Nos últimos anos, o mundo tem assistido a um dos mais rápidos e mais impressionantes milagres económicos da História universal: os milagres económicos de países como o Brasil, a China e a Índia. É verdade que a emergência destes países na cena internacional tem despoletado todo o tipo de reacções e de receios, devido ao peso e influência que estas economias têm no mundo. No entanto, vale a pena recordar que há apenas uma ou duas décadas atrás ninguém ou quase ninguém acreditava que o futuro próximo destes países seria risonho ou sequer promissor. Bem pelo contrário. Durante décadas, o Brasil foi caracterizado como o país do futuro, cujo futuro era sempre adiado por causa da incúria dos seus governantes e pelo desperdício dos seus recursos. A China permanecia como um gigante de pés de barro, onde líderes carismáticos condenavam os seus súbditos a uma vida de privação e de pobreza. E 40 anos após a independência, a Índia permanecia num ritmo vagaroso de desenvolvimento, o que levou muitos analistas a apelidarem de forma pejorativa a chamada “taxa de crescimento hindu".
Passadas umas décadas, tudo mudou. A China está a caminhar a passos largos para se tornar na maior economia do mundo (mas não a mais rica), a Índia cresce a taxas elevadas impulsionada pelo dinamismo do sector das novas tecnologias, e até o Brasil alcança taxas de crescimento económico capazes de rivalizar com os chamados milagres do Sudoeste asiático. Os extraordinários milagres económicos destes países (principalmente da China) são visíveis no gráfico 1, onde se apresentam os dados do PIB por habitante (ou per capita) do Brasil, da Índia e da China em paridades de poder de compra. Como podemos ver, durante a grande parte do século 20, os rendimentos por habitante médios da China e da Índia mantiveram-se quase constantes, e assim estes países continuaram a ser dos países mais pobres do mundo.
Passadas umas décadas, tudo mudou. A China está a caminhar a passos largos para se tornar na maior economia do mundo (mas não a mais rica), a Índia cresce a taxas elevadas impulsionada pelo dinamismo do sector das novas tecnologias, e até o Brasil alcança taxas de crescimento económico capazes de rivalizar com os chamados milagres do Sudoeste asiático. Os extraordinários milagres económicos destes países (principalmente da China) são visíveis no gráfico 1, onde se apresentam os dados do PIB por habitante (ou per capita) do Brasil, da Índia e da China em paridades de poder de compra. Como podemos ver, durante a grande parte do século 20, os rendimentos por habitante médios da China e da Índia mantiveram-se quase constantes, e assim estes países continuaram a ser dos países mais pobres do mundo.
Por sua vez, o Brasil registou um período de forte crescimento económico na década de 60 (aquando da industrialização do país), mas estagnou entre os meados da década de 70 e a década de 90. As razões desta estagnação são bem conhecidas e relacionam-se não só com uma elevada instabilidade macroeconómica (que deu azo a taxas de inflação superiores a 300% na década de 80 e de 750% nos primeiros anos da década de 90), mas também com o falhanço estrondoso da política de industrialização, que fomentou a criação e a manutenção de monopólios estatais altamente ineficientes.
A grande transformação do marasmo económico destes países iniciou-se na China, após as reformas económicas encetadas a partir do final dos anos 70, bem como a processos semelhantes implementados no Brasil e na Índia na década de 90, assim veremos mais abaixo. Por enquanto, vale a pena realçar que uma das consequências mais notáveis do rápido crescimento económico das últimas décadas nestes países tem sido a excepcional redução do número de pessoas em situações de pobreza extrema. Entre 1990 e 2010, cerca de 500 milhões de asiáticos (na sua maioria chineses) saíram da pobreza extrema, uma cifra absolutamente extraordinária e que se deve saudar sem quaisquer reservas ou ambiguidades.
