O Miguel F. Carvalho pergunta...
"1 - Como é que o dólar, que foi sempre nos últimos tempos a moeda âncora da economia mundial se conseguiu depreciar tanto em relação ao Euro nos últimos anos? E até que ponto essa situação vai afectar ainda mais as exportações europeias nos próximos tempos?
"1 - Como é que o dólar, que foi sempre nos últimos tempos a moeda âncora da economia mundial se conseguiu depreciar tanto em relação ao Euro nos últimos anos? E até que ponto essa situação vai afectar ainda mais as exportações europeias nos próximos tempos?
2 - como é que se justifica o aumento exponencial do preço do crude nos mercados internacionais, já que, apesar do aumento do consumo chinês e indiano, a produção não tem sofrido quebras nos últimos anos? Será que a lei do mercado está a ser gradualmente substituída por uma lei da especulação? Dá-me a impressão que estes aumentos são muito mais psicológicos do que derivados da lei da oferta e da procura, não?"
1. As moedas valorizam-se ou desvalorizam-se de acordo com uma série de factores, dos quais se salientam o diferencial das taxas de juro entre os países, o diferencial do crescimento económico (e da produtividade) entre os países, e a especulação. Há outros factores, mas estes são bastante importantes para explicar a evolução cambial de uma moeda em relação a outra.
O diferencial das taxas de juro é importante, porque quando os juros no nosso país são mais elevados do que noutro país, os nossos activos são mais procurados. Nomeadamente, há muitos títulos (como as obrigações do tesouro) cujos rendimentos/dividendos aumentam com as taxas de juro. Deste modo, se as nossas taxas de juro aumentarem em relação aos outros países, os nossos títulos (como as obrigações) são mais procurados, aumentando a procura da nossa moeda. Quando a procura da nossa moeda aumenta, o preço da moeda também aumenta. Isto é, a nossa moeda valoriza-se.
Tudo isto para dizer que uma das razões principais para a valorização do euro deve-se em parte à manutenção de taxas de juro europeias mais elevadas do que as americanas. E, ainda por cima, com a descida vertiginosa das taxas de juro americanas nos últimos meses, o diferencial dos juros europeus e americanos aumentou ainda mais, colocando ainda mais pressão para o euro se valorizar.
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Como é isto afecta as exportações europeias? Negativamente. Pelo menos a curto prazo. A longo prazo, as exportações europeias (e portuguesas) dependem das nossas vantagens comparativas, bem como de outros factores como a produtividade. No entanto, as taxas de câmbio são bastante importantes a curto prazo e, por isso, é natural que as exportações europeias continuem a sofrer.
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2. Em parte, o aumento do preço do crude justifica-se pelo dinamismo sem precedentes da economia mundial nos últimos anos, principalmente dos países subdesenvolvidos (dos quais se destacam a China e a Índia). No entanto, há outros factores, tais como o facto da OPEC (o cartel dos países exportadores do petróleo) ainda não ter feito nada para baixar os preços do crude através de um aumento da oferta. Não o fazem porque há muitos países (e governos) a beneficiarem da subida do preço do crude.
Por outro lado, a subida dos preços petrolíferos não tem sido ainda mais danosa porque o dólar se tem desvalorizado muito, o que tem amortecido o impacto da subida dos preços (como já falámos aqui). Finalmente, existe obviamente o factor especulação, que tem ajudado à manutenção dos preços altos.
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