30 junho 2008

JUROS MAIS ALTOS

E aí está a confirmação de que os juros na zona Euro vão aumentar. A inflação subiu mais do que se esperava e atingiu o valor mais alto de sempre (o "sempre" são só meia dúzia de anos...) na zona Euro. Já não há dúvidas que o Banco Central Europeu vai actuar. Os juros vão subir e, por consequência o euro vai-se valorizar um pouco mais. O combate ao abrandamento económico fica para outra altura. Afinal, como sabemos, a estabilidade dos preços é a única prioridade e o único objectivo para o BCE. Mais más notícias para a economia nacional e para dezenas de milhares de portugueses sobre-endividados, que irão ver as prestações mensais dos seus empréstimos bancários subir ainda mais.

VIVA ESPAÑA

A Espanha ganhou o Euro 2008. Mereceu. Foi, sem dúvida, a melhor selecção. Teve o melhor futebol, não claudicou no último jogos dos grupos nem na fase eliminatória e apresentou-se em grande forma. A Espanha já exorcitou os fantasmas de serem os eternos "underachievers". Os nossos continuam. Parabéns Espanha!

28 junho 2008

MANDELA AOS 90


Nelson Mandela fez 90 anos. Celebrou a ocasião em Londres juntamente com mais de 40 mil pessoas e muitas estrelas e artistas. É bom que haja reconhecimento ainda em vida para pessoas como Mandela. Mandela é indubitavelmente uma das figuras do século 20. A África do Sul certamente não seria a mesma se não fosse ele. E se as coisas não estão perfeitas nesse país (tanto a nível das desigualdades que persistem, o flagelo da SIDA, bem como os altos índices de criminalidade) por certo estariam bem piores se Mandela não tivesse existido. Mandela não é nem foi perfeito (principalmente na ausência de um combate acérrimo contra o HIV-SIDA). Ainda bem que não o é. É mais humano assim. Mais como todos nós.
Mesmo assim, Mandela é um verdadeiro herói, uma lenda. Mandela é uma daquelas figuras que nos fazem acreditar que a humanidade é bonita. E que tem futuro.
Obrigado Nelson Mandela.

ENTREVISTA _ LIVROS COM RUM

Uma das entrevistas mais agradáveis e interessantes que fiz nos últimos tempos foi feita na Rádio Universitário do Minho no programa Livros com RUM. A conversa foi sobre o "Diário" e sobre o "Mitos". Aqui está o link:
http://podcast.rum.pt/uploads/Livros_com_RUM/77-livros_com_rum-2008-05-08.mp3

27 junho 2008

OS NOSSOS IMPOSTOS

Impostos em Percentagem do PIB

O Eurostat publicou ontem números mais recentes dos impostos pagos pelos europeus. A tabela acima resume alguns desses dados. Ordenei os dados por ordem crescente dos encargos fiscais. Ou seja, os países que pagam menos impostos em 2006 (em percentagem do PIB) aparecem em primeiro e os que pagam mais surgem em último. A última coluna calcula o aumento ou a redução dos impostos entre 1996 e 2006. Que conclusões podemos retirar da tabela?
  • É fácil ver que os que pagam mais impostos em percentagem do PIB são os países escandinavos. Nenhuma surpresa aí.
  • Os que pagam menos são quase todos mais pobres do que nós (em termos de rendimento per capita). Mesmo assim, há excepções. A Grécia, a Irlanda, Malta e Luxemburgo têm todos rendimentos per capita superiores ao nosso e, no entanto, têm cargas fiscais menos pesadas.
  • A carga fiscal portuguesa aumentou 10 por cento nos últimos 1o anos. Foi das que mais aumentou
  • Ainda assim, houve países em que a carga fiscal aumentou ainda mais: Chipre, Malta e Espanha viram um agravamento das suas cargas fiscais ainda maiores do que os portugueses
  • É de assinalar que alguns dos países que melhores desempenhos registaram nos últimos anos foram os que viram as suas cargas fiscais diminuir na última década. A Eslováquia, a Letónia, a Estónia, a Irlanda, a Polónia, o Luxemburgo, a Hungria, a Alemanha, a Holanda, a Aústria, a Finlândia e a Suécia, todas tiveram desagravamento fiscal nos últimos 10 anos. Ou seja, quase metade dos países da UE viram as suas cargas fiscais diminuir, enquanto a nossa aumentou.
Assim, o que estes dados revelam é que na última década vimos a nossa competitividade fiscal decrescer de uma forma bastante significativa. Isto é, tornámo-nos menos atractivos. Ora, se é certo que a carga fiscal é só uma variável entre muitas para a competitividade das empresas e para a atracção do investimento estrangeiro, também não deixa de ser significativo que os últimos anos não têm ajudado. Pelo menos a nível da carga fiscal.
É verdade que Portugal não tem das fiscalidades mais elevadas na UE. No entanto, se não controlarmos o apetite voraz do Estado e se continuarmos a ceder à tentação de aumentar as receitas fiscais para cobrir o défice orçamental, facilmente chegaremos a uma situação em que a carga fiscal portuguesa será verdadeiramente desvantajosa para as empresas nacionais e/ou que pretendam sediar-se em Portugal.
Não estará assim na hora de mudarmos este estado de coisas? Não terá chegado a hora de inverter a tendência dá última década? Não estará na altura de acabar com a preocupação irracional com o défice e fazer algo que possa verdadeiramente ajudar a economia portuguesa a sair da crise? Não estará na altura de ajudar as empresas (exportadoras ou não) e os restantes portugueses oferecendo-lhes um desagravamento fiscal que lhes permita ser mais competitivos nos mercados internacionais e nacionais?

26 junho 2008

PORTUGAL ULTRAPASSADO

Já saíram os dados mais recentes do Eurostat sobre o rendimento por pessoa dos europeus (obrigado ao Tiago Villanueva por me alertar para este facto). Os números deste índice estão em paridades de poder de compra e assumem que a média europeia é igual a 100 (pode clicar na tabela para ver melhor). Vários factos devem ser realçados. Primeiro, a Irlanda passou definitivamente de parente pobre da União ao país mais próspero (com a excepção do pequeno Luxemburgo, cujos números são inflacionados pelo sector financeiro). Segundo, a Espanha já é (segundo estes números) mais rica do que a Itália, a qual continua a sua trajectória descendente de estagnação (muito como Portugal). A Grécia já desfruta practicamente de um rendimento médio igual ao do cidadão médio europeu (a 27 países). Este facto é de assinalar, porque há menos de uma década os portugueses auferiam rendimentos superiores aos dos gregos. Como os gregos cresceram e nós não, as consequências estão à vista de todos.
Quarto, continuamos a ser "ultrapassados" por mais e mais países do Leste europeu (bem como Malta e o Chipre). Estaremos assim condenados ao "declínio inequívoco" como Medina Carreira previu num artigo recente do Público? Não. Longe disso. Este cair do ranking relativo deve-se à estagnação económica dos últimos anos. No entanto, não há nada que indique que iremos continuar para sempre neste marasmo económico. Aliás, existem alguns óptimos indicadores nas exportações que irei aqui falar dentro de uns dias.
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Sinceramente, a mim não me preocupam os rankings nem as "ultrapassagens" virtuais de mais este e aquele país europeu. Só me preocupo com uma coisa: quando e como é que o crescimento económico é retomado? O que é que podemos fazer para acelerar este processo? O que fazer para retomar o crescimento dos níveis de vida portugueses?
Por isso, em vez de nos preocuparmos com os outros, o melhor é mesmo fazer tudo para ultrapassar esta crise económica. Estou certo que o conseguiremos. Na nossa história, já o fizemos várias vezes e não será desta que iremos falhar. É tudo uma questão de tempo. O que seria bom era que o governo e a oposição conseguissem avançar com uma série de medidas (fiscais, principalmente) que ajudassem diminuir esse mesmo tempo. O que, manifestamente, não é o caso.

TEMPESTADE EM HONG KONG

MISTÉRIO DOS PÉS (2)

Lembram-se do mistério dos pés que têm aparecido na costa da British Columbia? Pois bem, ainda não se sabe o que é que tem causado tão intrigante ocorrência. O que se sabe é que o sexto pé a dar à costa não o é. Tudo não passou de uma brincadeira de mau gosto. Alguém inseriu uma pata de um animal dentro de uma sapatilha e encheu-a com uma meia cheia de algas. E assim a notícia correu mundo (p.e. foi a página de abertura da http://www.cnn.com/), mas não era verdadeira. O mistério, esse, continua. Se tiver interessado(a), clique no gráfico deste jornal canadiano.

25 junho 2008

PODER LOCAL E ASSIMETRIAS REGIONAIS

Muitas vezes culpamos o poder central pelo exacerbar das assimetrias de rendimento entre as diversas regiões. No entanto, tal explicação é demasiado simples. Parte das disparidades dos rendimentos regionais é explicada pelos diferentes níveis de capital humano e físico das diversas regiões. Contudo, sejamos claros: não podemos culpar somente o governo central pelo subdesenvolvimento de muitas das regiões portuguesas. Muitas vezes é o próprio poder local que propicia a perpetuação das assimetrias regionais, devido à manutenção de burocracias asfixiantes e à preservação de clientelas locais. Neste sentido, tanto o poder central como o poder local são igualmente responsáveis pela persistência do Mezzogiorno português, contribuindo quer para a existência de ciclos virtuosos de desenvolvimento nas regiões de Lisboa e vale do Tejo e do Grande Porto, quer para a permanência de ciclos viciosos de subdesenvolvimento nas regiões menos desenvolvidas.
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Nomeadamente, nas regiões menos desenvolvidas, a desvantagem de possuir infraestruturas e recursos humanos menos favoráveis é exponenciada pela falta de investimento nessas regiões bem como pela existência de caciquismos locais e de burocracias inoperantes. Não é assim de estranhar que muitas empresas decidam não investir nas regiões menos desenvolvidas, prolongando o ciclo vicioso de subdesenvolvimento.
Os próprios subsídios europeus têm tido um papel ambíguo no desenvolvimento destas regiões. Por um lado, aumentaram consideravelmente a qualidade das infraestruturas. Por outro, os subsídios europeus fomentaram a corrupção e o compadrio do poder local, e criaram a ilusão de que os problemas das assimetrias regionais poderiam ser resolvidos simplesmente com a injecção de fundos. Qual é então a solução para um desenvolvimento regional sustentável? Apesar de não existirem receitas fáceis, uma das mais importantes condições é a existência de estruturas do poder local que estejam verdadeiramente interessadas no bem-estar das populações. É por isso que é tão importante que exista um verdadeiro combate contra a corrupção e o nepotismo do poder local (e central). Uma tarefa que não é nada fácil, assim como é demonstrado pelos recentes casos de suspeita de corrupção e favorecimento que poucos resultado deram (pelo menos até agora).

