01 julho 2008

A GRANDE QUEDA DA BOLSA

Mais um dia muito negro para a bolsa portuguesa. Já sabíamos que este ano já acumulava quedas de 30 por cento. Hoje a Bolsa ficou ainda em pior estado com perdas quase de 5 por cento. É um péssimo sinal, pois reflete bem aquilo que os investidores prevêem para o futuro, que se prevê bastante negro. Nesta queda bolsista, os investidores estão a dizer-nos que os próximos tempos vão ser muito difíceis. No fundo, o que se teme é uma repetição dos anos 70, quando um choque petrolífero abalou as estruturas da economia mundial.
De facto, a crise petrolífera e a consequente subida dos preços alimentares não auguram nada de bom. Aliás, o choque petrolífero é a maior ameaça para a nossa economia neste momento. E se no final do ano passado existiam já sinais que era possível ser mais optimista para o futuro da economia portuguesa, o choque petrolífero deita os optimismos por terra (como o António menciona neste comentário). Pelo menos a curto prazo.
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De todos os choques económicos possíveis, os choques petrolíferos são os piores. É o chamado choque de oferta negativo, que dá azo tanto a inflação mais elevada como a um aumento do dsemprego. E se hoje estamos bem mais preparados do que nos anos 70 para o combater, a verdade é que a recessão tem-se tornado mais realidade a cada dia que passa.
Como a economia portuguesa já estava bastante debilitada da estagnação dos últimos anos, para nós o impacto do choque petrolífero ameaça ser bastante sério. É este receio que tem feito os investidores abandonarem a bolsa portuguesa nos últimos tempos.

1 comentário:

antonio disse...

Caro Álvaro,

Hoje estamos mais bem preparados para combater a crise? Temos de facto mais aspirinas mas não temos qualquer antibiotico.

As crises económicas do seculo passado tiveram todas traços comuns. Elas foram geradas nos paises lideres, que detinham o conhecimento, a tecnologia e a capacidade produtiva. Quando se acumulavam em demasia determinadas tensões ou desequilibrios, a crise estalava. Procediam-se a ajustamentos e havia algumas alterações do tecido económico. Mas no essencial não havia grandes alterações. A bonança voltava e esses mesmos paises continuavam a ser os unicos detentores do conhecimento, tecnologia e capacidade produtiva.

Essas crises eram em termos de jardinagem uma especie de podas destinadas a limpar os ramos secos e velhos para que as árvores surgissem ainda mais viçosas.

A actual crise tem uma origem bem diferente. Com o passar dos anos surgiram economias (chamadas emergentes) que decidiram disputar a liderança detida durante séculos por meia duzia de paises do mundo ocidental.

Estes paises passaram a ser também detentores de conhecimento, tecnologia e capacidade produtiva. Álem de que são também em potência uns fantásticos mercados consumistas.

E têm a força da juventude. Têm aquela pujança dos jovens que contrasta com o envelhecimento e torpor das economias habituadas há muito a serem os chefes da matilha.

E como acontece na natureza, os machos mais novos acabam por disputar a chefia da matilha aos machos mais antigos.

E estas pujantes economias emergentes têm uma capacidade competitiva imparável. São muito menos regulamentadas. Em contraste com as velhas economias já muito aristocratizadas em que existem poderosos movimentos sindicais que ao longo do tempo conquistaram direitos e regalias para os trabalhadores e em que ao longo desse mesmo tempo se criou imensa regulamentação que onera de uma forma brutal a produção desses paises. (simplesmente como esses paises detinham o monopólio do conhecimento, tecnologia e capacidade produtiva não havia qualquer concorrência que fizesse frente aos seus produtos). Daí também a imparável deslocalização das empresas para as economias emergentes.

Digamos que durante alguns séculos o mundo esteve dividido num sistema de vasos comunicantes em que existia uma torneira fechada que impedia a comunicação dos fluidos. Assim a ocidente o vaso estava cheio e a oriente o vaso estava vazio.

Agora a torneira abriu-se. E eu estou certo de que o Àlvaro ainda se lembra do principio dos vasos comunicantes que aprendeu na Física dos seus tempos de liceu.

Por isso esta crise vai prolongar-se até que os fluidos se nivelem. Do lado ocidental os fluidos vão baixar de nivel e nas economias emergentes os fluidos vão crescer a um ritmo invejável. Que é aliás o que está a acontecer.

Eu tenho consciência que esta minha visão é politicamente incorrecta. Não pode ser sequer admitida à discussão porque significaria que era admitido como possivel que a sociedade ocidental fosse passar por grandes dificuldades por um prolongado periodo de tempo.

E existe a necessidade de sonharmos que daqui a mais dois ou três anos tudo voltará a ser como dantes. A ideia de que esta crise se poderá prolongar por algumas décadas é demasiado dolorosa para que possa ser encarada.

E qual é o político que ganharia votos com esta perspectiva ou o economista que admitiria a sua impotência perante o decorrer da história.

Mas enquanto não descermos à realidade e fizermos de avestruz, estamos a perder fôlego e a perdermos oportunidades de mudarmos o decorrer da história.


Um abraço e desejos de que fique com algumas duvidas no meio das suas certezas.

Antonio