30 setembro 2009

SÍNDROME CANADIANO

Partilho das preocupações com alguns dos comentários ao meu post sobre as eleições. O que eu queria era chamar a atenção para a questão da estabilidade, que os portugueses parecem prezar tanto (pelo menos, são as sondagens que o dizem). A verdade é que se o PS não se coligar com o CDS, é difícil não imaginar um cenário em que teremos eleições novamente nos próximos 2 anos. Aliás, os partidos parecem crescentemente estar a contar com isso mesmo. E qual é o problema? O problema é que é que, no momento delicado que a economia portuguesa atravessa, instabilidade política é tudo o que não precisamos.
Actualmente, parece-me praticamente impossível um entendimento entre o PS e o PSD e, é por isso que acho mais viável um acordo entre o PS e o CDS. Isto em teoria. Isto se os partidos prezassem realmente a estabilidade política e a necessidade de efectuarem as reformas estruturais que é preciso fazer. Na prática, concordo que tudo é um pouco difícil. Acima de tudo, mais do que diferenças ideológicas inultrapassáveis, não me parece que haja vontade política para qualquer tipo de entendimento entre as forças políticas para que exista mais estabilidade política nos próximos anos.
Resultado mais provável? Ainda acabamos por cair no impasse que se vive no Canadá há mais de 5 anos. Os governos minoritários sucedem-se a um ritmo alucinante (duram cerca de ano ou ano e meio), os partidos estão constantemente a ameaçar eleições e derrubar o governo, e a instabilidade política continua sem fim à vista. Por isso, passa-se o tempo com politiquices e a situação política não se estabiliza. No Canadá esta situação tem pouco impacto, pois não só o aparelho do Estado é forte e eficiente, mas também porque o país tem governos provinciais que ajudam a contrabalançar o governo federal. Para além do mais, nos últimos anos a economia canadiana tem andado muito bem e foi só mesmo a crise internacional que a fez descarrilar temporariamente. Em Portugal, não temos nenhuma destas condições. A economia está estagnada há vários anos, e o Estado não tem propriamente a força e a eficiência do Canadá. Por isso, se cairmos no síndrome canadiano de grande instabilidade política, ninguém vai ganhar com isso. E é também por isso que preferia que houvesse uma solução política mais estável para os próximos tempos. Infelizmente, suspeito que não haja vontade política para que tal aconteça. E quem fica a perder somos todos nós.

2 comentários:

Rolando Almeida disse...

Olá Álvaro,
Creio que o ónus da prova recai sobre o PS que terá de dar o primeiro passo mostrando que é capaz de fazer concessões, para abrir espaço à estabilidade. Se o PS continuar com a atitude de incapacidade negocial, mesmo sacrificando alguns dos seus objectivos, de certeza que não passaremos do 1º passo. Claro que mesmo com este primeiro passo dado, talvez seja complexo atingir a concertação no parlamento, se os partidos minoritários não cederem. Vamos ver. Nós, professores, estamos com alguma expectativa para os próximos meses.

antonio disse...

Ola Álvaro,

Ontem no Jornal de Negócios vinha uma noticia informando que Portugal recuava mais um lugar e que era ultrapassado pela Eslovénia.

A questão da governabilidade do país tem mais a ver com uma alteração de mentalidade do que com maiorias politicas.

Enquanto se andar a falar das conquistas de Abril e na defesa vdos direitos dos trabalhadores não é possivel andar para a frente.

Enquanto os portugueses não entenderem que o direito ao emprego se faz com empresas saudáveis, que o direito a salários altos se faz com o aumento da competitividade e produtividade não há governo que nos valha. Por mais maioritário que seja. Quando os portugueses entenderem que têm de fazer pela vida em vez de andarem a defender direitos que nunca lhes trarão riqueza nem progresso então então até um governo superminoritário funciona. Nessa altura até eu me ofereço para 1º ministro, poius será fácil governar um país de gente que quer estar na vanguarda e acorda todos os dias de manhã disposta a lutar por isso.

Caro Álvaro, é tudo uma questão de mentalidade. Estou agora a ler um livro que trata da época da Guerra Civil entre liberais e absolutistas e acho que não mudamos nada. E na altura já mhavia Sócrates, Manuelas, Jerónimos,Louçãs e Paulinhos. Muito pouco mudou. E na altura já eramos os mais atrasados dea Europa.
Continuamos os mesmos pequeninos e invejosos.

Abraço

Antonio