Tanto aparato para quê? Para reiterar que 50 milhões de euros (ou 86 milhões em 2013) podem fazer descarrilar a consolidação orçamental? Para avisar a oposição que tem de recuar? Sinceramente, é díficil perceber porque é que o ministro convoca uma conferência de imprensa e o primeiro-ministro chama a líder da oposição a S. Bento só para isto. Tanto aparato só pode significar uma coisa: o governo parece mesmo disposto a tudo para se fazer vitimizar pelo descalabro dos últimos dias. É que a culpa não é deles: é dos mercados, de uma injusta crise internacional, da oposição irresponsável, dos jornalistas que é preciso solucionar e de todos os(as) outros(as) que estão contra. De quem é a culpa do défice de 9.3%? Dos outros, claro. De quem é a culpa da dívida pública em crescimento explosivo? Dos outros. De quem é a culpa pela estagnação económica de uma década? Dos outros, como é óbvio.
Enfim, a desresponsabilização pessoal habitual e a vitimização do costume. Nada de novo.
Ainda assim, o que eu gostaria dos líderes da oposição era perguntarem o seguinte ao ministro e ao primeiro ministro. Sim, senhor, é verdade que é preciso travar o endividamento da Madeira. Aliás, é isso que a legislação proposta pela oposição tenta fazer. Porém, se essa lógica se aplica à Madeira, o que dizer do que este governo (e o que precedeu) tem feito pelo endividamento do país? O que dizer do terrível falhanço da política económica e fiscal dos últimos anos?
Mais: se 50 milhões de euros são um escândalo, o que dizer dos 2 mil milhões de euros por ano que os governos recentes (com especial enfase para os governos de José Sócrates) condenaram o país todos os anos por causa das parcerias público privadas? O que dizer das centenas e milhões de euros que foram desorçamentados nos últimos anos para o Sector Empresarial do Estado (que não conta para o défice)? O que dizer das inqualificáveis irresponsabilidades fiscais cometidas por este governo e este ministro nos últimos anos.
Tenha paciência, senhor ministro. Todos nós percebemos a intenção de tanto dramatismo, de tanto espalhafato. Mas não nos venha com lições de moral por causa de uns míseros 50 milhões de euros. Aliás, se o pecado cometido pela oposição é assim tão grave e é tão contra os seus princípios, por que é que não se demite, senhor ministro?
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