03 dezembro 2010

ASSIMETRIAS REGIONAIS (2)

Alguns leitores chamaram-me à atenção de que os números que apresentei sobre o PIB per capita das regiões (NUTS) portuguesas eram de certa forma distintos aos números que eu já tinha apresentado em outras ocasiões. Têm toda a razão. Mais concretamente, os números que tinha referido num post post de 2008 indicavam que Lisboa tinha um PIB per capita superior à média europeia, enquanto os números que mencionei há poucos dias mostravam que Lisboa tinha um rendimento equvalente a 90% do rendimento europeu.  A que se deve a diferença? Ao facto de os números do post de 2008 serem em paridades de poder de compra, enquanto os números do post mais recente serem em preços constantes, mas sem ajustar o poder de compra. 
Por isso, e para que as coisas sejam comparáveis, aqui ficam os valores mais recentes (referentes a 2007) do Eurostat sobre o PIB per capita regional em paridades de poder de compra. Como podemos ver no primeiro quadro, neste indicador, o rendimento médio da região de Lisboa ainda se encontra acima do rendimento médio europeu. A Madeira também já está muito perto de alcançar a média europeia, mas todas as outras regiões estão ainda bastante longe de o conseguirem. E os Açores já são mesmo mais "ricos" do que a região Norte e a região Centro.


  PIB per capita em PPP (UE = 100)
Norte 60.3
Algarve 79.6
Centro 64.4
Lisboa 104.7
Alentejo 71.9
Açores 67.6
Madeira 96.3
Fonte: Eurostat

Ainda assim, é igualmente interessante verificar que a crise teve um impacto muito significativo sobre o PIB por habitante regional. Mais concretamente, segundo o Eurostat, entre o ano 2000 e 2007, o PIB por habitante regrediu em em regiões como Lisboa, o Norte, o Algarve e a Região Centro. A descida de Lisboa foi particularmente acentuada, tendo sido na ordem dos 6 pontos percentuais do PIB. Ou seja, entre 2000 e 2007, a maioria das regiões portuguesas divergiu em relação à média europeia. 
As honrosas excepções a esta tendência foram as duas regiões autónomas, bem como o Alentejo. Mais uma vez, estes números contêm uma diversidade enorme, pois algumas das regiões (as NUTS) são muito diversas (principalmente no que diz respeito à região Norte). Voltarei a esta questão nos próximos dias, até para responder a outros comentários que foram feitos a propósito do meu post anterior. 



Variação do PIB per capita em PPP entre 2007 e 2000
Norte
-3.1
Algarve
-1.2
Centro
-1.4
Lisboa
-6.1
Alentejo
1.4
Açores
4.8
Madeira
8.0

2 comentários:

Guillaume Tell disse...

Obrigado pela precisão.

O último quadro é muito interessante, sobre tudo no que trata das região de Lisboa. Ouvimos ao longo dos últimos anos a necessidade de Lisboa e sua região terem preciso de aquele ou outro investimento público de grande imoportância, e agora viemos a descubrir que a região lisboeta foi a grande responsável por a divergência de Portugal para com a média europeia. Ou seja todos estes investimentos foram pouco produtivos, para não dizer inutéis.
Mas porquê que isso terá acontecido? Ao meu ver Lisboa vive claramente um caso de "rendimentos decresentes", ou seja este investimento excessivo numa região já bem equipada penalizou as restantes actividades ecónomicos, pois criou uma situação de saturação.
Ou seja, se nós tinhamos investido o dinheiro que aplicámos em Lisboa nos últimos dez anos no resto do país (bom... à condição que este investimento tenha sido "inteligente", ou seja não desbaratar o dinheiro em auto-estradas ou estádios de futebol por exemplo), é mais do que provável que não tinhamos "perdido" uma década das nossas vidas.

Rolando Almeida disse...

Olá Álvaro,
Um dos comentários que é mais ou menos comum fazer-se é que o PIB da Madeira é fortemente inflaccionado pelo of shore e , como tal, não reflecte a riqueza real da ilha. Ora bem, creio que qualquer PIB tem muito de ficticio, ainda que seja um indicador possível, mesmo sem grande precisão. Vamos supor que uma comunidade de 10 habitantes tem somente 1 muito rico e 9 pobres. O PIB é a média da riqueza pelo que não conta que a riqueza esteja demasiado concentrada, correcto? Ora, a minha questão é como interpretar estes dados? É possível que as pessoas tenham razão quando alegam que o PIB madeirense é ficcionado pelo of shore? Ou tal é resultado efectivo da riqueza real da região?
obrigado e abraço