Uma das previsões mais certas sobre os impactos da crise está realmente a materializar-se. Com o aumento do desemprego era de esperar que muita gente decidisse não entrar já no mercado de trabalho ou, então, melhorar os seus conhecimentos enquanto a crise não passa. A lógica é simples: se não arranjamos emprego, ao menos estudamos. Assim, era previsível que se registasse um número recorde de candidaturas a mestrados e doutoramentos um pouco por todo o mundo. É exactamente o que se está a passar. No Canadá tem havido um enorme influxo de novos candidatos e no Reino Unido o mesmo se está a passar. Ou seja, um dos efeitos potenciais (e interessantes) da crise actual é levar a uma melhoria das habilitações dos trabalhadores. Isto é, por incrível que pareça, a crise vai levar a uma melhoria do capital humano médio de muitos países.
4 comentários:
Olá Álvaro,
Parece-me que o mesmo se tem passado em Portugal. Mas em vez de licenciaturas e mestrados, a moda é "Novas Oportunidades" e cursos de qualquer tipo financiados pelo Instituto do Emprego e de Formação Profissional. Não interessa se sou pedreiro ou professor, tenho porque tenho que fazer um curso de Office avançado. E se falar muito, sou capaz de levar com um curso de francês e latim! Não que isso seja negativo, o problema é quando as pessoas são levadas a frequentar cursos que nada lhes adiciona à profissão que desempenharam e/ou que queiram vir a desempenhar. Então, se assim é, porque é que isto sucede, perguntamos nós contribuintes e financiadores destes cursos? Bem, cá para mim, isto tem um nome: "martelanço" de estatísticas. Mas são só suspeitas, porque em tudo o que meta política, por mais que as evidências estejam escancaradas à nossa frente, continua a ser difícil comprová-lo!
Olá Álvaro,
Espero que esses mestrados e doutoramentos sejam realmente úteis.
Por outro lado já ouvi alguns pais queixarem-se de que, quando pensavam poder trabalhar menos intensamente e ter tempo para si próprios por os filhos estarem em idade de se tornarem independentes, afinal têm de os sustentar por mais uns anos... indefinidamente, e cada vez mais caro.
Caro Àlvaro,
Acho que esta é uma questão muito interessante. A melhoria do capital humano médio é aldo que ninguem parece querer discutir.
E eu também não. O que penso que se possa e deva discutir é o que se entende por melhoria do capital humano.
Ninguem ignora que para que uma economia funcione torna-se necessário que haja gente a trabalhar nas obras. Que haja gente a trabalhar em restaurantes. Que haja gente a trabalhar no comércio. A vender sapatos, roupa, loiça, pão, electrodomésticos etc etc etc etc etc etc....... E a guiar camiões, autocarros, eléctricos etc etc etc ..... E a trabalhar nas fábricas. A fabricar texteis, a fabricar tintas, sapatos, a montar componentes de electrodomésticos etc etc etc.....
A varrer as ruas, a recolher o lixo etc etc etc.......
E quando se procura que todos tenham pelo menos um ensino preuniversitário está-se a criar uma data de gente frustrada.
Porque não há nada mais frustrante do que ter uma socióloga a trabalhar numa caixa de supermercado.
Ou nada é mais cinico do que andar a forçar as estatisticas do sucesso escolar e depois a importar uns subsaarianos, uns mexicanos, ucranianos ou brasileiros para fazer o trabalho que os nossos não querem fazer, preferindo viver de subsidios, como se o trabalho envergonhasse.
Caro Álvaro, eu toquei numa questão politicamente incorrecta, mas não tenha duvidas que tudo tem de ser discutido. Não pode haveer tabus. Sob pena de andarmos a brincar à "Alice no país das maravilhas".
E temos de ir ao fundo da questão. Mesmo do ponto de vista filosófico.
À minha volta existem uma quantidade de miudos na casa dos 25anos que não pensam sequer em sair da casa dos pais porque os cursos que tiraram não têm qualquer saida ou porque não lhes oferecem o minimo de estabilidade. Porque ninguem tem a coragem de discutir a questão.
Quanto mais sofrimento tem de se gerar para que este tema se venha a discutir na generalidade dos países.
O Álvaro conhece uma solução para este drama?
Um abraço
A.Neto
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