Como em tudo na vida, vale a pena pôr em perspectiva os acontecimentos dos últimos dias. Como podemos ver no gráfico acima (retirado do New York Times), o aumento da dívida pública portuguesa não é caso único. Se atentarmos para o que tem acontecido desde 2008 nos EUA, na França, no Reino Unido e na própria Alemanha, veremos que a crise financeira internacional teve um impacto muito significativo na dívida pública dos diversos países. Portugal não foi excepção. Aliás, a descida de rating de Portugal também não foi excepção no mundo ou, pelo menos, não o será dentro em breve, pois fala-se que muitos países endividados poderão sofrer o mesmo destino. Entre estes contam-se os Estados Unidos. Nos últimos dias, a Moody's (outra agência de rating) avisou que o rating dos EUA poderia dentro em breve baixar de um perfeito AAA. O mesmo deverá acontecer ao Reino Unido, a braços com um rápido crescimento da dívida pública. Por isso, não são só a Grécia e Portugal que estão a sofrer com estes problemas. É claro que, mesmo assim, e apesar de haver uma tendência generalizada para o aumento da dívida pública, o que interessa mesmo para a sustentabilidade dessa mesma dívida são o crescimento económico (e a inerente capacidade de gerar receitas) e o plano de ataque ao endividamente crescente.
E é aqui que estamos a sofrer as consequências da falta de credibilidade: os mercados e as agências de rating acreditam que o nosso crescimento económico vai continuar anémico (isto é, medíocre) e acham que o plano de combate à dívida é insuficiente, pois o corte nas despesas públicas estruturais é demasiado tímido e insuficiente. E enquanto não resolvermos estes problemas (isto é, enquanto não começarmos a crescer mais e/ou cortarmos significativamente na despesa do Estado), a nossa credibilidade junto dos mercados e das agências de rating continuará pelas ruas da amargura.
1 comentário:
Olá Àlvaro,
A ideia de cortar na despesa do Estado parece pacífica. Basta pensar que quando tenho menos dinheiro, também corto na despesa. Mas não estou certo que cortar os salários, por exemplo, da função pública constitua uma boa medida. Ela só é uma boa medida se não houver mais por onde cortar e ainda assim parece-me uma má medida. E isto por uma razão especial: a esmagadora maioria dos funcionários públicos portugueses ganham salários baixos. Mesmo eu que sou professor do Estado há 14 anos ganho menos do que a minha mulher que é gestora num banco privado há menos de 2 anos. Acontece que para existir uma economia interna (e externa também) dinâmica é necessário que as pessoas gastem o seu dinheiro, nomeadamente em serviços e bens culturais que é o que hoje em dia mais se produz em países tendencialmente mais ricos. Se vamos tirar dinheiro às pessoas tal reflecte-se nos gastos. Em POrtugal os funcionários públicos recebem entre o dia 23 e 25 de cada mês. Se entrares num shopping nesses dias, o fluxo de gente é muito maior. Se a minha hipótese for verdadeira, então há que analisar muito bem em quê cortar.
abraço
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