LIXO VALIOSO

www.bbcnews.com

Esgravatando o lixo em Bali, Indonésia.

24 junho 2008

HORAS TRABALHADAS

Contrariamente ao que se possa pensar, nos últimos 5o anos registou-se uma descida do número de horas trabalhadas em Portugal (e na Europa também). Esta tendência de descida (bem patente na Figura acima) não se deve nem às chamadas "conquistas de Abril" nem às acções dos sindicatos. A razão principal tem outro nome e chama-se produtividade. Os ganhos de produtividade têm-nos permitido trabalhar menos horas e, mesmo assim, produzir mais. A tendência de descida do número de horas trabalhada deve continuar nos próximos anos, pois, apesar de tudo, Portugal continua a ser um dos países europeus onde se trabalha um maior número de horas. Assim, na Europa Ocidental, o número médio de horas trabalhadas é o seguinte:
Alemanha 1,437
Austria 1,519
Belgica 1,611
Chipre 1,809
Dinamarca 1,575
Espanha 1,774
Finlandia 1,714
França 1,529
Grécia 1,912
Holanda 1,413
Irlanda 1,636
Italia 1,592
Luxemburgo 1,540
Malta 1,790
Portugal 1,709
Reino Unido 1,624
Suécia 1,588
Ou seja, de um modo geral, quanto mais rico menos são as horas trabalhadas. Porquê? Porque nos tornamos preguiçosos com uma maior riqueza do país? Não. Porque nos tornamos mais produtivos. Portugal não é uma excepção nesse campo.

POLÍTICA ENERGÉTICA DOS EUA

A propósito da subida dos preços dos combustíveis e da política energética americana, a Rita Carreira recomenda este artigo muito interessante do conceituado Thomas Friedman: http://www.nytimes.com/2008/06/22/opinion/22friedman.html?em&ex=1214366400&en=1d288dfdedd325e6&ei=5087%0A

CÃO MAIS FEIO

Concorrente (à direita) do concurso do Cão Mais Feio do Mundo que se desenrolou na Califórnia. Outros participantes podem ser vistos aqui.

CITAÇÃO DO DIA

A citação do dia pertence ao editorial do DN, que se insurge contra uma nova política de betão:
"O Portugal de hoje não é o Portugal que os governos de Cavaco Silva rasgaram de auto-estradas nos anos 80. Esse era um país onde a demora e o mau estado das estradas prejudicavam o desenvolvimento. Nessa altura, as auto-estradas podiam ser consideradas infra-estruturas básicas. Hoje, as auto--estradas que continuamos a fazer e a projectar já podem ser consideradas um luxo. Basta dizer que para ir de Lisboa ao Porto podemos escolher entre dois percursos."
Nem mais

DEMOCRACIA À MUGABE

www.guardian.co.uk

Está provado. As eleições do Zimbabwe serão mesmo uma farsa. Face ao crescendo de violência, a oposição já abandonou o escrutínio e o líder do principal partido da oposição encontra-se refugiado na embaixada holandesa. Já foram assassinados dezenas de opositores do regime e os militares continuam a apoiar o regime assassino de Mugabe. Mugabe já mostrou que prefere matar o seu povo à fome do que abandonar o poder. A comunidade internacional já condenou os últimos acontecimentos no Zimbabwe, mas continua bastante passiva. Afinal, quem é que verdadeiramente se importa com um pequeno país do sul de África sem petróleo ou grandes riquezas naturais?

23 junho 2008

NIVELAR PELA MEDIOCRIDADE

As reacções aos exames nacionais deste ano têm sido quase unânimes num aspecto: são demasiado fáceis. São os próprios alunos e professores que o dizem. E se é verdade, interessa perguntar: porquê? Qual é a intenção? Que os alunos tenham boas notas? Que as estatísticas portuguesas no sector da educação melhorem? Para mostrar obra feita? Para demonstrar que a "paixão pela educação" começa finalmente a dar frutos? Mas, se é assim, não nos estaremos a enganar a nós próprios? O que é que ganhamos em inflacionar os resultados dos exames?
Diga-se de passagem que sou contra aquela noção antiga de chumbar por chumbar, ou a ideia que a competência de um(a) professor(a) é directamente proporcional ao número de reprovações. Esta tradição vigora ainda em muitos estabelecimentos de ensino (principalmente nas universidades) e é simplesmente errada. Um bom professor não se mede pelo número de chumbos, mas sim pela qualidade das suas aulas e pelo nível de preparação dos alunos.
No entanto, convém não cair no outro extremo. Nivelar por baixo nunca é uma boa medida nem dá resultados duradouros. É sempre preciso manter um nível de exigência mínimo, tanto no ensino como nos exames nacionais. Se não, estaremos a criar uma geração de impreparados e de quase-ignorantes-técnicos. Ou seja, de indivíduos que têm os diplomas e as credenciais mas não têm o devido conhecimento.
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Este é o risco que acarreta a decisão (tácita ou não) de baixar o nível de exigência dos exames nacionais. E é isto que devemos estar cientes quando nos congratulamos com os "excelentes" resultados dos nossos alunos e filhos nos exames nacionais.
PS. Dito isto, se formos um pouco mais optimistas, também é provavelmente verdade que as algumas das percepções dos alunos que os exames são fáceis se devem ao maior investimento que muitos pais têm feito na preparação dos seus filhos para os exames. A palavra exame (nacional) acarreta consigo toda uma conotação e todo um estigma que levou muitos pais a increverem os seus filhos em toda a espécie de explicadores e outros auxílios suplementares, de forma a permitir um melhor desempenho dos seus filhos nos exames. Neste sentido, a "facilidade" dos exames pode ser somente um sintoma que os nossos filhos estão melhor preparados que nunca. Esperemos que sim. Infelizmente, é improvável que assim seja, pelo menos na totalidade dos casos. Como os professores também argumentam que os exames estão mais fáceis este ano, o mais certo é que estejamos a nivelar por baixo o grau de exigência.

22 junho 2008

GASTOS DAS FAMÍLIAS

Estes são os dados mais recentes do Eurostat (referentes a 2005) sobre os gastos das famílias portuguesas (nota: estes são gastos médios das famílias e, assim, não incluem as despesas que o Estado faz). Em média, gastamos um terço do nosso rendimento com as nossas casas e um quinto em alimentação. Os transportes e os gastos com restaurantes e hoteis são ainda bastante significativos. À primeira vista, parece que não gastamos muito com a Educação e a Saúde. No entanto, como veremos no próximo post, em termos comparativos, a tendência é exactamente a oposta. Na Europas, as famílias portuguesas são verdadeiras campeãs de gastos na Educação e na Saúde.

GASTOS DAS FAMÍLIAS (1)

Na passada sexta-feira o DN noticiou o inquérito do Eurotsat mais recente sobre os gastos das famílias. Aqui está a notícia:

"As famílias portuguesas são as que, na União Europeia, maior fatia dos seus orçamentos gastam em despesas de saúde (6,1%), revela um relatório do Eurostat divulgado ontem. Os dados colocam ainda os portugueses no topo das despesas em restaurantes e hotéis e em quarto lugar, entre 27 países, na lista dos que maior fatia do ordenado aplicam no ensino.Os gastos das famílias com a saúde, diz Natália Nunes, da Deco - Associação de Defesa do Consumidor, não deixam de ser um sinal de que algo está mal com o Serviço Nacional de Saúde: "É contraditório que se gaste tanto em despesas privadas, atendendo ao que todos nós investimos, através dos impostos, no SNS", admitiu.Para o economista, Álvaro Santos Pereira , é também claro que esta despesa, da qual só os gregos (5,9%) se aproximam, indica a "ineficiência" do sector público e parece comprovar a "impaciência" dos portugueses com situações conhecidas, como as listas de espera. "Há países, nomeadamente os escandinavos, que pagam mais impostos, mas depois quase não ? têm despesas privadas".

Já em relação ao ensino, diz Albino Almeida, da Confederação Nacional das Associações de Pais, "os números provam que os portugueses não facilitam na educação, como se tem dito ultimamente". O responsável da confederação de pais considera, no entanto, que há despesas "incomportáveis", dando o exemplo dos manuais: "O nosso salário mínimo não chega aos 500 euros e há alguns cabazes de livros, no terceiro ciclo, que chegam aos 250". O Estado, reconhece, poderia ajudar mais, nomeadamente "ampliando" a rede de creches públicas, "mas também podemos esperar melhorias graças à escola a tempo inteiro, que reduziu os gasto pelas famílias com a ocupação dos tempos livres".

