26 novembro 2009

VACINA MALDITA

Ontem fiquei a saber através da TSF que o laboratório responsável pela produção da vacina da gripe A tinha aconselhado a suspensão da vacina no Canadá, país onde resido. Ora, tendo acabado de tomar a vacina juntamente com a minha família, logo me pus a ver websites e a ouvir as notícias na rádio e na televisão canadianas para ver se sabia mais de alguma coisa sobre a alegada suspensão da vacina. Escusado será dizer que os meus esforços foram todos em vão. Tal notícia não figurou em nenhum website ou meio de comunicação canadiano. Estranho, pensei. Por que será? Será que os meios de comunicação portugueses sabem mais do Canadá que os canadianos? Será que existe uma conspiração do governo canadiano para abafar notícias tão alarmantes?
Não, nada disso. O que se passou foi que 170 mil doses da vacina enviadas para o Canadá tiveram reacções alérgicas mais severas do que o normal e, por isso, o laboratório e as autoridades de saúde canadianas decidiram prevenir e retiraram as vacinas desse lote dos diversos centros de saúde. Não houve suspensão da vacina nem da campanha de vacinação, mas somente a retirada deste lote de vacinas dos milhões de vacinas actualmente a serem administradas no país. Aliás, no Canadá, a vacinação já está aberta a toda a gente, após os grupos de risco e de as crianças terem tido prioridade. Deste modo, cerca de um quarto da população canadiana já foi vacinada. Assim, e como referi noutros posts, enquanto em Portugal a atitude em relação à vacina é de grande desconfiança (por exemplo, soube-se hoje que somente 8% das grávidas portuguesas foram vacinadas), no Canadá a atitude continua a ser de que a vacinação acarreta um risco bem menor do que a alternativa de não vacinação. Aliás, alguns estudos demonstram que a vacinação é particularmente importante para as crianças e grupos de risco. Por exemplo, no Canadá, enquanto em 2007 e em 2008 houve menos de 40 hospitalizações de crianças devido à gripe sazonal , só na segunda semana de Novembro a gripe A deu azo a cerca de 250 hospitalizações de crianças. Ou seja, a gripe A é especialmente perigosa para as crianças e grupos de risco (como as grávidas) quando comparada à gripe sasonal.
Sabendo isso, e mais uma vez, o que distingue claramente a eficácia das campanhas de vacinação nos dois países passa muito pela forma como a informação sobre a gripe e a vacina tem sido gerida. Em Portugal, o alarmismo e a desinformação que os nossos meios de comunicação (e muitos dos nossos altos responsáveis do sector da Saúde) têm dado a esta questão explica em grande parte a desconfiança que as pessoas têm em relação à vacina. No Canadá, e apesar de existirem as mesmas desconfianças, tem havido um esforço concertado para informar as pessoas de que o risco associado à vacinação é muitíssimo inferior ao risco de contrair a doença, principalmente no que diz respeito às crianças e aos grupos de risco. Numa nota pessoal, como sou pai, a mim não me foi difícil decidir.

25 novembro 2009

BONS INCENTIVOS

O governo anunciou uma importante medida no combate à desertificação do interior: os médicos que se disponham a trabalhar nos concelhos do interior do país vão receber um incentivo adicional de 750 euros mensais enquanto estiverem a ser formados na sua especialidade. Uma óptima medida que deve ser aplaudida e replicada noutros sectores e noutros departamentos estatais.

24 novembro 2009

AUMENTO DE IMPOSTOS

O primeiro-ministro assegurou hoje que o governo não irá aumentar os impostos para fazer face ao aumento desmesurado do défice orçamental. Pois não. É provável que não. Pelo menos antes das próximas eleições. Como é que se irá financiar o défice? Muito simples. Com os impostos futuros, através do aumento da dívida pública. Isto é, como mencionei no post anterior, quem terá que aumentar os impostos ou reduzir a despesa serão os próximos governos, não este.
Entretanto, o que eu gostaria que a oposição perguntasse ao governo era o seguinte:
  • Onde é que o governo vai obter os fundos necessários para concretizar as obras públicas projectadas? Através do aumento da dívida pública? Mais parcerias público-privadas que irão aumentar a dívida pública futura?
  • Estará o governo ciente que a concretização deste projectos irá necessariamente acarretar um aumento dos impostos no futuro?
  • Não estará o governo preocupado com a grave deterioração da competitividade fiscal que esse aumento da carga fiscal iria acarretar?
  • Estará o governo consciente que o país terá que destinar uma crescente parcela do seu rendimento ao pagamento dos juros relacionados com a dívida associada a estes projectos?

