03 maio 2010

RATING E GOVERNO

O Diário Económico fez-me umas perguntas sobre o corte do rating da dívida e sobre a minha avaliação em relação ao comportamento do governo. Aqui estão as minhas respostas: 
DE_ Com interpreta os recentes cortes do rating da dívida da S&P e de outras agências de rating a Portugal, Grécia e Espanha? Parecem-lhe exagerados?
Sim, parecem-me um pouco exagerados. Principalmente, o corte do rating da dívida portuguesa por parte da S&P pareceu-me demasiado drástico. Porém, temos que perceber por que é que estas agências o fizeram. Tal aconteceu porque as últimas previsões (do FMI) sobre o crescimento económico nacional se revelaram ainda piores do que o esperado. Ora, num cenário de prolongada estagnação económica e na ausência de cortes significativos na despesa pública estrutural, os mercados e as agências de rating consideraram que aumentou o risco de Portugal não cumprir as suas obrigações financeiras. Assim, parte do recente comportamento das agências de rating não é totalmente injustificado.

DE_ Como podem as autoridades estancar o mais depressa possível a subida das yields das obrigações soberanas e trazer, novamente, a normalidade aos mercados?
Duas coisas: primeiro, a Europa tem que decidir, de uma vez por todas, o que quer fazer, se ajudar a Grécia de uma forma peremptória ou deixá-la ir à falência (e, quiçá mesmo, sair do euro). Andar neste vai-não-vai é que não nos leva a lado nenhum e só reforça a crença dos mercados de que os europeus não sabem o que querem.
Em segundo lugar, as autoridades portuguesas têm de actuar decisivamente, apresentando um plano mais rigoroso e mais credível de combate aos desequilíbrios orçamentais. Não basta protestar em vão contra os mercados. O que interessa é mostrar-lhes que estão enganados. Como? Cancelando as grandes obras públicas e cortando na despesa pública.

DE_ Qual a avaliação que faz à forma como o governo está a lidar com a situação?
O governo é, sem dúvida nenhuma, largamente responsável pela situação actual. A prestação do governo já deixava muito a desejar pela aposta desenfreada em grandes obras públicas de utilidade muito duvidosa com recurso às parcerias público privadas (que só serão pagas a partir de 2013), e pela sistemática desorçamentação de despesas. Porém, nos últimos meses, o desnorte do governo acentuou-se, penalizando seriamente a credibilidade de Portugal.
Primeiro, por motivos eleitorais, o governo andou a fazer passar a ideia de que o défice orçamental seria muitíssimo mais pequeno do que realmente era. Em seguida, o governo fez tudo para adiar o anúncio do défice o mais possível e, quando o fez, foi por demais evidente que o plano de ataque ao défice e à dívida pública era muito insuficiente. Finalmente, o governo andou semanas sem actuar, tentando fingir que a crise da dívida soberana não tinha nada a ver connosco. Um erro crasso, como é evidente.
Em suma, a actuação do governo tem sido um verdadeiro desastre, um desastre que ainda iremos pagar muito caro.
 

3 comentários:

A.Küttner disse...

Caro Álvaro

Como é evidente a sua entrevista diz o que tem que ser dito.
E neste momento espera-se que o PM ouça o Ministro das Finanças, que deixe o das Obras a falar sozinho…o anterior também se baralhava no tempo e no espaço.
Sendo evidente que não pode haver TGV, nem Aeroportos, nem auto-estradas novas, caso contrário temos o Governo a exigir contenção e a gastar sem tino. E o PR já não poder assinar/ acordo para o TGV dizendo que não está de acordo. Não assina!

Temos que fazer, para saber dizer.

Abraço Augusto

antonio disse...

Caro Álvaro,

Deixe-me que lhe diga que sou muito critico em relação à sua entrevista. Concordo absolutamente com ela. Mas acho que há ano e meio atrás o seu discurso era bem diferente. O Àlvaro chegava a dizer que não havia problema em o país se endividar mais. A minha duvida é a seguinte: está o Alvaro convencido do que diz ou di-lo porque está na moda?

Gostaria de chamar ainda a atenção para a péssima actuação deste ministro das finanças. Que é suficientemente esperto para dar uma no cravo e outra na ferradura, mantendo-se à tona. Porque aquilo de que ele verdadeiramente gosta é de ser o sr.ministro das finanças. Recordo-me quando ele ainda era uma apagado presidente da cnvm e se punha em bicos de pés para aparecer na televisão.

E sob a capa de pretensa competência que não tem lá vai sobrevivendo, sacudindo a água do capote sempre que o governo faz coisas aberrantes e nada mais fez de reformas do que aumentar a carga fiscal que tem deprimido brutalmente a economia nacional.

Ainda ontem um qualquer mimistro espanhol diferenciava as economias espanhola e portuguesa pela sua produtividade e competitividade, mas sobretudo pelo facto de a economia portuguesa vir de um periodo de forte estagnação fruto do esforço fiscal do governo português.

Pior cego só aquele que não quer ver.

antonio disse...

Caro Álvaro,

Deixe-me que lhe diga que sou muito critico em relação à sua entrevista. Concordo absolutamente com ela. Mas acho que há ano e meio atrás o seu discurso era bem diferente. O Àlvaro chegava a dizer que não havia problema em o país se endividar mais. A minha duvida é a seguinte: está o Alvaro convencido do que diz ou di-lo porque está na moda?

Gostaria de chamar ainda a atenção para a péssima actuação deste ministro das finanças. Que é suficientemente esperto para dar uma no cravo e outra na ferradura, mantendo-se à tona. Porque aquilo de que ele verdadeiramente gosta é de ser o sr.ministro das finanças. Recordo-me quando ele ainda era uma apagado presidente da cnvm e se punha em bicos de pés para aparecer na televisão.

E sob a capa de pretensa competência que não tem lá vai sobrevivendo, sacudindo a água do capote sempre que o governo faz coisas aberrantes e nada mais fez de reformas do que aumentar a carga fiscal que tem deprimido brutalmente a economia nacional.

Ainda ontem um qualquer mimistro espanhol diferenciava as economias espanhola e portuguesa pela sua produtividade e competitividade, mas sobretudo pelo facto de a economia portuguesa vir de um periodo de forte estagnação fruto do esforço fiscal do governo português.

Pior cego só aquele que não quer ver.