24 novembro 2008

A RECEITA MÁGICA DO INVESTIMENTO PÚBLICO

O meu artigo do PUBLICO da última sexta-feira:
Numa altura em que muitas das economias da OCDE já entraram em recessão, parece quase inevitável que, mais cedo ou mais tarde, o mesmo irá acontecer à economia portuguesa. É só uma questão de tempo. Ora, como o investimento público costuma ser a receita mais utilizada para combater recessões, à primeira vista poderia parecer que a melhor maneira de estimular a economia passaria pela aposta nos grandes projectos de investimento já projectados. Nada poderia estar mais errado. Por mais que os nossos políticos nos queiram convencer do contrário, o investimento público não é uma receita mágica para a retoma económica. Muito menos no Portugal actual. Desde a nossa adesão à Comunidade Europeia todos os governos têm apostado na modernização das infra-estruturas nacionais. Ainda bem, pois Portugal registava atrasos consideráveis em relação a outros países europeus. Hoje isso já não se passa. Bem pelo contrário.
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No entanto, a política de betão tem sido tão utilizada (e abusada) que já começam a haver indícios de um efeito de saturação do investimento público. Afinal, construir uma segunda auto-estrada entre Lisboa e o Porto não tem o mesmo impacto do que a construção da A1. Por outras palavras, há claros rendimentos decrescentes associados ao aumento do investimento público. É exactamente isto que nos indicam vários estudos académicos recentes. Claro que nem todos os projectos de investimento têm o mesmo impacto. No entanto, antes de continuar a teimar na miragem da Alta Velocidade, convém lembrar que só a ligação do TGV entre Lisboa e Porto irá custar tanto como o volume de negócios anual do grupo Sonae, um dos maiores do país. Isto na melhor das hipóteses. Será que não conseguíamos arranjar melhores soluções para montantes dessa envergadura? Parece-me que sim. E assim urge perguntar: qual é a alternativa ao investimento público? Ajudar as famílias e as empresas portuguesas, quer apoiando-as directamente na renegociação das suas elevadas dívidas junto dos bancos, quer através da introdução de maiores benefícios e reduções fiscais. Igualmente, em vez de embarcar na loucura financeira do TGV, apoiemos os nossos inovadores e empreendedores, e melhoremos os sistemas de incentivos à dinâmica empresarial. Apoiemos os nossos exportadores, não só através da concessão de incentivos e prémios de desempenho, como também através de generosos incentivos fiscais.
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Não tenhamos receio de quebrar imposições comunitárias limitadoras da ajuda estatal às empresas inovadoras, pois, nestes tempos recessivos outros estados-membros também o farão. E mesmo se continuarmos a pensar que a recessão tem que ser combatida com o aumento do investimento estatal, então concentremo-nos em projectos de rentabilidade menos duvidosa. Construamos mais hospitais, melhores escolas, melhores acessibilidades para o interior esquecido pelo poder central. Utilizemos parte dos 4,5 mil milhões de euros destinados à ligação Lisboa-Porto para atrair mais empresas de alto e médio valor acrescentado, para melhorar a competitividade fiscal das empresas, para reciclar os conhecimentos dos trabalhadores desempregados, e para conceder vantagens financeiras às empresas que se localizem nas nossas regiões deprimidas. Mais do que o Sebastianismo do TGV, mais do que o faraonismo da Alta Velocidade, mais do que a varinha mágica ilusória do investimento público, a crise terá que ser vencida com o condão do empreendedorismo e da inovação nacionais. Cabe ao Estado proporcionar as condições para que tal aconteça.

18 novembro 2008

COMBATE À CRISE

Se todos concordamos que não há receitas mágicas para a retoma económica, quererá isso dizer que não há esperança para sairmos da crise? Estaremos condenados permanecer nesta pasmaceira económica que tem aumentado o desemprego e o mal-estar social? Será que temos que nos contentar em permanecer com uma produtividade sofrível, empresas pouco competitivas e um crescimento económico irrisório? Claro que não. Por isso, temos que pensar como é que vamos reanimar a economia. O que fazer? Podemos aumentar as exportações, fomentar o investimento ou utilizar a política fiscal (i.e., gastar mais ou cobrar menos impostos). A curto prazo, pouco podemos fazer para aumentar a procura externa. As exportações dependem não só da competitividade dos nossos produtos, mas também de muitos outros factores, nem todos controláveis. Por outro lado, o investimento público também não será suficiente para a retoma. Por isso, só nos resta a política fiscal.