21 junho 2008

TAXA ROBIN DOS BOSQUES

A chamada taxa Robin dos Bosques que (pelo que parece) será brevemente introduzida pelo governo português e, quiçá, por outros países europeus não terá os efeitos desejados. A ideia é taxar os lucros elevados das petrolíferas (só este ano as receitas do petróleo dos países do Golfo crescerão 75%) para depois distribuir o dinheiro para as camadas mais pobres da população. É uma ideia nobre e bonita. Taxa-se os ricos para das aos pobres. Infelizmente, a ser introduzida, tal taxa não terá o efeito desejado. É verdade que o Estado arrecadará mais receitas, que serão eventualmente reconduzidas para os mais pobres (mas não obrigatoriamente, pelo menos na sua totalidade). No entanto, como sempre se passa, quem pagará o aumento dos impostos das petrolíferas não serão essas empresas mas... nós todos. Sempre que há um aumento dos impostos dos produtos petrolíferos, as empresas do sector fazem o óbvio: transferem os encargos fiscais para os consumidores através de preços mais elevados. Uma taxa Robin dos Bosques não será diferente. Apesar do nosso idealismo, a verdade é que quem pagará a factura de tal medida seremos todos nós. Podemos ficar contentes em pensar que estamos a dar uma lição aos malvados das petrolíferas, mas não estaremos. Infelizmente, só nos estaremos a iludir (bem como a encher ainda mais os cofres do Estado...).
E, claro, convén não esquecer que não há impostos temporários. Impostos temporários quase sempre se tornam permanentes. Ou seja, mesmo que os preços do petróleo baixem um dia, a taxa Robin dos Bosques não desaparecerá.

SER EMIGRANTE

As contradições de se ser emigrante, bem como os choques e as contradições culturais que se sentem são temas desta interessante conversa que Jumpa Lahiri (que já aqui falámos) teve com o Guardian.

RESPIRAR CARBONO


20 junho 2008

AINDA O BOICOTE DOS COMBUSTÍVEIS

A Sábado desta semana idealizou um cenário onde o boicote dos combustíveis seria prolongado por umas semanas. Aqui estão alguns cenários possíveis e prováveis:
Um cenário de boicote prolongado dos combustíveis seria uma espécie de bomba de neutrões económico. Ou seja, após a bomba (i.e. o fim dos combustíveis) as infra-estruturas manter-se-iam nos seus lugares, mas tudo o resto seria afectado. Para bem ou para mal, o petróleo é como o sangue nas veias da economia mundial (e nacional, como é óbvio). Se falta o petróleo (ou os combustíveis), não existe energia suficiente para que as actividades económicas se façam normalmente. Um tal cenário não destruiria por completo as actividades económicas. Afinal, até há poucas décadas atrás, o petróleo não desempenhava nenhum papel significativo na economia mundial. No entanto, uma escassez absoluta dos combustíveis iria causar dificuldades tremendas para muitos sectores.
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Um dos problemas que se colocariam seria com a produção e distribuição de alimentos. Como mencionei, há umas décadas atrás o petróleo não era tão importante como hoje. Porém, na altura, uma grande parte das populações ainda vivia ligada à terra. O mesmo não é verdade hoje em dia. Nos países ocidentais, somente entre 3 e 10 por cento das populações nacionais trabalham directa ou indirectamente da agricultura. Por isso, num cenário de escassez absoluta de combustíveis, as pessoas certamente iriam tentar armazenar a maior quantidade possível de alimentos. É provável até que houvesse um certo pânico das populações que tentariam guardar o mais possível alimentos não perecíveis. Prontamente surgiria um mercado negro (ou não oficial) de todo o tipo de produtos (alimentares incluídos), a especulação aumentaria, e os preços cresceriam de uma forma significativa. Um outro mercado negro surgiria certamente para os próprios combustíveis, que seriam mais valiosos que o ouro.
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Os sectores mais afectados inicialmente seriam os ligados aos transportes e à distribuição de produtos. Táxis e transportes privados seriam os primeiros a sentir o efeito, e só mais tarde os transportes públicos (porque, certamente, seria dada prioridade a este tipo de transportes). Aos poucos e poucos até estes transportes seriam afectados. Os menos afectados seriam as actividades do sector dos serviços, tais como o sector financeiro e as empresas ligadas às novas tecnologias de informação (principalmente àquelas que dependem da internet).
Passadas umas semanas, e se os combustíveis ficassem realmente escassos, toda uma série de serviços públicos (p. ex. A recolha do lixo, etc) iriam ser afectados consideravelmente. Para evitar situações de ruptura da ordem pública e para manter a saúde pública, a prioridade total seria dada ao abastecimento dos serviços do Estado. Para tal, seria declarado o estado de emergência, no qual seriam mantidas reservas nacionais de combustíveis para sectores como a defesa e a segurança interna, bem como para o sector da saúde.
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Numa situação de desespero, alguns poderiam ser tentados a reintroduzir alguns animais de carga e de transporte, como os burros (se ainda existirem...) e outros. Muitos poderiam ser tentados a procurar alternativas ao petróleo, mas estas tentativas seriam quase todas em vão. É certo que existem algumas energias alternativas. Contudo, mesmo que houvesse um maior investimento nessas áreas, a verdade é que levaria demasiado tempo para que quaisquer alternativas surtissem efeito a curto ou médio prazo.
O tempo de resistência dependeria muito do sector em causa. Os mais rapidamente afectados seriam os dos produtos perecíveis e o sector dos transportes. Os sectores que não dependem directamente do sector dos transportes seriam menos afectados.
Os hábitos dos consumidores e dos privados seriam muito afectados. O chamado “tele-commuting” (trabalhar de casa) aumentaria exponencialmente. Muitos iriam para os seus empregos a pé ou de bicicleta. Muitas escolas fechariam, etc., etc. Somente serviços essenciais seriam mantidos.
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O impacto macroeconómico seria tremendo. A Inflação dispararia. A Economia entraria em recessão. O desemprego e o sub-emprego cresceriam dramaticamente. A escala das actividades económicas seria substancialmente reduzida
O comércio internacional seria gravemente afectado. A maior parte das nossas exportações iria acabar. Se o mundo não fosse afectado, as nossas maiores importações seriam alimentos e combustíveis. Se o mundo fosse afectado, então o comércio internacional seria reduzido quase para zero.

19 junho 2008

NEAR MISSES


Um comentador inglês afirmou que parecia que Portugal continuava a ser uma equipa de "near misses". Outro questionou se nós não seríamos "perpetual underachievers". É, de facto, uma pena. Mais uma vez não foi cumprido todo o nosso potencial.

ASSIM SE VÊ A FORCA (sem cedilha) DO PC

Perante a crise que se agrava, o Partido Comunista avançou ontem com uma série de propostas para diminuir o mal-estar. Entre as medidas sugeridas estão as seguintes:
_ preços máximos para o pão, o leite e os produtos de higiene
_ uma subida do salário mínimo nacional
_ um aumento intercalar dos salários dos funcionários públicos
_ crescimento de 4 por cento das pensões mais baixas
_ criação de um imposto sobre os lucros das petrolíferas
_ utilização do gasóleo profissional nos transportes públicos "já anunciada pelo Governo, mas que “tarda a concretizar-se”"
_ congelamento dos preços dos títulos de transporte
Em suma, a receita do costume dos partidos comunistas: controlo e congelamento de preços, subida dos salários e pensões, e impostos sobre os lucros das empresas.
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A única coisa que o PC não diz (nunca o faz) é quem é que pagaria a factura por estas medidas? Se não vejamos. Comecemos pelos preços máximos. Parecem razoáveis à primeira vista de forma a aliviar os mais pobres entre nós. No entanto, se o fizéssemos, quem (e como) é que compensaria os produtores e os importadores de tais produtos? Se não houvesse compensação, porque é que estes produtores e importadores continuariam a produzir ou importar bens para nós? Porque é que não se voltariam para Espanha ou outros mercados? Por nacionalismo ou patriotismo? Não me parece que tal acontecesse...
Segundo, a subida do salário mínimo e das pensões seria obviamente benvinda. Afinal, há demasiada pobreza em Portugal e tais medidas ajudariam principalmente os mais pobres. Porém, quem pagaria a factura? O resto dos contribuintes, como é óbvio. O problema é que uma grande maioria dos contribuintes já se encontra demasiado apertada e certamente não veriam com bons olhos uma possível subida dos impostos (necessária para possibilitar a subida das pensões e dos salários). Por isso, tal iniciativa estaria condenada ao fracasso.
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E que dizer da subida intercalar dos salários da função pública? Pura demagogia, principalmente porque é proposta numa altura em que ainda não há margem de manobra orçamental.
E um imposto sobre os lucros das petrolíferas? Não será esta uma boa medida numa altura em que estas empresas têm lucros recordes? À primeira vista, parece boa. Porém, se analisarmos o que acontece nestas situações, a ilusão desaparece. O que é que acham que as petrolíferas fazem quando os governos aumentam os seus impostos? Pois é. Todos nós pagamos. Ou seja, os impostos são inteiramente incorporados nos preços dos combustíveis. Assim, se criarmos mais impostos para estas empresas quem acabará por pagá-los somos todos nós.
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Resumindo, as medidas propostas pelo PC não têm razoabilidade económica. Nem sequer são exiquíveis ou passíveis de atenuar a crise. Muito pelo contrário. São verdadeiros exercícios de demagogia política.
Dito isto, sinceramente tiro o meu chapéu ao PC. Ao menos, o PC pensa em soluções para a crise. Mal, mas pensa. Ao menos o PC dá soluções para a crise. Soluções erradas, é certo, mas são soluções.
Que outros partidos têm feito o mesmo? Nenhuns. Ou é a obsessão dogmática pelo défice ou é o vazio ideológico. Por isso, parabéns ao PC por esta iniciativa. É errada, mas ao menos lança o debate. E só por isso merece o nosso aplauso.