E se atentarmos para o quadro abaixo, também perceberemos que a percentagem de pessoas a viverem com menos de 1 dólar por dia na população total decresceu muito significativamente desde os anos 80. Assim, a percentagem de chineses em pobreza extrema baixou de uns incríveis 98% da população total em 1980 para cerca de 36% em 2006. Na Índia, a descida foi mais modesta, mas, mesmo assim, hoje em dia há cerca de 150 milhões de pobres a menos em relação a 1990. E no Brasil, a percentagem de pessoas em pobreza extrema baixou de 31% da população em 1981 para 12,7% em 2006.
Fonte: Banco Mundial
Se estas cifras não são um forte indício de progresso, então é difícil saber o que é que poderá ser classificado de progresso.
Como já vimos, a China foi a primeira a dar o sinal de partida ao implementar um conjunto de medidas destinado a liberalizar a economia e a aumentar a competitividade dos produtos chineses. Assim, no final da década de 70, o pragmático Deng Xiao Ping anunciou aos seus cidadãos que ser rico era ser patriota, incentivando os chineses a aproveitarem as oportunidades criadas por um ambicioso programa de reformas que remeteu para os livros de História a retórica vazia do comunismo ideológico de Mao Tse Tung. Este programa de reformas incluía ainda a abertura da China ao mundo, o que, nas décadas seguintes, atraiu milhares de empresas estrangeiras para o território chinês. E foi assim que, no espaço de poucos anos, a China passou de uma situação de quase investimento zero por parte das multinacionais para o segundo país do mundo com os maiores fluxos de investimento estrangeiro (atrás dos Estados Unidos). Nas décadas seguintes, a China tornou-se na fábrica do mundo e as exportações chinesas cresceram a ritmos verdadeiramente históricos. Por outras palavras, a política industrial da China e a vontade em atrair elevados fluxos de investimento estrangeiro foram fundamentais para o milagre económico chinês.
Por seu turno, o milagre económico indiano teve origem numa fonte totalmente inesperada pela grande maioria dos analistas. Quando quase toda a gente defendia que o futuro da Índia passava pela intensificação da industrialização em sectores de menor valor acrescentado como os têxteis e o calçado, os indianos começaram a apostar nos sectores dos serviços tecnológicos. O resultado foi tão inesperado como espectacular. A partir dos meados da década de 90, impulsionado pelo sector das tecnologias da informação e comunicação, o crescimento económico indiano subiu para níveis que começaram a fazer lembrar outros milagres asiáticos, um crescimento que se manteve nos anos seguintes. Actualmente, as taxas de crescimento económico indianas já ultrapassaram os 7% ao ano, prevendo-se inclusivamente taxas ainda mais elevadas para os próximos anos, pois o dinamismo, a inovação e a riqueza criada nos sectores dos serviços já se começaram a ramificar por outras áreas da economia indiana. Altas taxas de pobreza e gritantes desigualdades sociais ainda marcam muito a economia indiana, mas, se o crescimento económico se mantiver, decerto que estes problemas tenderão a atenuar-se. E, como a China tem feito, é provável que nas próximas décadas a Índia irá virar-se ainda mais para os mercados mundiais, o que permitirá a este país asiático tornar-se numa nova fábrica do mundo.
E finalmente chegamos ao Brasil. O Brasil foi o último destes três países a registar elevadas taxas de crescimento económico nas últimas décadas. Dito isto, é importante sublinhar que, como vimos no gráfico 1, nos anos 90, o Brasil partiu de uma situação muito mais favorável do que a Índia ou a China, pois o rendimento médio brasileiro estava (e está) bem acima dos rendimentos chineses e indianos. Porém, mais uma vez, o milagre brasileiro explica-se por uma boa gestão macroeconómica e por políticas económicas que revitalizaram o investimento privado em vários sectores da economia. Para que tal tivesse acontecido, o programa de reformas levado a cabo pelos governos de Fernando Henrique Cardoso foi absolutamente fundamental. Ao travar um combate sem tréguas contra a elevada inflação que caracterizava a economia brasileira de então, ao abrir vários sectores à iniciativa privada e ao acabar com monopólios ineficientes, o governo brasileiro forneceu os incentivos necessários para que o potencial da economia brasileira pudesse finalmente começar a dar frutos. Os governos de Lula mantiveram esta gestão macroeconómica criteriosa e continuaram a apostar em politicas económicas semelhantes, enquanto também tentaram combater algumas das maiores chagas sociais do Brasil. E foi assim que a economia brasileira continua a demonstrar um enorme dinamismo, sendo cada vez mais uma economia diversificada e empreendedora, onde despontam sectores como o petrolífero, o aeronáutico (com a notável Embraer), o mineiro (com empresas como a Vale), a siderurgia, o turismo e a agro-pecuária. E desde que estas políticas sejam mantidas e o tradicional despesismo do Estado seja contido, não há razões para pensar que o milagre económico brasileiro não se mantenha nos próximos tempos. Esperemos que sim.
