A troca destes comentários entre a Gi, o António, o Miguel Carvalho e o Tiago foi extremanente estimulante e informativa. Obrigado a todos. É exactamente para este tipo de debates que o Desmitos foi criado. Como estive sem apoio escolar nas últimas duas semanas para os meus filhos, não me foi possível até agora responder adequadamente ao debate. Aqui vão mais algumas reflexões:
- O António afirma: "o PIB e consequentemente o rendimento per capita é hoje 22% superior ao que era há 12 anos atrás. Como é possivel então esta enorme sensação generalizada de crise, lojas e restaurantes a fecharem e a enorme sensação de perca de poder de compra. Com raras excepções, julgo que a generalidade das pessoas se sente hoje mais pobre do que há 12 anos. E isso nota-se claramente no comportamento das pessoas. Não creio que isto seja uma mera ilusão." É verdade que o PIB cresceu entre 1 a 2 por cento nos últimos anos. Quando o PIB por habitante cresce a 1 por cento ao ano, leva 70 anos para que o PIB per capita duplique. 70 anos. O que quer dizer que em 10 anos, pouca diferença se irá notar nos rendimentos dos particulares. Por outro lado, como o debate indicou, em parte, a resposta a este aparemte paradoxo pode ser atribuída ao endividamento das famílias. Há 12 anos muitas das nossas famílias (sobre)endividaram-se para poderem comprar carros, casas, CDs, aparelhagens, viagens ao Brasil e muitas outras coisas. Ou seja, o consumo foi imediato, mas o pagamento foi faseado por alguns anos. Doze anos mais tarde, muitas famílias continuam a pagar as suas casas, os seus cartões de crédito, e as suas viagens ao Brasil. Por que o fazem, e por que estão demasiado endividadas, agora não podem comprar carros novos, viajar para o Brasil (ou outros lugares) e/ou embarcar em grandes loucuras consumistas. Por isso, é natural que haja mal-estar: as dívidas persistem mas o consumo não aumenta. Isto passou-se em vários países, mas em Portugal foi pior, porque atingimos níveis de endividamento superiores.
- Desigualdades de rendimentos. A hipótese avançada pelo Tiago faz todo o sentido. No entanto, há igualmente outros factores a considerar. Não só o aumento do PIB foi muito reduzido, como também não há grandes sinais que as desigualdades sociais estejam a aumentar em Portugal. As desiguldades são grandes e graves, mas não parecem estar a aumentar.
- Confiança dos consumidores. O Miguel fala de um assunto pertinente, a baixa confiança dos consumidores, que não dá mostras de aumentar. Indepedentemente da importância do consumo, mais do que a confiança dos consumidores, é vital haver uma recuperação da confiança dos investidores. Porquê? Porque o consumo quase sempre avança ou recua ao ritmo do PIB, enquanto o investimento responde 2 a 3 vezes mais do que o PIB. Ou seja, quando o PIB cresce 10%, o investimento cresce 20 ou 30%, quando o PIB cai, o investimento cai muito mais. Por isso, o melhor indicador de retoma económica é a confiança dos investidores. Quando estes(as) tiverem mais optimistas, podemos estar certos que a retoma estará à porta.
1 comentário:
Caramba, escrevi aquele comentário de resposta ao António, o post já era tão antigo que nem pensei que pudesse haver ainda discussão, por isso é que não continuei.
É sempre estimulante falar de economia. Que continue o Desmitos!
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