11 dezembro 2010

(ALGUMAS) PREVISÕES PARA 2011

Agora que nos aproximamos do final de 2010, é tempo de começar a fazer projecções para o próximo ano. Antes disso, interessa relembrar que todas as previsões devem ser lidas com a maior cautela. Não é à toa que os economistas têm tanta relutância em fazê-lo, pois sabem que as incertezas são muito consideráveis. Esta máxima é ainda mais pertinente nos tempos que correm, pois a crise internacional e a crise da dívida soberana europeia tornam o cenário de curto prazo ainda mais incerto e difícil de prever.
Feito o aviso, quais são então as principais projecções para o próximo ano? Comecemos com os cenários internacionais. É provável que 2011 continue a ser um ano mau para o Ocidente (incluindo Japão), e um ano bom para os países emergentes. Pelo menos é isso que nos dizem as previsões mais recentes do FMI e da OCDE, que indicam que o Ocidente registará um crescimento económico muito modesto, enquanto a China, a Índia, os seus países vizinhos, bem como muitos países da África subsaariana alcançarão taxas de crescimento do PIB acima dos 5% ao ano. Por outras palavras, o mundo está a mudar e já não é o Ocidente que está a servir de locomotiva do desenvolvimento. Bem pelo contrário. 
A nível nacional, o mais certo é que 2011 seja o ano em que a recessão regressará. Porquê? Por causa da austeridade a conta gotas que tem vindo a ser imposta no nosso país, e que mais não é do que o preço das irresponsabilidades que foram sendo cometidas nos últimos anos. É certo que uma recessão só é classificada como tal quando existem dois trimestres consecutivos de crescimento económico negativo. Porém, o mal-estar económico já dura há tanto tempo que é difícil destrinçar o que é estagnação e o que é recessão. O que sabemos é que o desemprego já está no nível mais elevado dos últimos 100 anos e que já está em curso uma nova vaga emigratória. Tudo o resto são detalhes. Como é óbvio, certamente que não será em 2011 que estas tendências serão invertidas. Bem pelo contrário. 
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Ainda assim, poderão haver surpresas. O sector exportador tem demonstrado um notável dinamismo nos últimos anos, de modo que é possível que o desempenho da economia nacional não seja tão mau como agora se antevê (isto se a procura externa se mantiver elevada). Esperemos que sim.
Em suma, as previsões para 2011 não são nada apetecíveis. Pelo menos para nós, para a Europa e para a América do Norte. O resto do mundo deverá ter um ano bom.
Apesar do cenário sombrio, não queria terminar sem uma palavra de esperança, aliás como convém antes de iniciarmos um novo ano. É verdade que esta é a maior crise económica nacional dos últimos 120 anos. É até possível que ainda não tenhamos batido no fundo. Porém, as coisas estão tão mal e o desalento é tal, que estou convencido de que a crise actual representa a maior oportunidade de reforma das últimas décadas.
Neste sentido, tenho poucas dúvidas que 2011 representará um novo começo para o nosso país. Um novo começo diametralmente oposto às irresponsabilidades dos últimos anos e que nos conduziram à lamentável situação actual. Um novo começo que nos faça atacar de uma vez por todas os grandes problemas nacionais (a crise das contas públicas, a nossa falta de competitividade, e a insustentável subida do endividamento externo) e que, por uma vez, leve em linha de conta o bem-estar dos nossos filhos, já tão sacrificados por causa do despesismo actual. Esperemos que sim. E esperemos que o próximo governo esteja à altura das dificuldades que nos esperam. 
Nota: Meu artigo de hoje no Notícias Sábado, que também já está reproduzido aqui

1 comentário:

Anónimo disse...

Volto à carga com o verbo haver:
Poderá haver surpresas
e não
poderão haver surpresas