Fala-se muito na dívida do Estado e das consequências que um elevado endividamento poderá acarretar. Porém, é raro que se apresentem os números exactos do endividamento público ou que se indiquem as grandes tendências da dívida pública nacional. Segundo o governo, foi a crise internacional que despoletou os problemas relacionados com o nosso elevado endividamento. Mas, será mesmo verdade? Será que a dívida pública só cresceu a partir de 2008 ou será que o crescimento do endividamento público vem mais de trás?
Para podermos perceber a evolução da dívida pública, vale a pena olharmos para os números publicados pelo Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público, a entidade que tem a responsabilidade de gerir a tesouraria da dívida pública nacional.
Ora, segundo os dados mais recentes, em 31 de Setembro de 2010, a dívida pública total de Portugal já ascendia a nada mais nada menos do que 147,747 milhões de euros, ou 86% do PIB nacional. Por outras palavras, a dívida do Estado corresponde a qualquer coisa como 14 mil euros por português (assumindo que existem 10,6 milhões de habitantes no nosso país). Isto se olharmos somente para a dívida pública directa e esquecermos as dívidas das empresas públicas, bem como a dívida pública futura associada às parcerias público-privadas. Se tomássemos em linha de conta estes montantes, o nível de endividamento do Estado seria bem maior.
Por isso, interessa perguntar: estará o ritmo da crescimento da dívida pública a crescer ou a diminuir? Infelizmente, nos últimos anos, a dívida pública tem vindo a crescer continuamente. Deste modo, entre 2001 e 2010, a dívida pública cresceu primeiro a um ritmo relativamente estável e depois a ritmos cada vez maiores, assim como podemos ver no Gráfico 1. Este gráfico apresenta os valores mensais da dívida pública (directa) total desde 1 de Janeiro de 2001 até 31 de Setembro de 2010. Mais concretamente, a linha a cinzento representa a dívida total, enquanto que a linha a preto é a linha de tendência do endividamento público.
O que este gráfico nos diz, é que nos últimos 10 anos, o ritmo do endividamento público tem sido extraordinariamente estável. É assim que, durante quase todo o período, a linha de tendência quase coincide com os valores actuais do endividamento. Só mesmo a partir do final de 2008 é que o crescimento da dívida pública total foi superior ao crescimento de tendência. Este desafasamento pode ser observado no gráfico, que mostra a linha cinzenta (da dívida total) a descolar da linha de tendência (a preto) a partir de 2008.
Gráfico 1 _ Dívida pública total, 2001-Setembro de 2010 (em milhões de euros)
Fonte: IGCP
A aceleração do crescimento da dívida pública nacional pode ser também observada no Gráfico 2, que apresenta uma média móvel de 6 meses do crescimento da dívida pública total. Como podemos observar, nos últimos 10 anos, a taxa de crescimento média da dívida pública nacional foi quase sempre positiva, tendo diminuído somente em 2004, bem como entre 2007 e os meados de 2008. Isto apesar de o Estado português ter beneficiado de generosas receitas provenientes das privatizações, que deveriam ter diminuído as pressões sobre a dívida pública portuguesa.
Infelizmente, tal não aconteceu e, nos últimos 2 anos, o ritmo médio de crescimento da dívida pública nacional aumentou significativamente. Actualmente, a taxa de crescimento do endividamento público nacional já está quase tão alta como em 2009, quando se registaram as maiores taxas de crescimento da dívida pública nacional dos últimos anos. Nem os sucessivos PECs, nem os vários planos de austeridade foram suficientes para pôr cobro ao crescimento insaciável da despesa pública nacional.
E é exactamente este descontrolo das contas públicas nacionais, e o correspondente aumento da dívida pública, que tem feito com que os mercados tenham dificuldade em acreditar em nós e nos exijam juros cada vez mais elevados para financiarmos as nossas dívidas (e que incluem não só a dívida do Estado, mas também as dívidas da banca, das empresas e das famílias). E enquanto nós não travarmos o despesismo do nosso Estado e o crescimento insustentável da dívida pública, o mais certo é que os mercados nos continuem a penalizar pelos erros da nossa política económica.
Gráfico 2 _ Crescimento da dívida pública total, 2001-Set 2010 (média móvel de 6 meses)
Fonte: Calculado das séries do IGCP
7 comentários:
Se colocar a taxa de crescimento da economia no quadro também por valor julgo que verá que estivemos quase sempre em recessão efectiva nos últimos 10 anos . A Dívida mascarou a recessão. Seria curioso saber quando se deu o "tipping point".
lucklucky
Divida Pub. em 1996 --59,9% PIB Divida Pub. em 1997 --56,1% PIB
Divida Pub. em 1998 --52,1% PIb
Divida Pub. em 1999 --51,4% PIB
Divida Pub. em 2000 --50,4% PIB
Divida Pub. em 2001 --52,9% PIB
Divida Pub. em 2003 --56,9% PIB
Divida Pub. em 2004 --58,3% PIB
Divida Pub. em 2005 --58,3% PIB
Divida Pub. em 2010 --91,0% PIB
Erro,rectifico
Divida Pub. em 2005--63,6%% PIB
Entre 1995 e 2000, Portugal reduziu a percentagem da dívida pública no PIB, atingindo nesse ano 53,3%. Desde essa altura verifica-se a tendência contrária, tendo a dívida pública atingido 59,4% do PIB em 2003. Comparativamente, o conjunto da UE (15) apresenta um nível de dívida superior ao nacional. Em termos de posição relativa,
Portugal nunca ocupou, ao longo do período analisado, o lugar de país com a maior dívida posicionando-se, desde 2002, abaixo de meio da tabela.
Fonte: Eurostat
http://indest.ine.pt/Relatorio/Relatorio_IE_2004.pdf
Entre 1995 e 2000, Portugal reduziu a percentagem da dívida pública no PIB, atingindo nesse ano 53,3%. Desde essa altura verifica-se a tendência contrária, tendo a dívida pública atingido 59,4% do PIB em 2003. Comparativamente, o conjunto da UE (15) apresenta um nível de dívida superior ao nacional. Em termos de posição relativa,
Portugal nunca ocupou, ao longo do período analisado, o lugar de país com a maior dívida posicionando-se, desde 2002, abaixo de meio da tabela.
Fonte: Eurostat
http://indest.ine.pt/Relatorio/Relatorio_IE_2004.pdf
eu acho que não é de todo implausível a tese de que a riqueza só se dobra não somente com a produção económica, mas também com a especulação do capital. Ora, para que o capital se faça multiplicar é de toda a conveniência que existam uns malucos que se endividam para pagar a dobrar no futuro. E tal é quase inevitável para quem é mais pobre. As pessoas em Portugal endividaram-se principalmente com a habitação pois foram literalmente empurradas para essa situação já que os preços de aluguer se tornaram incomportáveis face ao valor da dívida à banca.
Dinheiro é dívida, praticamente no mundo inteiro exepto na China.
Como temos défices correntes, eu pergunto como é que o PAÍS a vai conseguir pagar?
Só temos cinco opções:
- Saímos do Euro
- A União Europeia acaba ou cria uma nova moeda para os PIGS.
-Alguma da nossa dívida é perdoada.
- Produzimos mais e não temos défice, reduzindo-a progressivamente ( o que eu duvido).
- Não pagamos a dívida e os nossos credores executam a penhora e ficam com o que lhes mais interessar em PORTUGAL.
TRISTE DESTINO NOS ESPERA SE NÂO LUTARMOS CONTRA ISSO.
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