31 maio 2008

NOVO CHOQUE PETROLÍFERO (2)

A manutenção de elevados preços do petróleo trará toda uma série de consequências para a economia mundial, tanto a curto como a longo prazo. A curto prazo, as consequências da manutenção de preços do crude são previsíveis: menos crescimento e mais inflação. De facto, aumentos substanciais dos preços petrolíferos geralmente reflectem-se nos preços de grande parte dos bens e serviços, gerando não só inflação mas também um agravamento dos custos das empresas. Este aumento dos custos diminui os lucros das empresas, o que leva a uma diminuição das suas actividades económicas. Consequentemente, a nível agregado, o produto nacional diminui e o desemprego aumenta. Assim, um aumento significativo e duradouro dos preços petrolíferos significa que a economia mundial irá crescer menos. Aliás, isso já está a acontecer, como todos sabemos.
Por outro lado, o aumento das pressões inflacionárias conduzirá inevitavelmente a taxas de juros mais altas, o que poderá afectar ainda mais a actual (débil) recuperação económica. Neste sentido, a retoma económica num cenário de preços petrolíferos elevados depende em grande parte da maneira como os bancos centrais reagirem à subida dos preços do crude. Como é sabido, as autoridades monetárias poderão diminuir o impacto no respectivo PIB nacional se estiverem dispostas a suportar maiores taxas de inflação a curto prazo. Porém, se as autoridades monetárias não o fizerem, então o abrandamento económico será mais acentuado. Obviamente, este cenário é preocupante principalmente se no futuro existirem desenvolvimentos políticos (como novos ataques terroristas, um agravamento da situação no Médio Oriente, etc.) que conduzam a novos aumentos substanciais do preço do crude.

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Contudo, se a curto prazo a subida dos preços petrolíferos é, sem dúvida, uma má notícia, a longo prazo a manutenção de um elevado preço do crude poderá, paradoxalmente, ter efeitos benéficos para a economia mundial. Nomeadamente, se o preço do crude se mantiver em níveis elevados durante um período de tempo considerável, então certamente emergirá um novo ímpeto para a substituição do petróleo por outras fontes de energia, as quais serão provavelmente renováveis e menos poluentes. Isto é uma boa notícia para o combate ao efeito de estufa, visto que, como a procura dos produtos petrolíferos é demasiado inelástica, somente impostos proibitivos poderão fazer com que haja uma diminuição acentuada da procura. Um aumento significativo dos preços do crude poderá assim aumentar as despesas de I&D em energias alternativas, o que poderá contribuir para uma mais rápida substituição dos produtos petrolíferos como a nossa principal fonte energética.

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Porém, não só o ambiente global beneficiaria com uma substituição do petróleo por outras fontes de energia. De facto, um dos principais benefícios da substituição do crude relaciona-se com a independência energética dos países não produtores de petróleo. Nomeadamente, o mundo ficaria muito menos dependente da volatilidade do Médio Oriente se o petróleo fosse substituído por outras fontes de energia. Isto seria bom para o mundo, mas também para o Médio Oriente, visto que nessa parte do mundo, o petróleo é mais fonte de conflito e de corrupção do que de riqueza. Em suma, a subida dos preços do petróleo não é necessariamente uma má notícia. Embora a curto prazo a subida dos preços dos produtos petrolíferos seja prejudicial à economia mundial, a longo prazo este aumento dos preços do crude poderá, paradoxalmente, contribuir para o estabelecimento de economias mais saudáveis e sustentáveis.

O NOVO CHOQUE PETROLÍFERO (1)

No primeiro choque petrolífero de 1973 (causado pelo embargo dos países árabes em retaliação à Guerra do Yum Kippor) originou uma subida vertiginosa dos preços do petróleo, que triplicaram em apenas alguns meses. Igualmente, entre os anos de 1979 e 1980, os preços petrolíferos aumentaram quatro vezes, principalmente devido ao efeito negativo da revolução Iraniana e da guerra Irão-Iraque. Ora, se analisarmos os dados históricos, damos conta que a magnitude da actual subida dos preços do crude tem sido bastante mais moderada face a 1973 e 1980. Entre 2001 e 2004, os preços do petróleo subiram cerca de 140%. Desde então, os preços já duplicaram. Em comparação, durante a crise petrolífera de 1973, os preços do crude aumentaram cerca de 275% em apenas seis meses. Durante a crise de 1980, a subida dos preços foi ainda mais acentuada. Ou seja, a grande diferença entre o choque actual e os choques petrolíferos de 1973 e 1980 é que os preços do crude subiram então muito mais depressa do que actualmente.
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Ainda assim, é claro que o impacto da subida acentuada dos produtos petrolíferos é bastante apreciável. Alguns estudos estimam que cada aumento do preço do petróleo em $10/barril é associado com uma descida do PIB mundial em cerca de 0.5% ao ano. Quais são então as causas do substancial aumento dos preços do petróleo?
Por um lado, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a procura mundial do petróleo é a mais elevada dos últimos 25 anos, principalmente devido ao grande aumento da procura por parte da China, à retoma (ainda tímida) da economia mundial, e ao aumento da procura de muitos países subdesenvolvidos (como a Índia). De facto, segundo um estudo do HSBC Bank, o aumento da procura explica cerca de 80% dos preços petrolíferos actuais. Porém, outros estudos não concordam com esta análise. Nomeadamente, a AIE estima que a procura tem sido largamente satisfeita pela oferta. Neste sentido, o aumento dos preços petrolíferos seria justificada principalmente por dois factores: a incerteza sobre a oferta de petróleo futura e a especulação.
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A incerteza sobre a oferta petrolífera deve-se a uma série de conflitos internacionais, tais como o conflito no Médio Oriente. Neste contexto, alguns analistas estimam que o prémio de risco é responsável por cerca de 25 por cento do preço do crude actual. Esse prémio de risco é ainda mais elevado devido à grande especulação que hoje se vive no mercado do crude. Por seu turno, esta especulação está relacionada com a grande incerteza que rodeia grande parte das principais regiões exportadoras. Devido a todos estes motivos, tem havido uma grande especulação nos mercados mundiais, o que tem originado um aumento substancial do preço do crude.
Assim, é provável que os preços do crude se mantenham substancialmente elevados durante os próximos tempos, o que trará toda uma série de consequências para as economias mundiais. Este cenário será analisado na segunda parte deste artigo.

30 maio 2008

REPENSAR A CRISE

O meu artigo do PUBLICO de hoje:
Após uma década de marasmo, a economia portuguesa continua praticamente estagnada. Mesmo assim, inexplicavelmente, tanto o governo como as principais figuras da oposição continuam a dar prioridade total ao combate ao défice orçamental. É como dizer a um doente com cancro para tomar mais aspirinas, pois mais tarde ou mais cedo os sintomas irão passar. Ou seja, um disparate e um contra-senso.
Com efeito, a obsessão do défice tem sido tão intransigente que ameaça tornar-se completamente irracional. É como se o equilíbrio orçamental fosse um fim em si mesmo e não apenas um objectivo. Não é. O défice é, sem dúvida, um sintoma de uma doença: o Estado está a gastar mais do que pode. Porém, a nossa obsessão fundamentalista com o défice está a ser prejudicial, pois não nos tem deixado concentrar nos nossos problemas estruturais, principalmente a nível da competitividade das exportações. Ora, os nossos políticos e governantes só têm cismado nesta obsessão com o défice orçamental porque têm medo de fazer frente a Bruxelas. Porém, se a França ou Alemanha estivessem na nossa situação certamente que facilmente esqueceriam Bruxelas e o Pacto de Estabilidade e fariam tudo para acabar com a estagnação económica. É chegada a hora de fazermos o mesmo.
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Que fazer então com o défice? Esquecê-lo. Pelo menos por 2 ou 3 anos até a retoma ser alcançada. Por outro lado, é também importante introduzir legislação que obrigue o governo a atingir o equilíbrio orçamental ao longo do ciclo económico (ou político), para que se possa poupar em tempos de vacas gordas e ter margem de manobra em tempos menos bons.
E o que fazer para reanimar a economia? Há três possibilidades: estimular as exportações, aumentar o investimento ou utilizar a política fiscal (i.e., gastar mais ou cobrar menos impostos). A curto prazo, pouco podemos fazer para aumentar a procura externa. As exportações dependem não só da competitividade dos nossos produtos, mas também de muitos outros factores, nem todos controláveis. Por outro lado, o investimento público também não será suficiente para a retoma. De facto, há cada vez mais rendimentos decrescentes para a política do betão que tanto sucesso teve nos anos 80 e 90. Não é por construirmos mais e mais auto-estradas ou termos um TGV que vamos atrair muitos investidores. Por isso, só sobra a política fiscal.
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Como sabemos, aumentar as despesas do Estado está fora de questão. Está bem à vista o resultado da nossa toxicodependência das despesas. Deste modo, só nos resta cortar os impostos. Que impostos? Principalmente o IRC e talvez o IRS. Ou seja, a prioridade deve ser dada à baixa dos impostos sobre o rendimento e não ao IVA. Não é com cortes de 1 ponto percentual na taxa do IVA que se alcançam estímulos económicos significativos. Somente uma descida considerável dos impostos pode ter esse efeito. As descidas têm que ser substanciais, mas faseadas e talvez diferenciadas geograficamente (concedendo uma fiscalidade bonificada às regiões deprimidas).
E como é que podemos cortar impostos se não temos margem de manobra orçamental? Continuando a reforma do Estado, racionalizando recursos, e adiando projectos megalómanos como o TGV. Deste modo, baixar os impostos não tem que ser populismo barato e demagógico. Baixar os impostos é uma questão de escolha. Só temos que pensar se queremos construir obras faraónicas de rentabilidade duvidosa ou cortar os impostos, aumentando a competitividade das nossas empresas. Cabe-nos a nós decidir.