A FOME DE MUGABE

Há cada vez mais indícios que Mugabe e os seus lacaios da junta militar não irão permitir que a oposição vença as eleições. Há actualmente um clima de terror e de intimidação que não augura nada de bom para este país africano. O mais provável é que Mugabe e os seus compinchas continuem no poder à força. Continuarão no poder e continuarão a destruir a economia do país. A hiperinflação de 160 mil por cento continuará a subir para patamares ainda mais destruidores e a economia do Zimbabwe continuará a caminhar a passos largos para o desastre, quiçá mesmo para o colapso. Por isso, não é de estranhar que a ONU tenha vindo avisar que mais de 5 milhões de pessoas estão ameaçadas pelo espectro da fome. Enquanto os corruptos continuam a encher as suas contas bancárias no estrangeiro com o sangue dos seus compatriotas, os cidadãos comuns continuam a pagar com a sua própria pele a permanência de Mugabe na presidência do país. Uma tragédia de dimensões cada vez mais catastróficas.

O MISTÉRIO DOS PÉS

Um dos mistérios mais macabros e curiosos dos últimos tempos passa-se mesmo aqui onde resido, na British Columbia, no oeste do Canadá. No último ano têm dado à costa uma série de pés de pessoas quase sempre ainda com sapatos. Só os pés. Mais nada. Até à data, já são 6 os pés. Todos de pessoas diferentes. Quase todos são pés direitos (só um é que é esquerdo). O que tem confundido as autoridades canadianas é que estes pés não parecem ter sido separados à força dos corpos. Pelo que parece, em princípio, foi a própria decomposição natural dos corpos que os fez separar dos corpos. Mesmo assim, as autoridades estão verdadeiramente espantadas. De onde virão os pés? De um naufrágio? Serão resultantes de um crime? A quem pertencem? Porque é que só aparecem os pés? Porque não mãos? Ou outra parte do corpo? Ninguém sabe.
Um mistério. Um verdadeiro mistério. Um mistério que se adensa com o tempo e cujas respostas continuam a iludir as autoridades.

VISTA DE GAZA


FALTAS AOS EXAMES (2)

A propósito das faltas aos exames, o Rolando Almeida, autor do blogue Filosofia no Ensino Secundário, comenta: "Sinceramente ainda nem sei quais as consequências desta falta (só na sala onde estive faltaram 5 alunos em 20). Há muitas lições a tirar dos exames, entre as principais:1) muitos professores defendem um ensino sem exames2) Existe um verdadeiro drama em relação aos exames, o que prova a falta de hábitos dos nossos estudantes em fazer exames.3) muitos professores trabalham com 30 ou mais alunos na sala de aula, mas para os exames estão dois professores vigilantes para um máximo de 20 alunos por sala;4) Dada a extinção de mais alguns exames, os alunos fazem , este ano, dois ou três exames e ficam com metade de Junho, Julho inteiro, Agosto inteiro e mais alguns dias de Setembro sem escola.5) mesmo que os estudantes faltosos não pudessem usar outra oportunidade para fazer o exame, o certo é que tem muitas alternativas duvidosas para completar o ensino secundário.6) Hoje mesmo li nas notícias que a Ministra da Educação está feliz pelos resultados das provas de aferição. Quanto a avaliações internas temos o assunto resolvido. São os noventas e tais de sucesso a matemática e português. Só mesmo em avaliações externas é que estas percentagens perdem qualquer significado."

Obrigado pelo esclarecimento, Rolando.

18 junho 2008

MALÁRIA EM PORTUGAL

Sabia que a malária já foi endémica em Portugal? Eu não sabia, pelo menos até ter começado um trabalho sobre o assunto. Pois é, parece incrível mas é verdade. A malária era uma das grandes doenças nacionais até aos anos 50. Mais de 40 a 50 mil pessoas ficavam infectados todos os anos com a doença, muitos dos quais pereciam (a figura acima dá-nos a evolução do número de infectados anualmente). O impacto da malária era significativo, principalmente no interior e nas regiões mais rurais. O rio Sado, partes de Portalegre, Coimbra, Aveiro, Évora e Faro, eram as regiões mais afectadas. Os mais pobres eram quem mais sofriam com a doença. As cidades eram pouco afectadas.
O grande combate contra a doença deu-se a partir dos anos 30 e, principalmente, nos anos 40, quando o DDT foi utilizado para pulverizar as zonas mais afectadas e quando centenas de milhares de comprimidos de quinina (e derivados) foram utilizados no combate à malária. A estratégia teve tanto sucesso que a Organização Mundial de Saúde declarou Portugal livre de malária em finais dos anos 50.
Um sucesso que nos devemos orgulhar e que demonstra que, quando queremos, conseguimos feitos admiráveis. Quão admiráveis? Muitíssimo admiráveis. A doença já era endémica em Portugal há milénios, tendo inclusivamente sido referenciada por poemas de Gil Vicente.
Quem disse que não fazemos nada de jeito?

INDIA INUNDADA


À espera de ajuda...

ELEGER UM MORTO

Numa vila romena, os habitantes decidiram votar numa pessoa já falecida para ser o seu presidente de câmara. Insólito, não? Pelo que parece, o presidente da câmara ia a escrutínio contra outro senhor. O problema é que o presidente morreu uns dias antes da eleição, o que provocou um dilema para a população, pois já era legalmente demasiado tarde para mudar os boletins de voto. Ora, como muitos dos habitantes da vila não gostavam mesmo nada do opositor do (agora) falecido, optaram por votar no morto em vez de eleger o detestado como seu presidente. O morto ganhou... E agora já há quem fale em novas eleições...
Já viram se a moda pega, os problemas que isso não irá causar???

FALTAS AOS EXAMES

Mais de 10 mil (sim, 10 mil) alunos(as) faltaram ao exame de Português realizado ontem. Dez mil. Mais de 14 por cento dos inscritos. As razões para tal omissão transcendem-me (Rolando, alguma ideia?). No entanto, a minha intuição é que tantas faltas têm uma justificação: a demasiada permissividade dos exames. Ou seja, não se faz hoje o exame, faz-se noutra altura. Arranja-se uma justificação qualquer (i.e. um atestado médico, a morte de um familiar, etc) e escreve-se o exame na segunda fase. Assim, juntam-se menos exames de uma vez... É mais fácil...
Enfim, são, sem dúvida, generosos os critérios de exigência do nosso ensino...

MAIS UMA CRISE

Mais uma crise... A pior?

17 junho 2008

UM ANJO PREVENIDO VALE POR MUITOS

Uma das histórias mais interessantes dos últimos dias é contada pelo New York Times. O sismo chinês destruiu 7 mil escolas, levando à morte mais de 10 mil crianças. Mas nem todas as escolas ruiram. Uma das que escapou à destruição do terramoto foi a Sangzao Middle School, que resistiu à violência do sismo. Ainda bem, porque na altura estavam na escola mais de 2 mil crianças, que teriam tido o mesmo destino de tantas e tantas crianças noutras escolas se não fosse a visão do seu director. Há uns anos atrás, este senhor, Ye Zhiping, verificou que a construção da escola tinha sido bastante precária em relação à protecção anti-sísmica. Em vez de cruzar os braços, Ye Zhiping foi à luta, exigindo acção às autoridades regionais. Após muita insistência, Ye Zhiping alcançou o seu objectivo e as estruturas da escola foram reforçadas. O trabalho foi tão bem feito que a escola foi das poucas que não ruiu durante o sismo. Todas as crianças foram salvas. E é por isso que Ye Zhiping é agora conhecido como o Anjo de Sichuan.

JUROS A SUBIR

Ontem ficámos a saber que a taxa de inflação na zona euro foi de 3.7 or cento em Maio, o valor mais alto desde a criação da moeda única europeia. O que é que isto significa? Que os juros vão subir muito brevemente. Não seria de espantar se na sua próxima reunião, o Banco Central Europeu subisse as taxas de juros de uma forma agressiva, provavelmente na ordem dos 0,5 pontos percentuais.
Consequências? Para além do maior aperto de cinto para as famílias (muitas das quais já extremamente endividadas), é certo que o euro continua a apreciar-se em relação ao dólar americano, pois aumentará o diferencial entre as taxas de juro europeias e americanas. Quem sofrerá? Os exportadores, que irão ver os seus custos aumentar ainda mais.
Más notícias para a Europa e, em especial, para a economia portuguesa. A crise internacional começa a ter cada vez mais um impacto muito significativo na economia nacional.

DE PEQUENINO...

Petros Giannakouris/AP
Brincadeiras de crianças no Iraque.

SISMO JAPONÊS

Kiyoshi Ota/Getty Images
Consequências do mais recente terramoto a afectar o Japão.

16 junho 2008

A LINHA DA FRENTE E O ABANDONO ESCOLAR

Após meses e meses de silêncio, o primeiro-ministro relembrou-se do seu propagado Plano Tecnológico. Foi a uma escola-modelo alentejana e garantiu que brevemente todas as escolas do país terão videovigilância (para haver "mais liberdade"...), bem como um "computador por cada cinco alunos, um videoprojector em todas as salas de aula e um quadro interactivo por cada três salas de aula". Um sonho bonito, portanto. Mesmo assim, seria importante perceber que um Plano Tecnológico da Educação não pode (e não é) ser uma receita mágica para o desenvolvimento nacional. A educação ajudará, mas não é suficiente para melhorar a atractividade e a competitividade da nossa economia.
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Ora, mesmo que nos emocionemos com o sonho do primeiro-ministro, interessa perguntar o seguinte:
1) serão os objectivos anunciados realistas ou necessários? Eu lecciono num dos países mais ricos do mundo e numa das universidades mais abastadas da América do Norte. Mesmo assim, não há um videoprojector em todas as salas de aula (talvez um em cada 10 ou 15 salas) e muito menos um quadro interactivo (que só existe em grandes auditórios ou salas especiais). E se é assim numa universidade canadiana com vastos recursos, porque é que haveremos de ambicionar fazer melhor em todas as nossas escolas? Parece-me completamente despropositado, bem como extremamente dispendioso.
2) sonhar com alta tecnologia é, sem dúvida, bonito. No entanto, em vez de sonharmos em ter as salas de aulas mais avançadas do mundo (ou perto disso), porque não dar atenção ao verdadeiro flagelo educativo nacional chamado abandono escolar? De facto, Portugal é o país da OCDE com as mais altas taxas de abandono escolar (com a excepção da Turquia). Esta é, aliás, uma das grandes causas das desigualdades sociais no nosso país (pois os rendimentos para os indivíduos com menos educação são bastantes mais baixos do que os rendimentos daqueles que têm o ensino secundário completo ou o ensino superior). Por isso, não seria aconselhável (e bem menos caro) investir recursos na prevenção do abandono escolar do que ambicionar ter um videoprojector em cada sala de aulas ou quadros interactivos?

