28 setembro 2009

CENÁRIOS

Numas eleições em que quase todos os principais partidos reclamaram vitória, os principais perdedores foram o PSD e o Bloco Central. O PS ganhou e mereceu, pois fez uma campanha pela positiva, que fez esquecer (ou pelo menos, mitigar) a prepotência com alguns ministros(as) governaram nos últimos quatro anos. Mesmo assim, é incontornável que José Sócrates perdeu a maioria absoluta e verá a sua governação naturalmente fragilizada nos próximos anos. Que solução adoptará José Sócrates para governar? Ainda não sabemos. Mas parece certo que uma coligação com o Bloco ou com o PCP está fora de questão. E assim restam duas opções: ou governa sozinho ou se coliga com o CDS. Governar sozinho será sempre um cenário a prazo, pois é duvidoso que um governo minoritário num parlamento tão hostil dure mais do que dois anos (aliás, como João Cravinho já hoje defendeu). Sim, é possível que um governo PS minoritário possa fazer acordos pontuais no parlamento com o Bloco ou com o PCP (por exemplo, e para nosso prejuízo, em relação às grandes obras públicas), mas será sempre vulnerável quando tiver que apresentar os seus orçamentos de Estado (os quais serão sempre usados como moeda de troca para que o Bloco e/ou o PCP consigam atingir algumas bonanças eleitorais).
Por isso, se José Sócrates quiser ter mais estabilidade na governação, terá forçosamente que se entender com o CDS, que foi, sem dúvida, o grande vencedor das eleições. Pessoalmente, penso que esse seria o cenário ideal. Aliás, se o caso das escutas não tivesse acontecido, não seria difícil imaginar o Presidente da República preferir (impôr?) este mesmo cenário. Assim, sinceramente não sei. O que sei é que esse era o cenário que, provavelmente, era melhor para o país, pois o CDS poderia servir de contra-peso às tentações mais despesistas de certos sectores do PS, quiçá conseguindo inclusivamente refrear o dogmatismo do primeiro-ministro em relação às grandes obras públicas. (Como é óbvio, o TGV Lisboa-Madrid vai avançar, mas não há razão nenhuma para o mesmo acontecer ao Lisboa-Porto ou ao Porto-Vigo, principalmente no contexto económico em que nos encontramos).
Veremos se José Sócrates está disposto a efectuar compromissos ou não. Nos próximos dias veremos o que é que irá acontecer.

5 comentários:

Nuno Garoupa disse...

Alvaro, tu estas em Portugal? Eu desde aqui ainda nao consegui perceber uma coisa: como 'e que o PS vai passar o programa de governo? todo o mundo fala ja' do orcamento, etc, mas como vai o parlamento recusar uma mocao de rejeicao do programa eleitoral? so' pode ser com a abstencao do PSD e isso parece-me dificil. a abstencao do CDS nao chega. a abstencao do BE+CDU nao chega. parece-me evidente que Socrates pode nao conseguir formarm governo!

Gi disse...

Mas Álvaro, se o CDS se coligar com o PS, ou se viabilizar um governo PS, estará a trair os seus eleitores que deram um sinal claro de não querer o mesmo que o PS.

Aliás muitos dos votos neste e noutros partidos, nomeadamente no BE, foram votos de protesto contra o PS, e se os dirigentes desses partidos optarem por se juntar ao PS será um escândalo.

Não quer dizer que não aconteça, mas se acontecer não será para bem do país mas para arranjar jobs for the boys.

Augusto Küttner de Magalhães. disse...

Caro Álvaro

Estou totalmente de acordo com a análise que faz, e se a vontade no caso de PS e CDS, não for esta, vamos andar de governo, em governo, de eleição em eleição, só por orgulho????

Um abraço do

Augusto

Anónimo disse...

Você não está a ver bem a situação política.

Durante a campanha eleitoral o CDS repetidamente recusou alianças com o PS, e afirmou que gostaria de se coligar com o PSD.

Também muitos setores do PS recusariam uma aliança com o CDS.

O parceiro natural do PS é o PSD. É-o pela sua dimensão e pela proximidade ideológica.

Só com a conivência do PSD poderá o PS governar com um mínimo de segurança e poder.

Luís Lavoura

Alvaro Santos Pereira disse...

Nuno,
Concordo que o primeiro teste será esse. Mas, é difícil imaginar um cenário em que o governo não conseiga sobreviver a esse teste. É provável que os partidos da oposição lavem as mãos, abstendo-se. Pelo menos, é o que me parece mais lógico nesta altura.

Gi e Luís Lavoura,
Penso que sublinham aspectos importantes, que não mencionei no post. Mesmo assim, se houvesse vontade, há sempre possível arranjar soluções de co-habitação. Aliás, se os partidos estivessem interessados, era possível arranjar uma solução de maior estabilidade. Isto em teoria. Neste momento, sinceramente não sei.

Augusto,
Muito obrigado. Estamos mais uma vez em sintonia

Abraço

Alvaro