17 novembro 2008

OS MITOS TAMBÉM SE ABATEM


Um novo documentário do cineasta Can Dündar revela o fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Atatürk, de uma forma inédita. O filme tem dado azo a um enorme debate na Turquia, um sinal que o país está a mudar e que até os símbolos como Atartuk já não são tão sagrados como já foram. Espere que chegue às nossas salas de cinema também.

OS MINÉRIOS E A GUERRA


O New York Times tem hoje um artigo que apresenta alguma das razões para a persistência da guerra no Congo. Uma das principais são os minérios, assim como ver nesta interessante foto-reportagem. Como acontece frequentemente, nos países pobres as riquezas naturais são mais uma maldição do que uma vantagem.

RECESSÃO NO JAPÃO

Como tantas outras economias da OCDE, também o Japão já entrou em recessão técnica.

SEMANA DO EMPREENDEDORISMO

Esta é a Semana Global do Empreededorismo. Uma iniciativa louvável que conta com a colaboração do Empreendedorismo.pt, do IDI - Instituto de desenvolvimento e Inovação e da Sedes. Uma iniciativa que devia ser repetida e imitada no nosso país. Mais do que TGVs ou uma nova política de betão, o futuro da economia portuguesa depende da melhoria dos índices de empreendedorismo nacional.

OBAMA E O DÉFICE ORÇAMENTAL

Na sua primeira entrevista depois de ter sido eleito presidente dos Estados Unidos, Barack Obama afirmou que agora não é a altura de se ser comedido em relação ao défice orçamental. Obama disse: "We're going to have to spend money now... And that we shouldn't worry about the deficit next year or even the year after; that short term, the most important thing is that we avoid a deepening recession."
Ou seja, Obama não sofre do fundamentalismo do défice que contagiou a Comissão Europeia. Ainda bem. Note-se que Obama não exclui um retorno ao equilíbrio orçamental a médio prazo. No entanto, esta não é a altura para nos preocuparmos com isso.

14 novembro 2008

CHINA ABRANDA

Já há quem diga que a China já encerrou cerca de 100 mil fábricas nos últimos meses e que o desemprego tem aumentado exponencialmente. O governo chinês está de tal modo preocupado com a crise internacional que lançou um plano de estímulo económico no valor de quase 600 mil milhões de dólares, um valor enorme para aquela economia asiática.
Ainda assim, apesar de ter abrandado, o PIB cresceu 8,2% (taxa anualizada) em Outubro. Seria bom que conseguíssemos abrandar assim, não?

RECESSÃO EUROPEIA

A recessão já chegou oficialmente à Alemanha e, provavelmente, à Zona Euro. Hoje serão divulgados os números do PIB da França, da Espanha, da Itália e da Eurolândia. A economia alemã contraiu 0,5% no terceiro trimestre (e o,4% no segundo) e, por isso, já está em recessão técnica.
A França escapou à recessão técnica ao crescer o,14% no terceiro trimestre (depois de uma contracção de 0,2% no segundo trimestre). Fraca consolação certamente.
Mais logo saberemos os dados os restantes países. Uma coisa é certa. A recessão europeia já está definitivamente aí. Veremos se a Comissão Europeia manterá o fundamentalismo do défice.

