29 agosto 2008

OBAMA, OBAMA


Mais um discurso memorável de Barack Obama. Perante 85 mil pessoas num estádio em Denver e milhões de outras nos ecrãs da televisão, Barack Obama proferiu um dos melhores discursos dos últimos tempos. Não sou eu que o digo, mas sim practicamente a maioria dos analistas americanos. Até Pat Buchanan, conhecido analista e político da direita mais extremista, afirmou que o discurso de Obama foi o melhor que algum dia ouviu numa convenção partidária. Aqui está a reacção do New York Times e aqui a do Washington Post.
O ataque a McCain foi cerrado, e poucos assuntos foram negligenciados. Dos planos de saúde para todos, dos direitos das mulheres ao direito de ter armas, até à discriminação contra pessoas de diferente orientação sexual, Obama surpreendeu os analistas pelo seu arregaçar das mangas e atacar os republicanos em todos os princípios que defendem. Toda a gente sabia que Obama é um orador excepcional. Mas hoje Obama transcendeu-se e deu um passo de gigante para se tornar no próximo presidente dos Estados Unidos.
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Obama é tão bom que às vezes é fácil esquecer o significado histórico dos últimos dias. Pela primeira vez na história da América e do mundo ocidental, um negro é candidato à liderança de um dos maiores partidos de um país. A América continua a dar o exemplo. Não é à toa que se viu tanta gente a chorar quando Obama foi nomeado, quando Michele Obama deu um discurso extraordinário e quando Barack proferiu o discurso de hoje.
Para perecebermos o quão importante foi para tanto e tanto afro-americano, vale a pena ler este artigo de opinião no Washington Post.

27 agosto 2008

A REPROVAÇÃO DOS PORTUGUESES


Estas são as taxas de reprovação e desistência escolar em Portugal (clique no quadro para ver melhor), segundo o Ministério da Educação. Se reparar com atenção, verá que, nos últimos 2 anos, houve uma redução de 30 por cento na taxa de insucesso e desistência escolar, sem que haja razão aparente. Hmmmm.... Mistérios... Apesar deste milagre estatístico, os nossos indicadores de retenção dos alunos continuam dos mais altos de toda a OCDE. E uma das nossas vergonhas, sem dúvida alguma.

OBSTÁCULO AO CRESCIMENTO

O que a OCDE pensa do nosso sistema educativo. Andamos há décadas a apaixonarmo-nos pela Educação, mas as nossas insuficiências persistem:
"The lack of human capital in Portugal has become a key obstacle to higher growth... Despite progress in the past decades, Portuguese children spend comparatively few years in formal education, and they do not perform as well as children from other OECD countries. Adults, especially the least educated, do not participate enough in lifelong learning and training programmes. This situation does not stem from a lack of resources devoted to education and training but from inefficiencies and misallocation of spending, and weaknesses in the quality of the services that compound the low starting point of Portugal regarding education. Modernizing the Portuguese economy therefore requires a broad reform which increases human capital at all levels."

25 agosto 2008

MAIS UMA APOSTA NA EDUCAÇÃO

O governo anunciou hoje que o próximo orçamento de Estado irá, mais uma vez, dar prioridade à Educação e à Ciência. Aí vem mais dinheiro para essas áreas. Não sou contra, mas vale sempre a pena lembrar que já não gastamos pouco com a Educação. Em percentagem do PIB, gastamos tanto como a média da OCDE, o clube dos países ricos e mais do que a Coreia do Sul, a Alemanha ou a Espanha. Fundos adicionais podem ajudar, mas não é o que mais precisamos. No ensino superior, vale a pena recordar que há gente a mais em muitas universidades, não a menos. O problema é que uma parte dos professores e investigadores não faz nada ou muito pouco.
Se queremos mesmo tornar Portugal num país com qualidade educativa, num país que recompensa a investigação, o mais importante é mudar as regras dentro das instituições, não necessariamente contratar mais gente ou arranjar mais fundos. Entre as medidas que fariam muito mais pela qualidade de ensino do que uns milhões de euros adicionais incluem-se:
  • Acabar com os numerus clausus dos diversos graus da carreira docente
  • promover a concorrência entre as universidades,
  • acabar com o compadrio escandaloso nos concursos de recrutamento de docentes, promover a meritocracia (em que os professores são recompensados pela investigação e pela qualidade da docência que fazem),
  • acabar com alguns dos privilégios medievais dos professores,
  • acabar com a excessiva permissividade das épocas de exames
  • avaliação dos professores

Ou seja, para alcançarmos a tão almejada qualidade na Educação é mais importante alterar os incentivos da docência dos alunos e dos professores do que injectar centenas de milhares de euros adicionais para o sector.

