13 novembro 2009

RESPOSTAS À GRIPE E A CORRUPÇÃO

Uma das diferenças culturais com que deparei ultimamente foi a reacção dos portugueses e dos canadianos em relação à vacinação contra a gripe A. Como é sabido, em Portugal houve no início uma extrema suspeição quanto à vacinação, levando muita gente a declarar que não se iria vacinar. Assim, nos primeiros dias da campanha da vacinação havia clínicas praticamente sem ninguém para ser vacinado. Em parte, este clima de suspeição foi devido às teorias de conspiração sobre a gripe que circulam por aí, bem como à ideia de que a vacina não tinha sido devidamente testada. No Canadá, e apesar de circularem exactamente as mesmas teorias da conspiração e as mesmas alegações, a resposta da população foi drasticamente diferente. Aliás, a resposta foi diametralmente oposta. Na primeira semana de vacinação (dedicada aos grupos de risco), houve clínicas que se depararam com filas de 6 a 8 horas (sim, 6 a 8 horas, ao frio, à neve e à chuva). Havia quase um certo pânico, pois havia a percepção de que a vacina contra a gripe era fundamental para abrandar a difusão da mesma e de que quem não se vacinasse corria o risco de embarcar na roleta russa da gripe. O que explica então a reacção tão distinta da população? Provavelmente, a diferença encontra-se na resposta das autoridades de saúde. No Canadá, e apesar das desconfianças já mencionadas, as autoridades de saúde fizeram uma enorme campanha nos media a alertar para os perigos da não vacinação, informando as populações que os alegados riscos da vacina seriam muitíssimo mais reduzidos do que os perigos que a gripe acarreta (é certo que a gripe não é muito pior do que a gripe comum, mas também é certo que a gripe A tem riscos mais elevados para os mais novos e outros grupos de risco). Em Portugal, várias responsáveis da política de saúde (como o Bastonário da Ordem dos Médicos) declararam que não se iriam vacinar ou de que a gripe não seria muito pior do que uma gripe normal. E, deste modo, pensámos: e se é assim, para quê nos vacinarmos?
Moral da história: os exemplos que "vêm de cima" contam... e muito. E é por isso que se compreendeo clima de quase-histeria que existe em Portugal em relação à corrupção e às alegadas ligações perigosas de altos responsáveis governamentais em badalados casos de corrupção. Perante o acumular dos casos, perante as suspeitas constantes, perante o clima de perfeita imunidade que parece reinar, e perante a gritante incompetência da Justiça paralisada pelos inúmeros casos pendentes e pela falta de meios, não é de estranhar que a respostas das populações em relação à política e à causa pública seja cada vez mais de desconfiança e, por que não, de nojo até. Por isso, a única forma de restaurar a pouca dignidade do nosso sistema político e dos nossos responsáveis políticos passa obrigatoriamente pela aprovação de um grande pacote de medidas contra a corrupção e a favor de maior transparência. Um pacote de medidas concretas que sejam implementadas. Escrever no papel não basta, é preciso passar à prática e demonstrar que as leis existem para ser cumpridas. Já se fala num tal pacote de medidas, mas agora falta fazer. É que, como em muitas coisas na vida, o que parece pode não ser, mas muitas vezes é.

2 comentários:

antonio disse...

Caro Àlvaro,

Discordo em absoluto de si.
Se houve histeria em relação à vacina, esta terá acontecido no Canadá. Recordo-me do Bug informático do milenio, da gripe das aves e de muitas outras. A imprensa e alguns políticos fazem-nos reagir de uma forma histérica a qualquer hipotetica adversidade.

A gripe suina não passa de um aproveitamento. Uma qualquer gripe causa mais mal do que esta tem causado.

Eu cá não me irei vacinar.

Um abraço

António

Anónimo disse...

Escrevi sobre o assunto com um colega Espanhol na principal revista médica Canadiana:

http://www.cmaj.ca/cgi/content/full/181/9/617?maxtoshow=&HITS=10&hits=10&RESULTFORMAT=&fulltext=villanueva&andorexactfulltext=and&searchid=1&FIRSTINDEX=0&sortspec=date&resourcetype=HWCIT