16 novembro 2007

Porque é que a OTA e o TGV são ilusões (ou porque é que não existem receitas mágicas)

Extracto do livro "OS MITOS DA ECONOMIA PORTUGUESA", editora Guerra e Paz

"Existe uma regra de ouro com a qual deve estar munido sempre que ouve falar um economista ou, sobretudo, um político. Se esse economista ou político lhe prometer uma receita mágica, se lhe disserem que existem uns pozinhos milagrosos para os problemas da economia portuguesa, a primeira coisa que deve fazer é desconfiar. A seguir, a segunda coisa é lembrar-se da regra de ouro da boa educação económica: não existem receitas mágicas. Quem lhe disser o contrário ou está a mentir ou os seus conhecimentos de Economia são provavelmente questionáveis. É verdade que alguns economistas (e políticos) prometem tudo e mais alguma coisa: prometem curar a esclerose da economia em três tempos, a artrite do mercado de trabalho, acabar com a gota do desemprego dos jovens, erradicar a malária da inflação, entre muitas outras coisas. Frequentemente, esses mesmos economistas-curandeiros anunciam a receita mágica para o fim dos males nacionais, apresentando projectos megalómanos, tais como a barragem do Alqueva que iria solucionar os problemas agrícolas do Alentejo, ou a construção de Cabora Bassa que iria ser a mola impulsionadora do desenvolvimento económico moçambicano. Recentemente, os curandeiros apareceram-nos com os projectos milagrosos da OTA e o TGV, os quais iriam gerar um investimento público de tal monta que nos iria resgatar da estagnação económica. Nesta lógica, a OTA iria rivalizar com o aeroporto de Madrid como um dos pólos centrais da Península Ibérica, e o TGV iria ligar-nos definitivamente com a Europa, acelerando o nosso processo de convergência com os países mais ricos.
Ora, por mais que custe admitir, os economistas não são curandeiros. Nem os políticos. De facto, se forem sérios e honestos, economistas que se prezem nunca poderão prometer aquilo que não pode ser prometido. Não há receitas mágicas nem para o crescimento nem para o desenvolvimento económico. Com efeito, uma lição que deve sempre reter é que os economistas sabem perfeitamente como destruir uma economia, mas não como a construir.
Neste sentido, desconfie de qualquer economista (ou político) que proclame a invenção da pólvora económica ou que tenha receitas mágicas para os problemas da economia nacional. As economias são animais complexos. Uma regra de ouro que os economistas têm é que deve haver uma política para cada objectivo. Se um suposto economista (ou um político) lhe aparecer pela frente e lhe disser que tem uma cura milagrosa (quer seja uma obra pública de grande envergadura ou uma paixão assolapada pela educação) para todos os problemas da economia nacional, já sabe que está perante um(a) economista-curandeiro(a). Desse modo, tem duas possibilidades: ou não lhe dê ouvidos, ou não vote nele(a), ou confronte-o(a) com a inerente contradição dos seus argumentos falaciosos.
Se aceitarmos esta lógica, é fácil percebermos que projectos como o TGV e a OTA, mesmo que viáveis ou exiquíveis financeiramente (o que é duvidoso), nunca poderão ou deverão ser vistos como receitas mágicas para o desenvolvimento português ou para uma retoma económica. Se tiverem o efeito desejado (o que também é duvidoso), poderão contribuir para essa mesma retoma e para o crescimento económico, mas os seus efeitos e consequências serão limitados. Isto é, a OTA e o TGV não são nem nunca serão as receitas mágicas do crescimento da economia portuguesa, nem são nem nunca serão a pólvora impulsionadora da retoma económica. Se alguém discorda, por favor apresente estudos custo-benefício bem fundamentados, bem como modelos e estimativas credíveis que provem as suas alegações. Até hoje, não conheço nenhum."

Sem comentários: