Manuela Ferreira Leite veio a público defender a abstenção do seu partido no Orçamento de Estado por causa do "interesse nacional" e para "acalmar os mercados". Porém, como é que explicamos que os mercados tenham reagido desta maneira? Por que é que o risco da dívida portuguesa continua a aumentar? Por será?
É claro que o mais provável é que os mercados estejam errados. O mais provável é que os mercados não tenham percebido que cortar um défice défice recorde de 9,3% para 8,3% em 2010 é um esforço meritório e até descomunal. Uma autêntica proeza. O mais provável é que os mercados não tenham conseguido perceber (porquê? porquê?) que um orçamento que lança literalmente os projectos de um novo aeroporto internacional e três troços do TGV seja um orçamento que defende o "interesse nacional". O mais provável é que os mercados não tenham conseguido perceber, quiçá por uma insondável e misteriosa razão, que um orçamento que nem sequer inclui real menção às parcerias público-privadas tenha uma credibilidade enorme. Enfim, uns ingratos estes mercados. Uns verdadeiros ingratos.
E, já agora, quanto ao "interesse nacional", o que é feito da Manuela Ferreira Leite que defendeu a suspensão do aeroporto e do TGV em prol do tal "interesse nacional"? O que é que mudou entre a campanha eleitoral e agora? De facto, é difícil compreender a posição do PSD (e do CDS) nesta matéria. Eu sei, eu sei, a quase ninguém interessa novas eleições, a quase ninguém interessa um cenário de instabilidade (que, ainda assim, surgirá mais cedo ou mais tarde). Porém, será que nas negociações com o governo, foi só isto que o PSD e o CDS conseguiram? Um por cento de redução do défice? Um cheque em branco para o TGV e para as outras quimeras das grandes obras públicas? O olvidar do tão propagado "interesse nacional"? Então, em que é que ficamos? Será que os partidos da oposição não conseguiriam fazer melhor do que isto?