TRÊS FS

Perguntas que a revista Sábado me fez há algum tempo, mas que ainda não tinha tido a oportunidade de colocar no blogue:
Vários analistas e marketeers têm apontado os três F’s (Fado, Futebol e Fátima) como um das razões para a fraca imagem de Portugal no estrangeiro. O que pode mudar agora recorrendo aos mesmos três F’s? Não será uma má solução?
Será que nos devíamos envergonhar por a Mariza ser a coqueluche da World Music nos mercados internacionais? Por cantar em Carnegie Mellon e no David Letterman Show? Será que nos devíamos envergonhar do extraordinário sucesso de José Mourinho e do Cristiano Ronaldo na Inglaterra? Dos recentes feitos da selecção nacional? É claro que não. O Portugal actual já não é, felizmente, o Portugal atrasado, analfabeto e ultra-conservador dos anos 60. Portugal já não é um país de coitadinhos, mas sim um país moderno. Ora, eu não preconizo um retrocesso a esse Portugal tradicional. Pelo contrário. O fado de Mariza não é o fado de Amália. É mais experimental, mais inovador, e mais internacional. Igualmente, o futebol português tem tido sucesso a nível internacional devido às nossas excelentes escolas e academias, que utilizam os melhores métodos existentes para formar jogadores de qualidade. Ora, se temos vantagens comparativas nestas actividades, porquê desprezá-las? Porquê envergonharmo-nos da sua existência? Porquê estigmatizá-las como sendo um retrato de país atrasado? É claro que os três F’s não podem ser as nossas únicas apostas. Temos que apostar cada vez mais em sectores de maior valor acrescentado. Porém, os três F’s deviam ser parte integrante das nossas apostas económicas.
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Dá aulas fora de Portugal – que diferenças encontra nos países onde tem trabalho face ao ensino e ao mercado de trabalho portugueses?
A nível do ensino, claramente a transparência e a meritocracia. Quando concorro para uma posição numa universidade internacional, eu sei que vão olhar para o mérito do meu currículo quando me avaliam. Se for bom contratam-me, mas, se não o for, não serei escolhido. Não interessa a minha cor política ou os meus conhecimentos e amigos na faculdade em questão. Só os meus dotes de investigador e professor. Pelo contrário, em Portugal, se concorrer a uma posição numa universidade, preciso ter cuidado com a cor política da faculdade, e nunca se sabe se o concurso em questão é uma farsa, destinada a preencher uma vaga já previamente atribuída (o que é o habitual). Ora, estes comportamentos premeiam a mediocridade, o compadrio, a imobilidade e a ineficiência. Somente mudando estas práticas é que poderemos aspirar a um ensino superior com qualidade internacional.

CRIMES CONTRA O PAI DA NAÇÃO

Imagine que tínhamos uma lei que proibia toda e qualquer crítica contra o Afonso D. Henriques, o fundador de Portugal. Ou contra os pioneiros da república. Ou contra os combatentes pela democracia. Se assim fosse, o que é que aconteceria se os criticássemos? É esta questão que os turcos se debatem uma vez mais. Aquele que é considerado o pai da Turquia moderna, Mustafa Kemal Atatürk, é visto por alguns sectores mais radicais como verdadeiramente intocável. Ou seja, acima de quaisquer críticas. Existe inclusivamente uma lei (a lei 5816) que proíbe os "crimes contra Atatürk".
É no âmbito desta lei que uma senhora de nome Nuray Bezirgan pode ser condenada pela justiça turca com uma pena até aos 4 anos meio. A senhora Bezirgan afirmou em público que não gosta de Atatürk e, por isso, caíram o Carmo e a Trindade dos sectores mais nacionalistas turcos. A senhora Bezirgan nem parece ser muito razoável, pois é admiradora expressa do Ayatollah Khomeini. Mas daí até ser condenada por dizer mal do pai da nação turca... A questão tem relevância para a Europa, porque, como sabemos, a Turquia está em negociações para aderir à UE. Se o conseguir e se a lei não mudar até lá, será que um(a) europeu poderia ser condenado(a) se decidisse falar contra Atatürk???

MANGAS A EXPLODIR


O romance de estreia do paquistanês Mohammed Hanif tem andado na ribalta dos meios literários internacionais. Um livro a ler e a traduzir. Falarei mais sobre ele nos próximos dias.

PORTUGAL A DESAPARECER

A propósito do meu próximo livro (em preparação) tenho feito alguma investigação das obras recentemente publicadas sobre o "destino" e futuro de Portugal. Neste sentido, acabei de ler o badalado "Portugal, Medo de Existir", do filósofo José Gil. Confesso que o livro me decepcionou um pouco. Achei-o um pouco mais denso do que estava à espera e cheio de lugares comuns. Devo ser um dos poucos que o achou, visto que o livro já vai na sua 11ª edição. Ainda assim, Gil levanta uma série de questões interessantes e pertinentes. Das citações a reter inclui-se esta: “Portugal arrisca-se a desaparecer”. E eu pergunto: e para onde é que Portugal vai?

15 junho 2008

REFERENDO IRLANDÊS

Mais um referendo europeu, mais um não. Nada de especial. Logo se arranjará outro referendo e mais outro e mais outro até o Sim ganhar. É muito peculiar a democracia europeia...

O DESESPERO DE MUGABE

Robert Mugabe continua a sua cruzada desesperada contra a democracia. Agora afirma que haverá guerra se perder as eleições. Não deve ser necessário. Como muitos militares continuam a beneficiar da corrupção do regime, o mais provável é que ou Mugabe "ganhe" as eleições ou os resultados serão alterados. Ou seja, a tragédia do povo do Zimbabwe continuará. E a economia retroceder e a sociedade deste país africano retrocederão ainda mais. Tudo em prol da corrupção de uns poucos e da loucura um ditador que se julga um iluminado.

CITAÇÃO

Extracto do editorial do DN de hoje:
"Se analisada no dia-a-dia, a conduta de Sócrates é merecedora de elogios, pois tem sabido desarmadilhar os conflitos com pescadores e camionistas, sem nunca ceder no essencial.Mas se apreciada em perspectiva, a actuação do Governo já não é tão louvável. Em vez de agir, limita-se a reagir, fazendo o papel de bombeiro que apaga diligentemente os fogos, um a um, mas começa a ficar sem braços e capacidade para acudir a todos os incêndios, que já estão a ser ateados por agricultores, taxistas, rebocadores e - pasme-se! - bombeiros.Sócrates faria bem em equipar-se com um plano de choque de combate à crise, como está a fazer Zapatero, que vai tentar relançar a economia espanhola suprimindo impostos e devolvendo o IVA em 30 dias a todas as empresas.O s portugueses esperam do Governo uma atitude pró-activa. Que aja, em vez de reagir. Que seja o cão que abana a cauda - e não o cão que é abanado pela cauda."

13 junho 2008

QUANDO SE CEDE...

Quando se cede, paga-se a factura. Apesar de concordar com o Antonio (que afirma "Parece-me que apesar de tudo o Governo se saiu bastante bem. Não cedeu naquilo que para si era fundamental, isto é, não acordou na criação do gasóleo profissional"), a verdade é que quando os governos cedem quase sempre há consequências. Por isso, depois de ter confessado as vulnerabilidades do Estado e de ter cedido aos camionistas, era fácil de prever que outros sectores iriam igualmente reivindicar mais ajudas ao governo. Assim, hoje ficamos a saber que os agricultores e os taxistas são os senhores que se seguem. Os taxistas ainda entendo, pois a subida dos preços do petróleo afecta-os directamente. Mesmo assim, duvido que as suas demandas surtam efeito se decidirem parar os seus carros. Se não há táxis há transportes públicos ou o aluguer de automóveis (nem sempre, é verdade, mas na maioria dos casos). Ou seja, há alternativas aos táxis. Por isso, se quiserem que o governo os ouça, provavelmente os taxistas terão que bloquear estradas e vias de acesso às cidades. Uma decisão nada popular.
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E se um protesto dos taxistas se compreeende, as reinvindicações dos agricultores parecem-me desajustadas e excessivas. A subida dos preços agrícolas beneficia directamente os produtores agrícolas. Por todo o mundo, os valores das terras agrícolas estão a subir em flecha e os produtores anunciam previsões de um aumento de oferta (e dos seus rendimentos) nos próximos anos. Portugal não é excepção. Assim, o PUBLICO de hoje anuncia que, de acordo com a Associação Nacional de Produtores de Cereais, Oleaginosas e Proteaginosas (Anpoc), a campanha de cereais de 2008 apresenta "boas perspectivas". Pois claro. Os produtores agrícolas respondem aos incentivos do mercado. E se é assim, se é esperado que os produtores tenham nalguns casos rendimentos bastante superiores aos alcançados nos últimos anos, porque é que os contribuintes devem pagar a factura do aumento do preço do gasóleo agrícola? Se eles(as) são dos principais beneficiados(as) pela subida dos preços dos produtos alimentares, porque é que não são os agricultores a "subsidiarem" o aumento dos preços do petróleo para o resto da economia? Note-se que eu não acho que o devam fazer. O que eu acho é que pedir ajudas governamentais numa época de vacas gordas (para os agricultores) só porque que o sector é "estratégico" (tal como as empresas de camionagem...) é pura e simplesmente chantagem. Uma chantagem que decorre directamente da cedência do governo aos camionistas. Uma chantagem que deriva directamente das "vulnerabilidades" do Estado apregoadas pelo primeiro-ministro.