Em suma, os milagres económicos da China, do Brasil e da Índia, são dos factos mais importantes e mais relevantes das últimas décadas da economia mundial. O progresso económico já alcançado é verdadeiramente impressionante e já permitiu que centenas de milhões de pessoas saíssem de situações de pobreza extrema.
Ainda assim, é importante realçar que, em todos estes países, o caminho por percorrer na senda da desenvolvimento e da prosperidade ainda é longo e, provavelmente, tortuoso. Vale a pena lembrar que o PIB per capita indiano (em paridades de poder de compra) é apenas 10% do português, enquanto que os valores chineses e brasileiros se situam, respectivamente, nos 30% e nos 46% do PIB médio por português. Ou seja, apesar do progresso, ainda há muito por fazer.
Gráfico _ PIB per capita em paridades de poder de compra (em dólares internacionais)
Fonte: Maddison (2008), Conference board dataset
A grande transformação do marasmo económico destes países iniciou-se na China, após as reformas económicas encetadas a partir do final dos anos 70, bem como a processos semelhantes implementados no Brasil e na Índia na década de 90, assim veremos mais abaixo. Por enquanto, vale a pena realçar que uma das consequências mais notáveis do rápido crescimento económico das últimas décadas nestes países tem sido a excepcional redução do número de pessoas em situações de pobreza extrema. Entre 1990 e 2010, cerca de 500 milhões de asiáticos (na sua maioria chineses) saíram da pobreza extrema, uma cifra absolutamente extraordinária e que se deve saudar sem quaisquer reservas ou ambiguidades.
E se atentarmos para o quadro abaixo, também perceberemos que a percentagem de pessoas a viverem com menos de 1 dólar por dia na população total decresceu muito significativamente desde os anos 80. Assim, a percentagem de chineses em pobreza extrema baixou de uns incríveis 98% da população total em 1980 para cerca de 36% em 2006. Na Índia, a descida foi mais modesta, mas, mesmo assim, hoje em dia há cerca de 150 milhões de pobres a menos em relação a 1990. E no Brasil, a percentagem de pessoas em pobreza extrema baixou de 31% da população em 1981 para 12,7% em 2006.
Quadro _ Percentagem de pessoas com menos de $1 por dia na população total
| 1981 | 1990 | 2006 |
Brasil | 31.1 | 27.8 | 12.7 |
China | 97.8 | 84.6 | 36.3 |
India | 85 | 83 | 75.6 |
Fonte: Banco Mundial
Se estas cifras não são um forte indício de progresso, então é difícil saber o que é que poderá ser classificado de progresso.
