Ontem fiquei a saber através da TSF que o laboratório responsável pela produção da vacina da gripe A tinha aconselhado a suspensão da vacina no Canadá, país onde resido. Ora, tendo acabado de tomar a vacina juntamente com a minha família, logo me pus a ver websites e a ouvir as notícias na rádio e na televisão canadianas para ver se sabia mais de alguma coisa sobre a alegada suspensão da vacina. Escusado será dizer que os meus esforços foram todos em vão. Tal notícia não figurou em nenhum website ou meio de comunicação canadiano. Estranho, pensei. Por que será? Será que os meios de comunicação portugueses sabem mais do Canadá que os canadianos? Será que existe uma conspiração do governo canadiano para abafar notícias tão alarmantes?
Não, nada disso. O que se passou foi que 170 mil doses da vacina enviadas para o Canadá tiveram reacções alérgicas mais severas do que o normal e, por isso, o laboratório e as autoridades de saúde canadianas decidiram prevenir e retiraram as vacinas desse lote dos diversos centros de saúde. Não houve suspensão da vacina nem da campanha de vacinação, mas somente a retirada deste lote de vacinas dos milhões de vacinas actualmente a serem administradas no país. Aliás, no Canadá, a vacinação já está aberta a toda a gente, após os grupos de risco e de as crianças terem tido prioridade. Deste modo, cerca de um quarto da população canadiana já foi vacinada. Assim, e como referi noutros posts, enquanto em Portugal a atitude em relação à vacina é de grande desconfiança (por exemplo, soube-se hoje que somente 8% das grávidas portuguesas foram vacinadas), no Canadá a atitude continua a ser de que a vacinação acarreta um risco bem menor do que a alternativa de não vacinação. Aliás, alguns estudos demonstram que a vacinação é particularmente importante para as crianças e grupos de risco. Por exemplo, no Canadá, enquanto em 2007 e em 2008 houve menos de 40 hospitalizações de crianças devido à gripe sazonal , só na segunda semana de Novembro a gripe A deu azo a cerca de 250 hospitalizações de crianças. Ou seja, a gripe A é especialmente perigosa para as crianças e grupos de risco (como as grávidas) quando comparada à gripe sasonal.
Sabendo isso, e mais uma vez, o que distingue claramente a eficácia das campanhas de vacinação nos dois países passa muito pela forma como a informação sobre a gripe e a vacina tem sido gerida. Em Portugal, o alarmismo e a desinformação que os nossos meios de comunicação (e muitos dos nossos altos responsáveis do sector da Saúde) têm dado a esta questão explica em grande parte a desconfiança que as pessoas têm em relação à vacina. No Canadá, e apesar de existirem as mesmas desconfianças, tem havido um esforço concertado para informar as pessoas de que o risco associado à vacinação é muitíssimo inferior ao risco de contrair a doença, principalmente no que diz respeito às crianças e aos grupos de risco. Numa nota pessoal, como sou pai, a mim não me foi difícil decidir.