CENSURA INÚTIL

Na próxima semana teremos mais uma moção de censura ao governo, desta vez avançada pelo CDS-PP. O motivo? A subida dos combustíveis e a alegada inactividade do governo. Enfim, uma inutilidade e uma perda de tempo. Ninguém ganha com tão triste iniciativa. A não ser o populismo demagogo.

AS CONTAS DE CLINTON

Retirado da Slate.com

As contas de Hillary Clinton para ganhar a nomeação Democrata.

SOBREVIVENTES

Oded Bality/AP
A vida de alguns sobreviventes do sismo da China.

29 maio 2008

O FANTASMA DO DESEMPREGO

A prolongada crise que vivemos tem tido um efeito substancial no desemprego. Segundo dados do INE, em 2001 a taxa de desemprego rondava os 4% da população activa, enquanto actualmente esta taxa já está perto dos 8%. Em relação à população desempregada, existem dois factores que interessa salientar. Em primeiro lugar, a variação homóloga da taxa de desemprego revela que as faixas etárias mais atingidas têm sido entre os 25 e 34 anos, e entre os 35 e os 44 anos. O número de jovens à procura do primeiro emprego também tem aumentado consideravelmente. Nos últimos 2 anos, o desemprego não tem discriminado os trabalhadores de acordo com o nível de experiência no trabalho. Ainda mais significativamente, durante esse período tanto o sector dos serviços, como a indústria e construção tiveram aumentos substanciais do desemprego, e só no sector da agrícola é que houve uma diminuição da taxa de desemprego. Se o clima recessivo se mantiver nos sectores da indústria e do comércio, devemos esperar um aumento significativo do desemprego em Portugal.
Ainda mais preocupante é o facto do desemprego de longa duração ter vindo a aumentar significativamente nos últimos anos. Em 2004, o desemprego de longa duração aumentou cerca de 39%, enquanto o que desemprego com mais de 25 meses cresceu mais de 60%. Estes números não incluem obviamente nem os inactivos nem os trabalhadores que estão desencorajados de procurar emprego, e que se estimam em 80 mil indivíduos.
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Igualmente, a taxa de desemprego não reflecte o crescente número de portugueses que decidem emigrar. Apesar de não atingir os valores históricos das décadas de 60 e 70, o fluxo emigratório tem vindo a crescer desde 2001. Assim, nos últimos anos, mais de 200 mil portugueses emigraram só para o Reino Unido, quer temporária quer permanentemente. Deste modo, é provável que o desemprego em Portugal só ainda não chegou aos 10% porque os portugueses têm emigrado em número considerável para países como o Reino Unido e a França. Apesar do mito da fuga de cérebros (o infame ‘brain drain’), a emigração continua a fazer-se de forma muito tradicional: em 2003, a grande maioria dos emigrantes portugueses possuía o ensino básico (77,4%), enquanto que somente 9% possuíam o ensino superior.
Em suma, o desemprego começa a atingir valores que já não estávamos habituados há bastante tempo. Dado que esta é principalmente uma crise de carácter estrutural, a tendência será provavelmente de agravamento do desemprego, pois não parece que nem a indústria nem o comércio sejam capazes de inverterem a sua situação recessiva a curto prazo. Qual é então a solução para o desemprego? Habitualmente, em períodos de desemprego o nosso Estado paternalista opta por uma estratégia de aumento da contratação de trabalhadores para a administração pública, quer a nível central quer local, ou pela intensificação dos projectos de obras públicas. Ora, a grave situação das contas públicas irá contrariar esta tendência, visto que não haverá grande espaço de manobra financeira. Este é um efeito positivo da crise das contas públicas, visto que a engorda da função pública não é sustentável a longo prazo. Por isso, mais uma vez, só nos resta uma opção: fazermos as reformas do Estado e microeconómicas que andamos há tanto tempo a apregoar e sempre a adiar. Mesmo que a curto prazo haja algum aumento do desemprego (que é, de resto, inevitável), a longo prazo construiremos uma economia mais saudável e equilibrada.

MAIS PROTESTOS

Protestos contra a subida do preço do pão no Paquistão.

28 maio 2008

O ENDIVIDAMENTO E A CRISE

Já se conhecem os novos números do nível de endividamento das famílias portuguesas, o qual já atingiu os 129% do seu rendimento disponível anual. Este é o valor mais elevado dos últimos 13 anos e é bem revelador das dificuldades que ainda se fazem sentir para uma grande maioria dos consumidores portugueses. Deslumbrados pelos juros baixos possibilitados pela nossa adesão ao euro, muitos(as) portugueses(as) endividaram-se para níveis nunca dantes vistos. O grande problema é que quanto maiores são as nossas dívidas, menor é a margem de manobra ao nosso dispor. Se parte do nosso rendimento destina-se ao pagamento das dívidas antigas e dos seus juros, temos menos possibilidade de aumentar o nível do nosso consumo actual e as nossas poupanças decrescem. É exactamente isto que está a passar. O grande nível de endividamento das famílias portuguesas (e do Estado) limita uma possível expansão do consumo. Por outro lado, o baixo nível de poupanças diminui os fundos disponíveis para o investimento. Ora, tanto o consumo como o investimento são fundamentais para uma recuperação económica. Assim, o nível de endividamento das famílias constitui um entrave à própria retoma da economia.

DESIGUALDADES SOCIAIS

Nos últimos dias tem havido um grande debate sobre o relatório da Comissão Europeia que aponta graves desigualdades sociais e de rendimentos em Portugal. Apesar de toda a polémica, pouco ou nada foi dito sobre os números dessas mesmas desigualdades. Por isso, nos próximos dias, irei destilar e decifrar o relatório segundo as suas diversas componentes. Entretanto, aqui fica um extracto da introdução desse mesmo relatório:
"Sublinhando as debilidades estruturais da economia, a taxa de crescimento média do PIB em 2001-2006 foi inferior a 1% ao ano (0,4% em 2005). A taxa de emprego total diminuiu de 68,4% em 2000 para 67,5% em 2005. Contudo, as metas de Lisboa estão ainda ao alcance e os objectivos intermédios para as taxas de emprego das mulheres e dos trabalhadores mais velhos foram atingidos em 2005 (61,7% e 50,5%, respectivamente). A taxa de desemprego aumentou de 4% em 2000 para 7,6% em 2005, com um impacto significativo no desemprego dos jovens e de longa duração. Em 2005, a taxa de abandono escolar precoce continuava extremamente elevada, situando-se nos 38,6%, e os níveis de escolaridade dos jovens registavam valores muito baixos (48,4%). Estes dois indicadores sobre a educação apresentam valores que colocam Portugal muito abaixo da média da UE. O risco de pobreza após transferências sociais (20% em 2004) e as desigualdades na distribuição dos rendimentos (rácio de 8,2 em 2004) são das mais elevadas na UE. As crianças e os idosos constituem as categorias mais expostas ao risco de pobreza. Segundo as previsões, Portugal deverá enfrentar, nas próximas décadas, um envelhecimento demográfico mais acelerado do que a maioria dos Estados-Membros da União Europeia. O rácio de dependência dos idosos deverá aumentar de 25,2%, em 2004 para 58,1%, em 2050. As despesas com os regimes de pensões públicos representavam 11,1% do PIB em 2004, prevendo-se um aumento de 9,7 pontos percentuais até 2050. A esperança de vida à nascença (74,9 para os homens e 81,5 para as mulheres em 2004) está ligeiramente abaixo da média de UE1, revelando um aumento significativo desde 1995 (71,6 e 78,7) e uma evolução regular ao longo do tempo (63,8 e 70,3 em 1971). A esperança de vida com boa saúde (59,8 e 61,8 em 2003) estava abaixo da média da UE em 20032, tendo-se mantido estável desde 1995 para os homens, com uma ligeira redução para as mulheres. A mortalidade infantil (4 em 2004) está próxima da média da UE (4,5), tendo passado de 77,5 em 1960 e 7,5 em 1995. A mortalidade perinatal (5,1 em 2003 e 4,4 em 2004) está próxima da média da UE, registando uma redução substancial em relação aos 41,1 de 1960."