13 novembro 2008

GRANDES PROJECTOS

Só agora é que dei conta deste post (que já tem alguns dias) de Luís Campos e Cunha, mas vale a pena ver, assim como a discussão que se segue

12 novembro 2008

DIFERENÇAS ENTRE MULHERES E HOMENS

O World Economic Forum acabou de publicar o seu "Gender Gender Gap Index" para 2008, onde se avalia as diferenças salariais e educativas (e de acesso à saúde) entre os homens e as mulheres de diversos países. Portugal aparece em 39º lugar entre 130 países. A crer no relatório, nos últimos anos, a posição das mulheres em Portugal tem-se deteriorado nos últimos anos (pelo menos em termos relativos). Pelo que parece, a crise tem afectado mais as mulheres do que os homens. Os piores indicadores são os das mulheres em posições ministeriais (onde Portugal aparece em 78º lugar) e em termos de literacia (78º lugar). Mais uma vez são as nossas carências educativas. Os dados completos podem ser vistos aqui.
Já agora, a Noruega é o país onde existe mais igualdade entre as mulheres e os homens.

O CONSELHO NA CRISE

Paul Krugman, o prémio Nobel da Economia de 2008, tem o seguinte conselho para a nova administração americana:
"My advice to the Obama people is to figure out how much help they think the economy needs, then add 50 percent. It’s much better, in a depressed economy, to err on the side of too much stimulus than on the side of too little."

10 novembro 2008

AS NOVAS MALDIVAS


As Maldivas, o país mais ameaçado pela subida dos níveis dos mares associada às alterações climáticas, começaram a tomar medidas para prevenir o seu desaparecimento. Como? Através da construção de diques? De novas barreiras? Da drenagem de terrenos? Não.
Como o ponto mais alto das Maldivas é apenas 2,4 metros acima do nível do mar, tais medidas não surtirão grande efeito se as previsões das alterações se concretrizarem. Por isso, o novo presidente das Maldivas optou por seguir uma outra estratégia: comprar terra noutro país. Devido à afinidade cultural, a Índia e Sri Lanka são os principais candidatos para se tornarem numa nova terra prometida para este país com 300 mil habitantes.

O NOVO BAILOUT DA AIG

Pelo que parece, 123 mil milhões de dólares não chegaram para resgatar a maior seguradora mundial. Já se fala num novo bailout...

OS INOCENTES DO CONGO

Começam a surgir fortes indícios que a nova guerra da DR Congo está a seguir o mesmo caminho do conflito que o precedeu. Na primeira guerra, cerca de 5 milhões de pessoas morreram directa ou indirectamente por causa do conflito.
Nesta nova guerra, já há dezenas de milhares de desalojados e doenças como a cólera ameaçam milhares e milhares de inocentes. Mais uma vez, o mundo continua praticamente impávido.

MIRIAM MAKEBA

Uma das rainhas da música africana, Miriam Makeba, faleceu inesperadamente aos 76 anos enquanto se encontrava em digressão em Itália. Makeba foi uma das vozes africanas mais influentes dos últimos 50 anos e uma das maiores representantes da chamada World Music. O mundo da música está hoje mais pobre.

09 novembro 2008

TROPAS ANGOLANAS NO CONGO

Tropas angolanas começaram a apoiar logisticamente o exército da República Democrática do Congo. O conflito internacionaliza-se, assim como aconteceu na primeira guerra do Congo.

AMOR NA CASA BRANCA

O Observer tem hoje um interessante artigo sobre a forte relação entre Barack e Michelle Obama. Aqui vai um cheirinho:
"Together, they present the most collaborative, romantic, intelligent and relaxed couple that has ever been anywhere near the White House."

VITÓRIA DA HUMANIDADE


ISLÂNDIA EM QUEDA LIVRE

A Islândia continua a sofrer os efeitos da crise financeira. A inflação já chegou aos 16%, o desemprego sobe em flecha, os salários baixam e a krona já desvalorizou 100% este ano. E para a Islândia, o país mais afectado pela crise financeira, o pior ainda pode estar para vir.

