26 novembro 2007

O MITO DA AJUDA EXTERNA E A ERRADICAÇÃO DA POBREZA






Depois do magistral The Elusive Quest for Growth, William Easterly volta ao tema da ajuda externa como instrumento de ajuda aos países subdesenvolvidos no seu novo livro The White Man's Burden. O livro é principalmente um ataque aos Planificadores (os “Planners” na terminologia de Easterly) e às influentes ideias de Jeffrey Sachs, que tem servido de base às iniciativas do G8 e de Gordon Brown no âmbito da redução da pobreza mundial. No seu livro The End of Poverty, Sachs defende um aumento substancial da ajuda externa bem como o perdão da dívida externa dos países mais pobres. Sachs acredita e tem o sonho de erradicar a pobreza extrema até 2025, bem como acabar com a desnecessária e prevenível mortalidade de doença como a malária, a tuberculose e a disenteria. Com ideais tão nobres, não é de espantar que as ideias de Sachs tenham sido recebidas com um enorme entusiasmo por parte da comunidade internacional, desde o Papa a Gordon Brown, que recentemente anunciou o dobrar da ajuda externa aos países africanos. Segundo Sachs e seus adeptos, o que o mundo precisa é de um Grande Empurrão (Big Push) para erradicarmos de vez a pobreza extrema.


Contrariamente, Easterly argumenta que a estratégia do Grande Empurrão é simplesmente mais-do-mesmo que temos tido nos últimos 50 anos: mais ajuda externa, mais perdão da dívida externa, mais e mais e mais. Nos últimos 50 anos, o mundo (principalmente o Ocidente) despendeu 2.3 triliões de dólares (sim, leu bem, triliões) em vários pacotes de ajuda aos países subdesenvolvidos. Resultados? Nulos, ou quase nulos. Os países a quem perdoámos as dívidas são uma vez mais os mais endividados do mundo e os países que mais receberam ajuda externa (por habitante e em termos do PIB) são os mesmos a clamar por ainda mais ajuda externa. Por outro lado, os países que saíram das suas armadilhas de pobreza (poverty traps) e de uma situação de pobreza extrema (a Coreia do Sul, o Botswana, Singapura, Hong Kong, Taiwan, e, mais recentemente, a China e a Índia) alcançaram taxas de desenvolvimento económico apreciáveis com pouca ajuda externa (por habitante e em termos do PIB). Pelo contrário, toda a estratégia de crescimento destes países centrou-se no desenvolvimento doméstico (homegrown development).
Porque é que a ajuda externa não resultou? Porque, segundo Easterly, não só porque os países doadores nem sempre canalizaram a sua ajuda para os fins do desenvolvimento (mas sim para fins militares ou estratégicos), mas também porque a ajuda externa foi muitas vezes dada a países com maus governos, administrações corruptas e não levaram em linha de conta os incentivos das pessoas (e os pobres) dos países subdesenvolvidos. Segundo Easterly, o Grande Empurrão planeado pelos G8 e por Sachs está condenado ao fracasso, pois é mais uma estratégia que “vem de cima” (Top-down approach), não sendo desenhada pelos actores no terreno (Bottom-up approach). Qual é a solução? Mais desenvolvimento doméstico, ajuda externa menos sexy e grandiosa, mas mais direccionada a projectos locais, “vouchers” para o desenvolvimento, e uma menor interferência do Ocidente, do FMI e do Banco Mundial.


Quem tem razão? Sachs ou Easterly? Não há uma resposta clara. Um intermédio talvez seja a melhor estratégia. O Grande Empurrão de Sachs não é certamente ideal, mas o Quase Fazer Nada de Easterly é demasiado insuficiente e pouco satisfatório. É exactamente esta a opinião de Paul Collier, cujo livro The Bottom Billion será analisado numa próxima ocasião.

1 comentário:

Anónimo disse...

gostei mas aixo que podiam melhor algoma coisa:)