04 fevereiro 2011

LEGADOS DESTE GOVERNO _ TAXA DE POUPANÇA

Um dos legados mais dramáticos, mas infelizmente pouco falados, dos últimos anos tem sido uma diminuição muito acentuada da taxa de poupança nacional. Actualmente, a taxa de poupança bruta é a mais baixa dos últimos 50 anos. Isto porque não temos dados anteriores a 1960. Se tivessemos, certamente que não seria difícil verificar que a taxa de poupança actual é a mais baixa desde os conturbados anos 1920. Esta descida da poupança nacional é ainda mais significativa se nos lembrarmos que, durante quase todo o século 20, Portugal era dos países europeus que registava taxas de poupança bastante altas. Ou seja, já fomos um povo bastante aforrador, mas agora já não o somos. E este facto está no centro de muitas das nossas dificuldades actuais.
A descida da poupança nacional tem várias explicações, mas certamente que algumas das principais razões para que tal tenha acontecido incluem: 
1) a acentuada descida taxa de juros associada à nossa adesão à moeda única, bem como as maiores facilidades de crédito que a Zona Euro nos proporcionou. (Relembre-se que os juros baixos penalizam a poupança e estimulam o consumo)
2) os vários incentivos ao consumo e a retirada dos incentivos à poupança que caracterizaram os últimos 10-15 anos
3) o comportamento pouco regrado e o excessivo despesismo do nosso Estado, que penalizaram grandemente a "poupança" pública e que, assim, fizeram baixar a poupança nacional.
4) a descida pronunciada das remessas dos emigrantes, que foi durante bastante tempo uma importante fonte de financiamento da economia nacional
 
O resultado de tudo isto foi que, entre o final dos anos 1970 e 2010, a poupança bruta baixou de 30% do PIB para 8,4% do PIB. Uma descida de mais de 20 pontos percentuais. 
A baixíssima taxa de poupança nacional é visível no gráfico abaixo, que apresenta a poupança bruta em percentagem do PIB para os países da UE-27. Como podemos ver, Portugal tem a segunda mais baixa taxa de poupança de toda a União Europeia. Pior que nós só a Grécia. Em claro contraste, países como a Espanha e a República Checa têm taxas de poupança que são o dobro das nossas.

Poupança bruta em % do PIB na UE-27, 2010
 Fonte: AMECO

Qual é o problema? O problema é que, sem poupança, o investimento não pode prosperar e aumentar de forma sustentada. E é exactamente isto que tem acontecido. Na última década, o investimento privado tem andado pelas ruas da amargura, penalizando o próprio crescimento económico e, assim, limitando as possibilidades de a economia ter uma retoma sustentada.
Mais: a baixa taxa de poupança tem sido altamente responsável pelo crescimento do endividamento externo nacional. Como não poupamos o que devemos, temos de pedir ao exterior os fundos que precisamos para satisfazer as nossas necessidades. O problema é que, como em tudo, não é possível manter um crescimento elevado da dívida externa por muito tempo sem que existam consequências muito danosas para a economia nacional. E é nesse ponto que nos encontramos actualmente.
Quem tem culpa por tudo isto? Todos nós. Todos nós (famílias e empresas) consumimos acima das nossas possibilidades. Os governos dos últimos 15 anos foram igualmente responsáveis não só porque gastaram bem mais do que era aconselhável, mas também, e principalmente, porque não actuaram face aos crescentes e graves desequilíbrios da economia nacional, incluindo o crescimento do endividamento da economia nacional e a dramática descida da poupança nacional.
Moral da história: é imperioso alterar este estado de coisas o quanto antes. Há poucas dúvidas que uma das coisas a fazer nos próximos anos é exactamente fazer crescer novamente a poupança nacional. Só assim podemos combater o nosso elevadíssimo endividamento externo e diminuir a exposição da economia nacional ao financiamento do exterior. O crescimento da poupança é igualmente fundamental para a recuperação do investimento nacional. 
Por todos estes motivos, a poupança tem de se tornar num autêntico imperativo nacional, uma paixão, se quiserem. O desígnio da poupança pode não tão atractivo como, por exemplo, a Educação, mas é, no mínimo, tão importante como essa mesma Educação. Seria bom que, nos próximos meses, os diversos partidos portugueses apresentassem ideias e estratégias para que possamos todos poupar mais. O país certamente agradecerá. 

3 comentários:

Anónimo disse...

Podia-se começar por aumentar bastante a taxa de juro. Neste momento as taxas de juro reais são negativas o que certamente só agravará o problema.

PMP disse...

Vamos investir em quê ?

Já alguem dizia que para um bom projecto arranja-se sempre dinheiro.

A poupança não é a causa do investimento.

PPP Lusofonia disse...

A saída da crise passa obrigatoriamente pela poupança nacional, mas os bancos continuam a apregoar o crédito ao consumo, que vai sobretudo para bens importados...

"anything you want, you got it..."