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13 junho 2008

PEDIDO DE DESCULPAS (2)

O editorial do DN refere hoje o pedido de desculpas do primeiro-ministro canadiano aos aborígenas pelos abusos cometidos durante décadas das chamadas "residential schools" (onde se pretendia ensinar aos "índios" "boas maneiras" e assimilá-los para a cultura ocidental). Diz o DN:
"Stephen Harper pediu em nome do Canadá desculpa aos povos indígenas do país, vítimas durante séculos de abusos e de uma tentativa deliberada de assimilação. Foi uma cerimónia cheia de colorido, celebrada no Parlamento de Otava, e nela participaram, além do primeiro-ministro, líderes de vários tribos índias e esquimós (inuit, como preferem se chamar). Foi também um momento de reconciliação entre os canadianos, um povo em permanente construção, onde a unidade nacional resulta da vontade de viverem juntos, sejam anglófonos ou francófonos, descendentes de europeus ou índigenas, filhos de velhas famílias de colonos ou imigrantes recentes. O gesto vale pelo simbolismo, mas é inútil, como foi inútil o pedido de desculpas recente do primeiro-ministro da Austrália aos aborígenes. E é inútil felizmente, porque é feito, em ambos os casos, por democracias que souberam aprender com os erros do passado e construir sociedades que se esforçam por ser verdadeiramente iguais para os seus cidadãos. Mais do que gestos simbólicos, o importante é mesmo mudar a história."
Inútil? Inútil??? Foi talvez por ser inútil que os líderes aborígenas e milhares de "sobreviventes" (como são conhecidos no Canadá) afirmaram que há décadas que estavam à espera deste dia. Foi talvez por ser inútil que as forças políticas canadianas se uniram como em poucas ocasiões. Foi talvez por ser inútil que após séculos de exploração e de humilhação que os líderes aborígenas falaram que é chegada a hora para a reconciliação.
Inútil? Será que o processo Casa Pia foi (ou é) inútil? Será inútil um pedido de desculpa de desculpas neste caso? É que este pedido de desculpas canadiano é muito parecido com o que motivou o processo Casa Pia. Com a diferença de que, para além dos abusos sexuais e psicológicos, as crianças aborígenas foram sujeitas à tentativa deliberada de erradicar o "índio" dentro delas. Ou seja, durante 130 anos, houve uma política deliberada de apagamento da identidade de milhares e milhares de crianças. E essa política durou até 1998 (!). E é por isso que o pedido de desculpas foi tão inútil...

12 junho 2008

PEDIDO DE DESCULPAS


Ontem foi um dia histórico no Canadá. O primeiro-ministro Stephen Harper pediu formalmente desculpa às dezenas de milhares de aborígenas que, durante décadas, foram forçados a ingressar nas chamadas "residential schools", onde supostamente se ensinavam boas maneiras (ou seja, ocidentais) e "boas" práticas de "civilização" aos nativos. A ideia era forçar a assimilação das crianças indígenas na sociedade canadiana (na altura, branca e ocidental). Foi uma tragédia. Há relatos de inúmeros de abusos sexuais e físicos das crianças aborígenas, que foram forçadas a abandonar os seus pais e famílias aos 5 anos de idade. Ou seja, uma Casa Pia em ponto grande. As consequências sociais foram dramáticas. O alcoolismo entre os antigos alunos é comum, o desemprego dos aborígenas é 3 vezes maior do que a média nacional, o abandono escolar é o maior de todo o país, e as taxas de suicídio são o dobro da média nacional. As cicatrizes emocionais são consideráveis e, por isso, os discursos de ontem no parlamento canadiano foram carregados de significado. O pedido de desculpas pode vir demasiado tarde para milhares de vítimas dessas escolas, mas, pelo menos, foi feito. Vale mesmo mais tarde do que nunca. Mesmo em questões históricas como esta.