O QUE CAUSOU O MILAGRE
Os principais factores explicativos destes milagres económicos resumem-se a poucas palavras: boas políticas, estabilidade macroeconómica e incentivos ao empreendedorismo e ao investimento empresarial. Todos estes países seguiram, de uma forma ou de outra, estes preceitos. Como já vimos, a China foi a primeira a dar o sinal de partida ao implementar um conjunto de medidas destinado a liberalizar a economia e a aumentar a competitividade dos produtos chineses. Assim, no final da década de 70, o pragmático Deng Xiao Ping anunciou aos seus cidadãos que ser rico era ser patriota, incentivando os chineses a aproveitarem as oportunidades criadas por um ambicioso programa de reformas que remeteu para os livros de História a retórica vazia do comunismo ideológico de Mao Tse Tung. Este programa de reformas incluía ainda a abertura da China ao mundo, o que, nas décadas seguintes, atraiu milhares de empresas estrangeiras para o território chinês. E foi assim que, no espaço de poucos anos, a China passou de uma situação de quase investimento zero por parte das multinacionais para o segundo país do mundo com os maiores fluxos de investimento estrangeiro (atrás dos Estados Unidos). Nas décadas seguintes, a China tornou-se na fábrica do mundo e as exportações chinesas cresceram a ritmos verdadeiramente históricos. Por outras palavras, a política industrial da China e a vontade em atrair elevados fluxos de investimento estrangeiro foram fundamentais para o milagre económico chinês.
Por seu turno, o milagre económico indiano teve origem numa fonte totalmente inesperada pela grande maioria dos analistas. Quando quase toda a gente defendia que o futuro da Índia passava pela intensificação da industrialização em sectores de menor valor acrescentado como os têxteis e o calçado, os indianos começaram a apostar nos sectores dos serviços tecnológicos. O resultado foi tão inesperado como espectacular. A partir dos meados da década de 90, impulsionado pelo sector das tecnologias da informação e comunicação, o crescimento económico indiano subiu para níveis que começaram a fazer lembrar outros milagres asiáticos, um crescimento que se manteve nos anos seguintes. Actualmente, as taxas de crescimento económico indianas já ultrapassaram os 7% ao ano, prevendo-se inclusivamente taxas ainda mais elevadas para os próximos anos, pois o dinamismo, a inovação e a riqueza criada nos sectores dos serviços já se começaram a ramificar por outras áreas da economia indiana. Altas taxas de pobreza e gritantes desigualdades sociais ainda marcam muito a economia indiana, mas, se o crescimento económico se mantiver, decerto que estes problemas tenderão a atenuar-se. E, como a China tem feito, é provável que nas próximas décadas a Índia irá virar-se ainda mais para os mercados mundiais, o que permitirá a este país asiático tornar-se numa nova fábrica do mundo.
E finalmente chegamos ao Brasil. O Brasil foi o último destes três países a registar elevadas taxas de crescimento económico nas últimas décadas. Dito isto, é importante sublinhar que, como vimos no gráfico 1, nos anos 90, o Brasil partiu de uma situação muito mais favorável do que a Índia ou a China, pois o rendimento médio brasileiro estava (e está) bem acima dos rendimentos chineses e indianos. Porém, mais uma vez, o milagre brasileiro explica-se por uma boa gestão macroeconómica e por políticas económicas que revitalizaram o investimento privado em vários sectores da economia. Para que tal tivesse acontecido, o programa de reformas levado a cabo pelos governos de Fernando Henrique Cardoso foi absolutamente fundamental. Ao travar um combate sem tréguas contra a elevada inflação que caracterizava a economia brasileira de então, ao abrir vários sectores à iniciativa privada e ao acabar com monopólios ineficientes, o governo brasileiro forneceu os incentivos necessários para que o potencial da economia brasileira pudesse finalmente começar a dar frutos. Os governos de Lula mantiveram esta gestão macroeconómica criteriosa e continuaram a apostar em politicas económicas semelhantes, enquanto também tentaram combater algumas das maiores chagas sociais do Brasil. E foi assim que a economia brasileira continua a demonstrar um enorme dinamismo, sendo cada vez mais uma economia diversificada e empreendedora, onde despontam sectores como o petrolífero, o aeronáutico (com a notável Embraer), o mineiro (com empresas como a Vale), a siderurgia, o turismo e a agro-pecuária. E desde que estas políticas sejam mantidas e o tradicional despesismo do Estado seja contido, não há razões para pensar que o milagre económico brasileiro não se mantenha nos próximos tempos. Esperemos que sim.