PEDIDO DE DESCULPAS (2)

O editorial do DN refere hoje o pedido de desculpas do primeiro-ministro canadiano aos aborígenas pelos abusos cometidos durante décadas das chamadas "residential schools" (onde se pretendia ensinar aos "índios" "boas maneiras" e assimilá-los para a cultura ocidental). Diz o DN:
"Stephen Harper pediu em nome do Canadá desculpa aos povos indígenas do país, vítimas durante séculos de abusos e de uma tentativa deliberada de assimilação. Foi uma cerimónia cheia de colorido, celebrada no Parlamento de Otava, e nela participaram, além do primeiro-ministro, líderes de vários tribos índias e esquimós (inuit, como preferem se chamar). Foi também um momento de reconciliação entre os canadianos, um povo em permanente construção, onde a unidade nacional resulta da vontade de viverem juntos, sejam anglófonos ou francófonos, descendentes de europeus ou índigenas, filhos de velhas famílias de colonos ou imigrantes recentes. O gesto vale pelo simbolismo, mas é inútil, como foi inútil o pedido de desculpas recente do primeiro-ministro da Austrália aos aborígenes. E é inútil felizmente, porque é feito, em ambos os casos, por democracias que souberam aprender com os erros do passado e construir sociedades que se esforçam por ser verdadeiramente iguais para os seus cidadãos. Mais do que gestos simbólicos, o importante é mesmo mudar a história."
Inútil? Inútil??? Foi talvez por ser inútil que os líderes aborígenas e milhares de "sobreviventes" (como são conhecidos no Canadá) afirmaram que há décadas que estavam à espera deste dia. Foi talvez por ser inútil que as forças políticas canadianas se uniram como em poucas ocasiões. Foi talvez por ser inútil que após séculos de exploração e de humilhação que os líderes aborígenas falaram que é chegada a hora para a reconciliação.
Inútil? Será que o processo Casa Pia foi (ou é) inútil? Será inútil um pedido de desculpa de desculpas neste caso? É que este pedido de desculpas canadiano é muito parecido com o que motivou o processo Casa Pia. Com a diferença de que, para além dos abusos sexuais e psicológicos, as crianças aborígenas foram sujeitas à tentativa deliberada de erradicar o "índio" dentro delas. Ou seja, durante 130 anos, houve uma política deliberada de apagamento da identidade de milhares e milhares de crianças. E essa política durou até 1998 (!). E é por isso que o pedido de desculpas foi tão inútil...

À ESPERA

Radu Sigheti/Reuters

Distribuição de comida pela Cruz Vermelha na Etiópia, onde 4,5 milhões de pessoas estão em risco de morrer à fome.

12 junho 2008

CUBA REFORMADORA

E mais reformas na Cuba de Raul Castro. Desta vez, é o fim de uma medida tão emblemática como danosa. O governo acaba de decretar o fim da legislação dos salarios igualitários e dos tectos salariais que vigorava desde 1959. No fundo, é tudo uma questão de incentivos. Tal como aconteceu noutros países socialistas, os tectos salariais foram um fracasso porque garantiam os salários sem tomar em linha de conta a produtividade dos trabalhadores. Deste modo, um trabalhador preguiçoso ganhava exactamente o mesmo que um trabalhador dedicado. Ou seja, não havia nenhum incentivo para que os trabalhadores se esforçassem, premeando-se a mediocridade. Um disparate e um autêntico desastre para a economia do país. Após quase 5 décadas desta política asfixiadora e paralisante, o novo governo de Raul Castro decidiu acabar com esta prática. Daqui por diante, cada um ganhará de acordo com as suas capacidades e o seu desempenho. Cuba nunca será a mesma.

PEDIDO DE DESCULPAS


Ontem foi um dia histórico no Canadá. O primeiro-ministro Stephen Harper pediu formalmente desculpa às dezenas de milhares de aborígenas que, durante décadas, foram forçados a ingressar nas chamadas "residential schools", onde supostamente se ensinavam boas maneiras (ou seja, ocidentais) e "boas" práticas de "civilização" aos nativos. A ideia era forçar a assimilação das crianças indígenas na sociedade canadiana (na altura, branca e ocidental). Foi uma tragédia. Há relatos de inúmeros de abusos sexuais e físicos das crianças aborígenas, que foram forçadas a abandonar os seus pais e famílias aos 5 anos de idade. Ou seja, uma Casa Pia em ponto grande. As consequências sociais foram dramáticas. O alcoolismo entre os antigos alunos é comum, o desemprego dos aborígenas é 3 vezes maior do que a média nacional, o abandono escolar é o maior de todo o país, e as taxas de suicídio são o dobro da média nacional. As cicatrizes emocionais são consideráveis e, por isso, os discursos de ontem no parlamento canadiano foram carregados de significado. O pedido de desculpas pode vir demasiado tarde para milhares de vítimas dessas escolas, mas, pelo menos, foi feito. Vale mesmo mais tarde do que nunca. Mesmo em questões históricas como esta.

ESCOLAS MALDITAS

Fotografia de 1936 de uma "residential school". Estas escolas eram parte integrante de uma política de assimilação dos indígenas, nas quais mais de 150 mil crianças aborígenas canadianas foram forçadas a estudar como ser "civilizado". As consequências sociais e pessoais foram tremendas. Ontem, o primeiro-ministro pediu desculpas pelo mal causado aos aborígenas.

11 junho 2008

A PARALISAÇÃO DOS CAMIONISTAS

Esta tarde, o governo e a Associação Nacional dos Transportes Rodoviários de Mercadorias (Antram) chegaram a acordo sobre as reivindicações dos camionistas de apoio ao sector face à subida dos preços dos combustíveis. Como era esperado, o governo cedeu às pressões dos camionistas. Provavelmente, não existiam grandes alternativas. Perante a crescente escassez de alimentos e combustíveis o governo só tinha duas opções: decretar o estado de emergência ou ceder. Como acccionar o estado de emergência seria um pouco dramático, ceder aos camionistas era a única opção.
Ainda assim, é importante que percebamos que, ao ceder, o governo criou um grave precedente. Daqui para a frente, sempre que as coisas não corram bem no seu sector, os camionistas sabem que podem fazer o governo refém das suas reinvindicações com acções do mesmo género. Aliás, daqui em diante, os camionistas nem precisam de ir para as ruas. Basta ameaçar que irão levar a cabo uma paralisação do país para fazer tremer o governo. Mais do que a satisfação das suas reivindicações, esse perigoso precedente é a principal vitória dos camionistas.

MAIS UMA VITÓRIA


Mais um jogo, mais uma vitória. Não foi uma grande exibição (pelo menos na primeira parte), mas bastou para ganhar a uma equipa bastante difícil. Para mim, é sempre estranho ver jogos de futebol às 9 da manhã (hora de Vancouver), mas valeu a pena. Que venham os suícos!

POUCO RESTA...

Samuel Aranda/Getty Images

O que resta num supermercado em Barcelona devido à greve dos camionistas.

A ENERGIA, O BURRO E O ELEFANTE


Um cartoon sobre as soluções para a crise energética apresentadas pelos Democratas (o burro) e os Republicanos (o elefante).

10 junho 2008

ATRAIR EMIGRANTES

A propósito da comemoração do Dia de Portugal, o Presidente da República afirmou que Portugal devia fazer tudo para atrair alguns dos muitos milhares de portugueses espalhados pelo mundo. Acho muito bem. Afinal, quem não concorda com tal medida? Porém, para além dos discursos de conveniência, interessa discutir que tipos de medidas e de incentivos levariam os emigrantes a regressar e/ou a investir em Portugal. Obviamente, os emigrantes não são um grupo homogéneo, e a nossa emigração mais recente tem, em média, níveis de qualificação bem mais elevados do que as gerações anteriores. Assim, as políticas e incentivos a utilizar têm de ser diferenciados de acordo com os emigrantes a atrair. Dito isto, provavelmente, os três principais motivos que poderiam fazer regressar alguns dos nossos emigrantes são os seguintes:
1) razões financeiras
A decisão de emigrar quase sempre é uma decisão financeira. Quase sempre, emigra-se à procura de melhores condições de vida. Neste sentido, o incentivo à emigração aumenta quando existe uma grande diferença entre os salários e os rendimentos médios auferidos no país de origem e no país de destino. Quando esta diferença diminui (devido ao crescimento económico no país de origem), a taxa de emigração diminui. Foi isto exactamente que aconteceu no final dos anos 80 e nos anos 90, quando a economia portuguesa (e os rendimentos nacionais) cresceu mais depressa do que as suas congéneres europeias e norte-americanas. E é exactamente esse mecanismo que tem levado muitos portugueses a emigrar nos últimos anos. A crise que se instalou na nossa economia na última década (e a consequente estagnação dos rendimentos médios) tem levado um número crescente de portugueses a melhorar os seus níveis de vida no exterior.
Como reverter esta situação? Através da subida dos rendimentos médios no país de origem (no nosso caso, Portugal). E como é que os rendimentos sobem? Com o crescimento económico. Ou seja, só o fim da crise e da estagnação económica pode fazer estancar a recente emigração e fazer com que alguns dos nossos emigrantes regressem.
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2) razões familiares
Muitos dos emigrantes optam por regressar por motivos afectivos e familiares. Porém, na maioria dos casos, os motivos financeiros sobrepõem-se aos familiares. O Estado pouco pode fazer neste campo.
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3) incentivos ao investimento e à investigação.
Os emigrantes podem optar por regressar ao seu país de origem se existirem fortes incentivos (fiscais, facilidades de investimento, etc) para o fazerem. É aqui que a política económica tem um papel a desempenhar. Se queremos mesmo atrair os nossos emigrantes, temos que lhes oferecer generosos incentivos financeiros para que eles tomem a decisão de regressar. Não é com palmadinhas nas costas ou discursos patrióticos que os(as) faremos regressar, mas sim com medidas e incentivos económicos concretos para que eles(as) o façam.
Finalmente, em relação aos investigadores portugueses que trabalham em universidades estrangeiras, o regresso depende de dois factores: financeiros e condições de investigação. Temos cada vez mais doutorados a trabalhar no estrangeiro. Doutorados que nós próprios financiámos através da FCT e outras entidades. Não podemos esperar que todos regressem. Ainda assim, se houverem boas condições de investigação nas nossas universidades, certamente que muitos(as) destes(as) investigadores(as) poderão voltar a Portugal. Para tal, as nossas universidades têm que se abrir ao exterior e ser mais concorrenciais, oferecendo condições de investigação semelhantes às praticadas no estrangeiro.
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Em suma, os discursos são quase sempre bonitos no Dia de Portugal. A ideia de atrair os emigrantes portugueses para o nosso país também o é. Porém, para que se concretize, é necessário implementar medidas e incentivos concretos para que os(as) emigrantes tomem a difícil (e dispendiosa) decisão de regressar. Não são os apelos ao patriotismo que farão com que os emigrantes regressem, mas sim generosos incentivos fiscais e financeiros, bem como maiores facilidades de investimento.