05 abril 2008

AS FEZES DA DISCÓRDIA

A tese dominante sobre os primeiros povos a colonizar as Américas mantém que estes pioneiros chegaram ao continente americano pelo estreito de Bering cerca de 13 mil anos atrás. Esta hipótese é disputada por muitos grupos de First Nations (os "indios" americanos, como eram conhecidos antigamente), que consideram que os seus antepassados chegaram às Américas anteriormente (e muitos defendem inclusivamente que a teoria do estreito de Nering é errada, pois acreditam que os seus antepassados tiveram origem no próprio continente americano). Fezes humanas fossilizadas encontradas numa gruta americana vêm agora dar mais credibilidade e consistência à hipótese de uma colonização mais antiga. Segundo os novos dados, os primeiros humanos no continente americano chegaram entre 14 mil e 18 mil anos atrás. Não parece muito, mas é o suficiente para pôr em causa algumas das teorias existentes, como sejam a da extinção de alguns mamíferos americanos que coincide com a "chegada" dos humanos às Américas 13 mil anos atrás. Veremos o que novas escavações e investigações nos trarão nos próximos anos.

10 março 2008

FALSOS ÍNDIOS

A Slate tem um artigo muito interessante sobre questão de se escrever sobre uma falsa identidade. Neste caso, o autor debate os problemas que os escritores se debatem (e os preconceitos que enfrentam) quando fingem ser "índios" ou First Nations (ou Native Americans).
Vale a pena sublinhar esta frase do artigo:
"Hemingway once wrote what he called the shortest story ever written: "For sale: baby shoes, never worn." But I can think of one shorter by five words: "Indian." Wrapped up in that one word is a host of associations, images, and ideas, but primary among them is tragedy."

07 janeiro 2008

A FACE OCULTA DAS AMÉRICAS

O DN tem hoje uma notícia curiosa sobre uma face da América do Norte (EUA e Canadá) menos conhecida. Cansados "de viver num sistema colonial de apartheid" (segundo eles), a nação Lakota tenciona negociar a independência dos Estados Unidos, reclamando um território que inclui partes das duas Dakotas, do Nebraska, e secções do Wyoming e Montana.
É duvidoso que os Lakota tentem e, principalmente, alcancem a almejada independência. No entanto, esta é claramente uma estratégia que pode resultar nas concessões que os Lakota podem obter do governo federal e dos diversos estados, principalmente a nível territorial.
Nos últimos anos, várias nações indígenas (chamadas First Nations no Canadá e First Americans nos Estados Unidos) têm negociado e alcançado tratados com os governos federais, provinciais e estaduais, que lhes concedem uma maior autonomia na gestão e governo de vastos territórios. Apesar de uma certa celeuma e de todas as vozes dissonantes, esta é uma tendência a saudar. Vale a pena recordar a tragédia que a chegada dos Europeus representou para os primeiros habitantes das Américas. Uma tragédia que hoje consideraríamos um genocídio, pois nalgumas regiões mais de 90 por cento da população indígena sucumbiu às armas, aos germes (principalmente) e ao aço dos Europeus (como Jared Diamond tão bem argumenta no seu magistral Guns, Germs and Steel).
Depois do extermínio veio a assimilação forçada, a discriminação (mesmo oficialmente até aos anos 60 no Canadá), o racismo, e o isolamento nas reservas. O resultado foi uma quase total alienação das populações indígenas do resto da população. O resultado foi o alcoolismo. Os abusos. A pobreza extrema. O isolamento. Ir a uma grande maioria das reservas indígenas quer nos Estados Unidos e no Canadá é entrar noutro mundo, num sub-mundo, num terceiro-mundo.
A verdade é que mais do que os Afro-americanos, mais do que os Hispânicos, os First Americans e os First Nations são os grandes segregados das sociedades norte-americanas. Como referi anteriormente, se Obama ganhar a nomeação dos Democratas ou a presidência americana será uma grande vitória do lado bom da humanidade . O dia em que um First American ou um First Nation for eleito para um alto cargo das nações americanas, teremos finalmente enterrado os fantasmas da tragédia que começou com a chegada de Colombo às Américas.