Bom Natal a todos.
(foto retirada daqui)
24 dezembro 2008
19 dezembro 2008
O FUNDAMENTALISMO DO DÉFICE
O meu artigo de hoje no PUBLICO:
Numa altura em que a recessão nos bate à porta, devem-se saudar os recentes pacotes de estímulo económico anunciados pela Comissão Europeia e pelo Governo português. Com efeito, após um período inicial de hesitação, estes são os primeiros passos de combate à crise, numa caminhada que promete ser bem mais longa e penosa do que gostaríamos de admitir.
Ainda assim, no seio da União Europeia continua a imperar um conservadorismo fiscal que não faz o mínimo sentido nos tempos que correm. Apesar de existirem indícios de uma maior flexibilidade, as autoridades económicas europeias continuam inexplicavelmente obstinadas com o cumprimento das metas do Pacto de Estabilidade. O próprio governo português teve o cuidado de apontar que a meta dos três por cento do PIB seria cumprida apesar da introdução do pacote de medidas de estímulo económico. No entanto, insistir no fundamentalismo do défice quando podemos estar à beira da maior recessão das últimas décadas faz tanto sentido como usar a embraiagem para travar um carro descontrolado à beira de uma ravina.
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É neste contexto que o fundamentalismo orçamental que nos vem de Bruxelas (e de Berlim) não só é irracional, como mesmo contraproducente. É irracional, porque não há lei económica que mostre que um défice orçamental de três por cento é o limite máximo a partir do qual se segue o descalabro económico. Não é. Nem em Portugal nem em lado nenhum. E é contraproducente, porque ao teimar no fundamentalismo do défice, Bruxelas presta um mau serviço aos europeus, pois dá prioridade a um instrumento macroeconómico (o controlo do défice) e não àquele que devia ser o principal objectivo económico (o crescimento económico e a subida dos níveis de vida europeus).
Ora, ao compactuarem com o excessivo conservadorismo fiscal de Bruxelas, as autoridades portuguesas são igualmente responsáveis por terem deixado que a situação económica do país se deteriorasse para um nível inimaginável há apenas uma década, quando Portugal ainda era considerado um exemplo a seguir por outros países. Uma crise que só se agravou mais nos últimos meses por causa da emergente recessão internacional. Após uma década de falhanços, após uma década de fundamentalismo orçamental, será que não é chegada a hora de pensar num combate mais eficaz à crise económica? Não é chegada a hora de apostar no aumento da competitividade das nossas empresas em vez de cismar num dogmatismo orçamental sem sentido? Num dogmatismo orçamental que só tem aumentado a carga fiscal e penalizado a competitividade das nossas empresas?
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Pessoalmente, até sou a favor da aprovação de legislação que obrigue os governos a atingir o equilíbrio das contas públicas ao longo dos ciclos políticos ou económicos. Porém, falar em equilíbrio orçamental só faz sentido quando um país se encontra numa posição económica saudável ou, pelo menos, não esteja no meio da sua maior crise económica das últimas décadas. Para além do mais, teimar no conservadorismo fiscal no cenário económico actual poderá equivaler a uma crise económica desnecessariamente prolongada.
Quando ultrapassarmos esta crise, e quando deixarmos para trás a estagnação económica dos últimos anos, podem ter a certeza que serei um dos primeiros a defender um maior rigor e responsabilidade orçamental. Porém, este não é o momento para o fazer. Esta não é a altura de indecisões ou de ter excessivas preocupações fiscais. Esta é a altura de agir. E agir significa esquecer temporariamente o défice orçamental e apoiar ainda mais as empresas e os particulares nacionais.
17 dezembro 2008
JUROS ZERO
A Fed surpreendeu os mercados e baixou a taxa de juro directora para 0,25% (um corte de 0,75 pontos percentuais). Ou seja, uma taxa (quase) zero. Os mercados subiram com as notícias. No entanto, não é crível que tal descida seja motivo para celebrações. Primeiro, tal descida significa que os riscos de termos uma recessão considerável e até mesmo deflação são reais. Segundo, com tal medida, não há mais margem de manobra para a Fed. No fundo, a política monetária torna-se quase ineficaz e entramos no reino da infame "armadilha da liquidez", que caracterizou a economia americana nos anos 1930 e a japonesa nos anos 1990. A partir de agora, se as autoridades económicas americanas quiserem ajudar a economia, só resta uma opção: a política fiscal, quer através do aumento das despesas públicas, quer através de cortes de impostos. De qualquer maneira, a decisão da Fed não augura nada de bom para o futuro mais próximo.
O PACOTE
Estando em plena época de correcção de exames e trabalhos (entretanto já acabados), ainda não tinha tido oportunidade para comentar o plano de estímulo apresentado pelo governo. Apesar de discordar com algumas opções, penso que o plano é um bom primeiro passo para ajudar a economia. Claro que muitos dos projectos de investimento já estavam planeados, claro que a aposta no emprego é um pouco ambígua, claro que um corte de impostos também fazia sentido. No entanto, o plano é mais ou menos consensual entre economistas e cientistas políticos. Mesmo assim, uma coisa que achei interessante foi a ressalva feita pelo governo que o défice orçamental se iria situar nos 3% do PIB. Numa altura em que a França, entre outros, já anunciaram que o seu défice iria ser de, pelo menos, 4%, não percebo a preocupação excessiva do nosso governo com o limite dos 3% do Pacto de Estabilidade. A minha suspeita é que tal é feito por motivos eleitorais. Afinal, José Sócrates foi eleito com o propósito de fazer retomar a economia e trazer o equilíbrio para as contas públicas. Como o primeiro objectivo não foi alcançado (nem de longe nem de perto), o primeiro-ministro não quer correr o risco de ser acusado de, em 4 anos, não ter conseguido sequer controlar o défice orçamental. E, por isso, a obsessão com o défice permanece em Portugal.
12 dezembro 2008
A CRISE DOS DEPUTADOS
A crise continua, mas não para o parlamento nacional. Hoje a importante Comissão Parlamentar de Orçamento e Finanças devia reunir-se para discutir o combate à crise e uma audição parlamentar a Vítor Constâncio (sobre o apoio do Estado ao Banco Privado). O que é que os nossos deputados da comissão fizeram? Faltaram à reunião. Por isso, a reunião da comissão teve que ser adiada por falta de quorum. De quem é a culpa? De quase todos os partidos (faltaram 6 deputados do PS, 3 do PSD e 1 do Bloco de Esquerda).
Coitados, é compreensível. Era cedo, às 9:30 da manhã e ainda por cima a uma sexta-feira. Uma chatice. O combate à crise que espere, a fiscalização ao governo que aguente, pois os nossos deputados têm coisas mais importantes a fazer.
CRISE NA ÍNDIA?
A crise continua a afectar várias economias em todas as partes do mundo. Hoje surje a notícia que a Índia registou o seu primeiro mês de contracção económica em 13 anos. Em Outubro a produção indiana caiu cerca de 1,1%. A economia indiana ainda deve crescer acima dos 6% este ano, mas a quebra de produção em Outubro é um sinal que nem mesmo os tigres asiáticos escapam à crise global.
O PETRÓLEO E A GASOLINA
Mais uma previsão sobre o preço do petróleo para 2009, desta vez feita pela Goldman Sachs (GS). Em 2008, em plena crise petrolífera (lembram-se?) a GS tinha chegado a prever petróleo a 200 dólares. Agora a previsão do preço médio para 2009 é de $49, um pouco mais do que o valor actual (que ronda os $40-$45). Isto apesar da tentação dos países da OPEC (como a Arábia Saudita) de cortar a produção do crude para manter o preço elevado. Uma loucura que tenta manter a todo o custo as receitas petrolíferas para os países exportadores do crude, inclusivamente correndo o risco de agravar a crise mundial e, assim, de fazer diminuir a procura do petróleo. Enfim. (É claro que a OPEC não está interessada no bem-estar da economia mundial, mas sim simplesmente manter a verdadeira bonança que a subida do preço do crude tem sido tantos e tantos regimes e países de governos menos transparentes no mundo).
Um outro facto interessante é verificar que em Portugal os preços da gasolina sobem com a subida dos preços do crude, mas descem bem menos quando os preços do petróleo baixam. Assim, enquanto em Espanha há 3 semanas o preço da gasolina já se situava em menos de 1 euro por litro, em Portugal ainda estamos bem longe. Será que é a desvalorização do euro que previne a descida mais rápida do preço da gasolina em Portugal? Não. Só para dar um exemplo, o dólar canadiano tem-se desvalorizado substancialmente nos últimos meses, a um ritmo ainda mais rápido do que o euro. Mesmo assim, o preço da gasolina já baixou mais de 50% desde Agosto. No pico do choque petrolífero o preço da gasolina chegou aos $1.50 dólares e agora já está a $0.75 cêntimos. Hmmmm...
Por ourtro lado, em Portugal, por uma qualquer razão insondável, os preços sobem com as variações do mercado, mas nunca descem tanto como deviam descer nos períodos de baixa do preço do crude. Porque será?
10 dezembro 2008
LUZ AO FUNDO DO TÚNEL?
As previsões da crise sucedem-se umas às outras e, até agora, ainda não tinha visto uma única previsão de retoma económica. Hoje, o principal economista de um dos maiores bancos canadianos fez a previsão que as coisas vão piorar no primeiro semestre de 2009, mas também que a recuperação da economia norte-americana pode não estar assim tão longe. Segundo esse economista a retoma poderá acontecer no segundo semestre de 2009. Ainda é cedo para sabermos se estas previsões optimistas se irão concretizar. No entanto, pelo menos é um sinal que muitos já começam a ver a luz ao fundo do túnel. Esperemos que o túnel não seja mais comprido do que parece.
NOVO LIVRO
Gabriel Garcia Marquez, uma das lendas da literatura mundial (e um autor verdadeiramente fantástico) está a escrever um livro novo. Uma óptima notícia, principalmente porque ele já tinha anunciado que não iria escrever mais. Cá ficamos à espera.
BURACO NEGRO
Um estudo britânico confirmou aquilo que se suspeitava há muito, que a nossa galáxia tem no seu centro um buraco negro super-maciço, um super-hiper monstro que engole tudo à sua volta. Um apetite de tal modo voraz que nem mesmo a luz escapa. Apesar disso, não devemos estar preocupados. É que o super-hiper monstro está a 27,000 anos-luz de distância ou 158 mil milhões, milhões, milhões de quilómetros da Terra. Para além do mais, pelo que parece, até devemos estar a agradecidos a esse monstro, pois a sua constituição foi fundamental para a criação da nossa galáxia. Ou seja, nem todos os monstros são monstros. Principalmente se os monstros se chamam buracos negros super-maciços.