QUE FAZER? _ Voz aos leitores (2)

Numa série de comentários, o António faz o seu diagnóstico da economia portuguesa e sugere as seguintes medidas para a crise:
"Infelizmente na nossa economia tem-se assistido a injecções maciças da pressão fiscal, repressão e regulamentação (o estado português não resiste a tudo regulamentar) que destroem e desmotivam muitas das células saudáveis do nosso tecido social e económico. No caso do nosso país foi diagnosticado um cancro na função publica. Era necessário, dizia-se, extrair 100.000 funcionários publicos. Ao fim de três anos de cirugia acho que não chegam a 300. Acontece que os portugueses encontram-se empobrecidos e sobretudo descrédulos. Deprimidos e descrédulos. E os estimulos de que o Álvero tanto é adepto não podem ser apenas estímulos com caracteristicas económicas...
Que estamos a fazer de errado? Total irresponsabilidade na despesa pública. Total incapacidade de fazer reformas que atinjam interesses corporativos. Redução do deficit quase só pela pressão fiscal debilitando ainda mais uma economia já por si só frágil com completa insensibilidade pelo tecido social e económico e salvaguardando apenas os interesses dos grandes grupos e respectivos lobies...
É absolutamente mentira a teoria de que se todos pagarmos os impostos que devemos pagar, todos nós pagaremos menos impostos. Apercebi-me ao longo destes anos que os impostos são como a cocaína. Quanto mais se tem mais se gasta.
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Irresponsabilidade na despesa publica. Procure cortar-se onde se deve, não onde dá jeito.
Nada de choques fiscais. Nem para cima nem para baixo. Tomem-se medidas a pensar no médio e longo prazo. A economia tem de se tornar competitiva e tem de haver um objectivo muito claro de lhe dar competitividade fiscal. Para que por exemplo não continue a haver uma brutal quebra do investimento directo estrangeiro.
Congelamento de salários. Mas honestamente julgo ser muito pouco provável que alguem se atreva a congelar salários por meia duzia de anos pelo menos...
Tem sido impossivel realizar reformas em Portugal por causa da resistência das corporações."
Obrigado pela sua opinião António. Está mais uma vez lançado o debate

SISMO NA CHINA (3)

O grande sismo da China continua a ter bastantes réplicas, tanto geológica como politicamente. Ontem, uma forte réplica fez desmoronar cerca de 420 mil casas. Agora, surgem cada vez mais relatos que o partido comunista chinês tem enfrentado um nível de críticas sem precedentes por parte dos milhares de pais que perderam os seus filhos (quase sempre filhos únicos). Mais de 10 mil crianças pereceram durante o sismo, a maior parte das quais sob os tectos das suas escolas. As críticas têm sido ainda mais acérrimas porque, provavelmente, muitas das mortes poderiam ter sido evitadas se tivesse havido mais cuidado com as construções das escolas. Nomeadamente, enquanto as escolas dos filhos dos cidadãos comuns ruiram, as escolas das elites (os filhos dos funcionários do partido e dos mais ricos) ficaram em pé. Nem toda a gente é igual, mesmo num país supostamente comunista.

CITAÇÃO _ preços alimentares

Um artigo interessante do Guardian sobre a subida dos preços alimentares. Aqui está um excerto: "Of course, the food crisis is not all the fault of some dunderheads in Washington; bad governments in countries such as Burma - once one of Asia's biggest rice exporters - and those surging energy prices are also to blame. And in the short term only a moratorium on biofuel use might help lower prices. But to prevent this drama being revived regularly the west will need to reverse its previous policy and encourage poor countries (especially in Africa) to help their farmers get seeds, fertilisers, more credit and better roads. This is starting to happen, but more in rhetoric than deed."

PRENDER A CABEÇA

T Mughal/EPA
Este paquistanês, devoto do templo de Sufi Saint Hazrat Shah Abdul Latif Kazmi Mashhadi, parece estar com medo de perder a cabeça... ou as barbas...

SUBIDA DOS PREÇOS


A subida dos preços do petróleo e dos bens alimentares continuam a preocupar (quase) toda a gente. Aqui estão mais alguns cartoons sobre o assunto:

27 maio 2008

BANHO AOS BEBÉS

O Ivaz dá-nos a conhecer uma outra tradição com bebés, desta vez no nosso país:
"No Minho há uma aldeia que fica junto ao mar chamada S. Bartolomeu e cuja festa se celebra no dia 15 de Agosto. É tradição nesse dia entregar os bebés de sexo masculino ao banheiros para que os levem ao mar e os façam mergulhar em 3 ondas seguidas, pois assim as crianças perderão o medo."
É o que se diz perder o medo à força (se os bebés o perderem...)

PRESENÇA NAS FEIRAS DO LIVRO

Para a semana estarei nas Feiras do Livro do Porto e de Lisboa:

PORTO
6 de Junho, Sexta-feira, às 20h30 na Tenda, Stand nº 4 (Sodilivros)

LISBOA
7 de Junho, Sábado, 16h no Stand nº 79 (Guerra e Paz)

TERCEIRA EDIÇÃO DO MITOS


A terceira edição do "Mitos" já está à venda. Obrigado mais uma vez a todos.

NOVA ESTAGFLAÇÃO

Nos últimos tempos agravaram-se alguns dos sinais preocupantes nas principais economias do mundo. Surgem assim no horizonte alguns indícios que a economia mundial poderá cair novamente no fenómeno que nos anos 70 veio a ficar conhecido por estagflação. Nessa altura, depois de três décadas de crescimento económico sem precedentes, a maioria das economias registaram a coexistência de taxas de inflação altas e estagnação da actividade económica, da qual resultaram elevadas taxas de desemprego. Esta situação foi despoletada pelos choques petrolíferos de 1973/74 e 1979/1980.
Ora, a nível da política económica, a grande diferença entre a década de 70 e as décadas anteriores foi o factor surpresa. De facto, nem os agentes económicos, nem os bancos centrais estavam preparados para choques de oferta negativos. Desde a Segunda Guerra Mundial os governos e bancos centrais equiparam-se com uma série de mecanismos desenhados a lidar com aumentos ou diminuições da procura agregada, não tendo que se preocupar com o lado da oferta. Este era a receita essencial do keynesianismo. Segundo esta doutrina, em tempos de recessão, o governo deveria estimular a procura agregada para compensar deficiências na procura interna.
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A situação mudou radicalmente com os choques petrolíferos dos anos 70, dos quais resultaram uma série de choques de oferta negativos. Esses choques petrolíferos levaram a um aumento dos custos das empresas, que resultaram uma subida acentuada da taxa de inflação (devido à importância do petróleo na economia mundial). A subida dos custos das empresas levou a uma descida considerável dos lucros das empresas, da qual resultou um aumento dos despedimentos dos trabalhadores. Deste modo, as taxas de desemprego subiram um pouco por todo o mundo ao mesmo tempo que as taxas de inflação dispararam.
Existem bastantes paralelismos entre a situação actual e as crises petrolíferas dos anos 70. Por um lado, tais como nos anos 70, o preço do petróleo tem aumentado consideravelmente nos últimos tempos. Por outro lado, tais como na década de 70, os agentes económicos e as autoridades monetárias foram apanhados em grande parte distraídos, e por isso responderam inadequadamente aos novos desafios.
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Porém, uma grande diferença entre os anos 70 e a situação corrente tem a haver com a experiência dos bancos centrais e dos governos. Se nos anos 70, os bancos centrais cometeram vários erros relativamente ao combate à inflação, actualmente os bancos centrais possuem bastante mais experiência e informação sobre a economia. Por isso, mesmo que os ventos dos preços petrolíferos se transformem num furacão, é provável que os bancos centrais actuem de forma muito mais resoluta e benéfica do que o fizeram na década de 70.
Apesar disso, se a subida dos preços dos produtos petrolíferos se mantiver, podemos certamente esperar nos próximos tempos uma subida acentuada das taxas de juros, possivelmente a partir do Verão. Esta subida dos juros irá penalizar principalmente o consumo e o investimento privados, bem como as famílias seriamente endividadas. Como sabemos, uma das consequências dos juros historicamente baixos nos últimos anos foi um crescimento substancial do endividamento das famílias. Este fenómeno aconteceu um pouco por todo o mundo ocidental. Os juros baixos permitiram muitas famílias financiar a obtenção bens duradouros, tais como casas e automóveis, que não seriam possíveis se os juros não fossem tão baixos. Consequentemente, uma subida substancial das taxas de juro irá afectar grandemente os consumidores que se endividaram acima das suas reais possibilidades.
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Finalmente, esta subida acentuada dos preços dos produtos petrolíferos não é uma boa notícia para a economia mundial, com a excepção dos países produtores de petróleo. Se a recuperação das economias mais desenvolvidas tinha procedido até agora de certamente tímida, a subida dos preços petrolíferos somente poderá aumentar ainda mais esta tendência, devido às influências nefastas da estagflação. Os próximos meses serão assim cruciais para o desempenho da economia mundial.

DESTRUIÇÃO QUASE TOTAL


China Photos/Getty Images

26 maio 2008

O ESCÂNDALO DA MOTA ENGIL

Jorge Coelho, ex-ministro das Obras Públicas e um dos ex-dirigentes mais influentes do Partido Socialista, toma hoje as rédeas do poder da Motal Engil, a maior construtora nacional. Fiel ao seu estilo, Jorge Coelho promete sonhos grandes e lucros ainda maiores para a Mota Engil. Segundo o DN, "no plano estratégico que elaborou através da sua consultora, a Conjectmark, e que apresentará no final da semana, irá preparar a construtora para o período de 2008/2013 que coincide com o concurso e a execução do maior pacote de obras públicas de sempre, no valor de 40 mil milhões de euros." E que obras inclui esse pacote? A construção do novo aeroporto, a terceira travessia do Tejo (cuja decisão, Coelho este envolvido enquanto ministro) e, claro, o faraónico TGV. Um belo pacote, sim senhor.
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Sinceramente, não sou contra os políticos irem trabalhar para o sector privado após abandonarem o serviço público. Afinal, também eles(as) têm direito a ganhar a vida. Mas, para que tal aconteça, tem de existir o mínimo de ética e de bom senso. Não é o caso. No mínimo, a ida de Jorge Coelho levanta dúvida e suspeitas. E se é assim, o governo só tem uma decisão a tomar: mostrar claramente que, em todos os concursos públicos, as ligações de Jorge Coelho aos seus ex-companheiros partidários e de governo não levaram ao favorecimento da Mota Engil. Uma tarefa que se prevê um pouco complicada, no mínimo.