O GRANDE CIRCO

Hoje começa em Denver a convenção Democrata que irá nomear formalmente Barack Obama como o candidato Democrata às eleições presidenciais de Novembro. A convenção promete animada, até porque as convulsões das primárias ainda se fazem sentir. Os Clintons continuam convencidos que deviam ter uma maior voz no partido e, por isso, os seus partidários podem estar tentados a fazer um golpe de teatro qualquer. Há bastante gente no campo Hillary que não ficou satisfeita com a forma como Clinton foi tratada por Obama na escolha do candidato à vice-presidência (soube-se que Obama provavelmente não a considerou para o cargo). Assim, não será totalmente surpreendente se alguma surpresa acomtecer. Se o fizerem, claramente só estarão a arranjar lenha para queimar Obama e, por consequência, o seu partido. Já há muito se sabia que nestas eleições o principal inimigo do partido Democrata era o partido Democrata. Nos próximos dias veremos.

A BELEZA DAS FREIRAS

Um sacerdote italiano decidiu promover um concurso de beleza original. Cansado de ouvir que as freiras actuais eram velhas e feias, o padre italiano lançou um concurso destinado a mostrar a beleza das monjas. As concorrentes têm de enviar um foto delas para o dito sacerdote, que então escolherá as mais bonitas. Se então desejarem, as freiras mais belas irão desfilar no seu tradicional traje (e não em fato de banho). Um padre e umas freiras originais, sim senhor...

22 agosto 2008

SUCESSO NA EMPRESA NA HORA

O Banco Mundial, através do seu projecto Doing Business que compara a facilidade de efectuar negócios em 178 países, é altamente elogioso para o programa "Empresa na Hora" introduzido em 2005. Segundo o BM, “Em 2005 eram precisos 11 procedimentos e 78 dias para começar um negócio em Portugal _ mais lento do que na República Democrática do Congo. Um empreendedor necessitava de preencher 20 formulários e documentos, mais do que noutro qualquer país da União Europeia, e o custo rondava os dois mil euros... Actualmente, Portugal é um dos países onde é mais fácil começar um novo negócio, sendo necessários somente 7 procedimentos, 7 dias e 600 euros.” O programa também já está a ser estudado por outros países: "Angola and Cape Verde have requested legal and technical assistance based on the Portuguese model. Cape Verde will soon be ready to follow through with the reform. Other countries such Slovenia, Hungary, Egypt, Mozambique, Angola, São Tomé and Principe, Chile, Finland, Bosnia-Herzegovina, Romania, China, Brazil, Turkey, Sweden, and Andorra have visited the On the Spot Firm service."
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Que mais nos diz o Doing Business 2008?
As principais debilidades da economia portuguesa encontram-se tanto na dificuldade de obtenção de licenças, como, principalmente, em empregar trabalhadores. As leis laborais portuguesas permanecem bastante rígidas, constituindo verdadeiros entraves à recliclagem e renovação da força de trabalho. Não é à toa que Portugal está em 157º lugar em 178 possíveis neste índice. Renovar licenças é igualmente uma das grandes deficiências da nossa burocracia. Obter crédito em Portugal ainda é excessivamente problemático e o processo de pagamento de impostos é demasiado complicado. Portugal também não tem um bom desempenho em relação à burocracia relacionada com o registo de propriedades
Para obter uma licença são precisos, em média, passar por 20 penosos procedimentos e 327 dias, o que corresponde a um custo de 54% do rendimento per capita. Têm-se registado poucas ou nenhumas melhorias neste campo. Empregar e despedir trabalhadores em Portugal é uma verdadeira tortura.
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Por outro lado, tem havido algumas melhorias a nível do registo de propriedade, pois conseguimos reduzir para metade o número de dias necessários para o fazer. Em média, são precisos 42 para registar uma propriedade enquanto há apenas 2 anos eram necessários 83. Ainda assim, temos muito que andar nesta área, pois permanecemos um país em que registar uma propriedade é uma verdadeira aventura.
Os nossos bancos podem ser muito dinâmicos nalgumas áreas (como na introdução de multibancos e dos sistemas a eles associados), mas não o são decisivamente a nível da concessão de crédito.
Na protecção dos investidores não estamos mal posicionados (33º em 178), mas ainda é possível melhorar. No cumprimento de contratos deixamos muito a desejar. Se é verdade que estamos melhor que a Grécia ou a República Checa, estamos substancialmente pior do que países como a Hungria. Os processos de cobranças de dívidas necessitam de uns impressionantes 36 procedimentos e demoram, em média, uns incríveis 577 dias, com um custo de cerca de 18 por cento do total da dívida. No comércio trans-fronteiriço, Portugal é um dos países em que os custos não são dos mais elevados.