09 dezembro 2008
RECESSÃO EM PORTUGAL
Hoje ficámos a saber que a economia portuguesa contraiu-se 0,1% no terceiro trimestre de 2008 . Como é de esperar que as coisas sejam ainda piores no quarto trimestre, é provável que a economia nacional entre em recessão técnica (ou seja, o PIB contrai-se dois trimestres seguidos) ainda este ano. Por isso, não são de estranhar as declarações do governador do Banco de Portugal que a economia nacional pode entrar em recessão ainda este ano.
É claro que os números do INE ainda podem ser revistos daqui a uma semanas e percebermos então que a taxa de crescimento do PIB para o terceiro trimestre seja, afinal, de 0%. Independentemente das questões de semântica, independentemente da palavra "técnica", a verdade é que a economia portuguesa está em recessão pela segunda vez em menos de 5 anos (a última foi em 2003) e que a recessão actual será certamente maior e mais profunda do que as recessões mais recentes.
Quão grande vai ser a recessão? Ninguém sabe. Ainda é cedo para previsões. Nisto concordo com o Ministro da Finanças, que acabou de declarar que mais do que fazer e disputar previsões sobre a gravidade da recessão é saber o que fazer para a combater. Nem mais. O que é disputável é pensar que serão as grandes obras públicas (como o TGV) a resgatar-nos do mal-estar actual. Sinceramente não me parece.
É claro que os números do INE ainda podem ser revistos daqui a uma semanas e percebermos então que a taxa de crescimento do PIB para o terceiro trimestre seja, afinal, de 0%. Independentemente das questões de semântica, independentemente da palavra "técnica", a verdade é que a economia portuguesa está em recessão pela segunda vez em menos de 5 anos (a última foi em 2003) e que a recessão actual será certamente maior e mais profunda do que as recessões mais recentes.
Quão grande vai ser a recessão? Ninguém sabe. Ainda é cedo para previsões. Nisto concordo com o Ministro da Finanças, que acabou de declarar que mais do que fazer e disputar previsões sobre a gravidade da recessão é saber o que fazer para a combater. Nem mais. O que é disputável é pensar que serão as grandes obras públicas (como o TGV) a resgatar-nos do mal-estar actual. Sinceramente não me parece.
VACINA CONTRA A MALÁRIA
Um artigo no New England Journal of Medicine apresenta resultados muito promissores sobre o desenvolvimento de uma vacina contra a malária. Apesar de estar erradicada nos países mais desenvolvidos, a malária anda infecta milhões de pessoas todos os anos e é a causa de morte de centenas de milhares de pessoas todos os anos, inclusivamente dezenas de milhares de crianças. Uma vacina eficaz seria uma das melhores notícias que muitos países tropicais poderiam ter.
PS: Obrigado ao Tiago Villanueva por me ter chamado a atenção para esta notícia.
PS: Obrigado ao Tiago Villanueva por me ter chamado a atenção para esta notícia.
TIGRE SEM DENTES?
Um artigo interessante sobre aquele que devia ser o novo tigre asiático. Após uma década de crescimento, o Vietname continua a ter enormes problemas estruturais.
07 dezembro 2008
AINDA A EDUCAÇÃO
Nos últimos dias a tensão na Educação começou finalmente a diminuir, ainda que ligeiramente. Os sindicatos dos professores pediram ao governo "espaço para uma solução negociada" e o governo já concordou com a inevitabilidade de ter que alterar o regime de avaliação. Acho bem. Bom senso é o que se pede numa altura em que as coisas ameaçam ficar um pouco fora de controlo. No meio de todo este jogo de forças, é importante ter em vista dois princípios:
Primeiro, o princípio da avaliação dos professores deve ser inegociável. O modelo pode (e deve) ser alterado e os professores devem ter uma palavra sobre o próprio modelo. No entanto, é importante que a avaliação dos professores seja feita e que tenha dentes. Isto é, não vale a pena criar um modelo de avaliação que não tenha consequências para a qualidade do ensino e para a própria carreira docente. Não vale a pena criar a avaliação dos professores se for somente figurativa e sem consequências práticas para os professores e alunos.
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Segundo, é urgente acabar com a espiral de confrontação entre os professores e o governo, sob pena do sector ficar num estado ainda mais lastimável do que aquele que se encontra actualmente (o que é obra). Ninguém ganha com os professores constantemente na rua e com um governo intransigente. No fundo, os professores e o governo estão a jogar uma versão do famoso jogo do dilema do prisioneiro. Toda a gente ganha se houver cooperação entre as partes. No entanto, todos também sabem que se uma das partes ceder às pretensões da outra, a que não cede fica numa melhor situação do que aquela que poderia ficar com uma situação de cooperação. Por um lado, se o primeiro-ministro ceder à tentação eleitoralista e substituir a ministra (tirando ainda os dentes ao modelo de avaliação), os professores ficam a saber que a pressão das ruas dá frutos. Consequentemente, nunca mais será possível introduzir qualquer tipo de modelo de avaliação eficaz. Os professores manteriam o status quo, que manifestamente não tem sido benéfico para a qualidade educativa. Por outro lado, se os sindicatos cedessem a aceitassem o actual modelo de avaliação (o que é, obviamente, impensável, actualmente), o governo ficaria numa situação negocial quase sem precedentes.
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Ou seja, as partes ganham mais numa situação em que a outra parte cede do que num cenário de cooperação. No entanto, se ninguém cooperar existe um risco real do sector ficar numa situação de conflito latente ou permanente, e quem perde são todos, os alunos, os professores, o governo e o próprio país.
É, por isso, que haja bom senso nos próximos dias e na reunião do dia 15. Continuar nesta espiral de confrontação não serve a ninguém, a não ser alguns interesses políticos e grupos de interesses. Deste modo, se os professores e o governo se preocupam realmente com o ensino e com os alunos, se os actores do sector da Educação se interessam realmente pela novas gerações, então deixem de lado a retórica e os joguinhos de interesse, e iniciem uma política de cooperação estratégica num sector que é vergonhosamente sofrível, um sector que, todos os anos, continua a hipotecar o futuro de milhares de alunos e, por consequência, o próprio futuro do país (e a competitividade da economia nacional). Haja bom senso.
PREVISÃO DE OBAMA
Na sua primeira entrevista como presidente-eleito ao histórico programa televisivo "Meet the Press", Barack Obama afirmou categoricamente que as coisas vão piorar economicamente antes de começarem a melhorar. Não é de espantar. Só em Novembro mais de 500 mil pessoas perderam os seus empregos. Obama também reiterou a intenção de lançar um agressivo e ambicioso programa de obra públicas e de reforço dos incentivos à iniciativa empresarial. Para Obama o que interessa é combater a crise da forma mais agressiva possível. Um contraste enorme com o que a Europa planeia fazer. Um resumo da entrevista pode ser lido aqui.
04 dezembro 2008
BCE RADICAL
Como era esperado, o Banco Central Europeu baixou a sua taxa directora para 2,5%. O corte de 0,75 pontos percentuais foi o maior da breve história do BCE, indiciando que o banco central está realmente preocupado com a recessão da economia. A grande dúvida é saber se este corte é suficiente ou se não seria preferível ser ainda mais agressivo, tal como fizeram o Banco de Inglaterra (que cortou a taxa directora em 1 ponto percentual) e o Banco da Suécia (que baixou os juros em 1,75 pontos percentuais). É de assinalar que, provavelmente, a decisão do BCE faz sentido por dois motivos. Primeiro, a Fed quase nunca baixa os juros mais do que o,5 ou 0,75 pontos percentuais de uma só vez. Neste sentido, o BCE só está a copiar o que a Fed faz. Segundo, e mais importante, é preciso não esquecer que o BCE é uma coligação de 15 bancos centrais, cujas economias têm necessidades muito distintas. Por isso e neste contexto, baixar os juros em 0,75 pontos percentuais é bastante radical. Dito isto, urge perguntar: será que chega? Provavelmente não. Assim, não será de espantar que o BCE continue a baixar os juros nos próximos tempos. Entretanto, e como a política fiscal é fundamental nas recessões, também é preciso que os estados sejam ainda mais agressivos no combate à crise. E que esqueçam o fundamentalismo do défice pelo menos a curto prazo (o que Bruxelas ainda não conseguiu, pelo menos totalmente).
A CONFUSÃO CANADIANA
A governadora-geral (representante da rainha britânica no Canadá) acabou de aceder aos pedidos do primeiro-ministro e suspendeu o parlamento nacional até ao dia 27 de Janeiro, data em que o governo apresentará um novo orçamento de estado. Como o Canadá não é uma república, a embrulhada dos últimos dias acabou por ser (temporariamente) decidida por alguém que não é eleito para o cargo mais alto da nação (O(a) governador(a)-geral é escolhido pelo primeiro-ministro e aprovado(a) pela rainha). Claro que a oposição não vai gostar e a instabilidade vai continuar. Finalmente a política canadiana dá sinais de vida (apesar das razões não serem as ideais).
A TORTURA DE UM OBAMA
Soube-se agora que o avô queniano de Barack Obama foi feito prisioneiro e foi torturado pelos britânicos durante a luta pela independência por esse país africano. Segundo o jornal The Times, Hussein Onyango Obama foi brutalmente torturado pelas tropas britânicas após ter sido aprisionado por suspeita de ligação à rebelião Mau Mau. Entre outras torturas, conta-se que o avô de Obama foi chicoteado todas as manhãs para confessar as suas ligações com o movimento independentista. Barack Obama menciona num dos seus livros a prisão do seu avô, mas, pelo que parece, até agora desconhecia a tortura a que o seu avô foi sujeito.
CLUBE LITERÁRIO DO PORTO
Descobri recentemente o blogue do Clube Literário do Porto, onde se anunciam iniciativas e eventos literários e artísticos da cidade nortenha. Vale a pena descobrir aqui.
A IMPRENSA DE NIXON
Novas informações (cassetes e relatórios) do período da administração de Richard Nixon foram agora disponobilizadas para o público. Entre outras pérolas, encontra-se esta citação bem reveladora do pensamento de Nixon:
"Never forget, the press, the establishment, the professors are the enemy"
03 dezembro 2008
GOLPE DEMOCRÁTICO
Lembram-se de termos aqui falado sobre a chatice que era a política canadiana? Que nada acontecia no Great White North? Pois é, não mais. Após uma decisão arriscada do primeiro-ministro Stephen Harper (que tentou banir o financiamento público dos partidos políticos), os partidos da oposição rebelaram-se e ameaçam mandar abaixo o governo conservador minoritário. Partidos da oposição que incluem os separatistas do Bloco do Quebec e os ultra-socialistas do NDP. Um golpe democrático verdadeiramente invulgar, ainda mais para o Canadá, onde não há um governo de coligação há mais de 80 anos.