O POPULISMO DEMAGÓGICO

Pedro Passos Coelho pediu ao governo para baixar o imposto sobre os combustíveis sob pena da "economia portuguesa entrar num colapso completo". Colapso? Completo? Que colapso??? Por causa do choque petrolífero? Se formos dramáticos, até podemos argumentar que o choque petrolífero (e a subida dos preços alimentares) ameaçam arrastar a economia nacional para uma recessão. Mas, daí ao colapso há um mundo inteiro...
Para além do mais, há que se ser coerente. Se se baixa um imposto, que despesa é que se corta para compensar essa menor receita estatal ou que imposto sobre em contrapartida?
Por outro lado, porquê os impostos dos produtos petrolíferos? Porquê não o IVA ou o IRS ou o IRC?
Finalmente, quem nos garante que uma hipotética descida do imposto sobre os combustíveis iria beneficiar os consumidores? Quem nos afiança que os produtores e revendedores dos produtos petrolíferos iriam baixar os preços dos combustíveis após a descida dos impostos?
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Até se pode simpatizar com Passos Coelho e com a sua imagem fresca (apesar de Passos Coelho ter uma longa história partidária) e jovem na política portuguesa. No entanto, não é assim que se conquista a credibilidade necessária para a liderança do principal partido da oposição. Passos Coelho devia perceber que não é o populismo barato que nos vai levar a lado nenhum. Até o próprio Santana Lopes, populista por natureza, se insurgiu contra as promessas de Passos Coelho...

VIDA EM MARTE

Parabéns aos cientistas da NASA que alcançaram a proeza de ter conseguido enviar com sucesso uma nova sonda a Marte. Desta vez, a sonda aterrou numa zona remota do planeta, onde se suspeita que possa existir água no subsolo, aumentando assim a possibilidade de existirem vestígios de vida (antiga ou presente). Saberemos dentro de pouco tempo.

ESPERANÇA RENASCIDA

Após seis longos meses sem presidente e na sequela dos graves confrontos das últimas semanas entre apoiantes do Hezbollah e o governo, o Líbano finalmente elegeu um novo presidente, o general Michel Suleiman. Mais uma oportunidade (a última) de paz para um país à beira do abismo da guerra civil. Esperemos que as coisas resultem. Ainda assim, o mais provável é que brevemente o Hezbollah retorne à sua estratégia de desgaste e de provocação.

SALTO AOS BEBÉS

A vila espanhola de Castrillo de Murcia tem uma curiosa (e macabra) tradição: todos os anos alguns homens vestem-se de diabos e saltam por cima de bebés arranjados por filas. A intenção desta curiosa tradição que surgiu em 1620 é, supostamente, espantar o Diabo daquelas bandas. Sem dúvida que há malucos e tradições para tudo...

24 maio 2008

PROTESTOS CONTRA IMPORTAÇÕES

Protestos na Coreia do Sul contra a livre importação de bens alimentares americanos.

UM CARRO E UMA ARMA

Um gerente de um stand de carros no Missouri, Estados Unidos, decidiu atrair potenciais clientes de uma forma pouco ortodoxa. Quem comprar um carro nesse stand tem direito a uma arma, uma arma "pequenina" para as pessoas "se defenderem contra os malfeitores". Se a pessoa em questão passar os requisitos legais necessários para a posse de uma arma, o cliente fica com direito de receber uma pistola de defesa pessoal com a compra do carro. Há quem diga que o negócio nunca foi tão bom. As vendas cresceram mais de 200 por cento desde que o início da promoção.

CARROS GRANDES

A subida dos preços dos combustíveis tem tido um impacto substancial um pouco por todo o mundo. Na América do Norte, a subida dos preços petrolíferos tem levado muitos (muitos mesmo) consumidores a deixarem os seus queridos jeeps e camiões. Vêem-se muitos sinais de particulares que querem vender os seus carros de um tamanho descomunal, que são grandes bebedores e sorvedores de gasolina e gasóleo. A subida dos preços petólíferos é, sem dúvida, uma má notícia para a grande maioria das economias, mundiais, mas é definitivamente uma óptima noticia para aqueles que defendem que a arma mais eficaz contra as alterações climáticas é um aumento substancial dos preços dos produtos petrolíferos. Haverá uma intensificação da procura de carros e energias mais eficientes, bem como a substituição de veículos pouco eficientes.

23 maio 2008

QUE FAZER? (2)

O António e Alfred the Pug têm comentários e sugestão muito pertinentes sobre o que fazer. Os comentários podem ser lidos aqui.

O DÉFICE E AS IMPOSIÇÕES DE BRUXELAS

Há uns anos atrás, a decisão do governo francês em desrespeitar as condições estabelecidas pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) realçou uma das fundamentais assimetrias existentes na União Europeia: na UE todos os países são iguais mas os países grandes são mais iguais que os outros. Por outro lado, quando Portugal violou as recomendações sobre o défice orçamental rapidamente alguns dos nossos parceiros (bem como a Comissão Europeia) ameaçaram desencadear os dispositivos estabelecidos pelo PEC sobre o défice excessivo. De facto, se o governo português não tivesse aplicado medidas extraordinárias (e controversas) para o cumprimento do défice no ano transacto, qual teria sido a resposta da Comissão Europeia? Se Portugal tivesse violado dois anos consecutivos as disposições orçamentais do PEC, será que restariam algumas dúvidas que alguma espécie de sanção nos seria aplicada? Se assim fosse, não seria natural que Portugal servisse de lição para futuros infractores? Penso que não restam dúvidas que as respostas a estas questões seriam claramente afirmativas.
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Porém, o estado de coisas inverteu-se quando a Alemanha e a França violaram as disposições do Pacto de Estabilidade. Assim, os países (principalmente a Alemanha) que mais insistiram para o estabelecimento do PEC para poderem controlar os tradicionais excessos de outros países, viram-se então na contingência de contrariarem as directivas do mesmo Pacto. Contrariamente ao que se passou quando Portugal violou as regras do PEC, as dificuldades sentidas pelos países grandes levaram a que muitos (inclusivamente o ex-Presidente da Comissão Europeia) apelidassem o Pacto de “estúpido”, devido à sua inflexibilidade. E o PEC foi mudado por causa disso.
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Ora, as decisões da Alemanha e da França em relação ao PEC demonstram que as regras da UE são mais facilmente aplicáveis aos países pequenos do que aos países grandes. De facto, as acções e contradições relacionadas com o Pacto de Estabilidade e Crescimento vêm demonstrar que na UE os países grandes são relativamente livres para poderem violar as regras por eles impostas sem grande ou nenhuma punição. Assim, os países grandes exigem dos pequenos aquilo a que não exigem a si próprios. Os países pequenos parecem assim condenados a terem que cumprir as regras para não sofrerem retaliações, enquanto os países grandes cumprem as leis comunitárias muitas vezes à sua bela mercê. E foi assim surgiu a nossa obsessão pelo défice.
(post a continuar)

A EXTINÇÃO DOS URSOS

Os ursos polares passaram a ser considerados pelo governo americano uma espécie em vias de extinção. Tudo por causa das alterações climáticas.

À ESPERA DA CHUVA


Ritual realizado no estado indiano de Jharkand com o intuito de trazer chuva à região. Já sabemos o que fazer na próxima vez que formos afectados pela seca.

22 maio 2008

QUE FAZER? Voz aos leitores

O que fazer para acabar com a crise? Reduzir o défice? Baixar os impostos? Se sim, quanto é que essa descida devia ser? Para que impostos? ou, alternativamente, será que devíamos aumentar as despesas do Estado, nomeadamente as despesas de investimento público? Que fazer com o défice orçamental?
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Estas são algumas perguntas para as quais não há nem respostas fáceis nem receitas mágicas. Ainda assim, custa acreditar que a obsessão do défice é tudo o que nos resta. Ou será que não?
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Gostaria de saber a vossa opinião sobre estes assuntos. Que fazer? Qual devia ser a prioridade das prioridades para a política económica? O que é que estamos a fazer de errado?