O CAMINHO POR PERCORRER
Em suma, os milagres económicos da China, do Brasil e da Índia, são dos factos mais importantes e mais relevantes das últimas décadas da economia mundial. O progresso económico já alcançado é verdadeiramente impressionante e já permitiu que centenas de milhões de pessoas saíssem de situações de pobreza extrema.
Ainda assim, é importante realçar que, em todos estes países, o caminho por percorrer na senda da desenvolvimento e da prosperidade ainda é longo e, provavelmente, tortuoso. Vale a pena lembrar que o PIB per capita indiano (em paridades de poder de compra) é apenas 10% do português, enquanto que os valores chineses e brasileiros se situam, respectivamente, nos 30% e nos 46% do PIB médio por português. Ou seja, apesar do progresso, ainda há muito por fazer.
NOTA: Meu artigo no Notícias Magazine do último fim-de-semana
7 comentários:
Saudações,
Explicar que o que causou o milagre foram "boas políticas" é uma explicação de la Palice ou seja, nenhuma; quanto à estabilidade macroeconómica não sei o suficiente nem o que quer dizer com isso (penso não ter ficadoclaro do seu post); e incentivos ao empreendorismo não faltam por cá também (embora se possa argumentar que podiam ser mais e melhores, não me parece que haja diferença qualitativa).
Mas há certamente três grandes diferenças entre estes países e Portugal, que imagino que seja o que quer comparar:
Em primeiro lugar, estes países têm um mercado interno potencial enorme, o que os faz irresistíveis ao investimento estrangeiro. Lembro-me bem da viagem do Nixon à China nos anos 70 e da pressa de fazer acordos comerciais para obter posição no mercado chinês, com 1/5 dos potenciais consumidores globais.
Em segundo lugar estes países têm uma moeda própria e vontade própria. Podem desvalorizar a moeda (ou valorizar artificialmente, como a China tem feito nos últimos anos, com consequências graves globais) e tb me lembro vagamente de o Brasil ter batido o pé ao FMI e fazer uma moratória no pagamento de juros. Será que nos poderíamos dar ao luxo de fazer o mesmo nesta altura? Com um pequeno país aberto como Portugal, mercados abertos como não havia na altura e moeda em comum com os vizinhos?
Finalmente, parece ser sempre mais fácil ter grandes taxas de crescimento quando se parte de muito baixo. Nessas condições tb é mais fácil aceitar o capitalismos selvagem porque mesmo isso é uma alternativa melhor do que morrer à fome. Será porventura o caso da China. Num estágio de desenvolvimento mais elevado, imagino que isso seja bastante mais difícil, até porque trabalhadores mais sofisticados requerem melhores condições de trabalho. Desse ponto de vista tenho dúvidas que o modelo de incentivos chinês, com pouco respeito pelos direitos dos trabalhadores, etc., seja sustentável.
Parece-me portanto que o seu post/artigo não é muito relevante para Portugal, nem identifica as principais razões do crescimento dos países em causa.
SNG
Caro anónimo, se me permite vou fazer algumas criticas ao que disse:
1) O senhor não sabe vê a diferença entre a "gestão portuguesa" e a daqueles países ora aqui vão duas: nível de impostos "baixo" (mesmo com a corrupção :)) e facilidade de lançar, fazer negócios (podia acresentar pouca regulamentação quanto ao respeito das regras ambientais e direitos de trabalhadores, mas isso interessa sobretudo a empresas "fracas" ou com pouco sentido de inovação).
2)"estes países têm um mercado interno potencial enorme", este argumento não serve de nada pois toda gente tem um "mercado interno potencialemente enorme", pois o que interessa aos agentes ecónomicos não é tanto o número de consumidores mas sim o seu poder de compra. E mesmo se partimos do príncipio que um elevado número consumidores é um forte incentivo ao investimento então porquê ninguém ou quase se interessa ao mercado nigeriano?