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Mas não ficamos por aqui. Em vez de se convocarem novas eleições, os partidos da oposição decidiram que era melhor constituirem eles mesmos um novo governo. Qual é a desculpa oficial para a tomada de uma decisão tão drástica? Que o governo conservador não possui uma estratégia definida para combater a crise económica... Que o governo não planeia introduzir um pacote de medidas para revitalizar a economia...
Enfim, uma situação bizarra, principalmente se nos lembrarmos que o governo conservador foi eleito há menos de 2 meses no meio da mesma crise financeira. Ou seja, os eleitores podem ter escolhido mal (as alternativas não eram melhores), mas conheciam perfeitamente os planos de combate à crise dos vários partidos políticos. Ainda não se sabe o que irá exactamente acontecer (se o governo cai mesmo, se os partidos da oposição vão tomar o poder, se se se), mas os próximos dias prometer ser agitados.
SARAMAGO
O lançamento oficial do novo livro de José Saramago é hoje, 3 de Dezembro. Já comecei a ler o livro e é, sem dúvida, um dos melhores do autor nos últimos anos. Um Saramago clássico. Vale a pena ler. O convite para o evento está aqui:
UM ANO DE DESMITOS
O Desmitos fez um ano recentemente. Gostaria de agradecer a todos as vossas colaborações e comentários. No último ano aprendi muito convosco e muitas das vossas críticas são reflectidas não só no blogue como também no novo livro (que sairá em Janeiro). Durante o último ano muitos de vós tornaram-se companheiros da blogosfera e amigos de escrita. O blogue não seria o mesmo sem vós nem o livro seria tão apurado sem a vossa contribuição. Por todos estes motivos, o meu sincero obrigado a todos que têm colaborado e dialogado no Desmitos no último ano.
DE REGRESSO
Na última semana estive de regresso a Portugal, onde ainda foi possível desfrutar do sol e de temperaturas amenas antes da vaga de frio ter chegado. Aproveitei uma conferência em Guimarães para visitar algumas regiões do país que conhecia menos bem. Foi bom estar de volta. Como estive quase sempre em viagem, não me foi possível manter o blogue com regularidade. Nos próximos dias responderei aos comentários que ainda não pude responder.
24 novembro 2008
A RECEITA MÁGICA DO INVESTIMENTO PÚBLICO
O meu artigo do PUBLICO da última sexta-feira:
Numa altura em que muitas das economias da OCDE já entraram em recessão, parece quase inevitável que, mais cedo ou mais tarde, o mesmo irá acontecer à economia portuguesa. É só uma questão de tempo. Ora, como o investimento público costuma ser a receita mais utilizada para combater recessões, à primeira vista poderia parecer que a melhor maneira de estimular a economia passaria pela aposta nos grandes projectos de investimento já projectados. Nada poderia estar mais errado. Por mais que os nossos políticos nos queiram convencer do contrário, o investimento público não é uma receita mágica para a retoma económica. Muito menos no Portugal actual. Desde a nossa adesão à Comunidade Europeia todos os governos têm apostado na modernização das infra-estruturas nacionais. Ainda bem, pois Portugal registava atrasos consideráveis em relação a outros países europeus. Hoje isso já não se passa. Bem pelo contrário.
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No entanto, a política de betão tem sido tão utilizada (e abusada) que já começam a haver indícios de um efeito de saturação do investimento público. Afinal, construir uma segunda auto-estrada entre Lisboa e o Porto não tem o mesmo impacto do que a construção da A1. Por outras palavras, há claros rendimentos decrescentes associados ao aumento do investimento público. É exactamente isto que nos indicam vários estudos académicos recentes. Claro que nem todos os projectos de investimento têm o mesmo impacto. No entanto, antes de continuar a teimar na miragem da Alta Velocidade, convém lembrar que só a ligação do TGV entre Lisboa e Porto irá custar tanto como o volume de negócios anual do grupo Sonae, um dos maiores do país. Isto na melhor das hipóteses. Será que não conseguíamos arranjar melhores soluções para montantes dessa envergadura? Parece-me que sim. E assim urge perguntar: qual é a alternativa ao investimento público? Ajudar as famílias e as empresas portuguesas, quer apoiando-as directamente na renegociação das suas elevadas dívidas junto dos bancos, quer através da introdução de maiores benefícios e reduções fiscais. Igualmente, em vez de embarcar na loucura financeira do TGV, apoiemos os nossos inovadores e empreendedores, e melhoremos os sistemas de incentivos à dinâmica empresarial. Apoiemos os nossos exportadores, não só através da concessão de incentivos e prémios de desempenho, como também através de generosos incentivos fiscais.
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Não tenhamos receio de quebrar imposições comunitárias limitadoras da ajuda estatal às empresas inovadoras, pois, nestes tempos recessivos outros estados-membros também o farão. E mesmo se continuarmos a pensar que a recessão tem que ser combatida com o aumento do investimento estatal, então concentremo-nos em projectos de rentabilidade menos duvidosa. Construamos mais hospitais, melhores escolas, melhores acessibilidades para o interior esquecido pelo poder central. Utilizemos parte dos 4,5 mil milhões de euros destinados à ligação Lisboa-Porto para atrair mais empresas de alto e médio valor acrescentado, para melhorar a competitividade fiscal das empresas, para reciclar os conhecimentos dos trabalhadores desempregados, e para conceder vantagens financeiras às empresas que se localizem nas nossas regiões deprimidas. Mais do que o Sebastianismo do TGV, mais do que o faraonismo da Alta Velocidade, mais do que a varinha mágica ilusória do investimento público, a crise terá que ser vencida com o condão do empreendedorismo e da inovação nacionais. Cabe ao Estado proporcionar as condições para que tal aconteça.
18 novembro 2008
COMBATE À CRISE
Se todos concordamos que não há receitas mágicas para a retoma económica, quererá isso dizer que não há esperança para sairmos da crise? Estaremos condenados permanecer nesta pasmaceira económica que tem aumentado o desemprego e o mal-estar social? Será que temos que nos contentar em permanecer com uma produtividade sofrível, empresas pouco competitivas e um crescimento económico irrisório? Claro que não. Por isso, temos que pensar como é que vamos reanimar a economia. O que fazer? Podemos aumentar as exportações, fomentar o investimento ou utilizar a política fiscal (i.e., gastar mais ou cobrar menos impostos). A curto prazo, pouco podemos fazer para aumentar a procura externa. As exportações dependem não só da competitividade dos nossos produtos, mas também de muitos outros factores, nem todos controláveis. Por outro lado, o investimento público também não será suficiente para a retoma. Por isso, só nos resta a política fiscal.
17 novembro 2008
OS MITOS TAMBÉM SE ABATEM
Um novo documentário do cineasta Can Dündar revela o fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Atatürk, de uma forma inédita. O filme tem dado azo a um enorme debate na Turquia, um sinal que o país está a mudar e que até os símbolos como Atartuk já não são tão sagrados como já foram. Espere que chegue às nossas salas de cinema também.
OS MINÉRIOS E A GUERRA
O New York Times tem hoje um artigo que apresenta alguma das razões para a persistência da guerra no Congo. Uma das principais são os minérios, assim como ver nesta interessante foto-reportagem. Como acontece frequentemente, nos países pobres as riquezas naturais são mais uma maldição do que uma vantagem.
RECESSÃO NO JAPÃO
Como tantas outras economias da OCDE, também o Japão já entrou em recessão técnica.
SEMANA DO EMPREENDEDORISMO
Esta é a Semana Global do Empreededorismo. Uma iniciativa louvável que conta com a colaboração do Empreendedorismo.pt, do IDI - Instituto de desenvolvimento e Inovação e da Sedes. Uma iniciativa que devia ser repetida e imitada no nosso país. Mais do que TGVs ou uma nova política de betão, o futuro da economia portuguesa depende da melhoria dos índices de empreendedorismo nacional.
OBAMA E O DÉFICE ORÇAMENTAL
Na sua primeira entrevista depois de ter sido eleito presidente dos Estados Unidos, Barack Obama afirmou que agora não é a altura de se ser comedido em relação ao défice orçamental. Obama disse: "We're going to have to spend money now... And that we shouldn't worry about the deficit next year or even the year after; that short term, the most important thing is that we avoid a deepening recession."
Ou seja, Obama não sofre do fundamentalismo do défice que contagiou a Comissão Europeia. Ainda bem. Note-se que Obama não exclui um retorno ao equilíbrio orçamental a médio prazo. No entanto, esta não é a altura para nos preocuparmos com isso.
14 novembro 2008
CHINA ABRANDA
Já há quem diga que a China já encerrou cerca de 100 mil fábricas nos últimos meses e que o desemprego tem aumentado exponencialmente. O governo chinês está de tal modo preocupado com a crise internacional que lançou um plano de estímulo económico no valor de quase 600 mil milhões de dólares, um valor enorme para aquela economia asiática.
Ainda assim, apesar de ter abrandado, o PIB cresceu 8,2% (taxa anualizada) em Outubro. Seria bom que conseguíssemos abrandar assim, não?
RECESSÃO EUROPEIA
A recessão já chegou oficialmente à Alemanha e, provavelmente, à Zona Euro. Hoje serão divulgados os números do PIB da França, da Espanha, da Itália e da Eurolândia. A economia alemã contraiu 0,5% no terceiro trimestre (e o,4% no segundo) e, por isso, já está em recessão técnica.
A França escapou à recessão técnica ao crescer o,14% no terceiro trimestre (depois de uma contracção de 0,2% no segundo trimestre). Fraca consolação certamente.
Mais logo saberemos os dados os restantes países. Uma coisa é certa. A recessão europeia já está definitivamente aí. Veremos se a Comissão Europeia manterá o fundamentalismo do défice.
13 novembro 2008
GRANDES PROJECTOS
Só agora é que dei conta deste post (que já tem alguns dias) de Luís Campos e Cunha, mas vale a pena ver, assim como a discussão que se segue
12 novembro 2008
DIFERENÇAS ENTRE MULHERES E HOMENS
O World Economic Forum acabou de publicar o seu "Gender Gender Gap Index" para 2008, onde se avalia as diferenças salariais e educativas (e de acesso à saúde) entre os homens e as mulheres de diversos países. Portugal aparece em 39º lugar entre 130 países. A crer no relatório, nos últimos anos, a posição das mulheres em Portugal tem-se deteriorado nos últimos anos (pelo menos em termos relativos). Pelo que parece, a crise tem afectado mais as mulheres do que os homens. Os piores indicadores são os das mulheres em posições ministeriais (onde Portugal aparece em 78º lugar) e em termos de literacia (78º lugar). Mais uma vez são as nossas carências educativas. Os dados completos podem ser vistos aqui.