IMIGRAÇÃO E A EUROPA

O PUBLICO dá hoje grande destaque à questão da imigração na Europa. Aproveito a deixa para tecer algumas considerações sobre o tema:
Em primeiro lugar, um dos argumentos utilizados pelos oponentes à imigração é que a imigração origina graves problemas de desemprego nos países de acolhimento. Segundo eles, os imigrantes são concorrentes desleais no mercado de trabalho, visto que estão dispostos a aceitar salários reais mais baixos do que os cidadãos nacionais, diminuindo assim o nível de vida nos países de acolhimento. Ora, este argumento só é válido perante condições muito restritas. Nomeadamente, vários estudos empíricos demonstram que a imigração é geralmente complementar aos factores produtivos nacionais e não um factor substituto. Por ser um factor complementar aos demais factores produtivos, a imigração fomenta a produtividade nacional (e, assim, os salários) e facilita o rejuvenescimento da populações activas.
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Em segundo lugar, e neste âmbito, é preciso não esquecer o verdadeiro motivo porque continuamos a importar trabalhadores de outros países: a Europa está a envelhecer rapidamente, devido às suas taxas de natalidade baixíssimas. Segundo as Nações Unidas, nos próximos 25 anos, uma Europa envelhecida necessitará cerca de 160 milhões de imigrantes para satisfazer as suas necessidades de mão-de-obra (qualificada ou não). Este sim é o cerne da questão. A imigração é uma questão de sobrevivência e da manutenção do bem-estar da Europa. Se fecharmos as torneiras aos fluxos migratórios, o crescimento económico a longo prazo será seriamente comprometido, visto que uma força de trabalho envelhecida poderá não ser suficiente para a manutenção das dinâmicas inerentes a um crescimento sustentável.
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Em terceiro lugar, os extremistas conjecturam que os imigrantes são em grande parte responsáveis pelas altas taxas de desemprego europeias, retirando trabalho aos cidadãos nacionais. Ora, as premissas deste argumento estão totalmente erradas. Os problemas de desemprego de longa duração na Europa não se devem à imigração, mas sim a mercados de trabalho pouco flexíveis. Reformando os arcaicos e pouco competitivos mercados de trabalho europeus será assim um primeiro passo no combate ao desemprego de longa duração, retirando argumentos a movimentos extremistas.
Em quarto lugar, urge combater eficazmente a imigração clandestina. Se a imigração controlada é indubitavelmente benéfica para os países de acolhimento, a imigração clandestina poderá facilmente tornar-se mais numa fonte de problemas (sociais e económicos) do que de riqueza. Por isso, uma política de fomento à imigração terá que combater vigorosamente a imigração ilegal.
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Finalmente, é preciso perceber que a melhor maneira de evitarmos a imigração clandestina é através de um auxílio ao desenvolvimento dos países de origem. Enquanto forem pobres e enquanto a Europa representar o eldorado para milhões de destituídos em todo o mundo, múltiplos imigrantes continuarão a vir bater à nossa porta, quer os convidemos ou não. Entre um futuro sem perspectivas ou a miragem de uma vida melhor na Europa, muitos continuarão a votar com os seus pés e arriscar tudo (incluindo a própria vida) para poderem ter a oportunidade de conseguirem alcançar um nível de vida adequado.
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Tendo em linha de conta os pressupostos acima enunciados, os países europeus deveriam erguer os seguintes alicerces para a construção de uma verdadeira politica europeia de imigração:
1) estabelecimento de uma política europeia comum de imigração.
2) esta política de imigração deveria estabelecer metas e quotas anuais sobre o número de imigrantes a receber, de acordo com as necessidades do mercado de trabalho. Estas quotas de imigração deveriam visar o trabalho qualificado e não qualificado.
3) a imigração deveria ser vista como um fenómeno permanente e não temporário. Até agora, a maioria dos países europeus têm encarado a imigração como uma espécie de contracto temporário. Nomeadamente, os países europeus têm dificultado enormemente a naturalização dos imigrantes e dos seus descendentes (mesmo que estes nasçam no país de acolhimento). Ora, esta é uma das principais fontes da falta de integração social de muitos imigrantes e origem de muitos problemas sociais. Deste modo, esta política tem que claramente mudar. No futuro, teremos que oferecer aos imigrantes a possibilidade de se tornarem cidadãos de direito pleno dos nossos países (como nos EUA e no Canadá), de forma a facilitar e fomentar a integração dos imigrantes nas nossas sociedades.

IR AO DENTISTA

Istvan Kiss/EPA

VITÓRIA SUADA

Owen Humphreys/PA

Os jogadores do Manchester United correm para a baliza de Edwin Van der Sar após este ter defendido o penalti que valeu uma vitória na Champions League.

21 maio 2008

AS IDEIAS DO GOVERNO

Se da oposição não vêm grandes ideias sobre como tirar a economia do marasmo, do governo as coisas não parecem muito melhores. Teixeira dos Santos continua a insistir na mesma tecla: restrição orçamental e défice orçamental a descer. Não necessariamente através da contenção das despesas, mas através de um aumento das receitas. O ministro não o diz, mas é que o que se tem passado nos últimos anos. Ainda estamos bem longe da almejada redução estrutural da despesa pública.
Mas diz mais. Segundo o PUBLICO, Teixeira dos Santos "recusou ontem a aplicação de "políticas financeiras populistas" e o "recurso a paliativos" para enfrentar a actual conjuntura económica de abrandamento a que se assiste em Portugal. Numa intervenção realizada durante um almoço da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola, Teixeira dos Santos disse que a redução da despesa pública e a correcção do défice devem ser as prioridades da política económica do Governo, parecendo colocar de lado a hipótese de responder à crise através de políticas mais expansionistas como o corte dos impostos ou o aumento da despesa."
Ou seja, continuemos a preocuparmo-nos em agradar Bruxelas e deixemos de arranjar maneiras para acabar com o marasmo económico do país. Uma estratégia muito acertada, sim senhor...
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PS. Note-se que não sou contra a consolidação orçamental. Muito longe disso. No entanto, continuar agarrado à obsessão do défice numa altura em que esta pseudo-crise se arrasta há quase uma década parece-me completamente despropositado e desnecessário.

AS IDEIAS DA OPOSIÇÃO

O PUBLICO perguntou aos candidatos à liderança do PSD que medidas tomariam para acabar com a crise. Aqui estão as respostas deles e os meus comentários:

Manuela Ferreira Leite
"Não é um problema de medidas, é um problema de políticas. As políticas são conhecidas e são óbvias em relação àquilo que fomenta o crescimento económico. As medidas só são susceptíveis, só têm efeitos, se inseridas no contexto global da situação económica do momento. Não creio que honestamente alguém possa responder a uma pergunta destas, porque, neste momento, ninguém é capaz de prever qual é que é o cenário macroeconómico de 2009. Com todas as imponderáveis que existem, não é possível, com correcção, dizer-se que medidas é que na altura sejam adequadas para executar a política que nesse momento é necessária."
MORAL DA HISTÓRIA: Ferreira Leite defende a restrição orçamental acima de tudo. É a obsessão do défice levada ao extremo. Como se uma baixa no défice nos desse crescimento económico e uma descida do desemprego.
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Neto da Silva
"A medida fundamental é libertar a sociedade civil, a iniciativa individual, a iniciativa empresarial e as forças do mercado das garras do Estado. Em segundo lugar a reforma do Estado, tornando-o um mero regulador, por forma a ficar restringido às funções de soberania. A terceira é uma aposta muito forte no estímulo a actividades de alta elasticidade-rendimento da procura.
MORAL DA HISTÓRIA: Liberalizar, liberalizar, liberalizar. E, já agora, porque não liberalizar?
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Patinha Antão
"Em primeiro lugar, uma meta de crescimento, que é difícil, mas atingível. Colocar o PIB a crescer quatro por cento, em 2013, elevando a produtividade do trabalho e a criação de emprego em dois por cento. Para atingir esta meta, é necessário um reajustamento fiscal, que é mais do que um choque fiscal. E o enfoque de todas as políticas macroeconómicas, incluindo o QREN, no apoio às PME e mesmo grandes empresas com projectos de crescimento muito rápido na economia global. O meu choque fiscal envolve uma redução de IVA para 18 por cento, uma redução para 20 por cento do IRC só para PME e uma redução para quatro dos escalões de rendimento do IRS para reduzir a carga fiscal dos rendimentos mais modestos e reanimar o consumo."
MORAL DA HISTÓRIA: Parece-me a proposta mais concreta e mais bem pensada de todos os candidatos. Um choque fiscal poderá fazer sentido (como irei escrever dentro em breve). Resta uma questão: e o que fazer com o défice resultante?
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Pedro Passos Coelho
"Temos um problema de qualificações, um mercado pouco qualificado e com uma grande rigidez e, essencialmente, um Estado que é demasiado gastador e, portanto, demasiado ineficiente, consumindo muitos recursos que seriam necessários para que a economia pudesse crescer. As medidas essenciais que podem inverter esta situação são, primeiro, um esforço maior, sobretudo em exigência de qualidade, na formação dos recursos humanos. Segundo, a reforma do Estado. O Estado vai ter de desgovernamentalizar a economia e de ser mais eficiente e mais competitivo nas funções que desempenha, mesmo nas áreas sociais. E precisamos de caminhar para um quadro de maior flexibilidade na área laboral que permita um despedimento mais fácil e, portanto, que as empresas possam contratar com mais facilidade. Isto significa que o Estado vai ter de desgovernamentalizar a economia. E nas áreas sociais, nomeadamente educação, saúde, apoio social, o Estado vai ter de ganhar eficiência, colocando-se em concorrência com a oferta privada.
MORAL DA HISTÓRIA: Apesar de acertadas, quase todas estas medidas são de longo prazo. Poucas ou nenhumas medidas específicas como acabar com a crise a curto ou médio prazo.
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Pedro Santana Lopes
"Na linha do que defendem alguns economistas, o que pretendo é a redução da carga fiscal, que é muito importante para o investimento e a criação de riqueza. Considero-a uma das medidas fundamentais. E a harmonização ibérica - temos de nos lembrar que Espanha tem uma taxa de IRC mais alta que a nossa. É fundamental a harmonização de uma área geográfica como a Península Ibérica; os países escandinavos têm todos o mesmo sistema fiscal, os bálticos também. A segunda é a flexibilização da legislação laboral. Não defendendo a inaptidão funcional, mas a tecnológica. Penso que a mobilidade pode e deve favorecer os trabalhadores, porque considero isto muito importante para a criação de um clima favorável ao investimento. Terceiro, o investimento verdadeiramente reprodutivo. Economistas como Miguel Cadilhe também o defendem. Defendo que seja negociado em Bruxelas que o investimento verdadeiramente reprodutivo não seja contabilizado para a verdadeira dimensão do saldo das contas públicas, mas entrar como despesa neutra."
MORAL DA HISTÓRIA: Choque fiscal e flexibilização do mercado de trabalho. Não percebo o que é que entende por investimento "verdadeiramente reprodutivo". E a harmonização fiscal com Espanha para quê? Devia ser também mais específico nas propostas apresentadas. Que fazer com o défice?

