19 dezembro 2007

ENTREVISTA À REVISTA SÁBADO (2)


Por que razão diz que Portugal precisa mais de Espanha, não de menos?
Em primeiro lugar, porque a nossa relação bilateral a nível económico é ainda bastante inferior à registada entre outros países vizinhos com dimensões relativas comparáveis, tais como entre o Canadá e os Estados Unidos ou entre a Alemanha e a Holanda. Em segundo lugar, os recentes alargamentos da União Europeia mudaram o eixo de desenvolvimento da UE do Sul para o Leste europeu. Ora, a nível da atracção do investimento estrangeiro as condicionantes geográficas ainda são muito importantes. Assim, é natural que os investidores alemães ou holandeses prefiram localizar um maior número dos seus projectos de investimentos em países vizinhos. É neste contexto que os nossos próprios vizinhos se tornam ainda mais importantes. Por outro lado, existem sinergias entres as economias ibéricas que ainda não estão totalmente aproveitadas. Todos estes factores fazem com que a economia espanhola assuma uma crescente importância para a economia nacional.


Quem está realmente interessado em vender a imagem da “invasão espanhola” e com que objectivos?

De certa forma, o medo do “perigo espanhol” compreende-se por razões históricas. Ainda recentemente alguns destacados dirigentes militares revelaram que consideravam Espanha como o nosso principal inimigo (!), o que é um perfeito anacronismo. Por outro lado, o fantasma do perigo espanhol persiste, porque há muita gente alarmada com o crescimento das exportações e do investimento estrangeiro espanhóis. Porém, estes aumentos só nos parecem extraordinários porque praticamente não haviam relações económicas entre os dois países ibéricos antes da adesão à CEE. Neste sentido, a crescente integração das duas economias ibéricas pode e deve vista como um restabelecimento de relações económicas perfeitamente normais entre dois países vizinhos. Deduzir daí um qualquer papão espanhol é uma conspiração e uma miragem sem sentido. Depois, há obviamente sectores nacionais que beneficiaram durante décadas de um proteccionismo invulgar e pouco saudável, para os quais a concorrência espanhola apresenta um risco. Assim, estes sectores preferem acentuar os “perigos” em detrimento das oportunidades que uma maior integração económica com Espanha apresenta.

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