Já agora, a Noruega é o país onde existe mais igualdade entre as mulheres e os homens.
O CONSELHO NA CRISE
Paul Krugman, o prémio Nobel da Economia de 2008, tem o seguinte conselho para a nova administração americana:
"My advice to the Obama people is to figure out how much help they think the economy needs, then add 50 percent. It’s much better, in a depressed economy, to err on the side of too much stimulus than on the side of too little."
11 novembro 2008
OS PROBLEMAS DA GM
Os problemas da General Motors continuam. As acções já caíram para o nível mais baixo dos últimos 60 anos e a empresa parece estar num beco sem saída. No entanto, a GM não é caso único. A indústria automóvel americana está em maus lençóis e já se fala num novo plano de resgate, desta vez para este sector, um plano patrocionado por Barack Obama.
AS NOVAS MALDIVAS (2)
Mais um artigo sobre o plano das Maldivas para comprar terra firme caso o nível dos mares suba com as alterações climáticas.
10 novembro 2008
AS NOVAS MALDIVAS
As Maldivas, o país mais ameaçado pela subida dos níveis dos mares associada às alterações climáticas, começaram a tomar medidas para prevenir o seu desaparecimento. Como? Através da construção de diques? De novas barreiras? Da drenagem de terrenos? Não.
Como o ponto mais alto das Maldivas é apenas 2,4 metros acima do nível do mar, tais medidas não surtirão grande efeito se as previsões das alterações se concretrizarem. Por isso, o novo presidente das Maldivas optou por seguir uma outra estratégia: comprar terra noutro país. Devido à afinidade cultural, a Índia e Sri Lanka são os principais candidatos para se tornarem numa nova terra prometida para este país com 300 mil habitantes.
O NOVO BAILOUT DA AIG
Pelo que parece, 123 mil milhões de dólares não chegaram para resgatar a maior seguradora mundial. Já se fala num novo bailout...
OS INOCENTES DO CONGO
Começam a surgir fortes indícios que a nova guerra da DR Congo está a seguir o mesmo caminho do conflito que o precedeu. Na primeira guerra, cerca de 5 milhões de pessoas morreram directa ou indirectamente por causa do conflito.
Nesta nova guerra, já há dezenas de milhares de desalojados e doenças como a cólera ameaçam milhares e milhares de inocentes. Mais uma vez, o mundo continua praticamente impávido.
MIRIAM MAKEBA
Uma das rainhas da música africana, Miriam Makeba, faleceu inesperadamente aos 76 anos enquanto se encontrava em digressão em Itália. Makeba foi uma das vozes africanas mais influentes dos últimos 50 anos e uma das maiores representantes da chamada World Music. O mundo da música está hoje mais pobre.
09 novembro 2008
TROPAS ANGOLANAS NO CONGO
Tropas angolanas começaram a apoiar logisticamente o exército da República Democrática do Congo. O conflito internacionaliza-se, assim como aconteceu na primeira guerra do Congo.
AMOR NA CASA BRANCA
O Observer tem hoje um interessante artigo sobre a forte relação entre Barack e Michelle Obama. Aqui vai um cheirinho:
"Together, they present the most collaborative, romantic, intelligent and relaxed couple that has ever been anywhere near the White House."
ISLÂNDIA EM QUEDA LIVRE
A Islândia continua a sofrer os efeitos da crise financeira. A inflação já chegou aos 16%, o desemprego sobe em flecha, os salários baixam e a krona já desvalorizou 100% este ano. E para a Islândia, o país mais afectado pela crise financeira, o pior ainda pode estar para vir.
07 novembro 2008
JUROS E RECESSÃO
Os sintomas de recessão agravam-se. O FMI prevê que a Europa e o Japão se vão contrair em 0,3% no próximo ano, mas ninguém ainda tem a certeza do que realmente irá aocntecer.
Os principais bancos centrais europeus decidiram seguir o exemplo da Fed, cortando as taxas de juros de referência a um ritmo pouco usual. O BCE baixou as taxas de juros em 0,5 pontos percentuais, enquanto o Banco de Inglaterra surpreendeu tudo e todos e cortou as taxas de juros em 1,5 pontos percentuais. O que é que isto quer dizer? Que os bancos centrais estão convencidos que já estamos em recessão e que esta vai ser significativa. Claramente é isto que o Banco de Inglaterra (habitualmente extremamente conservador) acredita. Na Eurolândia, as notícias também não são animadoras. Claro que nem tudo é mau. A baixa dos juros irá ser uma autêntica lufada de ar fresco para milhares de famílias sobre-endividadas. E para o mercado imobiliário também.
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Hoje são publicados os números do emprego americanos. Os mercados prevêem que 200 mil pessoas tenham perdido os seus empregos em Outubro. Veremos se estes números não são ainda mais dramáticos.
NOVA IORQUE EM RECESSÃO
Os sintomas da recessão já chegaram a Nova Iorque. Não é de estranhar visto que a Big Apple é o centro financeiro mundial.
OBAMA E A ECONOMIA
Perguntas do PUBLICO sobre o impacto económico da vitória de Obama:
- Quais os principais desafios que Barack Obama enfrenta, enquanto presidente dos EUA, no domínio económico?
ASP: A primeira tarefa é claramente garantir a estabilidade dos mercados financeiros.
O segundo grande desafio será o combate à recessão. Como a economia americana (e mundial) foi atingida por dois enormes choques nos últimos meses (primeiro um choque petrolífero e a maior crise financeira desde os anos 1930), é muito provável que esta seja a recessão mais severa das últimas duas décadas. Este será assim o principal desafio do novo presidente americano.
Finalmente, a nova administração americana terá que lidar com o impacto da crise imobiliária que grassa em todo o país.
- Que propostas já apresentou para enfrentar cada um desses desafios? Como avalia essas propostas? Serão todas realistas?
ASP: Em relação à estabilização dos mercados financeiros não haverá grande disputa. É provável que quanto tomar posse, a 20 de Janeiro, Obama irá trabalhar com o novo Congresso para aumentar a regulamentação e a supervisão dos mercados financeiros. Igualmente, se necessário, Obama apresentará um novo pacote de medidas destinado a reforçar a estabilidade das instituições financeiras nacionais.
Certamente que a nova administração irá ser bastante agressiva no combate à recessão, por forma a minimizar os efeitos económicos, principalmente no que diz respeito ao desemprego. Como é que o fará? Quer através do corte de impostos para a grande maioria dos americanos, quer através da introdução do maior pacote de construção infra-estruturas e outras obras públicas das últimas décadas. Obama já prometeu que isso irá acontecer. O défice orçamental e a dívida pública aumentarão, mas isso não constituirá problema de maior. Contrariamente à Comissão Europeia, Obama não é um fundamentalista do défice orçamental.
Finalmente, a crise imobiliária (que está na origem da crise financeira) será atacada quer através de uma moratória de 90 dias nos processos de falência imobiliária (já prometida), quer através da ajuda temporária aos particulares mais afectados.
ASP: A primeira tarefa é claramente garantir a estabilidade dos mercados financeiros.
O segundo grande desafio será o combate à recessão. Como a economia americana (e mundial) foi atingida por dois enormes choques nos últimos meses (primeiro um choque petrolífero e a maior crise financeira desde os anos 1930), é muito provável que esta seja a recessão mais severa das últimas duas décadas. Este será assim o principal desafio do novo presidente americano.
Finalmente, a nova administração americana terá que lidar com o impacto da crise imobiliária que grassa em todo o país.
- Que propostas já apresentou para enfrentar cada um desses desafios? Como avalia essas propostas? Serão todas realistas?
ASP: Em relação à estabilização dos mercados financeiros não haverá grande disputa. É provável que quanto tomar posse, a 20 de Janeiro, Obama irá trabalhar com o novo Congresso para aumentar a regulamentação e a supervisão dos mercados financeiros. Igualmente, se necessário, Obama apresentará um novo pacote de medidas destinado a reforçar a estabilidade das instituições financeiras nacionais.
Certamente que a nova administração irá ser bastante agressiva no combate à recessão, por forma a minimizar os efeitos económicos, principalmente no que diz respeito ao desemprego. Como é que o fará? Quer através do corte de impostos para a grande maioria dos americanos, quer através da introdução do maior pacote de construção infra-estruturas e outras obras públicas das últimas décadas. Obama já prometeu que isso irá acontecer. O défice orçamental e a dívida pública aumentarão, mas isso não constituirá problema de maior. Contrariamente à Comissão Europeia, Obama não é um fundamentalista do défice orçamental.
Finalmente, a crise imobiliária (que está na origem da crise financeira) será atacada quer através de uma moratória de 90 dias nos processos de falência imobiliária (já prometida), quer através da ajuda temporária aos particulares mais afectados.
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- Considera que Obama está preparado para combater a turbulência financeira que se instalou nos EUA e no mundo?
ASP: Penso que sim, mas tudo dependerá da equipa económica com que Obama se vai rodear. Avalizando pela sua equipa de conselheiros económicos, considero que é bastante provável que a nova administração irá ser suficientemente competente para combater a turbulência financeira (em claro contraste com a administração Bush).
- Como avalia a reacção do senador quando a crise despoletou?
Obama teve a reacção mais sensata, a reacção que era preciso ter num momento de tanta volatilidade. Isto é, ouvir os seus conselheiros económicos e não se precipitar num momento tão instável. Aliás, se há dois momentos decisivos nestas eleições são exactamente a escolha de Sarah Palin por McCain (que se revelou desastrosa), e a reacção dos dois candidatos perante a crise financeira. Em todo este processo, Obama manteve uma calma e uma prudência admirável, enquanto McCain disparou para todos os lados e para lado nenhum. McCain foi errático enquanto Obama foi consistente e coerente. E isso foi um dos factores que deu a vitória a Obama.
- Obama desde cedo se rodeou de conselheiros para a área da economia. Numa das primeiras reuniões de emergência para lidar com a crise, foram 12 os especialistas convocados. Terá sido esta uma das armas mais importantes do senador?
ASP: Sem dúvida. Obama tem demonstrado em toda a sua vida pública que valoriza imenso o diálogo, bem como a necessidade de se rodear de especialistas das diversas matérias. Ouvir os outros é uma das suas qualidades e uma das suas armas mais importantes. Mais do que uma ideologia cega e obstinada (como Bush), Obama é um pragmático incorrigível.
- De entre esses especialistas, contava-se Paul Volcker, antigo chairman da Reserva Federal norte-americana. Os jornais dão conta de uma grande ligação entre as ideias de Volcker e as políticas de Obama. Concorda?
É verdade que existe uma ligação entre as ideias de Volker e as políticas expressas por Obama. Porém, a idade de Volker (71 anos) poderá ser um impedimento para que ele se torne Secretário de Estado. Como também existe uma boa ligação entre Larry Summers (o último Secretário do Tesouro de Bill Clinton) e Obama, é muito provável que a equipa de transição económica inclua esses dois conselheiros e que um deles (provavelmente Summers) seja nomeado o novo Secretário do Tesouro
- Considera que Obama está preparado para combater a turbulência financeira que se instalou nos EUA e no mundo?
ASP: Penso que sim, mas tudo dependerá da equipa económica com que Obama se vai rodear. Avalizando pela sua equipa de conselheiros económicos, considero que é bastante provável que a nova administração irá ser suficientemente competente para combater a turbulência financeira (em claro contraste com a administração Bush).
- Como avalia a reacção do senador quando a crise despoletou?
Obama teve a reacção mais sensata, a reacção que era preciso ter num momento de tanta volatilidade. Isto é, ouvir os seus conselheiros económicos e não se precipitar num momento tão instável. Aliás, se há dois momentos decisivos nestas eleições são exactamente a escolha de Sarah Palin por McCain (que se revelou desastrosa), e a reacção dos dois candidatos perante a crise financeira. Em todo este processo, Obama manteve uma calma e uma prudência admirável, enquanto McCain disparou para todos os lados e para lado nenhum. McCain foi errático enquanto Obama foi consistente e coerente. E isso foi um dos factores que deu a vitória a Obama.
- Obama desde cedo se rodeou de conselheiros para a área da economia. Numa das primeiras reuniões de emergência para lidar com a crise, foram 12 os especialistas convocados. Terá sido esta uma das armas mais importantes do senador?
ASP: Sem dúvida. Obama tem demonstrado em toda a sua vida pública que valoriza imenso o diálogo, bem como a necessidade de se rodear de especialistas das diversas matérias. Ouvir os outros é uma das suas qualidades e uma das suas armas mais importantes. Mais do que uma ideologia cega e obstinada (como Bush), Obama é um pragmático incorrigível.
- De entre esses especialistas, contava-se Paul Volcker, antigo chairman da Reserva Federal norte-americana. Os jornais dão conta de uma grande ligação entre as ideias de Volcker e as políticas de Obama. Concorda?
É verdade que existe uma ligação entre as ideias de Volker e as políticas expressas por Obama. Porém, a idade de Volker (71 anos) poderá ser um impedimento para que ele se torne Secretário de Estado. Como também existe uma boa ligação entre Larry Summers (o último Secretário do Tesouro de Bill Clinton) e Obama, é muito provável que a equipa de transição económica inclua esses dois conselheiros e que um deles (provavelmente Summers) seja nomeado o novo Secretário do Tesouro
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- Também Warren Buffet fazia parte desse grupo. Até que ponto foi importante para Obama incluir o multimilionário norte-americano no mapa de conselheiros económicos?
ASP: A inclusão de Buffet foi importante não só pelas suas qualidades como conselheiro económico, mas também para mostrar que Obama tinha ao seu lado alguns dos gestores mais ricos e influentes (como Bufett e o CEO da Google) do país.
- Acredita que um desses conselheiros (poderá vir a ser nomeado secretário do Tesouro norte-americano? Se sim, qual e porquê?
ASP: Sim, Larry Summers, porque não só partilha da ideologia económica de Obama (quiçá com a excepção da necessidade de um maior proteccionismo económico defendido pelo novo presidente), mas também tem um bem precioso nos tempos que correm: experiência. Summers conhece bem os corredores do poder e, por isso, poderá ser a opção ideal para a situação actual.
- Que tipo de pessoa deverá escolher Obama para esse cargo?
ASP: Penso que Obama deve escolher um especialista com alguma experiência de governação e com sentido pragmático. É por isso que Summers faz tanto sentido.
- Também Warren Buffet fazia parte desse grupo. Até que ponto foi importante para Obama incluir o multimilionário norte-americano no mapa de conselheiros económicos?
ASP: A inclusão de Buffet foi importante não só pelas suas qualidades como conselheiro económico, mas também para mostrar que Obama tinha ao seu lado alguns dos gestores mais ricos e influentes (como Bufett e o CEO da Google) do país.
- Acredita que um desses conselheiros (poderá vir a ser nomeado secretário do Tesouro norte-americano? Se sim, qual e porquê?
ASP: Sim, Larry Summers, porque não só partilha da ideologia económica de Obama (quiçá com a excepção da necessidade de um maior proteccionismo económico defendido pelo novo presidente), mas também tem um bem precioso nos tempos que correm: experiência. Summers conhece bem os corredores do poder e, por isso, poderá ser a opção ideal para a situação actual.
- Que tipo de pessoa deverá escolher Obama para esse cargo?
ASP: Penso que Obama deve escolher um especialista com alguma experiência de governação e com sentido pragmático. É por isso que Summers faz tanto sentido.
06 novembro 2008
A BASE DE OBAMA
Por ser Afro-Americano, há por vezes a ideia que Obama ganhou por causa do voto negro. Porém, tal não é inteiramente verdade. Se é certo que o voto negro aumentou em relação a 2004, a subida não foi extremamente significativa (de 11 para 13% do total).
Em segundo lugar, um facto notável é que Obama foi o Democrata que recebeu mais votos do eleitorado branco desde Jimmy Carter em 1980, tanto a nível relativo como absoluto. Ou seja, Obama teve mais votos do eleitorado branco do que Kerry, Gore, Clinton (2 vezes), Dukakis, e Mondale.
- Mais: dois terços dos latinos e dos asiáticos votaram em Obama. Dois terços dos jovens votaram em Obama. Obama ganhou em todas as idades, com excepção do segmento mais velho.
- Obama foi o único Democrata desde Carter a ganhar mais de 50% dos votos. Nem Clinton o conseguiu.
- Obama ganhou com mais de 8 milhões de votos de diferença, equivalente a 6 ou 7 pontos percentuais de diferença.
- Finalmente, esta foi a eleição com maior participação eleitoral das últimas 5 décadas.
- Obama vencer em 8 estados que Bush tinha ganho, incluindo a Carolina do Norte, Indiana e Virgínia, onde os Republicanos já ganham há décadas.
Se isto não é uma vitória contudente, eu não sei o que é.
Aqui estão alguns dos resultados (retirados da CNN):
VOTOS PARA OBAMA, POR RAÇA:
Branco 43%
Afro-Americano 95%
Latino 67%
Asiático 62%
Outro 66%
Branco 43%
Afro-Americano 95%
Latino 67%
Asiático 62%
Outro 66%
Por outro lado, dois terços dos jovens votaram em Obama
VOTOS PARA OBAMA POR IDADE:
18-29: 66%
30-44: 52%
45-64: 50%
65 ou mais: 45%
30-44: 52%
45-64: 50%
65 ou mais: 45%
OBAMA, O ANTI-CRISTO
Como já aqui falámos, há um enorme número de fundamentalistas que têm inventado as mais mirambolantes teorias de conspiração sobre Obama e têm espalhado as mais inacreditáveis mentiras sobre o novo presidente americano. Entre outras, os fundamentalistas têm acusado Obama de ser diferente (i.e. negro), muçulmano, marxista, de ter estudado numa madrasa na Indonésia, de ser filho de Malcom X (!!!), e até de ser o Anti-Cristo.
Porém, não se pense que estas pseudo-teorias e falsidades se limitam aos Estados Unidos. Assim, nos últimos dois dias este blog tem recebido literalmente centenas de visitas (principalmente do Brasil, mas também de Portugal) por causa deste post, onde se falou da tentativa de demonização de Obama por parte dos fundamentalistas. Enfim... Quando os que ganham são diferentes e não partilham necessariamente a nossa ideologia política, não é dificil apelar aos nossos sentimentos mais primários e irracionais para espalhar o medo, a ignorância e o fundamentalismo.
AS FACAS
Um dia após a eleição, as facas republicanas já começam a aparecer. É cada vez mais notório o erro tremendo cometido por McCain ao escolher Palin para a sua equipa. Palin foi escolhida para agradar aos conservadores do Partido Republicano e porque era uma mulher (atraindo assim as apoiantes de Clinton). Incrivelmente, McCain e os seus ajudantes não fizeram nenhum esforço para tentar perceber se Palin estava ou não preparada para o desafio. Não estava. Nem nada que se pareça. Ontem a Fox News (extremamente conservadora) noticiou que antes dos debates Palin não sabia quem eram os países pertencentes à NAFTA (EUA, Canadá e México) e pensava que África era um país... Já imaginaram o que é que seria se esta senhora tivesse ganho as eleições numa equipa de um senador de 72 anos com antecedentes de melanoma maligno com 4 recidivas. Como dizem os americanos, scary!
Aqui está o comentário do reporter da FOX:
"We’re told by folks that she didn’t know what countries that were in NAFTA, the North American Free Trade Agreement, that being the Canada, the US, and Mexico. We’re told she didn’t understand that Africa was a continent rather than a country just in itself ... a whole host of questions that caused serious problems about her knowledgeability. She got very angry at staff, thought that she was mishandled..."
05 novembro 2008
UM MOMENTO HISTÓRICO
O mundo mudou. Para melhor. Para muito melhor. Não porque Obama irá levar a América à terra prometida (como ele gosta de afirmar). Não porque Obama mudará o mundo de uma forma radical. Não porque Obama irá erradicar as distinções ideológicas e rácicas que dividem a América. O mundo mudou para melhor, porque hoje todos demos um passo de gigante no sentido de uma maior harmonia, no sentido de existirem oportunidades para todos, no sentido de um maior respeito próprio. A humanidade deu um passo de gigante no sentido do progresso. Num país onde há menos de 40 anos ainda havia segregação e racismo institucionalizado, é admirável que uma pessoa como Obama tenha sido eleito para o mais alto cargo do país. Para o cargo mais poderoso de todo o planeta.
À primeira vista, Obama parecia tudo menos um candidato à presidência da América. É negro, filho de um africano, foi criado por uma mãe solteira e por uma avó, tem Hussein no seu nome (numa altura em que as repercussões do 11 de Setembro ainda estão bem presentes), é originário do longínquo Hawai, cresceu na Indonésia, e tem pouca experiência. Por isso, a tarefa de Obama parecia impossível.
