas diminuir. Penso que a crise será um obstáculo maior para os países em desenvolvimento mais frágeis, isto é, aqueles cujos governos dependem mais da ajuda externa para os seus orçamentos. Para os países exportadores de petróleo, a crise será mais temporária, pois é crível que o preço do crude recupere assim que a procura mundial seja retomada com a aceleração do crescimento económico. Assim, nos próximos um ou dois anos é natural que o preço do crude suba, aumentando novamente os rendimentos dos países exportadores de petróleo. Isto, sem dúvida, será positivo para Angola. No entanto, o principal desafio da economia angolana persiste. É premente que Angola utilize as benesses do petróleo para diversificar a sua economia, para melhorar as suas infra-estruturas, e para investir noutros sectores como o turismo e a indústria. Uma economia tão dependente do petróleo estará sempre vulnerável às naturais oscilações dos preços do crude nos mercados internacionais. Por outro lado, as receitas petrolíferas tendem a apreciar a moeda angolana, o que penaliza as outras exportações (um fenómeno que é chamado de "doença holandesa"). Neste sentido, se Angola pretende realmente diversificar-se para se tornar menos vulnerável às crises internacionais e para se desenvolver mais harmoniosamente, então esta "doença holandesa" terá que ser combatida a todo o custo, através de medidas que apoiem os potenciais sectores exportadores e através de políticas que potenciem alguma desvalorização cambial para contrair a apreciação associada à exportação do petróleo.
1 comentário:
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