08 dezembro 2010

O EXEMPLO CHINÊS

Um dos factos mais salientes dos indicadores educativos do PISA é que os rankings são liderados por dois países asiáticos, a China (na cidade de Shanghai) e a Coreia do Sul, logo seguidos pela Finlândia. Por que é que os asiáticos conseguem desempenhos tão bons? O Financial Times de hoje apresenta algumas razões. No entanto, também me parece que tal proeza se explica em parte pelas estruturas e pelas culturas educativas asiáticas, muito distintas das nossas. Mais concretamente, os alunos asiáticos trabalham, em média, bastante mais do que os alunos ocidentais. Como a literacia funcional de países como a China passa pela memorização e mecanização entre 2000 e 3000 caracteres, os alunos são forçados desde muito novos a trabalhar muito mais do que nos países ocidentais, onde é bastante menos penoso aprender a mecânica do alfabeto. É sabido que em países como a China, até os alunos da primeira classe estudam e aprendem caracteres até altas horas da noite, muitas vezes até às 22h ou 23h, trabalhando afincadamente durante horas a fio. Em claro contraste, nos países ocidentais, a cultura educativa predominante agora preconiza que o ensino deve ser "divertido" e não feito à base de mera repetição ou memorização. A enorme diferença em horas de estudo reflecte-se, em parte, nestes desempenhos educativos do PISA.
Quer isto dizer que a cultura educativa asiática é superior à ocidental? Não necessariamente. Talvez os dois sistemas só enfatizem valores diferentes. E se os estudantes asiáticos costumam trabalhar bem mais do que os ocidentais (por exemplo, nos programas de doutoramento e de mestrado) também não deixa de ser verdade que os estudantes ocidentais são, em média, mais criativos e tem mais espírito crítico do que os seus congéneres orientais. Para além do mais, sistemas educativos ocidentais como os da Finlândia ou do Canadá continuam a estar no top 5 dos rankings do PISA, apesar de as horas de estudo médias nestes países serem bastante inferiores à média asiática, e apesar destes sistemas (pelo menos o canadiano) darem uma grande ênfase à necessidade do ensino ser "divertido", isto é, sem obrigar as crianças a memorizar ou a decorar conceitos que as aborreçam.
Em suma, os dois sistemas têm vícios e virtudes. Nenhum me parece melhor ou ideal. Contudo, perante os indicadores do PISA, é muito provável que nos próximos anos apareçam ainda mais estudos comparativos entre os dois sistemas. E todos só temos a ganhar com isso.

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