20 agosto 2008

A SAÚDE PORTUGUESA


(Por favor clique nas figuras se quiser visualisá-las melhor)

Afinal, gastamos pouco ou muito na Saúde? Segundo os dados mais recentes, somos dos países da OCDE que mais gastam com a Saúde em percentagem do PIB. A média da OCDE é de 8,9% do PIB, enquanto nós gastamos 10,2% (primeiro gráfico).
Os valores em gastos por habitante são melhores (segundo gráfico), visto que gastamos em média 2,102 dólares americanos (em paridades de poder de compra) enquanto a média da OCDE é de 2,824 dólares
Entre 2000 e 2006, as despesas com a Saúde cresceram 3,3% ao ano, um valor inferior à média da OCDE, que foi igual a 5%. O maior crescimento das despesas com a Saúde registou-se com as despesas farmacêuticas, que são quase 22% das despesas totais com a Saúde
Outros indicadores interessantes:

  • Portugal tem 3,4 médicos(as) por cada 1000 habitantes (a OCDE 3,1)
  • Temos bastante menos enfermeiras(os) do que a média da OCDE: nós temos 4,6 enfermeiros(as) por cada 1000 habitantes enquanto a OCDE tem 9,7
  • Temos menos camas nos cuidados intensivos:
    _ Portugal 2,2 por cada 1000 habitantes
    _ OCDE: 3,9
  • Em linha com a OCDE, nos últimos anos, o número médio de dias de estadia hospitalar tem diminuído consideravelmente
  • O número das tecnologias disponíveis nos hospitais portugueses tem aumentado substancialmente

19 agosto 2008

150 MIL EMPREGOS

Sinceramente não percebo o que é que o primeiro-ministro quer dizer quando afirma que 133 mil empregos líquidos já foram criados desde o início desta legislatura. As economias estão sempre a criar e a destruir empregos. Se por criação líquida entendemos que criamos mais empregos do que os que são destruídos, então devíamos ver uma descida do desemprego. Ora, contrariamente ao que as palavras de José Sócrates insinuam, a taxa de desemprego permanece bem acima da registada quando este govermo tomou posse. Aliás, a taxa de desemprego continua historicamente alta, tal como podemos constatar na figura acima (com dados trimestrais do Banco de Portugal). Ou seja, não tem havido uma criação líquida de emprego, mas sim uma destruição líquida de emprego. Aliás, a taxa de desemprego só não é mais elevada porque alguns portugueses desistiram de procurar empregos (e por isso não contam nas estatísticas) enquanto milhares de outros tem optado por emigrar. Isto não é uma crítica. É somente uma contestação.

18 agosto 2008

A CRISE QUE NÃO ACABA

As primeiras frases de um (longo) artigo sobre a crise actual (e possíveis soluções) que irá ser publicado na revista EXAME de Setembro:
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Economicamente os últimos 7 anos foram os piores das últimas 8 décadas. Este facto é notável se nos lembrarmos que durante esse período vivemos sob uma ditadura pouco visionária, houve uma guerra mundial, lutámos guerras coloniais, fizemos uma revolução, perdemos um império, efectuámos nacionalizações e reformas agrárias de utilidade questionável, tivemos graves crises financeiras e aderimos ao maior espaço comercial do mundo. De facto, o desempenho da economia nacional dos últimos anos tem sido tão sofrível que o processo de convergência com a União Europeia foi invertido e vários países “ultrapassaram” o PIB per capita português. O desemprego atingiu níveis históricos no período democrático e o crescimento da economia é de tal modo baixo que, a este ritmo, serão precisos 50 a 70 anos para duplicar o rendimento médio nacional.
Esta não é certamente a maior crise da nossa história. Bem longe disso. No entanto, esta é a maior crise que há memória. Por todos estes motivos, urge implementar o quanto antes uma estratégia de combate à estagnação económica.

