23 outubro 2009

NOVO GOVERNO

Agora que se conhecem as caras do novo governo, não é difícil perceber que, apesar de José Sócrates ter perdido a maioria absoluta, tudo continuará como dantes. Ou seja, não haverá controlo da despesa pública e continuará a haver uma aposta dogmática nas grandes obras públicas. Se não vejamos. Teixeira dos Santos manterá a política anterior, em que a desorçamentalização de parte das despesas públicas (através das parcerias público-privadas e de iniciativas similares) permitirá ao governo propagandear-se de rigor nas contas públicas, enquanto o défice e a dúvida pública efectivas (mascaradas nas contas do Estado) continuam a aumentar. Também não interessa que a alegada consolidação das contas do Estado tenha sido toda feita através do aumento das receitas (i.e. mais impostos, o que é mau, e mais eficiência fiscal, o que é bom). Não se antevê que tal venha a mudar. Entretanto, as despesas públicas continuaram e continuam a crescer a bom ritmo (mesmo antes da crise internacional). Mas, certamente, não haverá problema.
Nas Obras Públicas, temos agora um economista que defendeu publicamente as grandes obras públicas. Conclusão: todos(as) os(as) outros(as) que defendiam mais ponderação e uma reavaliação desses projectos estão errados(as). E se é assim, porquê travar o ritmo de execução e adjudicação desses projectos?
Finalmente, na Economia, confesso que fiquei verdadeiramente desapontado. É verdade que Vieira da Silva é "trabalhador" e "dedicado". E até foi dos ministro que mais obra deixou no último governo. Porém, não me parece ter a visão estratégica que penso que seria necessária para o Ministério da Economia. A sua nomeação parece-me ser motivada para tentar estancar a subida do desemprego, em vez de tentar combater os problemas estruturais da nossa economia. Pode ser que me engane (espero que sim), mas, infelizmente, acho que não.

19 outubro 2009

JESUSALÉM

Numa altura em que se fala muito sobre o novo livro do Saramago, aqui fica uma sugestão de leitura. "Jesusalém", de Mia Couto, certamente um dos melhores de um autor cuja escrita está cada vez melhor. O livro conta a história de uma família que se auto-exila numa região remota de Moçambique, fugindo do mundo e de memórias de um passado penoso. O livro é contado por um dos personagens, Mwanito, e lê-se num ápice. Se Mia Couto era no início conhecido sobretudo pelos seus engraçados jogos de palavras e linguagens, crescentemente este autor moçambicano tem aperfeiçoado ainda mais os enredos das suas histórias, que narram um Moçambique e uma África que apetece conhecer. Vale a pena conhecer.

14 outubro 2009

AINDA AS AUTÁRQUICAS


Para bem ou para mal, as eleições do último domingo não trouxeram grandes surpresas. Alguns resultados interessantes, mas nada de dramático. De todos os escrutínios, o meu resultado favorito foi o de Felgueiras. É bom saber que, afinal, toda a atenção mediática ligada aos casos de alegada corrupção sempre tem algum impacto nas escolhas dos eleitores. O que era bom era que o exemplo de Felgueiras fosse repetido noutros lugares e mais vezes. Muitas mais vezes.
Interessantes, interessantes, irão ser as próximas eleições autárquicas, quando a legislação sobre o limite de mandatos vai começar a ter efeito. Cerca de centena e meia de autarcas vão ser impedidos de concorrer ao emprego que tiveram durante anos e anos a fio. Resultado? Ou muito me engano, ou nos próximos tempos a questão da regionalização vai ser ressuscitada por muitos destes autarcas quase-desempregados. É que nada melhor do que a promessa de centenas de novos cargos políticos para fazer reavivar a quimera da regionalização, a qual, certamente, se tornará na próxima receita mágica neste cantinho à beira-mar plantado.