03 março 2008

RECICLAGEM DE FRALDAS


Depois dos sacos de plástico, chegou agora a vez das fraldas. O Ministério do Ambiente anda à busca do melhor processo para reciclar as fraldas descartáveis. Ainda falta instaurar (planear?) um sistema de recolha porta a porta, mas, pelo que parece, a recolha de fraldas para reciclagem poderá ser iniciada dentro em breve em infantários e creches. Em princípio, acho muito bem. Veremos se as coisas correm bem na prática, bem como o custo de tal medida. No entanto, a prática promete ser difícil. Nomeadamente, sistema de recolha porta a porta parece-me demasiado caro, ineficiente, e inconveniente. Se não vejamos.
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Primeiro, há uma coisa que podemos ter a certeza: as fraldas cheiram mal. Muito mal, mesmo. (Acredite. Eu percebo alguma coisa de fraldas, pois tenho três filhos, todos ainda bastante pequenos). De um modo geral, as fraldas conseguem ser tão mal-cheirosas que mesmo que sejam fechadas em sacos de plástico (oh, heresia!), o cheiro faz aquilo que as bactérias (ainda) não conseguem: penetrar pelas paredes dos sacos, emanando o pestilento cheiro por tudo o que é canto. Assim, um sistema de recolha porta a porta será sempre impopular e indesejado pelos nossos vizinhos, que não tardarão a reclamar com o cheirete à porta deles(as).
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Segundo, imaginemos que pensamos implementar um sistema de reciclagem parecido com o do vidro e papel. Teríamos assim Fradões, para além dos Vidrões, Pilhões e Papelões. Podíamos até escolher uma cor engraçada para os Fraldões para disfarçar aquilo que estaria dentro deles. Mesmo assim, será que os Fraldões poderiam ser introduzidos da mesma maneira que os outros contentores de reciclagem? Dificilmente. Por um lado, o cheiro seria nauseabundo, principalmente no Verão. Por outro lado, e ainda mais importante, mesmo que arranjássemos maneira de eliminarmos o cheiro, a existência de Fraldões constituiria um verdadeiro atentado contra a saúde pública.
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Terceiro, o governo e a empresa que está a tentar implementar o sistema de recolha porta a porta terão que fornecer incentivos (ou penalizações) para que as pessoas se disponham a reciclar as fraldas dos seus filhos. Se, passados tantos anos, ainda há tanta gente que manda garrafas de vidro para o lixo, porque é que iriam mudar de comportamento com as mal-cheirosas fraldas?
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Finalmente, apesar das boas intenções, até agora este tipo de sistemas não tem funcionado bem. Por exemplo, antes de ter filhos, sempre pensei que os pais deviam fazer tudo por tudo para utilizar fraldas de pano. Quando me tornei pai pela primeira vez, eu ainda comprei fraldas de pano (muito caras) para tentar diminuir o impacto no ambiente (muito nobre). Depois de uns meros dias, foi fácil chegar à conclusão que as fraldas de pano eram uma chatice (adeus nobreza). Davam um trabalhão. (Eu não tinha antecipado anteriormente que os recém-nascidos produzem uma média de 10 fraldas sujas por dia...) As fraldas descartáveis são simplesmente muito mais convenientes.
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É por isso que implementar um sistema de reciclagem de fraldas é uma óptima ideia. Os nossos aterros estão a transbordar, inclusivamente de biliões e biliões de fraldas. Contudo, tenho receio que a prática possa ser bem mais complicada do que as boas intenções do governo (e da empresa à espera de autorização para implementar a tecnologia em Portugal) sugerem.

7 comentários:

Gi disse...

Este post está muito engraçado. Confesso que quando ouvi falar de reciclagem de fraldas torci o nariz... Parece um bocado nojento, não é? ;-)

Alvaro Santos Pereira disse...

Olá Gi,

Concordo inteiramente. Principalmente se forem as fraldas de recém-nascidos...
Mesmo assim, antes a reciclagem das fraldas do que os outros dois Rs. Reutilizar e/ou reaproveitar parecem/me soluções ainda piores e mais nojentas... :)

Rita R. Carreira disse...

Antigamente, nos EUA, antes das fraldas descartaveis serem populares havia um servico de lavandaria so' para fraldas. Com a popularidade das fraldas descartaveis todas essas empresas foram ao ar, mas ultimamente tem havido alguma discussao acerca de voltar a estar em voga. Inclusivamente, ha' um estudo do impacto ambiental que conclui que as fraldas de pano, se lavadas em casa, sao piores para o ambiente do que as fraldas descartaveis por causa dos gastos de agua e sabao. Mas as fraldas de pano quando lavadas em lavandarias acabam por serem melhores para o ambiente por causa das economias de escala na utilizacao de agua. Bem ves Alvaro que nao causas assim tanto mal com as descartaveis...

P.S. Desculpem a falta de acentos, mas e' um grande pesadelo tentar inclui-los no computador portatil com teclado americano...

Anónimo disse...

Talvez vocês não tenham filhos (o autor do artigo tem).
Quando tiverem, pensarão em fazer de tudo para que ele viva em um mundo melhor.
O que inclui estocar fraldas fedorentas (nem são tanto assim nos RNs, pior é quando deixa de mamar no peito) em casa para serem recicladas.
Estou arduamente buscando informações na internet sobre quem faria este tipo de reciclarem em BH.

Leonardo Savassi disse...

Para o Alfred The Pug,
Entra em configurações de idiomas, e escolha na linguagem Ingles e nas configurações do teclado "Inglês Internacional". Aí ele aceitará os acentos.

Anónimo disse...

A questão da reciclagem de fraldas poderia ser muito mais simplificada se se implementassem medidas simples.
As fraldas de pano estão longe de serem ecológicas se contabilizarmos a água,o detergente e a energia gasta na sua lavagem, e os esgotos produzidos pelo processo. As fraldas descartáveis sõ produzidas com fibras de algodão e pasta de papel e alguns polímeros. A tecnologia para as reciclar existe, discutir se é rentável é demagogia pois retirar lixo do ambiente é sempre rentável (uma ETAR é rentável?). A questão da recolha parece ser o principal obstáculo, mas pode ser resolvido de uma forma muito simples, utilizando incentivos, porque penalizar o cidadão não tem resultados práticos. Se forem criados centros de recolha junto dos hipermercados que as vendem e se por exemplo oferecerem 5 fraldas novas ou talões de desconto em compras em troca de 50 usadas garanto que nenhuma fralda suja irá parar ao lixo da rua. São medidas que funcionam efectivamente. Há muitso anos atrás uma marca conhecida de refrigerantes, a Capri-Sonne, oferecia autocolantes em troca das embalagens de sumo vazias. Durante a campanha nenhuma dessas embalagem foi parar ao lixo mas sim aos pontos de recolha definidos pelo fornecedor.

Anónimo disse...

Reciclar fraldas não é nojento, é um processo industrial de onde se pode retirar pasta de papel, fibra de algodão, polímeros e fertilizante orgânico. Para quem já trabalhou na indústria alimentar e química o conceito de "nojento" não existe.