O REGRESSO DA FOME

Segundo a UNICEF, a fome ameaça regressar à Etiópia. Uma nova seca tem afectado gravemente este país, bem como a Somália e o Uganda. Só na Etiópia existem já mais de 100 mil crianças subnutridas, bem como mais de 3 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária "urgente". Se a seca subsistir, há mais de 6 milhões de crianças em risco. Depois do Myanmar e da China, uma nova tragédia paira sobre a comunidade internacional.

TRIBUTO EMOCIONADO

Um dos mais carismáticos e controversos senadores americanos, Ted Kennedy, foi diagnosticado com um tumor cerebral maligno. O prognóstico é reservado e a notícia chocou verdadeiramente a América. Os tributos ao senador não tardaram, dos quais o mais impressionante foi feito pelo senador mais antigo do congresso americano, Robert C. Byrd, que literalmente se desfez em lágrimas ao mencionar o nome de Ted Kennedy. Entre outras coisas, Byrd afirmou: "I want to take a moment to say how distraught and terribly shaken I am over the news of my dear friend, my dear, dear friend, Ted Kennedy," Byrd said. "Ted, Ted, my dear friend, I love you, and I miss you." Pode ver o video aqui.
Um tributo comovente e extremamente genuíno. Quem disse que os políticos não têm coração?
PS. Ferreira Fernandes assina hoje um artigo de opinião sobre o apoio de Byrd a Obama. Byrd foi apoiante do KKK quando jovem e hoje apoia Obama. É o que se chama progresso.

A NOVA OBAMA GIRL


Já aqui se falou da Obama Girl, que fez e continua a fazer furor entre os americanos graças aos seus indiscutíveis dotes. Pois agora temos uma nova Obama girl. É esta senhora de 101 anos (sim, 101), residente em Montana, que acredita que a mudança é possível na América. E muito bem, digo eu. Quem disse que a paixão e as luta pelas causas-em-que-se-acredita diminuem com a idade?

20 maio 2008

CARA GASOLINA


Muito se tem reclamado nos últimos dias sobre os recentes aumentos dos preços da gasolina e gasóleo. Do governo aos revendedores de gasolina aos consumidores, todos fazem contas à vida e todos culpam as companhias petrolíferas pelo aumento de preços. Quão altos são os preços da gasolina e do gasóleo portugueses? Muito, muito altos. Segundo um estudo recente referenciado ontem pela CNN, a gasolina portuguesa é a décima mais cara do mundo. A décima. Pior que nós só mesmo a Eritreia (!!!) e mais uns quantos países ricos. Porquê? Para além do alto nível dos impostos, a falta de competição (sim, a falta de competição) é a grande responsável por estes exagerados e despropositados preços dos produtos petrolíferos entre nós. É chegada a altura de liberalizar ainda mais o sector.

FEIRA SIM, MAS SEM DATA

Como era esperado, o acordo para a realização da Feira do Livro de Lisboa já foi assinado pelas partes em conflito. Assim, vai haver Feira. O único senão é que a Feira era para abrir amanhã (!) e agora nem se sabe em que dia irá começar... Nada como a tradicional (des)organização nacional para alimentar o suspense sobre questões tão triviais como sejam as barracas de uma Feira do Livro. Nós devemos ser os campeões mundiais de fazer as coisas no joelho...

A QUEDA DO INVESTIMENTO ESTRANGEIRO

Investimento Directo Estrangeiro em Portugal, 1970-2000


Mais más notícias. Segundo o Eurostat, o investimento directo estrangeiro em Portugal decresceu cerca de 50 por cento em 2007 em relação a 2006. O investimento português no estrangeiro também desceu mais de 50 por cento em 2007. Perante estes números, que fazer? Como reagir? Pensar que estamos condenados ao fracasso? Que ninguém nos quer? Que nem os espanhois parecem já interessados em nós? Que já só nos resta emigrar?
Talvez, mas antes de tomar qualquer decisão atente aos seguintes factos. O investimento estrangeiro em Portugal (e em Espanha) é extremamente volátil. Como podemos ver no gráfico acima, um ano óptimo é seguido por um ano menos bom ou por outro simplesmente medíocre. Um ano não diz nada. Só a tendência diz. Neste sentido, seria bom que o investimento estrangeiro em Portugal fosse mais regular e previsível, mas não é. E assim, entrar em pânico ou pensar que está tudo prestes a desmoronar não leva lado nenhum.
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Quer isto dizer que nos devemos contentar e nos resignar à nossa sina? Claro que não. Muito pelo contrário. Perante estes números desanimadores, o governo tem que redobrar os seus esforços, as autarquias têm que redobrar os seus esforços, nós todos temos que redobrar os nossos esforços para aumentar a atractividade do país e da nossa economia. Baixar os braços não leva a nada. É preciso levantar a cabeça, arregaçar as mangas e ir novamente à luta.

MEDO DE IMIGRANTES

Jon Hrusa/EPA

É sempre assim. Quando as coisas correm mal, há sempre alguém que culpe o mal-estar social e económico de um país nos imigrantes. Os estrangeiros tornam-se num alvo fácil e na desculpa perfeita para levar a cabo ataques xenófobos e racistas. O último país onde isto aconteceu foi a África do Sul, onde imigrantes moçambicanos e do Zimbabwe foram atacados por uma multidão enfurecida contra os imigrantes ladrões de emprego e violadores de crianças e de mulheres. Alguns destes imigrantes foram ateados com fogo e alguns pereceram dos ferimentos. Os nossos instintos mais primários (que estão errados) continuam, infelizmente, a falar mais alto do que a razão.

POLÍCIAS GORDOS

Segundo o governo moçambicano, existem demasiados polícias gordos no país, pois bebem "muito álcool" e fumam. Segundo um conselheiro do ministro do interior, “Alguns deles são tão gordos que está a afectar a sua saúde e a habilidade que têm para correr". Resultado: o governo vai introduzir um programa de educação física para os agentes policiais do país. Dentro em breve, os polícias de Moçambique poderão novamente correr atrás dos criminosos (que, obviamente, não devem beber nem fumar...).

DESTRUIÇÃO AVASSALADORA

Mais uma imagem da região do epicentro do terramoto que abalou a China. Já vamos em 71 mil mortos, centenas de milhares de feridos e 5 milhões de desalojados (meia população de Portugal). Uma destruição descomunal.

O GOLFE DE BUSH


George W. Bush afirmou recentemente que uma das formas que encontrou para mostrar solidariedade para com os soldados americanos no Iraque foi deixar de jogar golfe. As reacções não se fizeram esperar...

19 maio 2008

LITERATURA IMIGRANTE

aqui falámos várias vezes de Jumpa Lahiri. Se precisa ainda de mais motivos para ler um dos seus livros, leia esta peça do Guardian sobre a escritora. Segundo o jornal, "Lahiri's new book, both the NYT and Time magazine said, represents a fundamental shift in direction of the American novel. No longer could it be considered under the direction of white, American-born men; the new direction of American letters - allowing for minor adjustments in course by writers such as Jonathan Franzen, David Foster Wallace or Michael Chabon - is now informed by the experience of the immigrant."
É verdade. Lahiri é muito especial, porque marca o aparecimento decisivo da literatura dos imigrantes na América. Esta é uma tendência que se tem vindo a impor em países que registam uma forte componente de imigração, tais como o Canadá, os Estados Unidos (com escritores como Lahiri, Ha Jin, Junot Diaz, Alexander Henmon, entre muitos outros), e o Reino Unido (incluindo Monica Ali). O mesmo se passa com os turcos na Alemanha. É natural. Todos estes países têm largas comunidades imigrantes e são crescentemente sociedades multi-raciais e multi-culturais.
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E assim chegamos à pergunta inevitável: e Portugal? Porque não temos mais literatura dos nossos imigrantes? É certo que ainda não passou tempo suficiente para termos muitos ucranianos ou brasileiros (por exemplo) a escrever sobre a experiência imigrante no nosso país. Mas, porque é que não existem mais escritores africanos a escrever sobre o assunto? Porque é que não há mais escritores africanos a escrever sobre a nossa colonização e sobre a guerra? Sobre a experiência do que é viver em Portugal? Porquê?

INFLAÇÃO E O PETRÓLEO _ Comentários dos Leitores (14)

O Luís Aguiar Santos comenta a propósito deste post sobre a inflação e os preços do petróleo:
"Esta diferença do preço do petróleo em dólares e em euros quer dizer, acima de tudo, que a Reserva Federal tem seguido uma política de desvalorização do dólar mais acentuada do que o BCE com o euro. Daí que o preço do petróleo expresso em cada uma das duas moedas acuse esta diferença.Por outro lado, em geral, a relação é a inversa da sugerida pela Gambozina: a desvalorização das moedas, com o aumento da massa monetária em circulação (promovida pelos bancos centrais) é que leva à subida dos preços expressos nessas moedas. As excepções ocorrem quando existem, sectorialmente, desequilíbrios notórios entre a oferta e a procura - o que não parece ser o caso do petróleo agora. Mas, em geral, a subida dos preços ao consumidor (vg. inflação) é um fenómeno puramente monetário."
Caro Luís Aguiar Santos,
Obrigado pelo pertinente comentário. A Fed (ou o BCE) não têm directamente políticas de desvalorização ou valorização das suas moedas. Fazem-no, como menciona, quer controlando a quantidade de moeda existente, como através do diferencial das taxas de juro. É verdade que a inflação é quase sempre um fenómeno monetário, mas o valor das moedas pode influenciar a evolução dos preços. Isto é ainda é mais verdade no caso de choques de oferta (como os choques petrolíferos).

INVADIR MYANMAR???