PINHEIROS AMEAÇADOS (3)


O Guardian de hoje noticia a ameaça do escaravelho dos pinheiros e do seu impacto em Portugal e no sul da Europa, que já foi aqui referida. A ameaça é real e alarmante. Na British Columbia, Canadá, já foram afectados mais de 130 mil quilómetros quadrados de floresta (a foto é de uma das áreas atingidas). Vastos recursos já foram investidos em tentativas de prevenção, mas ainda não se conhece nenhuma forma eficaz de parar a praga.

11 agosto 2008

DERRAPAGENS MAIS-QUE-ESPERADAS

Segundo o PUBLICO de hoje, algumas das concessões rodoviárias promovidas pelo governo vão ter uma derrapagem orçamental de pelo menos 40 por cento, o equivalente a cerca de 750 milhões de euros. De acordo com o jornal, "A disparidade entre os valores anunciados e aqueles que aparecem nas propostas é explicado por uma "diferença de conceitos relevante": "enquanto o custo divulgado pelo Governo é o típico custo de construção da via, a rubrica "custo de construção" apresentada pelos concorrentes inclui quer o custo de construção da via, quer o custo com equipamentos e expropriações". A mesma fonte acrescenta que os valores anunciados pelo Governo são meras "estimativas realizadas de acordo com os projectos iniciais que serviram de base ao lançamento dos concursos", enquanto as propostas dos concorrentes incorporam, também, todos os efeitos do risco de construção. "
Ou seja, estes 750 milhões de euros adicionais nem sequer têm em linha de conta as derrapagens de custos que irão certamente acontecer devido ao aumento dos preços dos produtos petrolíferos e dos custos de construção. Ou seja, as diferenças entre o que estas obras vão custar e o orçamentado e previsto pelo governo serão bastante elevadas.
Ora, se é assim com estradas (que estamos habituados a fazer), o que irá acontecer com o TGV? Não há problema. Afinal, haverá sempre quem pague a factura (isto é, os contribuintes). Foi um azar, dizer-nos-ão. Foram os imponderáveis, informar-nos-ão. Talvez sejam. Mas o mais provável é que tudo não passou de mau planeamento na pressa de satisfazer a febre do betão. É só pena que nunca haja ninguém que se responsabilize por estas derrapagens mais-que-esperadas.

VALE A PENA VISITAR

Dois dos melhores e mais interessantes economistas portugueses estão na net com os seus blogues. O Pedro Lains (um dos mais influentes historiadores económicos portugueses) está aqui .
O Nuno Garoupa (um dos mais internacionais economistas portugueses, especialista da área de Economia do Direito e mudanças institucionais) está aqui.
Vale a pena visitar.

MORALISTA DESMASCARADO

Mais um moralista desmascarado nos Estados Unidos. Desta vez foi John Edwards, um dos Democratas mais populares e influentes dos últimos anos. Na sua campanha para as presidenciais, Edwards não se cansou de apelar ao retorno dos "valores familiares" da América e à seriedade dos políticos. Edwards chegou a afirmar categoricamente que mentir para o público e trair os parceiros era de tal modo grave que, se fosse feito por um(a) político, este(a) deveria abandonar de imediato o seu cargo. Em casa de ferreiro espeto de pau, e, por isso, ficámos anteontem a saber que o próprio Edwards mandou os "valores familiares" às malvas e traiu a mulher com uma assistente da sua campanha eleitoral. Ainda mais grave, fê-lo quando a sua mulher combatia um cancro. E, claro, mentir ao público.
De facto, a situação só não é mais grave porque Edwards perdeu as eleições primárias. No entanto, o que ontem se debatia entre os comentadores americanos era saber o que é que teria acontecido se Edwards fosse o nomeado dos Democratas ou, mesmo, se fosse o escolhido para a vice-presidência. Com um escândalo deste tamanho, Edwards deitaria a perder todas e quaisquer possibilidades dos Democratas ganharem as eleições. Enfim, mais um moralista desmascarado. E ainda bem, digo eu.

MITOS NOS TOPS

O "Mitos da Economia Portuguesa" voltou aos tops de Economia e Gestão. Na última semana, o "Mitos" estava no segundo lugar da Bertrand. O topo da lista era ocupado pelo livro "Terramoto BCP" de Maria Teixeira Alves. O Mitos também esgotou na FNAC mais uma vez.
Obrigado a todos.