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Porém, a fé de Obama permaneceu inabalável. E perseverou contra todas as adversidades e dificuldades. Ganhou aos grandes favoritos, derrotando McCain (um herói da guerra do Vietname) e Hillary Clinton. Como é que o conseguiu? Com a sua calma contagiante e com a sua oratória inspiradora. Sinceramente, nunca vi nem nunca ouvi um líder político tão talentoso e tão entusiasmente. Collin Powel chamou-o "transformational". Sem dúvida alguma. Obama é um daqueles raros políticos que nos fazem voltar a acreditar em nós próprios e na humanidade. Nos tempos modernos, talvez só Nelson Mandela se possa comparar a Obama.
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Certamente que Obama fará e cometerá muitos erros. Felizmente, Obama não é perfeito. Mesmo assim, tenho a certeza absoluta que dentro de umas décadas olharemos para trás e diremos aos nossos netos que foi neste dia que as últimas barreiras raciais foram derrubadas, foi neste dia que os americanos mostraram ao mundo que as oportunidades são mesmo para todos, independentemente da cor da sua pele. E por isso devemos estar todos agradecidos a Obama e aos Estados Unidos.
PRESIDENTE OBAMA (2) _ Reacções
PRESIDENTE OBAMA _ Reacções
04 novembro 2008
UM DIA HISTÓRICO (6)
Um testemunho de um eleitor no estado tradicionalmente Republicano retirado daqui:
"I live in Lincoln, Nebraska, the heart of one of the reddest states in the country. I have voted in the same polling location for the last 8 years. Every election, my wife and I are the first two people at the poll when it opens (we like to vote immediately). Today, when we arrived a half-hour before the polling place opened, there were already fourteen people in line. The poll workers were astonished, my wife and I were shocked – and the line kept growing. When we left, after voting, the line was longer than it was when we got there. This has never happened before.
Ahead of us in line was three-generations of an African American family. It was the first time voting for all three of them. The youngest, who graduated high school last year, was calling his friends and getting them out of bed while we waited in line. He was describing the polling place and giving directions for getting there. After he voted, he had probably the biggest grin I’ve ever seen."
Ahead of us in line was three-generations of an African American family. It was the first time voting for all three of them. The youngest, who graduated high school last year, was calling his friends and getting them out of bed while we waited in line. He was describing the polling place and giving directions for getting there. After he voted, he had probably the biggest grin I’ve ever seen."
UM DIA HISTÓRICO (5)
Com tem acontecido nos últimos dias nos estados onde era possível votar antecipadamente, as filas para votar nas eleições americanas são verdadeiramente históricas. As pessoas esperam horas e horas a fio para votarem. Muitas destas imagens podiam ser de Portugal logo após o 25 de Abril, da África do Sul pós-apartheid ou noutro país onde os cidadãos votam pela primeira vez. Mas não são. São da mais antiga democracia do mundo, onde o entusiasmo é contagiante, onde a esperança e a vontade de mudança são as palavras de ordem. Aqui estão umas imagens de Virginia (em cima) e de e de Filadélfia.
A INCOERÊNCIA DA COMISSÃO
A Comissão Europeia reconhece que Portugal pode entrar em recessão ainda este ano. Mesmo assim, Joaquin Almúnia continua a insistir que o fundamentalismo do défice seja cumprido. Enfim. Entretanto, os franceses já vieram avisar que não irão cumprir a meta dos 3% do PIB pelo menos nos próximos dois anos. Certamente que Almúnia não será tão intransigente com Sarkozy e com a França. É que na União Europeia todos são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros.
UM DIA HISTÓRICO (4)
Um dos mais interessantes textos de apoio à candidatura de Obama foi escrito por um blogger conservador (que votou em Bush em 2000). Andrew Sullivan tem um dos melhores blogues políticos na América e é um dos locais que vale a pena visitar neste dia eleitoral.
UM DIA HISTÓRICO (3)
Como é tradicional, os primeiros resultados das eleiçôes vêm da pequeníssima localidade de Dixville Notch em New Hampshire. Tradicionalmente Republicana, Barack Obama ganhou com 15 votos contra 6 de McCain. Nenhum Democrata ganhava desde 1968. Não é significativo, mas é bastante simbólico.
UM DIA HISTÓRICO (2)
Um dia antes do seu neto ser eleito para a presidência do país, a avó de Barack Obama morreu aos 86 anos vítima de doença prolongada. Um momento trágico para a família Obama um dia antes de um dia histórico. Antes de falecer, Madelyn Dunham ainda conseguiu votar por correspondência.
03 novembro 2008
ALMÚNIA, O SUPREMO FUNDAMENTALISTA
É impressionante. Portugal e a economia europeia estão prestes a entrar em recessão técnica. E o que é que faz a Comissão Europeia para ajudar? Insiste no cumprimento do moribundo Pacto de Estabilidade. Segundo o PUBLICO, "O comissário europeu para os Assuntos Económicos, Joaquín Almunia, disse hoje em Bruxelas que "há tempo mais que suficiente" para Lisboa tomar medidas que evitem que Portugal volte a registar um défice orçamental acima dos três por cento do PIB em 2010 e, que nesse caso, violaria o Pacto de Estabilidade e Crescimento."
Almúnia é o maior fundamentalista do défice do mundo, o recordista mundial do irrazoabilidade económica. Será que é preciso pensar muito para perceber que esta não é a altura para pensar em fundamentalismos ideológicos? Será que Almúnia não acha que 7 anos de crise em Portugal não chegam? Será que Almúnia (e Barroso) não vêem que tal atitude fundamentalista só diminui o respeito que os cidadãos têm por Bruxelas? Será que Almúnia não percebe que essa atitude fundamentalista só prejudica Bruxelas (para além dos Estados-membros). Enfim. Ridículo.
ÚLTIMO DIA
Hoje é o último dia da looooooooooooonga campanha eleitoral americana. Sem dúvida uma das melhores de sempre (não sou eu quem o diz, mas sim a grande maioria dos analistas) e uma das mais interessantes. Parece inevitável que Obama vai ganhar. E provavelmente com bastante vantagem. Pelo menos é isso que dizem as últimas sondagens (que pode ver aqui). Amanhã será um dia histórico. Um daqueles dia que faremos questão de contar aos nossos filhos e netos. Um dia em que a humanidade mostrará o seu melhor e o quanto progredimos nas últimas décadas. Não acho que Obama "mudará" o mundo. Mas que o mundo ficará melhor não tenho dúvidas. Não vejo a hora para que tal aconteça.
02 novembro 2008
NACIONALIZAÇÃO DO BPN
Ainda não se conhecem todos os detalhes, mas o BPN acaba de ser nacionalizado pelo governo. Sinceramente não me surpreende que uma instituição bancária portuguesa seja nacionalizada (e que tal seja feito num domingo, quando os mercados financeiros estão encerrados). Se o mesmo aconteceu nos EUA, na Alemanha, no Luxemburgo, na Islândia, na Bélgica e na Holanda (entre outros), porque é que Portugal seria uma excepção? Em quase todos os países, há e havia bancos expostos aos activos financeiros "tóxicos" dos mercados imobiliários e financeiros americanos. Por isso, não é de espantar que as instituições financeiras nacionais tenham sido expostas também. Veremos se o BPN é o único a ser nacionalizado.
O que, mais uma vez, esta decisão demonstra é que a privatização da Caixa Geral de Depósitos é uma carta fora do baralho da política económica nos próximos anos, quiçá mesmo décadas. Para além do hipotético risco financeiro para o sistema bancário nacional que uma privatização da CGD acarretaria, não há dúvidas que dá mesmo jeito ter uma CGD à mão para ajudar quando as coisas não correm bem.
01 novembro 2008
31 outubro 2008
CRISE DE CONFIANÇA
E os novos indicadores sobre a confiança europeia não são nada famosos. Bem pelo contrário.
SINAIS DE RECESSÃO
Os primeiros sinais que a recessão na economia americana está à porta começaram a surgir. Ontem, foram publicadas as estatisticas do Departamento do Comércio, que revelaram que a economia americana se contraiu 0,3% no terceiro trimestre (taxa anual). O consumo baixou cerca de 3% e o investimento 1%. Para termos uma ideia melhor sobre a magnitude da recessão vamos ter que esperar pelos números do quarto trimestre. Veremos.
GM-CHRYSLER
Afinal, a GM já não deve ir à falência. Para que tal não aconteça a GM vai-se juntar à rival Chrysler. Já se prevê que a fusão das duas empresas dê azo a dezenas de milhares de desempregados em várias fábricas na América do Norte. Pelo menos, a GM não desaparece.
A NOVA GUERRA DO CONGO (3)
Já se fala de uma nova crise humanitária no Congo. Os riscos da situação ficar fora de controlo são muito reais e assustadores. Convém lembrar que na última guerra do Congo, 8 países da África subsaariana estiveram envolvidos e cerca de 5 milhões de pessoas perderam a vida directa ou indirectamente por causa da guerra. Na altura, pouca gente falou desse conflito ou se importou com o que estava a acontecer porque... era na África subsaariana. Contudo, é imperioso que não deixemos que a barbárie se instaure outra vez. A ONU, a UE, e outras organizações internacionais têm que fazer tudo ao seu alcance para tentar evitar uma nova catástrofe.
A CRISE NA RÚSSIA
A Rússia continua a sofrer os efeitos da crise financeira. O governo avança com um plano de resgate do sistema financeiro (mais um "bailout"), mas há quem diga que é só para salvar os oligarcas. Há já quem tema uma nova crise cambial e financeira como em 1998.
30 outubro 2008
JUROS MAIS BAIXOS
Como era esperado, a Fed baixou as taxas de juros em o,5 pontos percentuais. A taxa directora nos EUA é agora de 1%. A Fed continua a prosseguir uma política muito agressiva para tentar evitar uma recessão prolongada. OU seja, a Fed continua muito mais pro-activa do que outros bancos centrais como o Banco Central Europeu. A decisão da Fed acarreta boas e más notícias. A má notícia é que há cada vez menos margem de manobra na política monetária. Se as medidas dos últimos tempos não resultarem não há muito mais que a Fed possa fazer para estimular a economia. A boa notícia é que a decisão da Fed ajuda o mercado imobiliário americano (que esteve na origem da crise), bem como os investidores e consumidores. Apesar de haver muito pouca confiança na economia, taxas de juro tão baixas irão, mais cedo ou mais tarde, ajudar os investidores e os consumidores americanos e, assim, à própria retoma da economia. Esperemos que sim.