O ciclone que assolou o Myanmar (Birmânia) causou pelo menos 80 mil mortos. 80 mil. Provavelmente mais. Muitos mais. Para além da terrível devastação, o número de mortos pode aumentar ainda muito, muito mais, principalmente se a ajuda externa não chegar a quem precisa. Como a junta militar tem-se apropriado de parte da ajuda externa e como a mesma junta tem bloqueado sistematicamente a entrada de observadores internacional e de ONGs, há centenas de milhares de pessoas que correm o risco de morrer à fome ou devido a doenças como a cólera. Perante a intransigência da junta, têm-se levantado muitas vozes que defendem uma intervenção militar de Myanmar por parte das Nações Unidas. Desde a blogosfera à revista Time, a possibilidade de invasão tem sido aflorada por um número crescente de analistas.
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Neste sentido, o que interessa perguntar é: independentemente da crueldade da junta militar que não se importa que o seu povo morra desnecessariamente, será uma invasão mesmo uma solução credível ou aceitável? Depois do que aconteceu no Iraque, como é que podemos defender tão levianamente a invasão de países soberanos (mesmo sob a égide a ONU), por mais que os seus povos sejam governados por tiranos inqualificáveis?

A DOR INFINITA

Esta foto (de um avô que perdeu um neto no terramoto da última semana) retrata bem uma das tragédias silenciosas do terramoto que ocorreu na China. Há milhares e milhares de pais, mães, avós e avôs, tias e tios, que perderam os seus entes mais queridos e mais preciosos. Perderam tudo. Devido às imposições da política do filho único que tem vigorado na China nas últimas décadas (para o controlo da natalidade), a grande maioria das famílias chinesas tem somente um(a) filho(a). Assim, quando as centenas e centenas de crianças pereceram sobre os escombros das escolas e das suas casas, a morte de um(a) filho(a) significou também a morte de todos os descendentes de uma família. Uma tragédia incalculável. Uma crueldade aterradora.

AS EXTERNALIDADES DAS GREVES _ Comentários dos Leitores (12)

A propósito do último post sobre as greves, António Parente comenta "Bom, parece-me que não gosta muito da CGTP. Se assim é, a diminuição da credibilidade "deles mesmos" devia deixá-lo feliz mas parece que não é assim. Fico intrigado."
Caro António Parente,
Muito obrigado pelo comentário. Não sou contra sindicatos. Muito pelo contrário. Acho que são fundamentais para o bem-estar social e são instrumentais nas relações laborais. As centrais sindicais também fazem sentido economicamente, visto que está provado que a centralização sindical é mais eficiente a nível salarial, bem como para o sucesso da concertação social. O problema da CGTP é que está permanentemente no contra, qualquer que seja o partido que esteja no poder. A diminuição da credibilidade da CGTP (quando insistem em convocar greves por tudo e por nada) não me deixa satisfeito, porque quem perde é o país. As greves têm vários custos, alguns privados outros públicos. Quanto uma greve geral é convocada não só perdem os visados (os grevistas e os seus empregadores), mas também muitos outros sectores e agentes económicos. Isto é, há externalidades negativas quando estas greves acontecem: os grevistas imputam custos (monetários e outros) a outras pessoas que nada devem às greves. Por exemplo, quando há uma greve dos transportes públicos, há muita gente que não pode ir trabalhar ou é forçada a chegar tarde ao trabalho. Como os grevistas não pagam a estas pessoas por estas inconveniências, numa greve há sempre custos que ficam por pagar. Se a greve for geral, maior são estes custos. Ora, quando uma central sindical insiste em marcar greves gerais (ou "grandes" manifestações") a torto e a direito, maiores são estas externalidades negativas. Mesmo que a credibilidade das centrais sindicais (a CGTP neste caso) diminua com o número de greves convocadas, os custos para o país aumentam com o número de "grandes" manifestações realizadas.

18 maio 2008

UM PAÍS NORMAL

www. bbcnews.com

O Afeganistão não é só bombas, guerras, ou um lugar de fanatismo religioso.

O EXEMPLO DE ESPANHA

Nos últimos anos, muitos apontaram a economia espanhola como o exemplo a seguir para sair do marasmo. A economia espanhola tem crescido a um ritmo apreciável nos últimos anos e, por isso, é apontada como um dos grandes casos de sucesso eurpeus. Ainda assim, é preciso notar que não estamos perante nenhum tigre ibérico, pelo menos por enquanto. Afinal, se compararmos o crescimento económico de Portugal e Espanha nos últimos 20 anos, só mesmo desde 1999 é que a economia portuguesa começou a divergir claramente em relação à Espanha. Entre 1986 e 1999, Portugal cresceu quase sempre mais do que a Espanha, com um pequeno interregno em 1994 e 1995. O fosso entre as nossas economias acentuou-se então nos últimos 7 anos.
Comparando as duas economias, é fácil percebermos as razões para a crescente divergência. Enquanto Portugal tem assistido a uma degradação concertada das exportações e do investimento, a Espanha tem tido um grande dinamismo da sua procura interna, não só devido a um desempenho admirável do consumo privado, como também do investimento. Apesar dos crescentes défices externos, as exportações espanholas têm também crescido bastante mais do que as portuguesas.
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O bom desempenho da economia espanhola demonstra que nem o carácter periférico nem a adesão ao euro, por si sós, constituem entraves insuperáveis ao crescimento económico português. De facto, as grandes diferenças entre a economia espanhola e a portuguesa resumem-se essencialmente a dois factores: política económica e estrutura.
Em primeiro lugar, é inegável que nos últimos anos a Espanha teve uma gestão macroeconómica muito mais competente do que Portugal. No final dos anos 90, perante exactamente as mesmas condicionantes internacionais que Portugal, o governo espanhol decidiu encetar uma série de reformas estruturais que fomentaram a liberalização e a desregulamentação da economia. Face a um aumento desmesurado do Estado, houve então uma estratégia deliberada de redução do peso do Estado na economia, através do corte de despesas públicas e dos impostos. Em claro contraste, Portugal não encetou nenhuma reforma económica de fundo e preferiu engordar o sector estatal sem o menor respeito pelas regras da boa gestão macroeconómica. O resultado está à vista: Portugal sofre para cumprir as regras do desacreditado Pacto de Estabilidade, enquanto que a Espanha está em superavit orçamental.
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Em segundo lugar, as diferenças de estrutura económica explicam em grande parte o acentuar das divergências entre os dois países. Designadamente, a economia portuguesa continua apoiada em sectores relativamente mais tradicionais do que a Espanha. É verdade que uma das grandes debilidades da economia espanhola prende-se com o sector exportador, que continua dominado em grande parte pelas indústrias de trabalho intensivo. Contudo, a estrutura dos sectores exportadores espanhóis é bastante distinta de Portugal. Nomeadamente, enquanto os têxteis e o calçado continuam a dominar as exportações portuguesas (apesar de um crescente declínio relativo nos últimos anos), as principais exportações espanholas são provenientes das indústrias automóveis, de metais e material de transporte, logo seguidas pela indústria química. Os sectores dos têxteis e do calçado correspondem a menos de 8 por cento das exportações espanholas. Consequentemente, a economia portuguesa está neste momento muito mais exposta à concorrência internacional da Ásia e da Europa de Leste do que a economia espanhola.
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Em suma, o desempenho da economia espanhola dos últimos anos é bom, apesar de não ser excepcional. A Espanha destaca-se actualmente porque a economia europeia tem tido uma performance medíocre. Mesmo assim, é inegável que de Espanha nos vêm lições de boa gestão macroeconómica, que muito nos poderão ajudar a perceber potenciais mecanismos de saída para a crise que vivemos actualmente.

