Um artigo interessante no Wall Street Journal de hoje que debate o futuro do euro e as opções que a Europa terá pela frente nos próximos tempos. Como o WSJ salienta, há 3 grandes possibilidades para superar a crise da dívida soberana europeia:
1) uma união fiscal, na qual existirá uma maior integração das políticas económicas, bem como mecanismos de redistribuição fiscal entre os países mais abastados e os países em dificuldades. O grande problema desta possibilidade é que não parece haver grande interesse ou vontade política por esta opção, nem nos países da periferia europeia (que perderiam ainda mais soberania económica), nem nos países que teriam de financiar os mecanismos de redistribuição entre os Estados europeus.
2) a reestruturação da dívida dos países em dificuldades, na qual poderá haver uma insolvência parcial de um ou mais países e/ou o reescalonamento e a renegociação das dívidas soberanas nacionais. Neste caso, os países em dificuldades tentariam não só aumentar os prazos de pagamento das suas dívidas, como também tentariam conseguir maiores facilidades de pagamento para as mesmas dívidas. Como? Quer através da redução das taxas de juros associadas às suas dívidas, quer inclusivamente renogociando os montantes do endividamento. Por isso, neste caso, os detentores das obrigações destes Estados seriam forçados a partilhar os custos da reestruturação da dívida.
3) o fim do euro, ou a saída unilateral de alguns países da moeda única europeia. Uma saída unilateral do euro seria, no mínimo, conturbada. O problema é que, como já aqui salientei, há enormes custos políticos associados a esta possibilidade, bem como custos económicos muitíssimo altos para os países com elevados níveis de endividamento externo. Porquê? Porque uma desvalorização de 30% ou 40% da nova moeda faria aumentar ainda mais a já explosiva dívida externa dos países em dificuldades, o que poderia levar estes países a uma situação de insolvência. É ainda possível que uma eventual saída do euro pudesse dar azo a uma fuga de capitais do país que declarasse um abandono unilateral, e uma consequência corrida aos bancos desse país, o que, por sua vez, poderia conduzir a uma grave crise bancária. Ou seja, sair do euro acabaria por ser um remédio que poderia matar o doente, o que, como é evidente, não é aconselhável ou desejável.
O fim do euro não parece ainda ser um cenário provável. No entanto, a verdade é que este cenário já esteve bem mais longínquo. E como para o ano há cerca de 1,5 triliões de euros de dívida soberana que tem de ser emitida pelos vários países europeus, há um risco real de alguma coisa não correr bem. 2011 será assim um ano decisivo para o euro e para muitos dos países na união monetária.
Qual é a hipótese mais provável? É difícil de dizer com certeza absoluta. No entanto, se eu gostasse de apostas, não teria grandes dúvidas em afirmar que o mais provável é que, mais cedo ou mais tarde, se venha a fazer a reestruturação das dívidas dos países mais endividados. Uma reestruturação das dívidas dos países em dificuldades poderá não acontecer em 2011 ou 2012, mas não seria de todo estranho se chegássemos a esse cenário em 2013 ou nos anos seguintes. Tudo vai depender do que os líderes europeus decidirem nos próximos meses, do crescimento económico dos países em dificuldades e da saúde dos seus sistemas financeiros. Por outro lado, uma união fiscal ou o fim do euro parecem-me possibilidades bem menos desejáveis e bem mais difíceis de alcançar. Não me parece que a solução para a crise europeia será feita por aqui. Mas, pode ser que esteja enganado.
Independentemente do que irá acontecer, de uma coisa poderemos estar certos: ainda estamos bem longe de uma resolução para a crise da dívida europeia. Bem, bem longe.
2 comentários:
Imaginemos que Portugal sai do Euro e que a nova moeda (o falhudo, por exemplo) é cotada ao quilo. A desvalorização brutal provocaria uma queda abrupta nas importações, com racionamentos, rupturas, congelamento de depósitos, etc. - em resumo, uma economia de guerra. Mas a exportação de bens e serviços começaria imediatamente a crescer. E não vejo por que razão os credores, num contexto destes, não haveriam de consentir em reescalonamentos. Estou evidentemente a simplificar, mas o que eu tenho dificuldade em perceber é por que razão ninguém estuda seriamente, que se saiba, um plano para agir em vez de simplesmente reagir - que é o que temos feito e aparentemente vamos continuar a fazer. Sendo que a estratégia de ficarmos à espera que outros inventem soluções para os problemas que criámos só pode resultar no adiamento do desenlace de uma situação que fica todos os dias mais grave, além de no processo alienarmos a migalha que ainda resta de soberania.
molto intiresno, grazie
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