02 janeiro 2008

CONCENTRAÇÃO EDITORIAL


Este será o ano em que veremos os resultados da concentração editorial em Portugal. Recorde-se que recentemente Paes do Amaral comprou algumas das maiores editoras nacionais, incluindo a Dom Quixote, a Asa, a Texto Editora e a Caminho. A Gradiva foi comprada pelo grupo da Oficina do Livro/Explorer. Provavelmente, a tendência de concentração irá continuar, com outras editoras a seguirem o exemplo.
A concertação editorial não é, por si só, nefasta ou prejudicial. Actualmente, existem centenas de editoras em Portugal. Nos últimos anos, surgiram dezenas de novas editoras, muitas das quais extremamente inovadoras e dinâmicas (entre as quais se conta a minha editora, a Guerra e Paz). No entanto, é claro que a tendência de repartição do mercado não podia continuar. As fusões e concentrações (bem como as falências) eram inevitáveis. A única coisa que foi surpreendente foi um grupo comprar as principais editoras do país.
Dito isto, e tendo em conta o novo panorama editorial muito mais concentrado, interessa perguntar: Irão os novos colossos editoriais ter uma palavra a dizer nas margens de lucro dos distribuidores? Haverá menos espaço para as escritas menos ortodoxas? Serão os consumidores (os leitores) a pagar o preço pela maior concentração editorial? Irão os grandes grupos editoriais apostar ainda mais em best-sellers com qualidade duvidosa ou será que haverá lugar para os novos autores? Em Portugal, por não haver agentes literários, é extremamente difícil e moroso publicar o primeiro livro. Irá esta situação piorar ou melhorar com os novos grandes grupos editoriais?
Estas são perguntas para as quais começaremos a ter respostas ao longo dos próximos meses. Pessoalmente, não estou muito preocupado com a concentração editorial. Por um lado, se resultar (um grande "se"...), pode ser verdade que haja uma maior aposta e divulgação da literatura portuguesa no mundo lusófono (o que seria ideal), bem como noutros países. Por outro lado, mesmo que os nossos piores receios (em relação aos novos autores, etc.) se confirmem, teremos sempre as editoras pequenas para inovar e para apostar em novos autores. Afinal, Bill Gates, que é Bill Gates, sempre confessou que o seu pior pesadelo (sobre o futuro da Microsoft) era aparecer algum (jovem) espertalhão, capaz de inovar de forma decisiva radical, capaz de retirar a liderança da inovação à própria Microsoft. Quem nos garante que o mesmo não se passe com os colossos editoriais agora criados?

ASP

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