07 novembro 2008

JUROS E RECESSÃO

Os sintomas de recessão agravam-se. O FMI prevê que a Europa e o Japão se vão contrair em 0,3% no próximo ano, mas ninguém ainda tem a certeza do que realmente irá aocntecer.
Os principais bancos centrais europeus decidiram seguir o exemplo da Fed, cortando as taxas de juros de referência a um ritmo pouco usual. O BCE baixou as taxas de juros em 0,5 pontos percentuais, enquanto o Banco de Inglaterra surpreendeu tudo e todos e cortou as taxas de juros em 1,5 pontos percentuais. O que é que isto quer dizer? Que os bancos centrais estão convencidos que já estamos em recessão e que esta vai ser significativa. Claramente é isto que o Banco de Inglaterra (habitualmente extremamente conservador) acredita. Na Eurolândia, as notícias também não são animadoras. Claro que nem tudo é mau. A baixa dos juros irá ser uma autêntica lufada de ar fresco para milhares de famílias sobre-endividadas. E para o mercado imobiliário também.
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Hoje são publicados os números do emprego americanos. Os mercados prevêem que 200 mil pessoas tenham perdido os seus empregos em Outubro. Veremos se estes números não são ainda mais dramáticos.

NOVA IORQUE EM RECESSÃO

Os sintomas da recessão já chegaram a Nova Iorque. Não é de estranhar visto que a Big Apple é o centro financeiro mundial.

OBAMA E A ECONOMIA

Perguntas do PUBLICO sobre o impacto económico da vitória de Obama:
- Quais os principais desafios que Barack Obama enfrenta, enquanto presidente dos EUA, no domínio económico?
ASP: A primeira tarefa é claramente garantir a estabilidade dos mercados financeiros.
O segundo grande desafio será o combate à recessão. Como a economia americana (e mundial) foi atingida por dois enormes choques nos últimos meses (primeiro um choque petrolífero e a maior crise financeira desde os anos 1930), é muito provável que esta seja a recessão mais severa das últimas duas décadas. Este será assim o principal desafio do novo presidente americano.
Finalmente, a nova administração americana terá que lidar com o impacto da crise imobiliária que grassa em todo o país.
- Que propostas já apresentou para enfrentar cada um desses desafios? Como avalia essas propostas? Serão todas realistas?
ASP: Em relação à estabilização dos mercados financeiros não haverá grande disputa. É provável que quanto tomar posse, a 20 de Janeiro, Obama irá trabalhar com o novo Congresso para aumentar a regulamentação e a supervisão dos mercados financeiros. Igualmente, se necessário, Obama apresentará um novo pacote de medidas destinado a reforçar a estabilidade das instituições financeiras nacionais.
Certamente que a nova administração irá ser bastante agressiva no combate à recessão, por forma a minimizar os efeitos económicos, principalmente no que diz respeito ao desemprego. Como é que o fará? Quer através do corte de impostos para a grande maioria dos americanos, quer através da introdução do maior pacote de construção infra-estruturas e outras obras públicas das últimas décadas. Obama já prometeu que isso irá acontecer. O défice orçamental e a dívida pública aumentarão, mas isso não constituirá problema de maior. Contrariamente à Comissão Europeia, Obama não é um fundamentalista do défice orçamental.
Finalmente, a crise imobiliária (que está na origem da crise financeira) será atacada quer através de uma moratória de 90 dias nos processos de falência imobiliária (já prometida), quer através da ajuda temporária aos particulares mais afectados.
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- Considera que Obama está preparado para combater a turbulência financeira que se instalou nos EUA e no mundo?
ASP: Penso que sim, mas tudo dependerá da equipa económica com que Obama se vai rodear. Avalizando pela sua equipa de conselheiros económicos, considero que é bastante provável que a nova administração irá ser suficientemente competente para combater a turbulência financeira (em claro contraste com a administração Bush).
- Como avalia a reacção do senador quando a crise despoletou?
Obama teve a reacção mais sensata, a reacção que era preciso ter num momento de tanta volatilidade. Isto é, ouvir os seus conselheiros económicos e não se precipitar num momento tão instável. Aliás, se há dois momentos decisivos nestas eleições são exactamente a escolha de Sarah Palin por McCain (que se revelou desastrosa), e a reacção dos dois candidatos perante a crise financeira. Em todo este processo, Obama manteve uma calma e uma prudência admirável, enquanto McCain disparou para todos os lados e para lado nenhum. McCain foi errático enquanto Obama foi consistente e coerente. E isso foi um dos factores que deu a vitória a Obama.
- Obama desde cedo se rodeou de conselheiros para a área da economia. Numa das primeiras reuniões de emergência para lidar com a crise, foram 12 os especialistas convocados. Terá sido esta uma das armas mais importantes do senador?
ASP: Sem dúvida. Obama tem demonstrado em toda a sua vida pública que valoriza imenso o diálogo, bem como a necessidade de se rodear de especialistas das diversas matérias. Ouvir os outros é uma das suas qualidades e uma das suas armas mais importantes. Mais do que uma ideologia cega e obstinada (como Bush), Obama é um pragmático incorrigível.
- De entre esses especialistas, contava-se Paul Volcker, antigo chairman da Reserva Federal norte-americana. Os jornais dão conta de uma grande ligação entre as ideias de Volcker e as políticas de Obama. Concorda?
É verdade que existe uma ligação entre as ideias de Volker e as políticas expressas por Obama. Porém, a idade de Volker (71 anos) poderá ser um impedimento para que ele se torne Secretário de Estado. Como também existe uma boa ligação entre Larry Summers (o último Secretário do Tesouro de Bill Clinton) e Obama, é muito provável que a equipa de transição económica inclua esses dois conselheiros e que um deles (provavelmente Summers) seja nomeado o novo Secretário do Tesouro
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- Também Warren Buffet fazia parte desse grupo. Até que ponto foi importante para Obama incluir o multimilionário norte-americano no mapa de conselheiros económicos?
ASP: A inclusão de Buffet foi importante não só pelas suas qualidades como conselheiro económico, mas também para mostrar que Obama tinha ao seu lado alguns dos gestores mais ricos e influentes (como Bufett e o CEO da Google) do país.
- Acredita que um desses conselheiros (poderá vir a ser nomeado secretário do Tesouro norte-americano? Se sim, qual e porquê?
ASP: Sim, Larry Summers, porque não só partilha da ideologia económica de Obama (quiçá com a excepção da necessidade de um maior proteccionismo económico defendido pelo novo presidente), mas também tem um bem precioso nos tempos que correm: experiência. Summers conhece bem os corredores do poder e, por isso, poderá ser a opção ideal para a situação actual.
- Que tipo de pessoa deverá escolher Obama para esse cargo?
ASP: Penso que Obama deve escolher um especialista com alguma experiência de governação e com sentido pragmático. É por isso que Summers faz tanto sentido.