3) A questão do euro, mesmo se importante, é uma falsa questão pois para já conhecendo o nosso nível de endividamento e a nossa forte dependência para o estrangeiro, voltar ao escudo só traria mais problemas (menos garantias para os credores e mais inflação). E se é verdade que Portugal não pode bater os pés ao FMI, também verdade que país como a Suiça também não o podem, mas aguentam-se bem "sozinhos" e com uma moeda forte.
4) Tem bastante razão no último parágrafo, mas também por esta razão que o milagre chinês só pode ser bom para os trabalhadores porque é graças a ele que eles vão poder, dia menos dia, justificar mais direitos e benesses (bom... mesmo se é verdade que a vida deles não é fácil toda gente concorda que ela é muito melhor agora).
5) Quanto à ligação "inútil" entre estes países e nós, eu acho ao contrário que faz todo sentido porque lembra-nos que também somos capazes do mesmo que eles (já fizemos muito álias) e que faz todo o sentido estreitarmos os nossos laços com estes países.
Agora o que me preocupa a mim em relação à aqueles milagres é o facto de serem ainda pouco eficientes, em termos de danos causados ao meio ambiente. Eles têm mesmo que resolver isso.
PS: espero não ter parecido demasiado inoportuno e mal-educado ao estar a responder assim as dúvidas de um dos seus leitores, caro senhor Santos Pereira, mas confesso que gosto de vez em quando de fazer o "espertinho". LOL.
(Espero só ter tido razão!!!)
Desculpo-me por isso.
hummmm... mas se as pessoas continuam a viver mal, afinal, qual é o género de milagre económico que falamos? qualquer um destes países vive de mão de obra com baixos salários e que tem sido muito bem explorada pelos países ditos mais ricos. Entretanto, os países mais ricos ficam com os serviços e pouco mais.
Caro Guillaume Tell,
Não me importo nada que critiquem as minhas ideias, é da discussão livre que pode vir a luz. Quanto aos seus comentários:
O ponto central do meu comentário é que a comparação de Portugal com as causas do crescimento dos três países apontados é pobre pois a dimensão é muito diferente e o estágio de desenvolvimento também (embora menos no caso do Brasil). E que as causas do crescimento desses países não foram principalmente as indicadas no post original só por si mas sim também certamente outras, tão ou mais importantes que as indicadas.
1) Eu vejo muitas diferenças importantes entre a gestão portuguesa e a gestão dos países indicados, o que não vejo é que as realidades deles possam ser aplicadas directamente a Portugal, pelos aspectos que referi. Até pode ser argumentado que o que falhou em Portugal foram algumas coisas que são comparáveis, como os tais incentivos - o que não falta para aí são negócios patrocinados pelo estado. Assim, diria que de facto as causas apontadas não foram cruciais e que as diferenças que apontei foram provavelmente importantes. Ou seja, a situação não pode ser directamente comparável com a de Portugal. O nível de impostas "baixo" não foi referido no post original nem por mim, mas não conheço nenhum país onde queira viver em que um imposto realmente baixo (como imagino que seja na China, pelo seu comentário) seja praticado, com a possível excepção dos EUA, que têm os seus próprios problemas (e já agora uma dívida monstruosa, só suportável porque eles são... grandes)
2) Não tenho a certeza que as pessoas não se interessem pelo mercado nigeriano. Não sei tem a Nigéria tem um problema de financiamento externo, afinal eles andavam a crescer a 6% ao ano (dados de 2008, ver http://www.wolframalpha.com/input/?i=GDP+nigeria ), bastante mais do que nós, e são bastantes. Parece-me óbvio que o mercado interno e algum controlo sobre as fronteiras (os 3 países têm-no) são importantes. Um mercado interno grande permite que as empresas nacionais se desenvolvam e ganhem dimensão antes de serem obrigadas a exportar, o que é sempre mais difícil porque têm que aprender as regras de outros países, falar a língua, compreender a cultura, etc. E não foi para isso que se fez a União Europeia? Por outro lado eu referia-me ao caso especial da China e também da Índia que têm tantos consumidores em potência que nenhuma empresa a sério quer abdicar desse mercado potenciar para as rivais, mesmo que perca dinheiro numa fase inicial. Não me parece que Portugal tenhas essas características. Cá, se o governo quiser cobrar taxas menos competitivas às empresas, elas vão embora a correr.
