Nos últimos dias a tensão na Educação começou finalmente a diminuir, ainda que ligeiramente. Os sindicatos dos professores pediram ao governo "espaço para uma solução negociada" e o governo já concordou com a inevitabilidade de ter que alterar o regime de avaliação. Acho bem. Bom senso é o que se pede numa altura em que as coisas ameaçam ficar um pouco fora de controlo. No meio de todo este jogo de forças, é importante ter em vista dois princípios:
Primeiro, o princípio da avaliação dos professores deve ser inegociável. O modelo pode (e deve) ser alterado e os professores devem ter uma palavra sobre o próprio modelo. No entanto, é importante que a avaliação dos professores seja feita e que tenha dentes. Isto é, não vale a pena criar um modelo de avaliação que não tenha consequências para a qualidade do ensino e para a própria carreira docente. Não vale a pena criar a avaliação dos professores se for somente figurativa e sem consequências práticas para os professores e alunos.
^
Segundo, é urgente acabar com a espiral de confrontação entre os professores e o governo, sob pena do sector ficar num estado ainda mais lastimável do que aquele que se encontra actualmente (o que é obra). Ninguém ganha com os professores constantemente na rua e com um governo intransigente. No fundo, os professores e o governo estão a jogar uma versão do famoso jogo do dilema do prisioneiro. Toda a gente ganha se houver cooperação entre as partes. No entanto, todos também sabem que se uma das partes ceder às pretensões da outra, a que não cede fica numa melhor situação do que aquela que poderia ficar com uma situação de cooperação. Por um lado, se o primeiro-ministro ceder à tentação eleitoralista e substituir a ministra (tirando ainda os dentes ao modelo de avaliação), os professores ficam a saber que a pressão das ruas dá frutos. Consequentemente, nunca mais será possível introduzir qualquer tipo de modelo de avaliação eficaz. Os professores manteriam o status quo, que manifestamente não tem sido benéfico para a qualidade educativa. Por outro lado, se os sindicatos cedessem a aceitassem o actual modelo de avaliação (o que é, obviamente, impensável, actualmente), o governo ficaria numa situação negocial quase sem precedentes.
_
Ou seja, as partes ganham mais numa situação em que a outra parte cede do que num cenário de cooperação. No entanto, se ninguém cooperar existe um risco real do sector ficar numa situação de conflito latente ou permanente, e quem perde são todos, os alunos, os professores, o governo e o próprio país.
É, por isso, que haja bom senso nos próximos dias e na reunião do dia 15. Continuar nesta espiral de confrontação não serve a ninguém, a não ser alguns interesses políticos e grupos de interesses. Deste modo, se os professores e o governo se preocupam realmente com o ensino e com os alunos, se os actores do sector da Educação se interessam realmente pela novas gerações, então deixem de lado a retórica e os joguinhos de interesse, e iniciem uma política de cooperação estratégica num sector que é vergonhosamente sofrível, um sector que, todos os anos, continua a hipotecar o futuro de milhares de alunos e, por consequência, o próprio futuro do país (e a competitividade da economia nacional). Haja bom senso.
1 comentário:
Acho que o caro autor não percebeu totalmente aquilo que se tem passado neste sector nos últimos anos.
Este governo convencido que é através de uma gestão centralizada desde a 5 de Outubro, produziu legislação em quantidades inimagináveis transformando todos os professores em funcionários públicos e as escolas em meros departamentos burocráticos do Ministério da Educação.
Este governo, através de toneladas de legislação, conseguiu converter todos os professores em burocratas semelhantes aos existentes na antiga União Soviética.
Mas, esta Ministra, é alguém que colocou em prática tudo aquilo que faltava para colocar as escolas ao serviço do gigantesco monstro centralista e burocrático e de todos os seus inúmeros tentáculos a que todos aprendemos a designar como Ministério da Educação. Este monstro acredita piamente que as crianças e jovens devem aprender sem esforço, sem trabalho e sem disciplina e que as escolas devem ser uma algo semelhante a uma repartição pública com o objectivo único de guardar e cuidar das crianças e jovens enquanto os seus pais trabalham.
E não se engane, existem imensas pessoas que se sentam todos os dias à mesa do Orçamento de Estado para este sector, não para servirem as aprendizagens dos alunos mas apenas e só para se servirem a eles. São estas pessoas que todos os dias e a todas as horas aconselham a ministra a realizar esta ou aquela "reforma" para que tudo fique na mesma. Infelizmente, esta ministra da educação não fez nada mais do que cimentar o modelo romântico das "ciências" da educação nas escolas e com isso cimentou o lugar de milhares de funcionários do ministério, de "especialistas" da educação, de "cientistas" da educação, de "psicólogos" da educação, de "sociólogos" da educação, de escolas "superiores" de educação, de institutos de "inovação" educacional, etc., etc..
Desta forma, posso acrescentar que acredito que a senhora tenha boas intenções, mas o seu trabalho tem sido miserável porque acredita nos conselhos de quem todos os dias se senta à mesa do Orçamento, não ouvindo os professores e já agora os melhores alunos.
As verdadeiras reformas não se fazem nas escolas, fazem-se no monstro burocrático e em todos os seus inúmeros tentáculos - Ministério da Educação. O problema é que aqui não há ninguém que se atreva a mexer, por razões evidentes.
Enviar um comentário