ACUMULAR DA DÍVIDA

Nos Estados Unidos, a inexorável acumulação da dívida pública irá dentro em breve ter enormes consequências para a condução da política económica. Como este artigo do New York Times revela, a situação irá agravar-se ainda mais quando começarem as inevitáveis subidas das taxas dos juros. Só para dar uma ideia, se as taxas de juros subirem 1%, o pagamento dos juros da dívida pública americana irá aumentar tanto quanto as despesas totais dos ministérios da Educação e da Energia. Ou seja, se a dívida americana continuar a aumentar exponencialmente, dentro de pouco tempo, ou os impostos têm de aumentar ou as despesas públicas têm de diminuir.
Em Portugal, a desorçamentalização de muitas das despesas do Estado (para disfarçar o défice) conjugada o esforço do combate à crise (e a consequente diminuição de receitas) tem igualmente feito disparar a dívida pública. Se aliarmos a isto o alarmante endividamento externo (a crescer entre 9 e 10% ao ano), temos as condições ideais para que uma parcela cada vez maior do orçamento do Estado (e das nossas exportações) seja destinada ao pagamento da dívida.
Ainda assim, os nossos políticos assobiam para o lado e continuam a sonhar com grandiosas obras públicas e outras coisas que tal. Tal comportamento percebe-se. É que quem terá que pagar a factura da irresponsabilidade presente serão os governos vindouros e as gerações futuras. E esses, como é óbvio, não se podem manifestar ou ainda não têm direito a votar.

PRÉMIO À INOVAÇÃO

Todos os anos, o BES premeia projectos que se distinguem pela sua criatividade e inovação. Este ano, o prémio foi para uma empresa de software de Coimbra, que desenvolveu um sistema que processa informações em tempo real e que poderá ser utilizada tanto para "prever" ataques cardíacos para pacientes internados nos cuidados intensivos, como para prever situações de fraude bancária. Os investigadores premiados foram Pedro Bizarro, de 35 anos, e Diogo Guerra, de 23 anos. Centenas de investigadores candidataram-se ao prémio, um sinal do crescente empreendedorismo exibido por alguns sectores da nossa economia. Nem tudo vai mal em Portugal.

19 novembro 2009

DESCULPAS PELA CRISE FINANCEIRA

Um dos directores executivos da Goldman Sachs pediu desculpa pelos abusos que algumas instituições financeiras cometeram nos últimos anos e assumiu responsabilidades na crise financeira internacional. O jornal Público pediu-me para comentar este pedido de desculpas. Aqui estão as minhas respostas:
Público_ Porquê este comentário, e agora?
Penso que este comentário se pode explicar por vários factores. Primeiro, pode ser visto como uma tentativa por parte da empresa para melhorar a sua imagem perante o público e os seus clientes. Ainda há um grande ressentimento da opinião pública americana (e mundial) em relação aos abusos que foram cometidos nos últimos anos no sistema financeiro. Os bancos e as empresas financeiras sabem disso, e sabem também que uma das formas de tentar atrair mais clientes é melhorar a sua imagem. Segundo, este pedido de desculpas pode igualmente ser visto como o reconhecimento por parte de alguns dos gestores das instituições financeiras envolvidas de que, de facto, as práticas menos correctas dos últimos anos tiveram um impacto enorme na vida de milhões de pessoas. Finalmente, agora que o pior da crise parece ter passado, é natural que algumas pessoas venham a público assumir responsabilidades.
Público_ Por que é que tão poucos banqueiros sentem a necessidade de pedir desculpas pela crise financeira?
Penso que, até agora, não havia grandes condições para o fazer. Até agora temos estado mais preocupados em apagar o fogo associado à crise financeira. Agora que já começamos a estar em fase de rescaldo e as economias começam a recuperar, é natural que não só surjam mais iniciativas governamentais no sentido de aumentar a regulamentação dos mercados financeiros, como também é possível que alguns dos principais culpados pela crise venham a público apresentar as suas desculpas.
Público_ E porque é que estes pedidos de desculpa são importantes?
Estes pedidos de desculpa são importantes pois vale a pena não esquecer que tivemos em risco de cair para uma nova Grande Depressão por causa dos abusos cometidos por várias instituições financeiras. Para além do mais, muitas destas instituições financeiras só não caíram porque o dinheiro dos contribuintes as salvou. Assim, algum reconhecimento desta situação por parte dos dirigentes das instituições financeiras faz todo o sentido. Finalmente, este tipo de desculpas é importante para restaurar a confiança dos agentes económicos nas próprias instituições financeiras.
Público_ Acha que há uma grande diferença cultural neste aspecto entre os empresários/gestores ocidentais e os asiáticos?
Há, sem dúvida, alguma diferença cultural. Não é incomum para líderes e gestores asiáticos pedirem desculpas formais à opinião pública e/ou aos seus clientes (chegando inclusivamente a haver casos de suicídios junto com esse pedido de desculpas). No Ocidente, para bem ou para mal, não temos muito essa tradição. Ora, perante a maior crise financeira das últimas décadas e a comoção que essa crise causou na economia mundial, alguma dose de humildade e, porque não, pedidos de desculpas por parte dos principais responsáveis por esta crise fazem todo o sentido.