BEBÉ OBAMA

Os nomes mais populares no Quénia para os recém-nascidos são Barack e Michelle Obama.

06 novembro 2008

A BASE DE OBAMA

Por ser Afro-Americano, há por vezes a ideia que Obama ganhou por causa do voto negro. Porém, tal não é inteiramente verdade. Se é certo que o voto negro aumentou em relação a 2004, a subida não foi extremamente significativa (de 11 para 13% do total).
Em segundo lugar, um facto notável é que Obama foi o Democrata que recebeu mais votos do eleitorado branco desde Jimmy Carter em 1980, tanto a nível relativo como absoluto. Ou seja, Obama teve mais votos do eleitorado branco do que Kerry, Gore, Clinton (2 vezes), Dukakis, e Mondale.
  • Mais: dois terços dos latinos e dos asiáticos votaram em Obama. Dois terços dos jovens votaram em Obama. Obama ganhou em todas as idades, com excepção do segmento mais velho.
  • Obama foi o único Democrata desde Carter a ganhar mais de 50% dos votos. Nem Clinton o conseguiu.
  • Obama ganhou com mais de 8 milhões de votos de diferença, equivalente a 6 ou 7 pontos percentuais de diferença.
  • Finalmente, esta foi a eleição com maior participação eleitoral das últimas 5 décadas.
  • Obama vencer em 8 estados que Bush tinha ganho, incluindo a Carolina do Norte, Indiana e Virgínia, onde os Republicanos já ganham há décadas.
Se isto não é uma vitória contudente, eu não sei o que é.
Aqui estão alguns dos resultados (retirados da CNN):
VOTOS PARA OBAMA, POR RAÇA:
Branco 43%
Afro-Americano 95%
Latino 67%
Asiático 62%
Outro 66%
Por outro lado, dois terços dos jovens votaram em Obama
VOTOS PARA OBAMA POR IDADE:
18-29: 66%
30-44: 52%
45-64: 50%
65 ou mais: 45%

OBAMA, O ANTI-CRISTO

Como já aqui falámos, há um enorme número de fundamentalistas que têm inventado as mais mirambolantes teorias de conspiração sobre Obama e têm espalhado as mais inacreditáveis mentiras sobre o novo presidente americano. Entre outras, os fundamentalistas têm acusado Obama de ser diferente (i.e. negro), muçulmano, marxista, de ter estudado numa madrasa na Indonésia, de ser filho de Malcom X (!!!), e até de ser o Anti-Cristo.
Porém, não se pense que estas pseudo-teorias e falsidades se limitam aos Estados Unidos. Assim, nos últimos dois dias este blog tem recebido literalmente centenas de visitas (principalmente do Brasil, mas também de Portugal) por causa deste post, onde se falou da tentativa de demonização de Obama por parte dos fundamentalistas. Enfim... Quando os que ganham são diferentes e não partilham necessariamente a nossa ideologia política, não é dificil apelar aos nossos sentimentos mais primários e irracionais para espalhar o medo, a ignorância e o fundamentalismo.

OBAMA PRESIDENTE (4) _ Reacções

A alegria de Christine King Farris, irmã de Martin Luther King


Fotos retiradas do The Guardian

AS FACAS

Um dia após a eleição, as facas republicanas já começam a aparecer. É cada vez mais notório o erro tremendo cometido por McCain ao escolher Palin para a sua equipa. Palin foi escolhida para agradar aos conservadores do Partido Republicano e porque era uma mulher (atraindo assim as apoiantes de Clinton). Incrivelmente, McCain e os seus ajudantes não fizeram nenhum esforço para tentar perceber se Palin estava ou não preparada para o desafio. Não estava. Nem nada que se pareça. Ontem a Fox News (extremamente conservadora) noticiou que antes dos debates Palin não sabia quem eram os países pertencentes à NAFTA (EUA, Canadá e México) e pensava que África era um país... Já imaginaram o que é que seria se esta senhora tivesse ganho as eleições numa equipa de um senador de 72 anos com antecedentes de melanoma maligno com 4 recidivas. Como dizem os americanos, scary!
Aqui está o comentário do reporter da FOX:
"We’re told by folks that she didn’t know what countries that were in NAFTA, the North American Free Trade Agreement, that being the Canada, the US, and Mexico. We’re told she didn’t understand that Africa was a continent rather than a country just in itself ... a whole host of questions that caused serious problems about her knowledgeability. She got very angry at staff, thought that she was mishandled..."

05 novembro 2008

UM MOMENTO HISTÓRICO

O mundo mudou. Para melhor. Para muito melhor. Não porque Obama irá levar a América à terra prometida (como ele gosta de afirmar). Não porque Obama mudará o mundo de uma forma radical. Não porque Obama irá erradicar as distinções ideológicas e rácicas que dividem a América. O mundo mudou para melhor, porque hoje todos demos um passo de gigante no sentido de uma maior harmonia, no sentido de existirem oportunidades para todos, no sentido de um maior respeito próprio. A humanidade deu um passo de gigante no sentido do progresso. Num país onde há menos de 40 anos ainda havia segregação e racismo institucionalizado, é admirável que uma pessoa como Obama tenha sido eleito para o mais alto cargo do país. Para o cargo mais poderoso de todo o planeta.
À primeira vista, Obama parecia tudo menos um candidato à presidência da América. É negro, filho de um africano, foi criado por uma mãe solteira e por uma avó, tem Hussein no seu nome (numa altura em que as repercussões do 11 de Setembro ainda estão bem presentes), é originário do longínquo Hawai, cresceu na Indonésia, e tem pouca experiência. Por isso, a tarefa de Obama parecia impossível.
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Porém, a fé de Obama permaneceu inabalável. E perseverou contra todas as adversidades e dificuldades. Ganhou aos grandes favoritos, derrotando McCain (um herói da guerra do Vietname) e Hillary Clinton. Como é que o conseguiu? Com a sua calma contagiante e com a sua oratória inspiradora. Sinceramente, nunca vi nem nunca ouvi um líder político tão talentoso e tão entusiasmente. Collin Powel chamou-o "transformational". Sem dúvida alguma. Obama é um daqueles raros políticos que nos fazem voltar a acreditar em nós próprios e na humanidade. Nos tempos modernos, talvez só Nelson Mandela se possa comparar a Obama.
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Certamente que Obama fará e cometerá muitos erros. Felizmente, Obama não é perfeito. Mesmo assim, tenho a certeza absoluta que dentro de umas décadas olharemos para trás e diremos aos nossos netos que foi neste dia que as últimas barreiras raciais foram derrubadas, foi neste dia que os americanos mostraram ao mundo que as oportunidades são mesmo para todos, independentemente da cor da sua pele. E por isso devemos estar todos agradecidos a Obama e aos Estados Unidos.