CARO INSECTO

Luis Liwanag

Um dos culpados da alta dos preços alimentares é este insecto, um gafanhoto que se tem espalhado pelas plantações de arroz na China e tem causado grandes perdas nas colheitas desse produto. Um insecto caro, sem dúvida nenhuma.

MAIS INFLAÇÃO

E ainda mais indícios que a inflação está de volta. Por isso, os bancos centrais na Europa e na América já deram sinais que iriam aumentar as taxas de juros. Os mercados financeiros já começaram a reagir, registando quebras significativas. A OCDE também já desceu as suas previsões de crescimento económico para 2008 e 2009. Em suma, todos cada vez mais preocupados com o regresso da estagflação. Todos? Nem todos. A OPEP continua impávida e serena a ver isto tudo. É que há muita, muita gente a beneficiar com a alta dos preços do petróleo. E não devem alterar esta posição tão facilmente. Pelo menos até a economia mundial dar sinais de estar a entrar para uma verdadeira recessão (o que, diga-se, ainda não é o caso).

09 junho 2008

A NOVA GRANDE FOME


Uma nova grande fome paira sobre a Etiópia. Mais de 4 milhões de crianças estão ameaçadas pela fome provocada pela seca dos últimos meses. Muitos temem que esta seja a pior crise alimentar a assolar a Etiópia desde a trágica fome de 1984, quando mais de um milhão de crianças pereceu esfomeada. O pior é que a situação actual pode ser agravada pela subida dos preços alimentares a nível mundial, o que poderá fazer com que a ajuda externa possa chegar atrasada. Demasiado atrasada para muitos adultos e crianças que sofrerão na pele as consequências de terem nascido num país com uma história recente tão trágica e cruel.

PEQUENOS GRANDES CONTOS

Apesar de ter recebido o Prémio Camões em 2003, até agora ainda não tinha tido lido a obra de Rubem Fonseca. Comecei agora e gostei muito. "Ela e Outras Mulheres" é uma colecção de vinte e sete pequenos contos, que relatam a vida de outras tantas mulheres e seus (muitos) companheiros. A escrita é simples, directa e cheia de sensualidade. Vidas "normais" misturam-se com vidas de criminosos e outras personagens, num retrato do Brasil que é indispensável para quem gosta de literatura. Gostei tanto que aproveitei a visita a Portugal para comprar mais livros de Rubem Fonseca. Comecei tarde, mas valeu mesmo a pena.

REGRESSO DA INFLAÇÃO

Mais indícios que a inflação está a começar a subir de forma significativa. Já não são só os preços do petróleo e dos produtos alimentares que crescem. O problema é quando a subida destes preços se começa a reflectir noutros sectores da economia. O mecanismo é simples e conhecido: a subida dos preços petrolíferos aumenta os custos das empresas, o que faz com que estas tenham que subir os preços dos seus produtos. Foi isso que aconteceu nos anos 70 e é isso que está a começar a acontecer agora. Vários países já sentem o efeito da subida dos preços. No Reino Unido, os preços "à saída da fábrica" já cresceram 6 por cento no último ano. Neste país, a inflação está a 3 por cento, mas já se espera que suba para os 4 por cento dentro em breve. A economia está perto da recessão e há muitos que começam a falar em estagflação.
O que é que isto quer dizer para o cidadão comum? Menos emprego (pois as empresas vêem as suas encomendas descer e são forçadas a despedir parte dos seus trabalhodores), preços mais altos e uma subida das taxas de juros. Os tempos que aí vêem não se adivinham nada fáceis.

ASSIMETRIAS


Jeff Lewis/AP

REGRESSO

O Desmitos regressa após um interregno de alguns dias, durante os quais não me foi possível actualizar o blogue diariamente nem responder a comentários. Irei fazê-lo nos próximos dias.

06 junho 2008

O COLOSSO EUROPEU

Segundo os últimos dados disponíveis, a União Europeia é um colosso. De acordo com o Eurostat, a UE é responsável por 31% da produção mundial (contra 29% dos Estados Unidos e 11% do Japão), é a maior recipiente de investimento directo estrangeiro (com 37% dos fluxos de investimento, contra 23% dos EUA e 4% do Japão) e o maior bloco comercial do mundo (absorbendo 18% do comércio global, contra 17% dos EUA e 8% do Japão). A UE possui também os melhores indicadores fiscais, tanto a nível do défice do sector público como da dívida pública. E se é verdade que o crescimento económico é ainda inferior ao americano, os últimos indicadores sugerem que a recuperação económica está à porta.
Em suma, se olharmos para a maioria dos indicadores de performance económica, será fácil concluir que a UE está bem e recomenda-se. Contudo, neste caso, os números são um pouco enganadores. Apesar do seu peso económico, na prática a UE continua a ser um gigante de pés de barro. Para além de não ter relevância política nem força diplomática, a UE é ainda um anão económico, sem força nem músculo a nível global.
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Por um lado, a fraqueza económica da UE deve-se à sua fragmentação política e cultural. E se a constituição do mercado único foi um passo decisivo para a consolidação da UE, a verdade é que na prática ainda persistem demasiadas barreiras culturais e nacionais. Porém, a principal razão para a fraqueza económica europeia deve-se ao facto de a UE ainda não ser um verdadeiro líder tecnológico. Afinal, nos últimos 150 anos, a Europa quase nunca foi o líder nas tecnologias de ponta, e os indicadores mais recentes não sugerem uma inversão desta tendência.
Apesar das recentes campanhas destinadas a aumentar a competitividade da UE, os desafios são realmente extraordinários. Em primeiro lugar, a UE está à porta de uma crise demográfica, pois desde o início dos anos 70 que a taxa de fertilidade está abaixo do limiar da renovação populacional. Neste campo, a solução passa necessariamente tanto por aumentos dos incentivos de natalidade (principalmente a nível do pre-éscolar e das estruturas de apoio paternal), como por um aumento da imigração qualificada. Em segundo lugar, a emergência da China e da India criam desafios sem precedentes a nível comercial e industrial. Mesmo assim, a resposta da UE não deve ser o proteccionismo (penalisadora dos consumidores), mas sim uma maior competitividade económica, principalmente nos sectores de maior valor acrescentado.
Para tal, é imperioso continuarmos a insistir na implementação de uma maior flexibilização das economias europeias bem como na atribuição de maiores incentivos à inovação e à investigação. Somente quando se afirmar nos campos da investigação e da inovação tecnológicas é que a UE se poderá tornar verdadeiramente num colosso europeu.

05 junho 2008

A HIPOCRISIA DA UE

Ainda em viagem e, por isso, mais uma reciclagem de um artigo do DN:
Nos últimos tempos surgiram vários indícios que revelam um preocupante aumento do nacionalismo económico no seio da União Europeia. Numa altura em que os chamados “campeões nacionais” de alguns países estão em risco de serem adquiridos por empresas de outros Estados-membros, os governos dos “grandes” europeus têm ameaçado defender os supostos interesses nacionais das suas empresas. De uma certa forma, o nacionalismo económico sempre esteve presente nas decisões de carácter estratégico em cada país. A existência de mecanismos como as golden shares reflecte exactamente esta tendência proteccionista em muitos países europeus. A verdade é que, quer por motivos políticos quer por razões estritamente económicas, os governos nacionais têm tentado proteger os principais sectores das suas economias. Esta prática mais ou menos generalizada não daria azo a qualquer problema se não estivéssemos a falar de uma Europa que optou pela criação de um mercado único, no qual não podem existir preferências nacionais. Neste sentido, o ressurgimento do nacionalismo económico representa uma real ameaça ao mercado único e, consequentemente, à própria UE.
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Perante este crescente nacionalismo económico e devido à crise económica que assola o Velho Continente, existe o risco de que a UE ceda às pressões dos grandes e admita excepções implícitas ou explícitas ao mercado único. Se tal acontecesse, o equilíbrio de forças na UE poderia estar em risco. De facto, é completamente inaceitável que numa Europa de Estados supostamente iguais, as regras sejam tacitamente distintas dependendo do peso económico e político dos países em causa. No entanto, quer se goste quer não, em grande medida, actualmente na UE as regras para os pequenos são para se cumprir, enquanto para os grandes as regras são negociáveis. Foi assim com o Pacto de Estabilidade e agora, se a Comissão não assumir uma posição firme e determinada, poderá acontecer o mesmo com o sector energético.
É claro que não podemos ser ingénuos. Afinal, quando a Alemanha espirra o resto da Europa constipa-se. A economia portuguesa poderia até ter uma doença quase terminal e poucos seriam os parceiros europeus que sofreriam consequências. O mesmo se passa com Malta, Chipre, a Lituânia, entre outros. Mesmo assim, a sustentabilidade da UE poderá ficar em risco se as regras continuarem a ser sistematicamente diferentes para grandes e pequenos. Ora, num mundo crescentemente globalizado e competitivo, é importante que a Europa fique unida para poder fazer face aos imensos desafios do futuro. Para tal, é imperioso que as regras sejam cumpridas por todos e que não seja dado tratamento preferencial a ninguém. Caso contrário, o equilíbrio e o futuro da própria Europa unida poderão estar em causa.

