04 abril 2008

OS TIGRES GIGANTES


Na economia internacional, existe um facto crescentemente importante e notório, que é o crescimento excepcional e sustentado das economias chinesa e indiana. Com efeito, o desempenho económico destes dois gigantes asiáticos será provavelmente o acontecimento mais marcante a nível económico neste século, originando consequências enormes tanto para o sistema económico internacional como para o equilíbrio geopolítico mundial.
Os números são verdadeiramente impressionantes. Por um lado, nos últimos 20 anos, a economia chinesa tem crescido cerca de 10% ao ano. Mesmo se tomarmos em linha de conta alguma provável manipulação estatística, com taxas de crescimento a este nível, o produto interno bruto chinês dobra cada dez anos. Sabendo que o crescimento populacional na China é actualmente inferior a 1% ao ano, um crescimento económico tão elevado implica que o rendimento médio de um habitante chinês duplica mais ou menos cada 8 anos! Assim, não é de espantar que a redução da pobreza extrema tem sido um dos factos mais notáveis do milagre económico chinês. Segundo dados do Banco Mundial, desde 1990, o número de chineses a viverem com menos de 1 dólar por dia decresceu de 300 milhões para cerca de 100 milhões.
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Nas últimas duas décadas, a China também passou de economia marginalizada para uma das maiores potências mundiais. Por exemplo, enquanto no princípio da década de 80, a economia chinesa recebia uma parte ínfima do investimento directo estrangeiro (IDE) mundial, actualmente a China é o maior país receptor de IDE, à frente dos Estados Unidos. A economia chinesa é igualmente já o quinto maior exportador mundial de mercadorias, atrás dos EUA, Japão, Alemanha e França.
Por outro lado, recentemente, o outro gigante asiático despertou de uma letargia de décadas, após uma série de reformas que aumentaram a atractividade da economia indiana e forneceram maior incentivos ao investimento privado. Assim, nos últimos 15 anos, a economia indiana tem crescido a taxas médias próximas dos 6 por cento. A nível do rendimento per capita, os números não são tão impressionantes, devido à permanência de um elevado crescimento populacional (a taxa de fertilidade indiana é cerca de 2.9%/ano). Apesar de tudo, o rendimento per capita indiano cresceu cerca de 4 por cento ao ano na última década, o que significa que o rendimento médio indiano duplica cada 18 anos. Deste modo, o crescimento económico dos últimos anos não só permitiu a dezenas de milhões de indianos escaparem à pobreza extrema, como também possibilitou a criação de uma classe média crescentemente forte e numerosa, que certamente se tornará num dos factores de dinamismo da economia indiana.
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Obviamente, a nível interno, tanto a China como a Índia têm ainda muito que fazer para diminuírem o impacto de uma estagnação económica que durou várias décadas. Afinal, mais de um terço dos chineses ainda vivem à parte do milagre económico. A China também se defronta com problema ecológico de proporções colossais (16 das 20 cidades mais poluídas do mundo são chinesas) que só poderá ser resolvidos com elevados custos económicos. A Índia ainda tem mais de 30% dos seus habitantes abaixo do (muito baixo) limiar de pobreza, 40% dos seus habitantes são analfabetos, a mortalidade infantil ronda os 65 por mil, e cerca de metade das crianças indianas sofrem de má nutrição crónica.
Mesmo assim, não há dúvidas que o impressionante crescimento económico dos últimos anos tem sido benéfico principalmente para quem mais dele precisa, os pobres. Neste sentido, os milagres económicos chinês e (esperemos) indiano são, sem dúvida, de saudar, devido principalmente à dramática redução dos níveis de pobreza a nível mundial. Visto que a Índia e a China, por si sós, contêm cerca de dois quintos da população mundial e grande parte dos pobres do mundo, qualquer boa notícia para o combate à pobreza nesses países é sem dúvida uma óptima notícia para o desenvolvimento humano.

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