FUSÃO DE UNIVERSIDADES

O reitor da Universidade de Lisboa defende a fusão (ou integração) de algumas universidades para melhorar a eficiência, combater o desperdício e melhorar a competitividade das instituições portuguesas do ensino superior. Ora, aí está uma proposta que vale a pena pensar.

A CULPA É DOS INGLESES

Agora já percebo porque é que a selecção portuguesa ganhou ontem (e bem)... Foram os ingleses que nos ajudaram...

13 novembro 2009

RESPOSTAS À GRIPE E A CORRUPÇÃO

Uma das diferenças culturais com que deparei ultimamente foi a reacção dos portugueses e dos canadianos em relação à vacinação contra a gripe A. Como é sabido, em Portugal houve no início uma extrema suspeição quanto à vacinação, levando muita gente a declarar que não se iria vacinar. Assim, nos primeiros dias da campanha da vacinação havia clínicas praticamente sem ninguém para ser vacinado. Em parte, este clima de suspeição foi devido às teorias de conspiração sobre a gripe que circulam por aí, bem como à ideia de que a vacina não tinha sido devidamente testada. No Canadá, e apesar de circularem exactamente as mesmas teorias da conspiração e as mesmas alegações, a resposta da população foi drasticamente diferente. Aliás, a resposta foi diametralmente oposta. Na primeira semana de vacinação (dedicada aos grupos de risco), houve clínicas que se depararam com filas de 6 a 8 horas (sim, 6 a 8 horas, ao frio, à neve e à chuva). Havia quase um certo pânico, pois havia a percepção de que a vacina contra a gripe era fundamental para abrandar a difusão da mesma e de que quem não se vacinasse corria o risco de embarcar na roleta russa da gripe. O que explica então a reacção tão distinta da população? Provavelmente, a diferença encontra-se na resposta das autoridades de saúde. No Canadá, e apesar das desconfianças já mencionadas, as autoridades de saúde fizeram uma enorme campanha nos media a alertar para os perigos da não vacinação, informando as populações que os alegados riscos da vacina seriam muitíssimo mais reduzidos do que os perigos que a gripe acarreta (é certo que a gripe não é muito pior do que a gripe comum, mas também é certo que a gripe A tem riscos mais elevados para os mais novos e outros grupos de risco). Em Portugal, várias responsáveis da política de saúde (como o Bastonário da Ordem dos Médicos) declararam que não se iriam vacinar ou de que a gripe não seria muito pior do que uma gripe normal. E, deste modo, pensámos: e se é assim, para quê nos vacinarmos?
Moral da história: os exemplos que "vêm de cima" contam... e muito. E é por isso que se compreendeo clima de quase-histeria que existe em Portugal em relação à corrupção e às alegadas ligações perigosas de altos responsáveis governamentais em badalados casos de corrupção. Perante o acumular dos casos, perante as suspeitas constantes, perante o clima de perfeita imunidade que parece reinar, e perante a gritante incompetência da Justiça paralisada pelos inúmeros casos pendentes e pela falta de meios, não é de estranhar que a respostas das populações em relação à política e à causa pública seja cada vez mais de desconfiança e, por que não, de nojo até. Por isso, a única forma de restaurar a pouca dignidade do nosso sistema político e dos nossos responsáveis políticos passa obrigatoriamente pela aprovação de um grande pacote de medidas contra a corrupção e a favor de maior transparência. Um pacote de medidas concretas que sejam implementadas. Escrever no papel não basta, é preciso passar à prática e demonstrar que as leis existem para ser cumpridas. Já se fala num tal pacote de medidas, mas agora falta fazer. É que, como em muitas coisas na vida, o que parece pode não ser, mas muitas vezes é.

10 novembro 2009

DESIGUALDADES

Portugal é um dos países mais desiguais da OCDE. Mas sabia que a desigualdade portuguesa cresceu principalmente desde 1995? E que antes de 1990 as desigualdades diminuiram? Por que será? Afinal, não foi no período 1995-2001 que foram introduzidas várias medidas sociais, como o rendimento mínimo?
Nota: os dados da figura são da OCDE. Os dados são os coefientes Gini (que medem as desigualdades) para Portugal desde 1970.

JORNAL DAS 9

De regresso a Portugal para participar numa conferência, estarei igualmente no Jornal das 9 da Sic Notícias esta quinta-feira, dia 12.