OBAMA PRESIDENTE (3) _ Reacções

É raro concordar com o que The Sun diz. No entanto, hoje acertaram em cheio:


PRESIDENTE OBAMA (2) _ Reacções


John McCain foi gracioso no seu discurso. Congratulou Obama pelo feito histórico e afirmou alto e a bom som que Obama era o "meu" presidente. O velho McCain finalmente regressou. Demasiado tarde para as eleições, mas regressou.

PRESIDENTE OBAMA _ Reacções


Uma das imagens mais marcantes do discurso de Obama foi protagonizada por Jesse Jackson. Ver chorar um político como Jackson é verdadeiramente revelador do quão histórica foi esta eleição. Admirável.

PRESIDENTE OBAMA

A família do novo presidente dos Estados Unidos da América.

04 novembro 2008

UM DIA HISTÓRICO (6)

Um testemunho de um eleitor no estado tradicionalmente Republicano retirado daqui:
"I live in Lincoln, Nebraska, the heart of one of the reddest states in the country. I have voted in the same polling location for the last 8 years. Every election, my wife and I are the first two people at the poll when it opens (we like to vote immediately). Today, when we arrived a half-hour before the polling place opened, there were already fourteen people in line. The poll workers were astonished, my wife and I were shocked – and the line kept growing. When we left, after voting, the line was longer than it was when we got there. This has never happened before.
Ahead of us in line was three-generations of an African American family. It was the first time voting for all three of them. The youngest, who graduated high school last year, was calling his friends and getting them out of bed while we waited in line. He was describing the polling place and giving directions for getting there. After he voted, he had probably the biggest grin I’ve ever seen."

UM DIA HISTÓRICO (5)

Com tem acontecido nos últimos dias nos estados onde era possível votar antecipadamente, as filas para votar nas eleições americanas são verdadeiramente históricas. As pessoas esperam horas e horas a fio para votarem. Muitas destas imagens podiam ser de Portugal logo após o 25 de Abril, da África do Sul pós-apartheid ou noutro país onde os cidadãos votam pela primeira vez. Mas não são. São da mais antiga democracia do mundo, onde o entusiasmo é contagiante, onde a esperança e a vontade de mudança são as palavras de ordem. Aqui estão umas imagens de Virginia (em cima) e de e de Filadélfia.







A INCOERÊNCIA DA COMISSÃO

A Comissão Europeia reconhece que Portugal pode entrar em recessão ainda este ano. Mesmo assim, Joaquin Almúnia continua a insistir que o fundamentalismo do défice seja cumprido. Enfim. Entretanto, os franceses já vieram avisar que não irão cumprir a meta dos 3% do PIB pelo menos nos próximos dois anos. Certamente que Almúnia não será tão intransigente com Sarkozy e com a França. É que na União Europeia todos são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros.

UM DIA HISTÓRICO (4)

Um dos mais interessantes textos de apoio à candidatura de Obama foi escrito por um blogger conservador (que votou em Bush em 2000). Andrew Sullivan tem um dos melhores blogues políticos na América e é um dos locais que vale a pena visitar neste dia eleitoral.