3) O Euro não pode ser ao mesmo tempo importante e uma falsa questão. A verdade é que o Euro não nos permite fazer desvalorizações de moeda, relativamente aos principais parceiros económicos. Isso pode ser bom ou mau mas certamente não é a situação dos países referidos e, no caso da China, é bem conhecido como a taxa de câmbio tem sido utilizada.
4) Eu não disse que o que tem acontecido nos 3 países não é bom para os trabalhadores (os de lá, pelo menos). O que eu disse foi a situação desses países não é aplicável no nosso caso.
5) Há quem ache que o exemplo de outros países é pouco útil porque a realidade deles é sempre diferente. Não é o meu caso. Mas continuo a achar que as especificidades indicadas não permitem uma comparação fácil. Seria muito mais adequado usar como exemplos de comparação países de dimensão e desenvolvimento semelhantes, há várias possibilidades, e países que já passaram pelo mesmo. E, principalmente, pensar pela própria cabeça, como fizeram os indianos; isso sim um exemplo que pode e deve ser transposto.
E haveria muito a dizer sobre Portugal, o senhor Santos Pereira tem vindo a fazê-lo, concorde-se mais ou menos. Espero que ele seja indulgente e não se incomode com esta troca de palavras patrocinada pela sua caixa de comentários. Mas se estamos aqui, é porque o lemos e prezamos o seu trabalho, mesmo que nem sempre se concorde.
Cumprimentos,
SNG
Caro anónimo,
devo dizer que globalemente concordo consigo quando diz que a comparação entre estes países e Portugal é relativamente "perigosa", mas devo ainda fazer algumas precisões.
1) O nível de impostos "baixo": esta nocção é sempre complicada de explicar, sobretudo quando se trata de fazer comparações entre países ricos e pobres. Digamos que é melhor neste aspecto falar de custos de produção; no caso português os impostos penalizem a rentabilidade, rentabilidade que já é "fraca" visto a nossa productividade. A China também têm problemas de custos (transporte...) só que em relação à productividade deles estes custos não são tão "dramáticos", o que premite alguma rentabilidade do investimento. Para resumir, o que eu queria dizer é que Portugal tem um problema entre ganhos e custos maior que estes últimos países.
2) Ninguém se interessa à Nigeria a não ser que falamos de petróleo, ou seja este país foi incapaz de criar mecanismo para se diversificar. Pode crescer mas ao apostar demasiado num sector será dia menos dia penaizado.
Portugal pode não ter tantos consumidores, mas estes consumidores têm um poder de compra mais elevado que estes. E se queremos mesmo influenciar as empresas a investir cá or esta via é "fácil": basta melhorar o nosso poder de compra.
Quer um exemplo? A Suiça!
Agora sem dúvida algum protecionismo nunca fez mal.
3) Quando eu digo que o Euro é uma falsa questão, eu o faço para denunciar aqueles que pensam que voltar ao escudo seria a receita mágica para nosso país. É claro que as taxas de câmbio ajudam muito a China, mas jogar somente com este artíficio não basta para manter um certo nível de bem estar. É preciso sermos productivos e "essenciais" se queremos "sobreviver" e não desviarmos os problemas.
Boa continuação.
Caro Guillaume Tell,
Ainda bem que concordamos mais do que poderia parecer à primeira vista.
É certo que continuamos a discordar em alguns pontos. Mas isso levaria a uma ainda mais longa troca de palavras, para além do razoável neste lugar e certamente muito para além do tópico. Fica para a próxima!
Agradeço ao senhor Santos Pereira a paciência.
Cumprimentos,
SNG
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