17 maio 2008

EUROPA (QUASE) ESTAGNADA

A Europa sofre actualmente da doença da estagnação. As causas desta estagnação económica são múltiplas, mas têm principalmente duas vertentes, uma de curto prazo e a outra de longo prazo. A curto prazo, a principal condicionante da performance económica europeia relaciona-se tanto com a política monetária como com as exigências impostas pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento. A longo prazo, a posição competitiva da Europa passa pela resolução da mais fundamental questão que a Europa enfrenta: o que fazer para que a economia do Velho Continente se torne mais criativa e dinâmica a nível tecnológico? Analisemos então estas duas vertentes.
A curto prazo, as principais causas da estagnação económica europeia têm origem em dois factores: o abrandamento económico mundial e a politica económica europeia. O abrandamento económico mundial relaciona-se não só com a ressaca dos excessos dos anos 90, como também com as crises financeiras que assolaram vários países do mundo. A baixa procura externa e o clima de pessimismo generalizado são, assim, em parte responsáveis pelo enfraquecimento da economia europeia. Contudo, já poucos analistas negam o que se tornou óbvio. A política económica é a principal culpada pelo abrandamento económico no Velho Continente. Por um lado, e contrariamente aos Estados Unidos, a política monetária europeia tem sido fortemente restritiva. Existem boas razões para isto. Apesar dos temporários efeitos nefastos na economia real, a verdade é que a contenção da política monetária na zona Euro foi praticamente vital para a futura estabilidade e solidez da moeda única europeia. Como o Banco Central Europeu (BCE) e o Euro foram criados há pouco tempo, era fundamental que as autoridades monetárias europeias afirmassem a sua independência face ao poder político e não claudicassem demasiado cedo perante as pressões a que foram sujeitas. Assim, parte da actual recessão económica europeia é o preço que temos que pagar pelo estabelecimento da credibilidade do BCE. Ora, se a política monetária não foi expansionista, a política fiscal também não o foi na maioria dos países (Portugal foi uma grande excepção), graças às imposições do Plano de Estabilidade e Crescimento. Assim, o PEC contribuiu em grande parte para a asfixia económica europeia. É certo que, em muitos aspectos, o PEC é bem menos estúpido do que o antigo Presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, nos fez crer. Afinal, se não fosse o PEC, a que nível estaria agora o défice português ou a que ponto teriam chegado as irresponsabilidades fiscais dos italianos? Não, o PEC não é estúpido porque impôs disciplina fiscal num momento crucial da construção monetária europeia. A “estupidez” do PEC relaciona-se com a sua falta de flexibilidade e com a inexistência de solidariedade fiscal entre os países da Eurolândia. Quando estes problemas forem resolvidos e a credibilidade do BCE estiver assegurada, então as políticas fiscais e monetárias poderão novamente ajudar à estabilização e ao crescimento de curto prazo da economia europeia.
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Porém, o grande problema da Europa não se deve directamente à condução da política económica. O grande problema da Europa é estrutural e não conjuntural. Quais são então as razões da divergência da economia europeia em relação à sua congénere americana nas últimas duas décadas?
As causas da divergência europeia em relação à economia americana prendem-se, acima de tudo, com o menor dinamismo tecnológico da Europa em relação aos EUA. De facto, nas últimas décadas, a Europa tem falhado sistematicamente a nível da inovação tecnológica. Ora, se os Estados Unidos são a maior potência mundial a nível económico e militar é porque os motores de crescimento e do progresso técnico americanos são manifestamente superiores aos seus mais directos competidores, como a Europa. Se não vejamos. As maiores e mais importantes tecnologias dos últimos 150 anos foram quase todas inventadas ou desenvolvidas pela economia americana. Assim, a electricidade, os métodos de produção em massa, o transístor, os automóveis, os aviões, os semicondutores, os computadores, a indústria de software, a Internet, a indústria espacial, entre muitas outras, foram todas desenvolvidas primeiramente na economia americana. Em todas estas tecnologias os americanos foram os líderes e os europeus (e os japoneses) os seguidores. Deste modo, os Estados Unidos têm sistematicamente sido os pioneiros incontestáveis na inovação e desenvolvimento tecnológico. Urge então questionar: porque é que a Europa tem falhado na mais importante área de competição económica? Quais são as vantagens que têm permitido aos EUA manterem-se como líderes tecnológicos e económicos?
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Os culpados pelo atraso tecnológico europeu são praticamente idênticos aos culpados pelo atraso português em relação à média europeia. Os europeus têm uma menor qualidade a nível do capital humano, possuímos uma burocracia excessiva na criação e falência de empresas, fomentamos a permanência de sindicatos e empresas cristalizadas no tempo, permitimos mercados de trabalho demasiado inflexíveis, negligenciamos a competição nos mercados de tecnologias emergentes, impedimos a importação de mão-de-obra altamente qualificada, e dispomos de instituições desajustadas ao estonteante ritmo do progresso técnico. Se a estes factores juntarmos a estreita mas subtil colaboração que a indústria americana mantém com os sectores estatais da defesa (por exemplo, na indústria dos semicondutores, ou no sector do hardware informático) e com as universidades, temos então explicado grande parte do repetido sucesso tecnológico americano e o insucesso europeu. Os americanos têm mantido uma persistente liderança tecnológica porque os seus motores de crescimento têm sido capazes de se regenerarem continuamente. Contrariamente, a Europa insiste em apostar em politicas de curto prazo, negligenciando reformas estruturais a nível do mercado de trabalho, da política de competição, e na reforma das instituições.
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Assim, no futuro, a maior questão que se coloca à Europa não é se este ou aquele país irá conseguir equilibrar as suas contas orçamentais, ou se este ou aquele país tem direito a este ou àquele comissário europeu. As recentes polémicas com os défices são assim meras distracções daquilo que são as verdadeiras questões de fundo da Europa. Neste sentido, é preciso entender de uma vez por todas que a Europa precisa de se emancipar tecnológica e economicamente para se poder afirmar politicamente. Para tal, a Europa precisa de se reformar, sob pena de nas próximas décadas continuar a ser um mero actor figurativo nas relações políticas e económicas mundiais.

ACORDO ORTOGRÁFICO NO EXTERIOR

O acordo ortográfico na BBC. Uma reforma do português, dizem eles.

O PETRÓLEO DA NIGÉRIA

AP


Explosão num depósito de petróleo que provocou mais de 100 mortos na Nigéria. Neste país este tipo de tragédias não é invulgar. Neste país, o petróleo é mais uma maldição do que uma benção. O crude serve para fomentar a corrupção enquanto os pobres permanecem na mesma. E são quase sempre eles que morrem neste tipo de acidentes.

A (DES)JUNTA DE MYANMAR


A junta desjunta de Myanmar (Birmânia) que prefere ver o seu povo perecer do que aceitar ajuda internacional.

16 maio 2008

BOM SENSO

Ora, aí está. O bom senso parece finalmente estar a imperar entre as partes em confronto no folhetim da Feira do Livro. A ameaça e a mediação da Câmara de Lisboa parecem ter funcionado e tudo indica que vamos ter acordo ainda hoje. Veremos se, obtido o acordo, os protagonistas deste imbróglio não mudam de opinião mais uma vez e voltamos à estaca zero. Mesmo assim, é praticamente garantido que a Feira vai para a frente. Mal seria se assim não fosse. A Feira ainda é um bom negócio para as editoras, tanto a nível de vendas como de exposição. A verdade é que todos perderíamos se a Feira de Lisboa não se realizasse. Editoras incluídas.

A INCONGRUÊNCIA DO CALVINISTA

José Sócrates já veio a público desculpar-se por ter fumado no voo para Caracas. O primeiro-ministro desculpou-se, mas parece que fê-lo mais por conveniência política do que por convicção. Segundo ele, o episódio foi lamentável, porque foi aproveitado pelos seus inimigos políticos para o atacarem "pessoal e politicamente" (o que é que ele estava à espera? que o aplaudissem?), acusando-os ainda de serem uns autênticos "calvinistas políticos". Para além da afirmação politicamente incorrecta do primeiro-ministro (com contornos pejorativos contra os calvinistas), o que sobressai destas afirmações é que José Sócrates não entendeu a incongruência das suas acções. Se o seu governo introduziu uma lei do fumo (e fez bem, no meu entender), como é que tem autoridade para exigir que os portugueses não fumem em público se ele próprio não o faz?
O primeiro-ministro (PM) revelou que pensava que não estava a fazer nada de mal ou de errado, pois estava num voo fretado. Pois é. Está certo. Porém, o PM esquece-se que o avião é um espaço público, onde viajavam fumadores e não fumadores. Mesmo que o voo fosse fretado, José Sócrates devia ter-se lembrado que os exemplos que vêm de cima são importantíssimos para que as coisas funcionem bem cá mais abaixo. Ao esquecer-se desta evidência, José Sócrates foi incongruente e elitista, pois tal atitude pressupõe que as leis são distintas para os governantes e para os governados. Não são nem nunce deviam ser.

O FOLHETIM DA FEIRA DO LIVRO

O folhetim da Feira do Livro continua. A Câmara de Lisboa já veio a público anunciar que a realização do evento não está em causa, mas também ameaçou cortar subsídios à organização do evento se as duas associações de editores não se entenderem. Pois bem. Em que é que ficamos? Provavelmente a Feira vai-se realizar, a Leya consegue meia vitória, e as batalhas e as acusações irão continuar durante e depois da Feira.
Já agora, aproveito a deixa para ressuscitar o post que escrevi no final de 2007. Um dos meus votos para 2008 era que se começasse a pensar na realização de um festival literário internacional. É certo que já há o Correntes de Escritas. Porém, a existência de um festival não impede a realização de um outro. Além do mais, o que eu proponho é um festival literário nos moldes dos que já se realizam noutros países. E já agora, um festival que se realize em Lisboa (ou no Porto). Aqui está um pequeno extracto desse post:
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"Penso que o que há a fazer para alterar este estado de coisas é mudar modelo. Não é que as Feiras do Livro estejam necessariamente condenadas. Estão é esgotadas. O seu modelo já não resulta. Já não atrai. Já não vende. Qual é a alternativa? Muito simples: mudar de modelo. Inovar. Copiar os outros. Noutros países o modelo seguido nas últimas décadas tem sido o do festival literário, no qual escritores de vários países confluem a uma cidade ou localidade para falar sobre as suas obras, bem como para interagir com os leitores. Claro que há sessões de autógrafos. Claro que há palestras. Claro que há debate. Acima de tudo, há uma saudável e estimulante troca de ideias. Há o redescobrir de escritores. Há conhecimento de novas escritas. De novas correntes de escrita.Penso que é chegada a hora de fazermos o mesmo. E nem é preciso sermos demasiado megalómanos. Para ter sucesso, não precisamos necessariamente de atrair os Paul Austers, os Roths, os Pamuks, ou os Rushdies do mundo. Poderá que o consigamos, mas não é necessário, pelo menos no início. Lá chegará o tempo. Para começar, poderíamos organizar um festival literário das letras lusófonas. Um festival de Saramagos, de Lobos Antunes, de Agualusas, de Mias Coutos, bem como doutros autores menos conhecidos. Para o alcançar, é preciso que existam pessoas interessadas a organizar tal evento. É preciso arranjar mecenas. É preciso angariar apoios. É preciso dinamismo e inovação. Esperemos que sim. Que existam. Acima de tudo, é preciso vontade e dinamismo. Ficam aqui os meus votos para que, em 2008, comecemos a pensar organizar um Festival Literário Internacional em Portugal, um evento que verdadeiramente fomente a divulgação literária neste país de tão poucos leitores."