UM DIA HISTÓRICO (3)

Como é tradicional, os primeiros resultados das eleiçôes vêm da pequeníssima localidade de Dixville Notch em New Hampshire. Tradicionalmente Republicana, Barack Obama ganhou com 15 votos contra 6 de McCain. Nenhum Democrata ganhava desde 1968. Não é significativo, mas é bastante simbólico.

UM DIA HISTÓRICO (2)

Um dia antes do seu neto ser eleito para a presidência do país, a avó de Barack Obama morreu aos 86 anos vítima de doença prolongada. Um momento trágico para a família Obama um dia antes de um dia histórico. Antes de falecer, Madelyn Dunham ainda conseguiu votar por correspondência.

UM DIA HISTÓRICO

É hoje.

03 novembro 2008

ALMÚNIA, O SUPREMO FUNDAMENTALISTA

É impressionante. Portugal e a economia europeia estão prestes a entrar em recessão técnica. E o que é que faz a Comissão Europeia para ajudar? Insiste no cumprimento do moribundo Pacto de Estabilidade. Segundo o PUBLICO, "O comissário europeu para os Assuntos Económicos, Joaquín Almunia, disse hoje em Bruxelas que "há tempo mais que suficiente" para Lisboa tomar medidas que evitem que Portugal volte a registar um défice orçamental acima dos três por cento do PIB em 2010 e, que nesse caso, violaria o Pacto de Estabilidade e Crescimento."
Almúnia é o maior fundamentalista do défice do mundo, o recordista mundial do irrazoabilidade económica. Será que é preciso pensar muito para perceber que esta não é a altura para pensar em fundamentalismos ideológicos? Será que Almúnia não acha que 7 anos de crise em Portugal não chegam? Será que Almúnia (e Barroso) não vêem que tal atitude fundamentalista só diminui o respeito que os cidadãos têm por Bruxelas? Será que Almúnia não percebe que essa atitude fundamentalista só prejudica Bruxelas (para além dos Estados-membros). Enfim. Ridículo.

ÚLTIMO DIA

Hoje é o último dia da looooooooooooonga campanha eleitoral americana. Sem dúvida uma das melhores de sempre (não sou eu quem o diz, mas sim a grande maioria dos analistas) e uma das mais interessantes. Parece inevitável que Obama vai ganhar. E provavelmente com bastante vantagem. Pelo menos é isso que dizem as últimas sondagens (que pode ver aqui). Amanhã será um dia histórico. Um daqueles dia que faremos questão de contar aos nossos filhos e netos. Um dia em que a humanidade mostrará o seu melhor e o quanto progredimos nas últimas décadas. Não acho que Obama "mudará" o mundo. Mas que o mundo ficará melhor não tenho dúvidas. Não vejo a hora para que tal aconteça.

02 novembro 2008

NACIONALIZAÇÃO DO BPN

Ainda não se conhecem todos os detalhes, mas o BPN acaba de ser nacionalizado pelo governo. Sinceramente não me surpreende que uma instituição bancária portuguesa seja nacionalizada (e que tal seja feito num domingo, quando os mercados financeiros estão encerrados). Se o mesmo aconteceu nos EUA, na Alemanha, no Luxemburgo, na Islândia, na Bélgica e na Holanda (entre outros), porque é que Portugal seria uma excepção? Em quase todos os países, há e havia bancos expostos aos activos financeiros "tóxicos" dos mercados imobiliários e financeiros americanos. Por isso, não é de espantar que as instituições financeiras nacionais tenham sido expostas também. Veremos se o BPN é o único a ser nacionalizado.
O que, mais uma vez, esta decisão demonstra é que a privatização da Caixa Geral de Depósitos é uma carta fora do baralho da política económica nos próximos anos, quiçá mesmo décadas. Para além do hipotético risco financeiro para o sistema bancário nacional que uma privatização da CGD acarretaria, não há dúvidas que dá mesmo jeito ter uma CGD à mão para ajudar quando as coisas não correm bem.