A CRISE CHEGA À UCRÂNIA
As repercussões da crise financeira chegaram à Ucrânia. O sistema financeiro ucraniano está em risco e, por isso, a Ucrânia pediu um empréstimo de 16,5 mil milhões de dólares ao FMI para tentar evitar um colapso financeiro.
A NOVA GUERRA DO CONGO (2)
Milhares de refugiados tentam escapar aos combates entre os rebeldes e as forças governamentais na República Democrático do Congo. A cidade de Goma está em estado de sítio ameaçada pelos rebeldes. A situação actual parece estar a degenerar dia após dia. Nos próximos dias saberemos se o Congo irá sucumbir a um ciclo de violência parecido ao que aconteceu durante a última guerra civil.
A QUEDA DE UMA POPULISTA
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, ganhou uma enorme notoriedade no ano passado quando se apresentou como a candidata do povo e para o povo. Kirchner ganhou e os argentinos depositaram uma grande esperança no seu governo. Um ano mais tarde a popularidade da "rainha Kirchner" (como ficou conhecida) desceu para níveis pouco habituais para um presidente que acabou de ser eleito. A inflação reapareceu e a dívida pública cresceu exponencialmente. A situação não está tão má como em 2001, mas deteriora-se a cada dia que passa. Em suma, a Argentina continua (praticamente) na mesma.
29 outubro 2008
A CRISE CHEGA À HUNGRIA
Chegou a vez da Hungria ser afectada pela crise financeira internacional. A moeda húngara tem descido vertiginosamente nos últimos dias e a estabilidade do sistema financeiro húngaro está em risco. O Banco Mundial, o FMI e a União Europeia já ofereceram ajuda a este país do leste Europeu, disponibizando um empréstimo de 20 mil milhões de euros. Alguns húngaros até já atribuem a culpa da crise no seu país à União Europeia, principalmente à imposição dos novos Estados-membros terem que seguir os Critérios de Convergência (que todos os países no euro tiveram que seguir). Esta crise está a ficar cada vez mais interessante do ponto de vista político.
A CRISE ISLANDESA (4)
A crise na Islândia continua. Agora surgem notícias que o Banco Central islandês subiu as taxas de juros de referência para 18%. Porquê? Para tentar travar segurar a moeda nacional e para tentar dinamizar os mercados de crédito islandeses. Não é difícil antecipar as consequências de tal decisão. Imagine o que não será pagar a prestação de um empréstimo bancário para compra de habitação se a taxa de juro ronda os 20%. Ou pagar o seu cartão de crédito com taxas de juros perto de 25 ou 30%. Ou tentar investir num projecto qualquer quando os juros dos empréstimos bancários rondam os 20%.
Claro que já se estão a ver as consequências para a economia real. Serão terríveis. A Islândia permanecerá em crise durante bastante tempo. Quem disse que a crise financeira não tinha consequências reais?
OBAMA, O ANTICRISTO
Muitos evangelistas americanos continuam a retratar Barack Obama como ... o Anticristo. Existem toda a espécie de teorias de conspiração sobre Obama (que se associa com terroristas, que é muçulmano, que estudou em madrassas na Indonésia, que que que), as quais se têm intensificado nos últimos dias de campanha. De acordo com estes sectores mais radicais, a eleição de Obama para a presidência será o princípio do Apocalise.
Agora, chegou a hora de dizer que um voto para Obama dá direito a uma passagem para o Inferno. E quem votar Obama não é cristão. Segundo uma destas fundamentalistas:
"To all those who name the name of Christ who plan to willfully disobey Him by voting for Obama, take warning. Not only is our nation in grave danger, according to the Word of God, so are you ... [T]his election is not about race. It's not about the economy. It's about obeying God. ...
Be forewarned: If you willfully disobey God on life and marriage because of race or false hope for the economy, you will usher in the kind of change that brought the Soviet Union to collapse. But the warning goes far beyond that. To those who think that God's grace gives them license to willfully disobey Him without consequences – think again:
Not everyone who says to Me, "Lord, Lord," shall enter the kingdom of heaven, but he who does the will of My Father in heaven. Many will say to Me in that day, "Lord, Lord, have we not prophesied in Your name, cast out demons in Your name, and done many wonders in Your name?" And then I will declare to them, "I never knew you; depart from Me, you who practice lawlessness!" (Matthew 7:21-23). That deals with your eternity...
Be forewarned: If you willfully disobey God on life and marriage because of race or false hope for the economy, you will usher in the kind of change that brought the Soviet Union to collapse. But the warning goes far beyond that. To those who think that God's grace gives them license to willfully disobey Him without consequences – think again:
Not everyone who says to Me, "Lord, Lord," shall enter the kingdom of heaven, but he who does the will of My Father in heaven. Many will say to Me in that day, "Lord, Lord, have we not prophesied in Your name, cast out demons in Your name, and done many wonders in Your name?" And then I will declare to them, "I never knew you; depart from Me, you who practice lawlessness!" (Matthew 7:21-23). That deals with your eternity...
To those who call themselves by the name of Christ who ignore what God says about life and marriage, who and are clinging to a fantasy of economic gain, think again ... Then obey Him in the voting booth and out of it. If not, do us all a favor and quit calling yourself a Christian. "
Hmm... Ah, como eu adoro as eleições americanas...
28 outubro 2008
A GUERRA NOVAMENTE
Voltou a guerra civil na República Democrática do Congo (ex-Zaire). Na última década mais de 5 milhões de pessoas morreram directa ou indirectamente por causa da guerra civil congolesa. O recrudescimento da guerra não augura nada de bom para os próximos tempos.
UMA LOUCA EXAUSTÃO
O presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, anda exausto. Pelo que parece, o pobre homem trabalha 20 horas por dia e anda esgotado. As más línguas dizem que o grande visionário iraniano padece de algum mal de saúde. Tais calúnias certamente têm origem no país do Grande Satã. Outras más línguas afirmam a pés juntos que o líder espiritual do Irão irá aproveitar a deixa para mandar o carismático (mas errático) líder às malvas por forma a substituí-lo por alguém mais competente. O mais certo é que o Grande Visionário saia deste mal-estar temporário mais retemperado e mais forte do que nunca para combater a inflação crescente e o desemprego que se acumula. E viva a Revolução Iraniana!
A DINAMARCA E O EURO
A pequena Dinamarca também foi afectada grandemente pela crise financeira, principalmente devido à grande desvalorização da coroa dinamarquesa. Há já quem defenda que só resta à Dinamarca entrar no euro para evitar episódios semelhantes no futuro. As sondagens já dizem que mais de 50% dos dinamarqueses apoiam a adesão ao euro. Resta saber se o mesmo se passará dentro de alguns meses ou num referendo sobre o euro... (o que, sinceramente, não acredito)
McCAIN CONTRA PALIN
Estamos a uma semana das eleições americanas, quando a grande maioria dos americanos irá às urnas para eleger o novo presidente. Muitos outros optaram por votar quer por correio, quer antecipadamente, pois nalguns estados é possível votar duas semanas antes das eleições.
As sondagens dão todas uma vantagem considerável para Obama, que se deve tornar no novo presidente americano, a não ser que haja uma enorme surpresa na última semana da campanha (Bin Laden a apoiar "Barack Hussein Obama"?).
Com efeito, a grande supresa do momento tem sido a enorme batalha que se tem passado entre... McCain e Palin. Como a campanha parece destinada ao fracasso, as recriminações entre os Republicanos sobem de tom. As coisas estão tão más que os próprios ajudantes de McCain e Palin têm trocado acusações sobre quem tem a culpa pela derrota (vindoura), sobre quem tem a culpa por comprar roupas no valor de 150 mil dólares para Palin, bem como quem é culpado pelo fracasso das entrevistas de Palin aos meios de comunicação social. As coisas estão tão interessantes que um dos ajudantes de McCain chamou Palin de "diva". Hmmm... Será que isto será um sintoma do que irá acontecer no dia 4 de Novembro?
27 outubro 2008
A CHINA E A CRISE
O influente analista britânico Will Hunt argumenta que a China não está em condições para resgatar o Ocidente da crise económico. Segundo ele, quando muito o oposto acontecerá. Outra das ideias interessantes do artigo é que o partido comunista chinês está a pensar levar a cabo a maior reforma agrária da história chinesa recente. Como? Colectivizando a terra? Não, pelo contrário. Concendendo contractos de arrendamento e de leasing aos camponeses (que ficariam praticamente donos das terras). Como o mundo mudou...
O FIM DOS OLIGARCAS?
O Guardian especula se a crise financeira não ditará o fim dos oligarcas russos. Nos últimos5 meses, os oligarcas já perderam 200 mil milhões de dólares. Só Roman Abramovich, dono do Chelsea, já perdeu 20 mil milhões de dólares. Será que o Chelsea se verá forçado a vender jogadores?
CRISE NA POLÓNIA E... NO BRASIL?
O New York Times tem hoje um artigo que fala sobre as ramificações da crise financeira na Polónia e, talvez, no Brasil. As moedas dos dois países caíram bruscamente nos últimos 10 dias e a instabilidade chegou aos mercados financeiros dos mesmos. Há quem diga que o milagre económico polaco vai estancar, pelo menos por algum tempo.
PORTUGAL, PAÍS MODELO (2)
O Jorge Oliveira tem este comentário ao artigo sobre as energias renováveis nacionais. Penso que levanta pontos muito pertinentes, principalmente no que diz respeito ao facto do financiamento das renovaveis estar a ser suportado por todos os portugueses. Não é por acaso que continuamos a ter uma electricidade demasiado cara. Resta especular o que é que aconteceria se abandonássemos os projectos das renováveis. Será que o preço da electricidade diminuiria? Provavelmente não. Afinal, durante vários anos não investimos nada no sector, mas, mesmo assim, a nossa factura da electricidade não era baixa. O que falta em Portugal neste sector é concorrência e transparência. Se o conseguirmos, certamente que começaremos a pagar menos.
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Vale a pena realçar outro aspecto. Como independente, o que me interessa é apontar aquilo que vai mal quando está mal, e enaltecer o que está bem quando está bem. O que é importante é tentar manter a isenção e a imparcialidade com sentido crítico.
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Já agora, o link do video da peça da CBC sobre as energias renováveis portuguesas está aqui:http://www.cbc.ca/mrl3/8752/news/features/durham-portugal081020.wmv
ps. Obrigado ao Sócrates pelo link
ORÇAMENTO DE ESTADO (2)
A propósito do meu comentário sobre o orçamento de estado, o Fartinho da Silva tem a seguinte opinião...
