29 setembro 2008

BAILOUT E IDEOLOGIA

Depois da crise financeira estar sanada, podemos ter a certeza que a ideologia dominante das últimas décadas vai sofrer grandes alterações, principalmente a nível da regulamentação dos mercados. Acima de tudo, ficaria verdadeiramente surpreendido se a crise financeira não fosse aproveitada para aumentar o nível de proteccionismo das economias ocidentais.
Não haverá quem ponha as culpas à economia de mercado pelo que está a acontecer e aproveite a ocasião para levar a cabo uma ideologia mais proteccionista. Quem sofrerá com isto tudo? Os consumidores dos países mais avançados (que terão que pagar mais pelos produtos que consomem) e, principalmente, os países subdesenvolvidos que irão ver as portas dos mercados dos países mais avançados fechar-se mais uma vez.

5 comentários:

Gi disse...

E a crise financeira está sanada, Álvaro?

Gostava de saber a sua opinião sobre o que se tem estado a passar, e sobre o bail-out. Acha que vai resolver os problemas? Haverá alternativas?

Os comentários que tenho lido têm sido, na sua maioria, de não especialistas, e como de costume os media não são isentos.

À primeira vista parece-me que se vai gastar muito dinheiro para pôr uns remendos em pano puído, mas também parece ser verdade que se não se fizer nada e deixar as falências acontecerem são as pessoas que vão perder as suas poupanças.

Gostava realmente de saber a sua perspectiva. Um abraço.

antonio disse...

Caro Álvaro

Sem se aperceber disso você perdeu o seu optimismo.Porque deixou de fazer aqule tipo de comentários:
"Boas noticias para a o nosso país. Os ultimos dados do INE revelam que a confiança dos consumidores subiu este mês em o.oooo1%. Sinais de que a retoma já chegou" Espero que não fique zangado com esta minha ironia.

Mas para já você enganou-se. Os congressistas afinal não chegaram a acordo e Wall Street teve hoje a colossal perca de 6% (a maior desde set 2001).

Caro Álvaro. Não veja só a arvore. Veja a floresta. Na verdade não há qualquer verdade a crise financeira é apenas uma ilusão. O que há é uma terrivel crise económica.

Qualquer de nós quando faz um negócio procura fazê-lo maximizando a sua margem e reduzindo o seu risco. Estes são os negócios ideais que todos nõs queremos fazer. E os bancos também.

O pior é que quando há poucas oportunidades de fazer bons negócios têm de se fazer negócios menos bons. E quanto menor é a oportunidade de fazer bons negócios maior é o risco para se fazer qualquer negócio.

Subprime é isso mesmo. Subprime é uma economia em marasmo e com falsos indicadores de crescimento e em que só se conseguem apresentar resultados quebrando regras básicas.

O subprime não é uma causa mas sim o efeito da crise económica existente no ocidente já há muito tempo mas que esteve disfarçada precisamente à custa do subprime.


Resolva-me a enormissima crise económica em que estamos metidos e eu garanto-lhe que três dias depois Wall Street está em grande.

Caro Àlvaro, não deixe de olhar para a floresta.

Um abraço

Antonio

João do Lodeiro disse...

Caro António,concordo consigo em parte. Mas eu vou mais longe. Eu creio que, acima de tudo, a crise é política, por esta se ter subordinado, há muito tempo, aos interesses económicos. Fizeram-se muitas asneiras em nome do sacro-santo mercado auto-regulado. A ele se sacrificou tudo, globalizando-se a injustiça e individualizando-se a riqueza. Como bem dizia Mário Soares no DN, agora, "... com maior desfaçatez... privatizam-se os lucros e socializam-se os prejuízos"!

Rita R. Carreira disse...

No entanto, o pior de tudo tem sido a ignorancia do povo. Recusam-se a pagar $700 mil milhoes. Em troca, o mercado perde $1.3 bilioes e a Fed disponibiliza-se a injectar no mercado mais $630 mil milhoes. Ora, num dia perderam-se quase tres vezes o suposto custo do bailout. A ver vamos se o mercado recupera alguma coisa no curto prazo.

A EU tambem nao esta' muito bem, mas o BCE anda com a mania que a crise nao os toca.

Isto para ser resolvido tem de ser uma accao concertada dos EUA, da EU, da China, da Russia, etc. O resultado ideal nao e' um equilibrio 'a Adam Smith mas sim um equilibrio de Nash.

Alvaro Santos Pereira disse...

Caro(a) Gi, António, JP e Alfred the Pug,

Parte da minha resposta aos vossos comentários está no post que acabei de publicar e que saiu hoje no DN.

Não perdi o optimismo, mas não tenho grandes dúvidas que os próximos tempos vão ser de recessão. Concordo completamente que o que há que fazer em Portugal é combater a crise económica por todos os meios. Aliás, é essa exactamente a mensagem do novo livro, sobre o qual falarei mais pormenorizadamente nos próximos tempos.

Sobre o bailout, claramente o voto do Congresso americano foi um choque para quase toda a gente. Acho que foi um falhanço político de toda a gente, tanto dos partidos, como de Obama e McCain. Quem acabou por sair pior foi McCain, pois só um terço dos Republicanos votaram a favor do plano, contrariando directamente as directivas de Bush e McCain.
E Alfred the Pug tem toda a razão quando diz que acabaram todos por ficar numa situação inferior (o tal Nash equilibrium)

Abraço e obrigado

Alvaro