04 junho 2008

O NOVO KENNEDY


Ontem foi um dia histórico na América. Obama ganhou a nomeação democrata para as eleições presidenciais americanas. O primeiro afro-americano a obter a nomeação de um dos grandes partidos americanos. Obama é tão carismático e tão invulgar que é fácil esquecer este pequeno "detalhe". No entanto, Obama não seria possível há 40 ou mesmo 20 anos atrás. A América mudou e o mundo mudou. E assim os Obamas do mundo já são possíveis. E ainda bem. Obama não irá salvar a América, como ele afirma. Obama não irá mudar tanto a América, como tanta gente pensa. Mesmo assim, o mundo ficou mais bonito com a vitória de Obama. Mais colorido. Mais multicultural. Mais esperançado. O mundo ficou melhor com a vitória de Obama.

PERSISTÊNCIA SEM SENTIDO


Apesar de já não ser possível matematicamente ganhar a nomeação democrata, Hillary Clinton não desiste. Ontem, quando devia ter dado os parabéns a Obama e ter feito tudo para unir o partido, Hillary preferiu enaltecer as suas virtudes e pedir aos seus apoiantes para lhe dizerem o que fazer a seguir. Como é natural, todos os comentadores americanos acharam que esta é uma atitude lamentável e inclassificável. Não aceitar a vitória de Obama é negar o óbvio e é de um narcisismo descomunal. Há pessoas que amam os seus egos acima de tudo e contra todos. Hillary é uma delas. Esperemos que Obama não ceda à tentação e a nomeia candidata à vice-presidência. Se assim, fosse, a chantagem dos Clinton teria resultado. E a "mudança" representada por Obama seria bem menor.

OUTRAS VÍTIMAS DO SISMO


Como o sismo chinês atingiu uma região onde há muitos pandas, muitos deles foram transferidos temporariamente para o jardim zoológico em Pequim. Pelo que parece, apesar do stress, continuam bem dispostos.

03 junho 2008

OS DOIS PORTUGAIS

Por estar em viagem, reciclo aqui um artigo que publiquei no DN:
Tudo indica que muitos entre nós estejam dispostos a realizar consultas populares até que os resultados eleitorais se compadeçam com as suas agendas políticas. Neste sentido, ouviram-se recentemente novos apelos para a realização de um outro referendo sobre a regionalização. O grande argumento dos defensores do referendo é que a regionalização iria permitir uma diminuição substancial das assimetrias regionais. Será isto verdade?
Historicamente, Portugal foi sempre um país muito dual, no qual a riqueza e opulência de Lisboa contrastavam com o atraso económico das regiões restantes. A situação melhorou nos séculos XIX e XX com a industrialização e com o crescimento do turismo. Mesmo assim, Portugal ainda é um país com grandes assimetrias regionais. O rendimento médio das regiões Norte, Centro, do Alentejo e dos Açores é cerca de dois terços por cento da média da UE-25. Este valor é de 81 por cento para a região algarvia e de 89 por cento para a Madeira. Em contraste, um habitante da região de Lisboa dispõe de 112 por cento do rendimento de um europeu médio. Ou seja, se Portugal fosse só Lisboa, já estaríamos acima do rendimento médio europeu na UE-25 (mas não na UE-15).
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Estas diferenças de desempenho económico regional explicam-se não só pelo atraso histórico (que é difícil de eliminar), mas também porque as regiões menos desenvolvidas têm um capital humano menos qualificado e piores infra-estruturas. Ora, será necessário uma regionalização para reduzir as assimetrias regionais? A resposta é claramente negativa. De facto, os últimos anos têm demonstrado que a convergência das regiões mais atrasadas é possível, visto que as regiões do Algarve, do Alentejo, dos Açores e da Madeira continuaram todas a sua convergência real em relação à média europeia. Em contrapartida, uma das causas da crise dos últimos anos tem origem no fraco desempenho da região lisboeta, que divergiu significativamente em relação à média europeia.
Estes indicadores sugerem que é possível apostar no aumento da convergência das regiões portuguesas. Neste sentido, a convergência real das regiões poderá ser auxiliada por uma série de políticas, que deverão incluir: a) maiores responsabilidades e poderes das estruturas locais existentes, b) maiores competências fiscais para as regiões menos desenvolvidas, c) benefícios fiscais adicionais na atracção do investimento para as regiões mais carenciadas, e d) promoção de sectores alternativos (como o turismo rural). A implementação deste conjunto de medidas práticas poderia dar um contributo muito mais significativo para a atenuação das assimetrias regionais do que a regionalização, a qual certamente criaria ainda mais burocracia num país com um Estado já balofo.

CAUSAS DA SUBIDA DE PREÇOS


02 junho 2008

PLANO ESQUECIDO

Aquela que foi uma das bandeiras eleitorais do actual governo, o Plano Tecnológico, parece ter sido completamente esquecida e, quiçá, até mesmo abandonada. Ainda assim, e porque há sempre a possibilidade do governo ressuscitar o Plano, vale a pela reiterar as seguintes ideias:
Os detalhes do Plano Tecnológico espraiam-se por entre mais de 200 páginas, escritas ao longo de 17 capítulos, e coordenados em 3 grandes eixos directores. Apesar de tudo, neste momento o Plano Tecnológico é acima de tudo um conjunto de constatações e de evidências sobre o pobre estado dos sectores de inovação portugueses. Nesse sentido, o governo informa-nos que Portugal tem um número risível de patentes por 1000 investigadores, que as exportações portuguesas têm pouca alta tecnologia, que a percentagem de investigadores no governo e nas empresas é baixíssima comparada com outros países da OCDE, que as nossas despesas em Investigação e Desenvolvimento (I&D) são das mais baixas dos países desenvolvidos, que Portugal possui um dos piores e mais ineficazes sistemas educativos numa amostra de 60 países, que Portugal é o país com as mais altas taxas de abandono escolar na UE-15, que Portugal tem uma baixa taxa de nascimento de empresas e um baixo índice de empreendedorismo, que as infra-estruturas de acesso à Internet ainda são insuficientes para as nossas necessidades, que Portugal tem os índices criativos mais baixos da UE-15, que a economia portuguesa tem sofrido um gradual decréscimo da quota de mercado das suas exportações, e que existem grandes oportunidades de negócios nos países lusófonos.
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A ideia central do Plano Tecnológico é baseada no conceito de Sistemas Nacionais de Inovação, que tem sido empregue por vários reputados economistas do desenvolvimento tecnológico para ilustrar as diferenças entre as capacidades de inovação dos países mais avançados. Porém, o Plano tem uma série de objectivos sectoriais que muitas vezes não passam de um conjunto de lugares comuns e cujas medidas não são mais do que meras declarações de intenções. Por exemplo, entre os objectivos da estratégia de Internacionalização incluem-se fomentar o IDE, dinamizar as exportações, promover o desenvolvimento económico em parceria com os países lusófonos. Ou seja, nada de novo. A nível energético pretende-se reforçar as energias renováveis, aumentar a eficiência energética, e reorganizar a fiscalidade a nível do sector da energia. Na Administração Pública o governo quer promover a mobilidade dos funcionários públicos, reestruturar e reorganizar a Administração Pública, e simplificar os documentos de identificação dos cidadãos. Nenhuma novidade. No turismo irá proceder-se a uma simplificação na atribuição das licenças, um estímulo às parcerias público-privadas, e à qualificação dos recursos humanos. Nos Grandes Projectos de Investimento existe uma proposta de criação de tabela de multiplicadores por área de investimento (!!). Esta medida de inspiração keynesiana bolorenta é supostamente a base para as obras do TGV e da OTA.
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A nível das medidas a aplicar, existem ideias tão díspares como a criação de uma rede de cinema digital, um Prémio de Inovação empresarial, um balcão único para o agricultor, a desmaterialização de processos em tribunal, ou a promoção das exportações. O governo quer ainda duplicar o investimento em I&D até 2010. Entre as dezenas e dezenas de medidas, o que não o documento não diz é como estas serão aplicáveis e concretizáveis.Em suma, as grandes linhas do Plano Tecnológico não são criticáveis, visto que são a descrição das carências bem conhecidas da nossa economia. O grande problema do Plano Tecnológico é que é pensado e elaborado tendo por base a ideia que o Estado é o principal agente de mudança da economia portuguesa. Ora, esse conceito não passa de pura ilusão. Como décadas e décadas de atraso económico demonstram, os grandes períodos de crescimento nacional (na década de 60 e de 80) ocorreram quando se liberalizou a economia e se deram novas oportunidades de negócio ao sector privado. Ou seja, na versão actual, o Plano Tecnológico falha porque incute a ideia que o Estado será o principal agente de mudança e dinamismo da economia. Se assim o fosse, certamente não estaríamos para aqui a discutir um Plano Tecnológico destinado a resgatar a economia nacional das teias da estagnação.

TGV PORTUGUÊS

É hoje lançado o concurso do primeiro troço do TGV da linha Lisboa-Madrid. Este troço, entre o Poceirão e Caia vai ter uma extensão de 167 Km num investimento de 170 milhões de euros. Veremos. Nos próximos tempos veremos se estes 170 milhões iniciais não se transformam nalgumas dezenas de milhões de euros adicicionais. Posso estar muito bem enganado (sinceramente, espero bem que sim), mas não ficaria nada admirado se o TGV se tornasse num enorme pessadelo financeiro. Mas, ao menos, estaremos estaremos ligados à Europa com uma linha de alta velocidade. Uma prova inequívoca do nosso desenvolvimento...