"Repare bem nesta contradição:"Ou seja, estamos a aumentar (...) e os salários dos funcionários públicos" "em vez de (...) auxiliar as famílias portuguesas". Por acaso, considera que os funcionários públicos não têm família? Por acaso considera que os funcionários públicos não são feitos do mesmo osso e carne que a população restante? Por acaso, considera que apesar dos 8 anos consecutivos a perderem poder de compra (perdendo cerca de 10% desse mesmo valor) não chega para os funcionários públicos? Sinceramente, acho que o meu caro não percebe bem aquilo que é realmente a função pública portuguesa. Assim, vou tentar explicar de forma muito breve e resumida: o problema de não se conseguir reduzir a dimensão da função pública em Portugal deve-se ao facto de os dois maiores partidos portugueses terem "por lá" colocado dezenas de milhares de funcionários desses partidos e como tal como podem agora os representantes de PS e/ou PSD fazer as verdadeiras reformas? Eu, considero que com este sistema político esse problema não tem solução fácil. Por isso, peço, por favor, para não invocar os salários dos funcionários públicos porque, obviamente, eles não tem qualquer responsabilidade no facto dos dois grandes partidos portugueses terem inchado o Estado português com dezenas de milhares de funcionários desses partidos através de:- "empresas" públicas;- "empresas" semi-públicas;- golden shares;- "universidades";- "politécnicos" (aqui então...);- "hospitais" públicos;- etc. Claro que esta é apenas uma opinião de quem já esteve na função pública a receber fortunas (mil euros)... e agora está no sector privado a ganhar muito mais..."
"Repare bem nesta contradição:"Ou seja, estamos a aumentar (...) e os salários dos funcionários públicos" "em vez de (...) auxiliar as famílias portuguesas". Por acaso, considera que os funcionários públicos não têm família? Por acaso considera que os funcionários públicos não são feitos do mesmo osso e carne que a população restante? Por acaso, considera que apesar dos 8 anos consecutivos a perderem poder de compra (perdendo cerca de 10% desse mesmo valor) não chega para os funcionários públicos? Sinceramente, acho que o meu caro não percebe bem aquilo que é realmente a função pública portuguesa. Assim, vou tentar explicar de forma muito breve e resumida: o problema de não se conseguir reduzir a dimensão da função pública em Portugal deve-se ao facto de os dois maiores partidos portugueses terem "por lá" colocado dezenas de milhares de funcionários desses partidos e como tal como podem agora os representantes de PS e/ou PSD fazer as verdadeiras reformas? Eu, considero que com este sistema político esse problema não tem solução fácil. Por isso, peço, por favor, para não invocar os salários dos funcionários públicos porque, obviamente, eles não tem qualquer responsabilidade no facto dos dois grandes partidos portugueses terem inchado o Estado português com dezenas de milhares de funcionários desses partidos através de:- "empresas" públicas;- "empresas" semi-públicas;- golden shares;- "universidades";- "politécnicos" (aqui então...);- "hospitais" públicos;- etc. Claro que esta é apenas uma opinião de quem já esteve na função pública a receber fortunas (mil euros)... e agora está no sector privado a ganhar muito mais..."
Caro Fartinho da Silva,
Obrigado pelo comentário. Aqui vão as minhas respostas:
1) Em relação à questão das famílias, o que eu queria dizer era que neste momento de crise (que se prolonga há 7 anos) era importante que o Estado começasse a dar prioridade ao auxílio de todas as famílias (incluíndo, obviamente, os funcionários públicos) através, nomeadamente, de benesses fiscais e de baixas de impostos. Um dos problemas dos últimos anos (e décadas) tem sido exactamente a ideia que o Estado é a solução (e a fonte...) dos nossos problemas. Não é. Existe em Portugal um paternalismo excessivo do Estado que não ajuda nem as empresas nem os particulares. Como os últimos anos demonstraram, não é à custa do crescimento do Estado que vamos conseguir sair da crise. Já o tentámos e falhámos. Vezes sem conta. Eu por mim já estou fartinho da silva dessa solução. É preciso começar a procurar alternativas.
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2) Concordo inteiramente consigo quando afirma que o excesso de funcionários públicos se deve a motivos políticos. Todos os principais partidos têm responsabilidades nesta matéria. E é por isso que todos se deviam empenhar em fazer emagrecer o Estado e contribuir para aumentar a meritocracia na Função Pública. Aliás, só assim é que poderemos aumentar os salários dos funcionários públicos. Eu não sou contra o aumento dos salários dos funcionários públicos por princípio. Sou contra, porque não há grande margem de manobra (i.e. fundos) para o fazer. Porém, só há duas formas de acabar com os salários de 1000 euros: ou cortamos o número de funcionários ou cortamos noutras despesas públicas, tal como o TGV. É tudo uma questão de escolha. Pessoalmente, sou inteiramente a favor do aumento dos salários dos funcionários públicos. Até porque essa é a única maneira de conseguir reter funcionários competentes e não fazer com que eles se vejam forçados a sair para o sector privado por forma a alcançar um nível de vida melhor.
Cumprimentos,
Alvaro
26 outubro 2008
24 outubro 2008
VIRAGEM À ESQUERDA
O meu artigo no PUBLICO de hoje:
Não é difícil antever que 2008 será um ano histórico, tanto económica como politicamente. Economicamente, 2008 foi o ano em que a economia mundial sofreu dois rudes golpes. Primeiro, tivemos um choque petrolífero que ameaçou arrastar-nos para uma recessão semelhante às ocorridas em 1973 e em 1980, quando a subida vertiginosa dos preços petrolíferos originou uma quebra de produção significativa (e um correspondente aumento do desemprego) e um aumento considerável da inflação. Logo em seguida, fomos atingidos pelos efeitos da grave crise financeira americana que se espalharam como um rastilho pela economia mundial e abalaram as estruturas do sistema financeiro internacional. Quando demos conta, vimos os mercados financeiros e bolsistas em pânico, os mercados de crédito a congelar e a confiança das agentes económicos a evaporar-se. Apesar da volatilidade ainda não ter acabado, os mercados parecem estar mais estabilizados. É chegada a hora de emendar o que está mal e começar a preparar o combate contra a recessão que aí vem, uma recessão que poderá ser a maior e a mais prolongada dos últimos anos.
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O dramatismo da crise financeira foi tal que muitos chegaram a proclamar o falhanço do modelo económico vigente. Porém, afirmar que a crise financeira é o prenúncio do fim das economias de mercado ou que a crise é a prova provada dos falhanços do capitalismo é, no mínimo, errado ou enganador. Apesar de não serem frequentes, as crises financeiras são um facto recorrente das economias de mercado (e não só). O que é importante é garantir que, quando as crises ocorrem, os governos estejam preparados para actuar convicta e decisivamente para não deixar que as coisas fiquem foram de controlo. E essa é uma das lições da Grande Depressão.
Ainda assim, restam poucas dúvidas que 2008 entrará na história como um ano de viragem no pêndulo ideológico dominante nas últimas décadas. A era Thatcher-Reagan chegou ao fim. Nos próximos tempos, os gritos de privatização, desregulamentação e liberalização serão cada vez menos audíveis. Nos próximos anos, o mundo virará à esquerda tanto económica como ideologicamente. Na próxima década, os governos serão bem mais intervencionistas do que nos últimos 30 anos, a regulação da actividade económica aumentará, o proteccionismo crescerá, o recurso aos défices orçamentais tornar-se-á mais frequente (mesmo na Eurolândia), as despesas públicas aumentarão, e, consequentemente, a carga fiscal crescerá.
O dramatismo da crise financeira foi tal que muitos chegaram a proclamar o falhanço do modelo económico vigente. Porém, afirmar que a crise financeira é o prenúncio do fim das economias de mercado ou que a crise é a prova provada dos falhanços do capitalismo é, no mínimo, errado ou enganador. Apesar de não serem frequentes, as crises financeiras são um facto recorrente das economias de mercado (e não só). O que é importante é garantir que, quando as crises ocorrem, os governos estejam preparados para actuar convicta e decisivamente para não deixar que as coisas fiquem foram de controlo. E essa é uma das lições da Grande Depressão.
Ainda assim, restam poucas dúvidas que 2008 entrará na história como um ano de viragem no pêndulo ideológico dominante nas últimas décadas. A era Thatcher-Reagan chegou ao fim. Nos próximos tempos, os gritos de privatização, desregulamentação e liberalização serão cada vez menos audíveis. Nos próximos anos, o mundo virará à esquerda tanto económica como ideologicamente. Na próxima década, os governos serão bem mais intervencionistas do que nos últimos 30 anos, a regulação da actividade económica aumentará, o proteccionismo crescerá, o recurso aos défices orçamentais tornar-se-á mais frequente (mesmo na Eurolândia), as despesas públicas aumentarão, e, consequentemente, a carga fiscal crescerá.
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Quão pronunciada será esta viragem à esquerda irá depender principalmente de um factor: a gravidade da recessão que se aproxima. Quanto maior for a crise económica mundial, maior será a tentação de seguir receitas populistas e fórmulas milagrosas patrocinadas pelo Estado.
Neste contexto, outra lição a retirar da crise financeira associada à Grande Depressão é que é importante também não esquecer os erros de política económica desse período. A década de 1930 foi a época mais proteccionista dos últimos 150 anos e o resultado foi desastroso a nível económico. O mesmo poderá acontecer actualmente. Retroceder na globalização, aumentar desmesuradamente o nível de proteccionismo, e até mesmo ceder ao encantamento da regulamentação excessiva não beneficiará ninguém, a não ser determinados grupos de interesse. Independentemente do que venha a acontecer, é fundamental garantir que esta viragem ideológica seja regrada por forma a evitar que, sob um manto proteccionista e ideológico, se desbaratem os avanços económicos alcançados das últimas décadas.
Quão pronunciada será esta viragem à esquerda irá depender principalmente de um factor: a gravidade da recessão que se aproxima. Quanto maior for a crise económica mundial, maior será a tentação de seguir receitas populistas e fórmulas milagrosas patrocinadas pelo Estado.
Neste contexto, outra lição a retirar da crise financeira associada à Grande Depressão é que é importante também não esquecer os erros de política económica desse período. A década de 1930 foi a época mais proteccionista dos últimos 150 anos e o resultado foi desastroso a nível económico. O mesmo poderá acontecer actualmente. Retroceder na globalização, aumentar desmesuradamente o nível de proteccionismo, e até mesmo ceder ao encantamento da regulamentação excessiva não beneficiará ninguém, a não ser determinados grupos de interesse. Independentemente do que venha a acontecer, é fundamental garantir que esta viragem ideológica seja regrada por forma a evitar que, sob um manto proteccionista e ideológico, se desbaratem os avanços económicos alcançados das últimas décadas.
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